Autistic Love escrita por Claraneko


Capítulo 8
Culpa e Dúvidas


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal :)
Realmente, desculpa por não postar a tanto tempo -mereço puxão de orelha- Mas aqui vai mais um capítulo de AL para quem acompanha.
Em anexo vem o desenho que o Suzy estava fazendo no último capítulo -para quem ficou curioso sobre isso ha seis meses atrás- Desculpem se o desenho não lembrar nosso albino, mas quando começei com ele não sabia que usaria para isso!!!
Sem mais enrolações... Boa leitura



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...

A aula se arrastava normalmente depois do intervalo. Na frente da sala, a professora explicava sobre a matéria das provas do semestre. Nagumo rabiscava em um papel aleatório as datas que chegavam em seus ouvidos sem inteiramente dar importância a elas. Seus dedos mexiam-se enquanto seus pensamentos estavam ligados em outro assunto, em um problema mais delicado do que estudar para conquistar uma nota.

Era muito estranho. Sentia-se, pela primeira vez em sua vida, sem saber como agir diante de uma pessoa.

O fato é que vinha evitando Suzuno. Dizia para si mesmo que não era por medo, que estava somente procurando o momento certo, ou as palavras certas; contudo, este momento e estas palavras tardavam a chegar, e então soube que não poderia mais esperar por elas. Soube também que sim, temia. Temia fazer ou falar o errado e perder Suzuno.

Há quatro dias atrás, planejara conversar com o prateado, perguntar sobre as coisas que o preocupava, o que acabou não acontecendo e foi neste momento em que começou a errar, quando fechou a porta do quarto do colega e foi embora. Naquela noite Nagumo tinha coragem, entretanto, agora tinha apenas mais dúvidas. Havia deixado um garoto sozinho por dias e sem explicações do por que de ter feito o que fez... Como se tivesse um por que na história.

Ao seu lado, uma carteira vazia o perturbava, inquietando suas emoções. Tinha certeza que tinha visto o colega naquele dia. Suzuno estava ansioso pelo Campeonato que chegava, ao menos estava na última vez em que falara com ele. Os jogos começariam em seis dias e o time que jogaria contra eles na primeira etapa já estava decidido: Colégio Seishou, um forte time. O avermelhado inclinou a cabeça para baixo, preocupado, aquela pessoa não vinha aos treinos já fazia dois dias.

O barulho da porta se abrindo ecoou na sala de aula.

— NAGUMO... - Midorikawa chamou, entrando na sala de aula e chamando a atenção de todos.

Nagumo o fitou e ergueu uma sobrancelha. Em resposta, O esverdeado fez sinal com a mão para que o seguisse.

— Algum problema ‘senhor’ Ryuuji - A professora indagou ao cruzar os braços, colocando ênfase em ‘senhor’, já que não era a primeira vez, nem mesmo a segunda, que aquele garoto atrapalhava sua aula.

Midorikawa engoliu seco em um sorriso forçado.

— Er... Meu pai quer falar com o Haruya... É importante - falou a primeira desculpa que lhe veio em mente.

Tanto a professora quanto Nagumo o olharam descrentes. Além disso, avermelhado não aparentava disposição para sair da sala e ouvir sabe-se lá o que o colega tinha para lhe dizer. Porém, o ligeiro e ansioso passar de olhos que Midorikawa lançou para a carteira vazia o fez mudar de idéia e levantar-se tão rápido quanto.

Nagumo compreendeu.

— Ah... sim - fingiu se lembrar de algo importante, ajudando na farsa. - Preciso ir professora - disse e a cumprimentou antes de sair, sem esperar resposta. Mal passou pela porta e puxou Midorikawa até o fim do corredor, prontamente olhando apreensivo para os olhos negros do outro. - Onde está Suzuno?

O esverdeado coçou a cabeça, olhando para o lado em um pesado suspiro. Sua curiosidade lutava para perguntar tudo o que queria saber, era um esforço não fazê-lo. Precisava ser breve, pois não achava seguro Suzuno desacompanhado naquele estado.

— Ele... - hesitou, sem saber por onde começar. Fazia pouco tempo que vira Suzuno sair da escola em um estado abatido, depois de ter dito uma série de coisas que o deixaram chocado. Em síntese: havia gritado para o pátio que era autista e esse assunto realmente não estava digerido para Midorikawa. Mas precisava contar para Nagumo, pois se tinha alguém que podia ajudá-lo, era ele. - Ele tá meio mal. Acabou de sair da escola, depois de... Er... Ele não tá bem - Disse e levantou o desenho que Suzuno deixara cair no chão naquela hora.

Nagumo pegou o desenho e seu olhar pesou.

— É culpa minha - reconheceu, fazendo uma leve força no papel. Logo que imediatamente, virou-se para ir embora em uma velocidade acelerada.

— Nagumo - chamou Midorikawa, fazendo-o parar. - O que você fez para deixar o Fuusuke desse jeito?

Nagumo suspirou.

— Idiotice - respondeu, voltando a correr para a saída da escola.

...

As lágrimas iam e vinham como se imitando o vento que lhe soprava no rosto de maneira ritmada, sempre de acordo com os desdobramentos desordenados de suas emoções. Suzuno andava sem rumo pela calçada, pretendia ir para casa, mas ao passar por ela continuou a andar até que o choro cessasse, não querendo dar explicações para seus pais do por que de voltar mais cedo e naquele estado. Apenas seguiu reto, sem um destino certo.

Acabou chegando a uma esquina comprida pela qual nunca passara antes, avistando uma quadra de futebol em um chão  de cimento batido, contornado por uma cerca. Dava para perceber que o lugar fora improvisado, as linhas do contorno da quadra e do gol eram feitos de tinta branca. Pela abertura da cerca um grupo de crianças saiu rindo com as roupas sujas de suor, uma bola de futebol seguia-as, sendo passada de um para outro em um ritmo animado enquanto voltavam para suas casas. Enquanto os risos se afastavam, Suzuno se aproximou do campo de chão duro, cravando o olhar fixamente em duas bolas surradas largadas no chão. Apanhou uma delas e avaliou seu estado: ainda dava para usar.

Caminhou até o meio da área, em frente ao gol.

Estava cansado de chorar, a garganta doía por isso. Não queria pensar em nada. Esfregou os olhos com a manga de seu uniforme eliminando qualquer resquício de umidade, buscando assim se esquecer por que chorava; era bom nisso: ignorar e tentar esquecer das coisas que o machucavam, se não fosse por isso, não sabia se ainda estaria ali.

Segurou a bola firmemente entre as duas mãos e pensou na técnica que treinava no dia em que jogou pela primeira vez com Nagumo, aquele dia chuvoso e frio, mas mesmo assim, quente. Não tentava a técnica desde aquele dia, pois com Nagumo sempre perto era difícil e ainda não queria mostrá-la, se é que um dia fosse; ainda não estava completa, se é que um dia estaria. Olhou para frente.

— O gol é um retângulo na parede... - murmurou, ao vê-lo pintado com tinta gasta. - Está bem - deu de ombros levemente enquanto se alinhava para a técnica com efeito.

— Northern Impact - bradou antes de chutar com toda sua força. Observou a bola congelar antes de acertar a parede fora da dimensão do gol. Errara. Resfolegou ao tentar controlar a respiração descompassada, aquela técnica ainda consumia uma grande quantidade da sua energia.

— Preciso de mais poder - recuperou a bola e voltou ao lugar inicial, novamente concentrado no objetivo - E mais controle...

— Northern Impact.

A trajetória errônea atingiu a linha que representava a trave, deixando ali uma marca circular e profunda. Suzuno tentou de novo, e de novo, colocando tudo de si no sentimento pelo futebol, sentimento esse que se encontrava conturbado, abalando-se a cada pequeno lampejo de lembranças quaisquer.

Trinta minutos depois, o garoto deixou-se cair sobre o próprio peso, a bola que acabara de chutar voltara rolando ao seu lado, depois de acertar o alvo . A técnica não saíra perfeita.

— Nagumo é muito mais forte - lamentou, ao lembrar do dia que o avermelhado o derrotando um a um. Ao expirar pesadamente, alcançou a bola com as mãos e a fitou, incerto. - Futebol... É mesmo divertido?

Soltou a bola e deixou que rolasse no chão e deixou-se arfar, ofegante. O último chute não tivera poder algum, parecia que quão mais forte chutava, menos controle tinha, a bola não lhe obedecia como queria. Começou a pensar se era isso mesmo que queria fazer da sua vida, mas se não fosse jogador, o que mais seria?

— Eu podia desenhar... - “mas todos acham seus desenhos estranhos” ralhou consigo. “Eu não quero me importar com o que os outros pensam. Eu sou assim, esse sou eu”, mas se importava. Se importava muito. Ninguém ia querer ver ou entender seus desenhos. - Não quero sair do futebol, é  meu sonho.

Levantou-se com dificuldade, o corpo doía depois de ter lançado várias bolas com efeito seguidas. Estava sem energia. Deu as costas para a bola que havia sido sua companheira naqueles minutos depois de cumprimentá-la com um sutil aceno de cabeça. Ao sair deu cara com a esquina vazia daquele quarteirão, olhou ao redor e virou o pescoço enquanto levava uma mãos aos cabelos lisos e embaraçados pelo treino.

— Onde estou? - Perguntou-se e logo soltou um longo suspiro de indignação ao ver que se distanciara demais. Resolveu dar meia volta por onde viera, correndo. Já era tarde e temia que seus pais estivessem preocupados lhe esperando. Um segundo de desatenção e esbarrou bruscamente em alguém que acabara de aparecer dobrando a esquina. Atordoado, recuou alguns passos e piscou algumas vezes para ver quem era. Seu primeiro pensamento foi desculpar-se com o estranho, mas não disse nada.

A pessoa virou-se mal humorada.

— Ei, pirralho, isso doeu - resmungou, depois de recuperar-se quase que imediatamente da colisão. - Hum, reconheço esse uniforme, é aquele time fraquinho que vamos jogar no campeonato - gozou a pessoa.

Suzuno fechou a cara enquanto reconhecia a uniforme dele: Academia Seishou. Eram o seu primeiro oponente do torneio. O garoto a sua frente não possuía uma feição agradável, pelo contrário, não parecia se importar em raspar os fiapos de barba alaranjada que cresciam desordenadamente em seu rosto disforme.

— Ei - chamou o estranho, cravando sua atenção no menor. O prateado mirou-o, sentindo em estranho frio na barriga ao notar o tamanho do outro jogador que agora o fitava assustadoramente - Você não vai se desculpar?

Suzuno apertou suas mãos enquanto deixava que o ar de seus pulmões saísse lentamente.

— Desculpa - disse nem alto nem baixo, mas o outro fez uma expressão que o prateado não conseguiu decifrar, tinha certeza que Nagumo fizera a mesma cara quando tocou uma música que dissera não gostar.

— O quê? Eu não ouvi - disse entre os dentes, se aproximando um pouco mais.

Eu não vou repetir, você ouviu” Suzuno olhou para o lado, desconfortável com essa situação. Realmente não se sentia bem. De súbito, uma mão gelada e áspera tocou-lhe a face de forma pouco cuidadosa. Suzuno congelou, sem conseguir mover um músculo.

— Você é bonito - disse ao passar a mão para a nuca nívea, segurando junto algumas mechas dos cabelos brancos do albino.

Em um impulso, Suzuno pulou para trás, atônito, mas a mão grossa do garoto continuou no mesmo lugar, agora segurando com mais força.

— Opa - ele gargalhou - Só imaginei em uma jeito mais divertido de se desculpar pelo incómodo que me causou - disse ao puxar mais forte, trazendo o menor para mais perto. - Vamos, não tem ninguém aqui.

Com os duas mãos Suzuno agarrou o braço, tentando se desvencilhar, sem sucesso. Aquele garoto estranho ria, Suzuno estava irritado e ao mesmo tempo desesperado, aquilo não era divertido. Sentiu algumas lágrimas escorrerem sem permissão quando apertou os olhos, pensando no poderia dizer aquela pessoa parar. Seu rosto estava a um palmo do sujeito, fazendo com que sentisse o hálito podre do mesmo. Não aguentou mais, precisava ser rápido e sair dali.

A mão do jogador da Seishou lhe puxava para frente, e por mais que tentasse, não conseguiria aguentar mais tempo desse jeito, estava fraco e sem energia para qualquer coisa grande. Mas precisava agir. Instintivamente, ao invés continuar indo para trás, lançou-se para frente com toda a força que lhe restara, fazendo com que a lateral de testa se chocasse com a do outro. O garoto arquejou e ligeiramente Suzuno tentou correr, mas o outro prontamente se pôs em seu caminho, a testa sangrava.

— Ha ha Essa foi boa, muito esperto. Mas não tem como escapar... Eu quero você.

Suzuno sentiu os olhos do sujeito passearem por todo seu corpo, avaliando... degustando. Arregalou os olhos em uma compreensão arrasadora; tremeu, o medo começando a lhe dominar. Sentiu um líquido passar em sua bochecha esquerda, esfregou ali as costas de sua mão para logo depois vela pintada de vermelho.

— Eu... - a voz de Suzuno ficara rouca e baixa de tanto que passara e chorara aquele dia. Só queria voltar para casa. - Não gosto de você. - Jogou para o outro com um tom cortante, sem levantar a voz, antes de inesperadamente correr como se fosse driblar um oponente, sem dar chance para o brutamonte agir. Em um piscar de olhos Suzuno passara por ele e estava fora de seu alcance, veloz como o vento em uma tempestade de gelo.

— Ele é rápido - largou o sujeito, perplexo. Só no tempo de virar para trás já viu sua presa distante. Riu. - Vamos nos ver de novo - gritou. - Até a partida.

O vento que antes fora aliado do albino fora o mesmo que trouxera as palavras ruins até seus ouvidos, só conseguiu pensar em como aquele timbre lhe fazia mal e que não queria mais ouvi-lo.

Suzuno correu até sua casa, encontrando um Nagumo sentado nas escadas que, ao vê-lo, levantou-se prontamente e se pôs em sua frente. Encararam-se sem dizer nada, olho em olho; as perguntas, dúvidas e preocupações entaladas na garganta de ambos, sem conseguirem sair.

Nagumo ficou olhando um Suzuno ofegante, suado e tremendo continuamente. As mechas de seus cabelos encontravam-se rebeldes, como se quisessem esconder as orbes arregaladas e afetadas do outro. Um fio de sangue descia da lateral de sua testa.

Suzuno mirou o garoto que um dia tinha dito ser seu amigo mas que o ignorara e magoara. Agora ele estava na sua frente, lhe encarando sem nada dizer. Sem mais suportar aquele contato visual, subiu as escadas e se direcionou para a porta de sua casa, abrindo-a, aquele dia já tinha sido humilhante o suficiente para uma vida, não queria que ninguém mais o visse assim, principalmente Nagumo. Uma mão segurou seu pulso, impedindo que continuasse o movimento e com a outra mão fechou a porta.

— Venha - Nagumo chamou, puxando gentilmente o colega.

— Para onde?

— Pra minha casa, precisamos conversar.

Suzuno hesitou, olhou para o lado e balançou a cabeça. Não queria ir, não hoje.

— Meus pais... - começou a negar.

— Já conversei com eles - Nagumo o cortou. - Já estou aqui um bom tempo te esperando.

— Por que você veio? - o albino cerrou os olhos, tentando olhar para qualquer lugar que não para as orbes vermelhas que sentia sobre si.

A resposta demorou para vir, fazendo o prateado duvidar ainda mais.

— Porque eu preciso me desculpar.

Suzuno o fitou por um breve instante.

— Nagumo, eu não quero...

— Venha - o avermelhado pediu mais firmemente, tocando docente a face do colega, fazendo com que lhe encarasse.

Suzuno automaticamente fechou os olhos ao encontrar os do avermelhado e afastou-se do seu toque. Aquele simples ato lhe fez lembrar do que o jogador da Seishou lhe fizera. Sentiu os olhos marejarem contra sua vontade e irritou-se consigo mesmo por isso.

— Por favor - Nagumo lhe segurou as duas mãos, percebendo a insegurança do colega - Está tudo bem, só quero conversar com você.

Suzuno passou a manga de seu uniforme nos olhos, se livrando das lágrimas insistentes; e se acalmando, mirou a rua na frente da sua casa onde vira um passarinho pousar, bicar o chão o logo se erguer para o ar novamente. Queria ser aquele passarinho...

Acenou com a cabeça, aceitando ir com Nagumo sem olhá-lo. Entendendo o comunicação sutil do colega, Nagumo o soltou e começou a caminhar para a direção da sua casa, sabendo que ele vinha logo atrás.


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Notas finais do capítulo

Arigatashi pra quem leu até aqui :3
E sério, vou tentar postar mais rápido -desde que não seja 6 meses de novo (UAU)- Mas uma coisa é séria: vou até o fim com a história!
Espero que tenham gostado Bjs



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