Autistic Love escrita por Claraneko


Capítulo 21
Amor Autista


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, aqui está o último capítulo de Autistic Love :)
Sinto muito minha demora, foi um mês pesado esse hein, mas antes tarde do que nunca.
Espero que gostem e leem com carinho ^^



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~Quatro semanas depois~

Suzuno acordou cedo e pulou da cama, ansioso. Era sábado e marcara de se encontrar com Nagumo para treinar e por isso se encontrava um pouco nervoso, já que tinha algo para mostrar para ele...

Nessas últimas três semanas, houveram cinco partidas oficiais de classificação do Campeonato Juvenil. Delas, Nagumo jogara quatro e Suzuno, nenhuma. Era um pouco frustrante. O avermelhado estava decidido em esperar o joelho do albino sarar totalmente antes de deixá-lo jogar, e até lá, continuavam com treinos mais leves.

Inicialmente, o prateado se encontrava bem preocupado com as partidas oficiais, agora que não podia jogar e Nagumo também não estava cem por cento.

 Entretanto, para a surpresa de todos, o jogador novo, Kiyama Hiroto, vinha segurando as partidas enquanto treinava os jogadores, encontrando a potencialidade de cada um, ele era incrível. Suzuno sorriu enquanto encarava a paisagem escurecida pela janela, ao pensar em Midorikawa encarando Hiroto emburrado durante as partidas, por ser a estrela sozinho. A ferida do esverdeado fora mais grave que a sua e por isso ficara muito mais tempo sem poder jogar, mas o esverdeado não estava mais abatido por isso, pelo contrário, parecia feliz por sempre voltar com Hiroto, a pessoa com quem sempre implicava diante de todos. Sinceramente, Fuusuke não compreendia isso. 

Suzuno tentava entender as ações contraditórias do amigo esverdeado, mas não fazia sentido. Por que Midorikawa parecia com raiva quando assistia Kiyama jogando, se voltavam sempre juntos?

— Ciúmes. - Nagumo lhe dissera um dia, divertido.

Suzuno desceu as escadas e encontrou a sala vazia e silenciosa, pois no fim de semana seus pais costumavam dormir mais que o costume. Sem fazer barulho, tratou de providenciar algo leve para comer antes de subir para se arrumar. Trinta minutos depois, saiu de casa e se dirigiu para o campo de sempre, um local verde no parque onde Nagumo e ele usavam para treinar. O prateado ajeitou com cuidado uma pasta debaixo do braço, dentro dela, estava algo para mostrar para o avermelhado.

Um acontecimento interessante havia acontecido a uma semana atrás com o albino. Tinha encontrado Usagi novamente, e ele simplesmente o ignorara, como se quisesse manter distância e claro, Fuusuke não contestou essa ação. Sentiu-se aliviado por ele não o perseguir mais. Mas o deixou curioso também e a se perguntar por que o capitão da Seishou decidira o deixar em paz.

Suzuno olhou para os arredores da esquina observando o escuro da manhã nas casas. Respirou profundamente o ar matinal. Ainda não tinha ninguém circulando pela rua, como era de se esperar, então começou a andar em direção ao parque em um ritmo de quem não tinha pressa.

Em relação ao seu convívio com outras pessoas, tinham algumas coisas que tinham mudado. Aparentemente, era difícil perceber a diferença, mas para Suzuno ela se mostrava visível. Desde a partida contra a Seishou, vinha sendo tratado com mais respeito. Na verdade, antes tinha muita gente que não o reparava, sequer olhava para ele, mas agora que sabiam que era o namorado de Nagumo, as pessoas não tinham mais como ignorar sua existência. Alguns colegas ainda o olhavam com certo desprezo por ser autista, isso era inevitável, mas a maioria o compreendia melhor, principalmente agora que sabiam que autismo não é uma doença. 

Os colegas perceberam como ele tinha mudado e que agora estava mais receptivo, logo viram que ele não era uma pessoa fria e indiferente como antes pensavam, mas um garoto doce e interessante e, claro, misteriosa. Por consequência, se aproximavam mais.

Ultimamente muitos colegas de classe foram até ele para tentar começar uma conversa. Apesar de se sentir meio pressionado e desconfortável, o albino havia feito o possível para lutar contra os próprios defeitos e enfrentar aquela barreira social. Havia descoberto que eram pessoas legais, que todos eram pessoas como ele. Claro, ainda ficava a maior parte do tempo sozinho, isso era algo que não mudaria. Se sentia bem sozinho, afinal de contas, e não se preocupava mais com a opinião dos outros. Desde que estivesse bem era o que importava.

No dia anterior, uma garota, uma daquelas que tinha lhe prendido no banheiro, veio até ele no corredor para falar consigo. Ela vinha pedir satisfação do por que estava quase sempre com Nagumo. Suzuno sorriu naquele momento, concordando mentalmente que Nagumo não gostava de lhe deixar sozinho por tanto tempo.

— Nós estamos namorando. - Foi o que respondeu a ela, fazendo que que a mesma o olhasse indignada, antes de virar as costas e sair andando com passos largos. A maior parte do colégio já sabia, na verdade, mas algumas pessoas, principalmente garotas, se recusavam a acreditar.

Chegando no parque, Suzuno se deslumbrou com a paisagem que via. Ainda estava bem escuro, e as árvores e a grama estavam minimamente iluminados pela luz suave do pré amanhecer. Andou mais cinco minutos antes de encontrar o vasto solo gramado ao lado de um lago. Ainda devia ser umas seis e meia da manhã, então o prateado sentou-se em um extenso morro antes do campo e olhou para ele, reflexivo.

Aquele lugar lhe lembrava Nagumo.

Vinham treinando naquele lugar fazia poucos meses mas parecia que suas vibrações ressoavam por aquele gramado, relembrando disputas, dribles, chutes e técnicas que haviam feito juntos. Suzuno sentiu seu coração palpitar, ansioso. Depois de quatro semanas após a partida contra a Seishou, finalmente voltaria a jogar uma partida treino entre seus colegas, que seria dali a dois dias. Estava feliz, finalmente jogaria uma partida de verdade com o time e, principalmente, ficaria ao lado de Nagumo, como um atacante. Também, o Campeonato Nacional estava chegando, sim, aquele que sempre achara que não chegaria. E em uma semana, estaria jogando lado a lado com o time pelo título Nacional.

Suzuno mirou o céu, sentindo a ansiedade em seu coração acelerado. A paisagem o fez se acalmar e lembrar do por que de estar ali.

Havia marcado para se encontrar com Haruya naquele lugar às oito horas, ainda tinha muito tempo e esse tempo de espera era altamente proposital. Fuusuke não fazia coisas sem um objetivo. De dentro da pasta que trazia tirou uma folha de papel canson com a qual já vinha trabalhando faz um tempo. Olhou para a imagem no papel por alguns minutos, avaliando alguns erros de caneta, antes de começar a dar os últimos retoques. O sol logo lançou os primeiros filetes de luz na manhã fria, ajudando Fuusuke a enxergar melhor os movimentos de sua mão trabalhando.

A imagem naquela folha já estava terminada, mas Suzuno sempre fora muito perfeccionista, queria sempre mostrar o seu melhor. Mas demorava muito, só naquele desenho, já utilizara oito horas. Era por isso que não gostava de provas com tempo, o tempo que se precisa para fazer algo é muito importante, e fazer as coisas rapidamente não devia ser considerado um sinônimo de habilidade. A perfeição advém da prática, do entusiasmo e do amor das pessoas por aquilo que fazem, é por isso que a maioria das pessoas não a alcançam: porque não fazem o que gostam. Suzuno suspirou, era por isso, pensou, que era um péssimo zagueiro.

O prateado parou o que fazia e afastou o desenho com as mãos, vendo-o de longe. Não importa o quanto corrigisse, sempre percebia um detalhe que não lhe agradava. Continuou concentrado até o sol se posicionar inteiro no céu, mais ou menos nessa hora, ouviu alguns passos se aproximando. Imediatamente guardou o desenho na pasta, deixando-a do seu lado. Virou o rosto para ver o avermelhado se aproximando.

— Chegando primeiro como sempre. - Nagumo sorriu antes de se sentar ao seu lado. - Esperou muito?

— Sim - Suzuno respondeu. - Mais ou menos uma hora e trinta minutos.

Nagumo o olhou de boca aberta, principalmente por saber que o namorado não era de mentir ou brincar com o tempo.

— O que ficou fazendo esse tempo todo?

— Terminando um projeto.

— ... Projeto? - repetiu, curioso. - Posso saber o que é?

Suzuno acenou com a cabeça.

— Pode, eu fiz ele por sua causa.

Nagumo sentiu seu corpo tremer de alegria, só de saber que era por sua causa, já ficava contente.

— Mas antes quero te mostrar outro desenho. - Suzuno pegou de sua pasta outra folha de papel, esta se encontrava mais desgastada que a outra. Entregou-a para Nagumo que a observou atentamente.

— Isto é... 

— Aquele desenho que fiz quando te conheci, que você ficou insistindo o dia todo para que mostrasse a você. - Fuusuke o lembrou, quando percebeu que Haruya provavelmente não se lembrava mais daquilo. - Você me fez prometer que se passássemos para o Campeonato Nacional eu te mostraria esse desenho. E você estava certo esse tempo todo, nós conseguimos.

Nagumo que olhava admirado para o desenho, encarou o namorado com aquele último comentário.

— Admitindo que eu sou demais? Que raridade.

Suzuno suspirou e o olhou torto.

— Você anda muito orgulhoso ultimamente.

— É claro, eu estou namorando com a pessoa mais incrível que já conheci, me diz se isso não é motivo suficiente para ficar orgulhoso.

— Eu não sei dizer ao certo...

O prateado corou e Haruya sorriu. Como ele era lindo, como o amava...

— Também, claro que eu lembro do desenho, não tinha como eu esquecer da nossa promessa.

Suzuno o escutou e então procurou na pasta o outro desenho que queria mostrar para o avermelhado, segurou-o e olhou para o namorado, pensativo.

Nagumo o encarou intrigado e curioso, abaixou o desenho de fogo que segurava.

— Esse é o projeto que fez por minha causa?

Suzuno enrubesceu, apertando um pouco a folha de papel sobre seu peito.

— Sim... E não fale desse jeito, vai acabar ficando convencido demais. - Suzuno disse, realmente não devia ter dito que era por causa dele.

Nagumo soltou uma risada divertida, nossa, como adorava aquele jeito repreensivo e doce que o prateado tinha.

— Está bem.

— Então... - Suzuno virou a folha e a entregou hesitante para o namorado. 

Nagumo a segurou com as duas mãos e ao olhar o desenho se sentiu petrificado pelo que via.

Suzuno esperou ansioso para que Haruya dissesse alguma coisa, qualquer coisa. Sentiu um frio na barriga de nervosismo enquanto o namorado avaliava o seu desenho, esperava ele tivesse gostado.

Depois de longos cinquenta segundos, Nagumo encarou o namorado impressionado.

— Meu deus, Fuu-chan, você é mesmo um gênio, isso aqui está incrível. - Nagumo comentou, olhando do namorado para o desenho, maravilhado. Não sabia dizer ao certo o que via, mas era incrível, as vezes via duas bolas de futebol, e em outro momento era o símbolo do infinito. Só sabia de uma coisa: aquele desenho simbolizava união, via os dois juntos, para sempre. Talvez Suzuno não tivesse percebido isso quando o fez, já que desenhava o que sentia, mas Nagumo ficou muito feliz com a demonstração de carinho... De amor. De súbito, o avermelhado sentiu uma vontade enorme de beijá-lo, levou sua mão até a face alva do namorado, que o encarou de volta. Apesar de serem namorados a quatro semanas, não se beijavam com frequência, na verdade, era bem raro, Nagumo sabia que não devia ter pressa. Não tinha pressa, aqueles momentos juntos era maravilhosos, nunca tinha estado tão feliz na vida. - Suzuno, eu te amo.

Suzuno mostrou um sorriso doce e tímido, se perguntando o que o avermelhado vira no seu desenho, cada pessoa sempre via uma coisa diferente, isso era intrigante. Não costumava pensar muito em formas ao desenhar, por isso era tão interessante ouvir a opinião de todos. Mas Nagumo não falou nada mais, apenas ficou o olhando profundamente. Suzuno observou aqueles olhos amarelos nas quais decidira confiar para se libertar da prisão que o envolvia, aqueles olhos fortes e gentis prometiam lhe acompanhar e proteger para onde for. Se sentia tão leve com ele.

— Também te amo, Nagumo.

Nagumo sorriu antes de se aproximar ainda mais e fazer tocar seus lábios em um beijo calmo. O avermelhado segurou a nuca do albino antes de aprofundar o beijo, aos poucos transformando o beijo doce em um mais intenso e quente. Os poucos segundos preciosos que o beijo se estendeu pareceram séculos aos olhos dos dois. Se separaram quando faltou fôlego para continuar.

Suzuno arregalou os olhos um pouco desnorteado. Era impressão sua ou dessa vez tinha sido diferente?

— Está tudo bem? - Nagumo perguntou.

— Sim, não podia estar melhor.

O avermelhado sorriu antes de trazer o namorado para um abraço terno e agradecido. Nossa, como agradecia aos céus por poder ter aquele momento em sua vida, soube então, que estaria com aquela pessoa até os últimos momentos de sua vida.

O sol já estava bem visível no horizonte, trazendo para a vista dos dois uma paisagem pura e belíssima, ficaram a admirá-la por um tempo, submersos naquele momento prazeroso de amor e aceitação da vida. A vida é algo belo, complexo e incompreensível, mas agora sabiam que o que era importante era tão somente o amor, e tudo aquilo que se punha contra ele, eram os desafios da existência com que deveriam combater. E lutariam contra eles, juntos, pois agora não estavam mais sozinhos.

Nagumo beijou suavemente o topo da cabeça do namorado e levantou, quebrando a submersão de Suzuno que provavelmente levariam tempos para passar. Em seguida, guardou o desenho com carinho na pasta do albino, mais tarde, pensava, iria fazer um quadro com ele. 

— Agora vamos treinar? - O avermelhado pegou a bola que trouxera, antes esquecida na grama.

Suzuno acenou e sorriu de forma um tanto ansiosa, fazendo Nagumo se alegrar por ser o único a ver aquela expressão tão rara e especial naquela bela face. Sabia que o namorado amava futebol e com o Campeonato Nacional chegando, seu amado vinha se mostrando cada vez mais empolgado e incontrolável por treino.

— Vamos logo, o que está esperando? - Perguntou Suzuno que já estava descendo o morro, preparando-se.

Nagumo seguiu-o  e começaram a treinar, sem ligar para o tempo ou qualquer outro que pudesse lhes separar, pois aqueles momentos em que ficavam sozinhos trocando energia e força com  bola, eram apenas deles. Esses momentos apenas um com o outro eram mágicos, e eram só o que pediam. Novamente, o passar do dia não fora o suficiente para separá-los.

...

~Segunda feira~  

— Hoje vão entrar alguns novatos no time. - Midorikawa comentou enquanto caminhavam até a campo de futebol externo, onde metade do time já se aquecia. - Parece que nossas partidas do campeonato chamou atenção de muitos estudantes.

— E isso é bom? Já temos onze jogadores. - Nagumo disse.

— Quanto mais melhor - Hiroto retrucou. - Um time de futebol forte tem que ter muita gente, assim os jogadores titulares vão se empenhar para manter sua posição, é um esquema de motivação mútua.

— Ah, entendo. - Nagumo pensava, reflexivo. - Faz sentido, mas não vou deixar ninguém tomar meu lugar, não é mesmo, Suzuno?

— Sim. - O prateado respondeu, meio tonto. A idéia de ter ainda mais gente no time o deixava um pouco desconfortável, mas era bom que o futebol dessa escola estava sendo mais reconhecido.

Antes de começar o treino, o treinador Timo fez com que os novatos se apresentassem, eram apenas seis, mais já aumentava bastante o número de força que tinham. Isso mostrava com seu time estava evoluindo, e planejavam crescer ainda mais, ficar mais fortes e vencer o Campeonato Nacional.

Ao menos era o plano, entretanto, logo o treino começou e os jogadores novos se mostraram sem conhecimento algum dos movimentos mais básicos do jogo e tiveram dificuldade em exercícios simples. O treinador Timo suspirou fundo quando viu que teriam um longo caminho pela frente.

— Tudo bem, ninguém começa sabendo, não se esforcem demais, o corpo de vocês ainda não está acostumado. - O treinador disse para eles antes de começar uma partida treino de seis contra seis com o time titular, onde Midorikawa se alegrou por poder participar também. Os novatos sentaram nos bancos resevas para assistir.

Foi um espetáculo, denunciado pelos olhares vidrados dos jogadores novos para com a equipe titular. Mal conseguiam piscar os olhos. As jogadas estratégicas e poderosas de Hiroto eram impressionantes, a energia e velocidade do garoto de cabelos verdes era de prender o olhar de tão espetaculares e os chutes impulsivos de Nagumo, atrelado a sua personalidade forte, davam jus a sua posição como capitão do time. Entretanto, aquele com que mais se impressionaram foi o atacante cujos movimentos sutis e cortantes abriam caminho sem falha até o gol adversário; aquele que era forte, belo e letal, o príncipe de gelo, como chamaram entre eles. Logo esse título pegaria e ficaria conhecido por todo amante de futebol.

Em campo, Nagumo estava tão maravilhado quanto, finalmente, depois de tanto tempo, Suzuno vinha mostrando cada vez mais do seu potencial na frente das pessoas, não podia estar tão contente. Porém, perguntou-se se o treinador os colocara em times adversários para ajudar nesse processo, já que o amado não se segurava quando jogava contra ele. Não sabia se era o plano mas, de qualquer maneira, tinha funcionado.

Fuusuke atacava para vencer.

O time que Suzuno liderava ganhou. Ao decorrer de toda a partida, o prateado vinha dando ordens para fazer movimentos precisos e estratégicos, explorando as potencialidades de cada um da equipe de acordo com os dados que obtivera mediante sua observação de quando era zagueiro. Seus companheiros se surpreenderam em como o atacante explorou suas habilidades, algumas que nem mesmo sabiam que existia. Eles gostavam, desse novo Fuusuke Suzuno.

O treinador deu o treino por encerrado o time começou a se dispensar para o vestiário.

— Um a zero. - Suzuno contou enquanto caminhava ao lado do companheiro.

— É um desafio? - Nagumo sorriu, sabendo que essa nova contagem era de jogos treino em que cada um deles liderava um time. - Na próxima, eu não vou perder.

Suzuno sorriu confiante, não perderia também.

No vestiário, os novatos comentavam empolgados sobre a partida e falavam principalmente, é claro, sobre os capitões de cada time. Quando os dois entraram, os olhares foram todos para eles. Os jogadores novos não perderam tempo para cercá-los com perguntas. Nagumo, claro, respondeu-as falando em como ele era incrível.

— É verdade que vocês namoram? - Um garoto perguntou curioso e Suzuno corou.

— Sim. - Nagumo fez questão de responder, não faltava orgulho naquela afirmação, fazendo Suzuno suspirar e se desvencilhar daquela multidão para pegar suas coisas no armário.

— Meu deus, como você conseguiu? - Outro novato perguntou.

Nagumo apenas riu e coçou a cabeça, sem saber o que falar.

— Acho que nunca saberemos. - Respondeu o goleiro titular do time.

— Que sorte hein. - Outro novato comentou, observando a beleza natural do príncipe de gelo, de aparência elegante e delicada, que quando precisava, falava apenas o essencial de forma gentil e educada. Em contrapartida, Nagumo era o extremo oposto da sua personalidade, era uma dupla curiosa.

— De qualquer forma, cuidado Nagumo, para não perder sua posição de capitão. - Um defensor comentou animado e deu uma batidinha nas costas do avermelhado. 

Nagumo sorriu, não podia discordar, o namorado vinha mostrando fortes características de liderança e trabalho em equipe, apesar de saber que o mesmo não iria querer ser o capitão, ao menos não ainda.

— Ahh, a nossa primeira partida do campeonato vai ser em uma semana. - Um meio campista disse enquanto colocava o uniforme escolar. - Estou tão nervoso.

— Será que temos chance? - Outro comentou, apreensivo. - E ainda temos que ir para Tóquio para jogar...

— Claro que temos, e digo mais, vamos voltar para Inazuma como vencedores do Campeonato Nacional, vocês vão ver. - Nagumo vociferou, empolgado.

Toda a equipe reagiu alegre às expectativas do capitão.

— Não, - uma voz ressoou e seu tom sereno e direto imediatamente fez com que todos olhassem para quem falava. - Apenas o nacional não... - Suzuno continuou, todos escutavam atentos, já que seu atacante de gelo não costumava mostrar sua opinião. - Nosso objetivo é o Mundial, vamos voltar como os vencedores do mundo.

Todos foram a loucura, vibrando animados. Fazendo parecer que só porque aquela pessoa falara aquilo, que o fato ia se concretizar. 

— Vamos ao mundial. - Nagumo gritou, erguendo o punho para cima, Em seguida todos os jogadores repetiram o gesto. - Vamos ao mundial. - Todos repetiram em uníssono. 

Depois das vibrações dos colegas diminuírem, Hiroto deu um passo a frente.

— Mas isso vai ser difícil, - disse o avermelhado. - Precisamos ser muito fortes para chegar ao nível do mundial.

— Sim, eu sei. - Suzuno falou para o meio campista, em seguida, seu olhar azul acinzentado passou pelos seus companheiros de time. - É por isso que vamos treiná-los. - Seu olhar parou nos novatos. - Todos vocês podem ser fortes.

Os jogadores novos se emocionaram, alguns esconderam o rosto não mostrarem as lágrimas de emoção que insistiram em cair. Já outros sentiram um frio na barriga de empolgação, aquelas palavras vindas daquela pessoa carregavam uma frequência capaz de mudar todo o ambiente.

Encorajados a treinar e entusiasmados para começar, os jogadores decidiram os locais e horários do treino. Quem iria ensiná-los seriam Nagumo, Suzuno e Hiroto, que já se destacavam como a força do time.

— Oras, por que eu não? - Midorikawa estreitou os olhos.

— Por que você ainda está se recuperando. - Hiroto sorriu carinhosamente para ele. - Não deve se esforçar demais.

— Ei Hiroto, não invente desculpas só para não dizer que o Midorikawa é imaturo demais para ensinar alguma coisa. - Nagumo riu.

Midorikawa o fuzilou com os olhos e depois virou o rosto. Mas não conseguia negar, não se encaixava em ensinar os outros mesmo e não tinha a mesma capacidade avaliativa dos três. Além disso, gostava de ser livre não ter obrigações.

— Não me importo mesmo. - O esverdeado disse.

— Então, todos estejam no campo de futebol do parque nos dias e horários combinados para o treinamento. Nossa primeira partida é em uma semana, não se atrasem. - Nagumo proferiu.

— E não pensem que vamos pegar leve. - Suzuno foi direto e os companheiros sentiram um calafrio. Na realidade, estavam felizes que seriam treinados por eles.

Logo os jogadores foram indo embora, Nagumo e Suzuno saíram juntos, do mesmo jeito que Hiroto tratou de acompanhar o amigo esverdeado pelo caminho de sua casa, todos já concordavam que era inegável que havia algo rolando entre os dois.

No vestiário, algumas pessoas ainda se arrumavam. O goleiro observou os novatos, curioso. 

— Então, o que acharam no nosso Suzuno?

Os novatos respondem com brilho nos olhos.

— Ele é incrível.

— É bem legal e gentil

— É muito forte.

O goleiro sorriu pelas repostas.

— Sim, ele é. - Olhou para a porta onde a pouco tempo atrás eles tinham saído. - Devemos ao Nagumo por isso.

— Porque?

— Suzuno não era assim antes?

— Ele era, ele sempre foi - O goleiro disse. - Mas se não fosse por Nagumo, nós nunca saberíamos disso.

...

— Não acredito que você fez aquilo. - Nagumo manifestou, orgulhoso.

No caminho de volta, os dois comiam manju, um bolinho doce feito a base de mochi e recheado com anko (pasta doce de feijão azuki). 

Nagumo ainda não conseguia acreditar.

— Estou um pouco enciumado, com você dando tanta atenção a eles. - O avermelhado disse.

Suzuno não soube dizer se o namorado estava brincando ou não, mas não desviou sua atenção do doce que saboreava. Quando terminou, refletiu sobre aquelas palavras.

— Esse treinamento vai ser necessário, se quisermos vencer.

— Sim, mas uma vez um realista e belo garoto me disse que era impossível chegarmos às nacionais, agora esse mesmo garoto fala que podemos ir ao mundial... - Nagumo sorriu, não podia negar que gostava dele falando assim.

— Nagumo, se eu disse podemos chegar no mundial, então é por que temos chance de fazê-lo. - Fuusuke o olhou, sincero. - Eu não entro em causas perdidas.

— Sim, eu sei. Eu te conheço mais do que qualquer um... Mas, a propósito, e sobre a demasiada atenção aos jogadores do time, como devo reagir sobre isso?

O prateado sorriu e olhou docemente para ele, se perguntando se ele estava mesmo com ciúmes.

— Nagumo, - Suzuno chamou e esperou que o avermelhado o olhasse, e quando ele o fez, apenas amor emanava dos seus olhos. - Eu amo você.

Foi o suficiente. 

Nagumo imediatamente percebeu naquela feição que tanto amava, ciúme era algo fútil para eles, não precisava dele. Aquela frase lhe confessava que entre todos, ele ‘lhe’ amava e nada, nem ninguém, podia mudar isso.

O mão do avermelhado procurou pelos dedos delicados do companheiro e entrelaçou-os nos seus.

— Eu também te amo muito.

O vento frio do anoitecer encontrou-os fazendo-os lembrar do inverno que chegava, caminharam de mãos dadas pelo caminho já tão conhecido.

— Nagumo, eu nunca te agradeci... Por me mostrar a luz. Se você não tivesse aparecido, eu ainda estaria na escuridão, levando uma vida sem entender as pessoas, completamente sozinho. Muito obrigada.

— Não me agradeça, Fuu-chan, você é a luz da minha vida. Eu vivia nas sombras até te conhecer, se não tivesse lhe encontrado, nunca saberia o que é amar. Sou muito grato por tudo que aprendi com você.

Silenciosamente, cristalinas lágrimas de felicidade escorreram pela face alva do albino, Nagumo parou a caminhada para secá-las, olhando carinhosamente para seus olhos azuis. 

— Eu nunca vou cansar de dizer isso, meu namorado é a pessoa mais linda desse planeta.

— Nagumo... - Fuusuke enrubesceu, tímido. - Meu namorado bobo é a pessoa que mais me faz feliz no mundo.

Um beijo apaixonado aconteceu naquele lugar, debaixo das luzes de Inazuma que acendiam com o anoitecer. Não era estranho, não era anormal e tampouco proibido. Para as pessoas que passavam, eram apenas dois garotos que se amavam demais, um amor incondicional e puro. E para o amor, não existem regras nesse universo que possam impedi-lo de expressar-se. 

Juntos, caminharam pela cidade, agora sem mais destino certo, não precisavam necessariamente voltar para casa naquela hora, afinal, estavam namorando agora. Suzuno envolveu seu braço naquele que amava, desejando intensamente em não afastar-se nunca mais; Nagumo não disse nada, simplesmente sorriu e acalentou-o em um abraço aconchegante e seguro. A paz em que se encontravam agora era aquela que nunca tinham tido, e o amor que sentiam naquele momento era maior do que jamais poderiam ter imaginado conhecer. Seu amor era tão verdadeiro como qualquer outro, mesmo um amor como o deles, um amor autista, permitia-os sorrir e olhar para as estrelas daquela noite fria.

Fim


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Notas finais do capítulo

Bem pessoal, agradeço a todos que leram até aqui, fico muito feliz e emocionada com vocês, leitores, já que escrevo para vocês. Fico, às, vezes, pensando que é interessante ter 50 ou 60 pessoas em algum lugar desse remoto Brasil que leu minha história, e fico muito agradecida. Sabe, não cnheço pessoalmente ninguém que leia-as, nem mesmo a família (então não dá para conversar com ninguém :'( ), por isso obrigada por me acompanharem até o final de AL :)



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