Autistic Love escrita por Claraneko


Capítulo 19
Nova Manhã




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Ele abriu os olhos lentamente...

Era o dia seguinte após sua partida com a Seishou. Suzuno levantou-se da cama sonolento e ficou sentado por alguns instantes, sentindo todos os músculos de seu corpo reclamarem. Ao menos, pensava, ficaria mais forte fisicamente depois do que tinha acontecido no dia anterior.

Havia dormido pouco também, às três e meia da manhã, o ônibus chegara em Inazuma e todos tiveram o desprazer de serem acordados pelo Treinador Timo. Mas ele era um bom treinador, e só os chamara quando estacionava em frente da casa de cada jogador.

Logo que chegou em casa, Suzuno não pensou duas vezes e foi direto para seu quarto e se jogou na cama, morrendo de sono e cansaço.

Queria muito, muito e muito dormir mais.

O prateado suspirou e encarou a janela aberta por onde o sol aparecia tímida e sorrateiramente. O tempo estava bom e fresco, uma brisa levemente fria entrava e remexia seus cabelos.

Repentinamente, uma sensação estranha de dor o atingiu, fazendo-o procurar uma certa região na sua barriga. Cerrou os olhos, desconfortável, quando viu uma marca vermelha da mordida que Usagi deixara ali. Um calafrio percorreu seu corpo quando lembrou daqueles dedos rudes lhe tocando, não sabia como explicar, mas era como se uma angústia quisesse lhe impedir de usar roupas leves ou usar camisa sem manga. Uma vontade inconsciente de não usar roupas que mostrassem a pele, para se proteger. Sim, isso era estranho, mas sempre fora passível de adquirir traumas.

E Nagumo...

Se não fosse por Nagumo, acreditava que teria adquirido trauma de toques humanos também, aquele abraço tinha o salvado; aquele tempo juntos o tinha libertado. E tinha aquele beijo também...

Suzuno enrubesceu e cobriu-se como uma bolinha debaixo dos lençóis. Aquilo fora tão bom. Céus, o que fora aquilo? Era complicado relacionar o toque de seus lábios com o fato do amor dos dois ser recíproco. Será que todas as pessoas que se amavam faziam isso? Isto é, se beijar? Era difícil dizer. No Japão, as pessoas não costumam mostrar seus sentimentos em público, por isso, era normal não ver demonstração de afeto entre elas.

Depois de mais quatro minutos escondido entre os lençóis, vermelho de vergonha e com o corpo cansado e pesado, o horário fez Suzuno sair do cantinho de pensamentos para se arrumar para a aula. Ainda estava no início da semana, e a próxima partida seria na semana que vem. Portanto, precisava ficar mais forte até lá.

Suzuno saiu de casa e logo deu de encontro com um avermelhado que lhe esperava.

Nagumo sorriu abertamente quando o viu, acenando com a mão.

— O que faz aqui? - Suzuno estranhou, a presença do colega naquela hora não condizia com seu hábito de ir para a escola.

— Te esperando, claro - Nagumo respondeu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. - E ver se você está bem, depois de ontem... - O avermelhado preocupado parou quando viu que aquele assunto deixou Suzuno desconfortável. Não precisava perguntar o por quê, quando chegara no local, Usagi estava praticamente em cima do menor. Apenas lembrar, dava-o náuseas.

— Nagumo, sobre ontem... - Suzuno corou. - O que foi aquilo que você fez aqui? - Apontou para sua boca, estava morrendo de vergonha perguntando daquele jeito, devia parecer um idiota, mas precisava entender o que tinha acontecido.

Nagumo arregalou os olhos, surpreso com a pergunta. Mas logo compreendeu o que o prateado queria saber. Sorriu, devia saber que aquilo era novo para ele. Era tão meigo, aqueles belos olhos azuis o observando com expectativa, esperando a resposta.

Nagumo aproximou-se do prateado e tratou separar a distância entre seus lábios. Foi um beijo doce e suave, que durou alguns segundos antes de se separarem lentamente.

Suzuno sentiu seu coração esquentar e palpitar, como no dia anterior.

— O que é isso? - Perguntou novamente, ansioso.

— Um sinal de amor..? Bem, sei lá. Acho que não tem como explicar. - Nagumo respondeu, incerto. - Mas na nossa idade, só tem um jeito de podemos fazer isso quando quisermos.

— E qual é?

Nagumo olhou para o albino com um olhar bobo e temeroso, mas logo ficou confiante e decidiu tentar. Envolveu as mãos macias dele entre as suas.

— Suzuno, quer namorar comigo?

Suzuno o fitou atentamente por um instante. Entendia o que significava namorar. Sabia que seus pais já tinham feito isso quando eram jovens, pelo que eles mesmo disseram, era uma relação mais profunda entre duas pessoas. Não queria perguntar nada a mais sobre o que namorados faziam, queria apenas saber de uma coisa:

— É o que pessoas que se amam fazem?

Nagumo acenou com a cabeça.

— Então está bem.

— Uh? - Nagumo abriu bem os olhos, surpreso e contente. Pensava realmente que ele ia negar. - Sério mesmo?

— Sim. - Suzuno respondeu enquanto arqueava uma sobrancelha, que parte da resposta ele não tinha entendido?

Nagumo abraçou fortemente o novo namorado, feliz. O albino soltou uma exclamação de surpresa com aquele gesto, percebeu logo que teria que se acostumar com aquelas ações inesperadas do avermelhado.

— Nagumo... Vamos nos atrasar...

— Vamos nada, ainda é cedo - Nagumo retrucou. - Você vai para a escola cedo demais, Fuu-chan. Vamos ficar assim só mais um pouquinho?

— Fuu-chan? Nagumo, isso ficou bem estranho.

Nagumo riu.

— Mas é fofo como você.

— Não gostei.

— Prefere como então?

O prateado pensou.

— Suzuno está bom.

— Está bem. - Nagumo desistiu, era difícil contestá-lo.

— Er, Nagumo?

— Oi?

— Está doendo. - Suzuno se referiu ao abraço apertado que o avermelhado lhe dava, que faziam seu corpo doer pelo esforço do dia anterior.

— Ah, desculpa - Nagumo se afastou. - Vamos então?

Suzuno concordou com a cabeça, e começaram a andar.

— E como está seu joelho? - Nagumo perguntou, preocupado.

— Ainda dói, bastante.

— Posso te carregar?

— Nem pensar - O albino foi direto e Nagumo riu, já esperando por isso.

Logo Nagumo mostrou um semblante preocupado, não gostava do fato de Fuusuke estar sentindo dor.

— Aliás, eu conversei com o treinador Timo ontem e bem... Agora você já pode se considerar um atacante.

Suzuno o encarou surpreso.

— Então, posso jogar ao seu lado?

— Sim.

Suzuno sorriu, alegre, finalmente poderiam jogar juntos como nos treinos. Nagumo admirou aquele sorriso divino antes de falar algo que acabaria com ele.

— Mas não nas próxima partidas, até seu joelho se recuperar.

Suzuno suspirou, chateado, mesmo sabendo que era muito imprudente jogar naquele estado.

— Entendi. - Disse cabisbaixo.

Nagumo segurou a mão do namorado.

— E por que isso? - Suzuno percebeu uma intensa onda de calor perpassar seu corpo com aquele simples ato.

— Vamos para a escola de mãos dadas? Namorados fazem isso.

— Mas as pessoas vão perceber.

Nagumo riu.

— Essa é a intenção.

Suzuno cerrou as sobrancelhas com o comentário, mas se deixou guiar pelas mãos do avermelhado.

...

Ao chegarem no portão da escola Suzuno não aguentou a pressão e fez questão de soltar sua mão da de Nagumo.

A notícia de que o time recém formado da escola tinha vencido a escola Seishou tinha se espalhado e, claro, parecia que os estudantes estavam relacionando a vitória ao recém chegado e popular Nagumo Haruya. Foi o avermelhado passar pelo portão e que logo foi notado. Alguns estudantes comemoraram com elogios, palmas e palavras de motivação para as próximas partidas. Entretanto, logo notaram que Haruya não chegara na escola sozinho.

Suzuno retesou-se, parando de andar ao sentir-se fortemente observado. Não gostava daquilo. Não era como no jogo de futebol onde ser um jogador em campo era normal. Aquela era a escola, onde uma pessoa como ele ao lado de uma pessoa como Nagumo não era nada comum.

Nagumo percebeu a insegurança do menor e tratou de segurar firmemente sua mão.

— Não ligue para eles. - Disse Haruya, aproximando-se do rosto do albino, para que só ele ouvisse. - Eu amo você e estamos namorando agora. A opinião de qualquer um sobre isso é irrelevante. Só você importa para mim.

Suzuno ergueu o rosto para encará-lo, enrubescido e tocado por suas palavras.

— Mas... Você não se importa mesmo do jeito que sou, ou de como eles vão te ver?

— Nem um pouco. Apenas quero que você seja como você é. Não precisa se forçar a fazer qualquer coisa que não queira, ou falar com alguém. Pois amo você, sua essência é linda e especial. Não dou a mínima para o que os outros vão pensar ou dizer... E se disserem algo de você eu quebro a cara... Er, quero dizer, vão se ver comigo.

Dito isso, Nagumo levou o menor pelas mãos, andando até a frente da escola. Os olhares sobre eles eram curiosos e vinham de todos os lados; murmuravam, cogitando expectativas. Nagumo ignorou-os, estava feliz demais para levá-los a sério. Afinal, Suzuno, um anjo extraordinário e incrivelmente raro de se encontrar havia aceitado namorar consigo, um cara normal e sem segredos a contar. Não tinha palavras para dizer o quanto se sentia afortunado por isso, era como receber um presente dos céus e que deveria guardar e proteger com carinho e respeito. Mas sem exagerar, claro, sabia que Suzuno não gostava de se sentir preso ou sufocado. O aceitaria como ele era, essas características não eram algo anormal e tampouco um problema, muito pelo contrário, as compreendia e aceitava. Nenhum namorado deveria forçar o outro a estar presente o tempo todo, exigir atenção ou forçar o outro a fazer algo que não queria.

Um grupo de colegas de classe abordaram os dois. Tanto Nagumo quanto Suzuno os reconheceram imediatamente. Eram os estudantes que tinham trancado o prateado no banheiro.

Suzuno sentiu um calafrio ao lembrar daquelas paredes o esmagando.

Uma garota se aproximou do albino, sem notar as mãos entrelaçadas dos dois. A garota que outrora falara coisas ruins de Suzuno agora parecia se sentir frustrada pela estranha aproximação deles.

— Seu nome é Suzuno, não é mesmo? É verdade que é autista? - A garota perguntou, em sua mente, pensava que Haruya provavelmente não sabia disso e se afastaria do outro ao saber daquele fato. Os outros colegas de classe se reuniram em volta do garoto, esperando a resposta. Certamente, nunca tinham ouvido sua voz.

Nagumo logo pensou em espantá-los como já tinha feito outras vezes antes, mas Suzuno o deteve com um movimento de cabeça.

O menor olhou para a garota, não guardava rancor contra ela, também porque nunca fora bom em decifrar perguntas e expressões de sarcasmo e ironia. Rancor era uma carga pesada na qual não entendia por que as pessoas insistiam em carregar.

— Sim, eu sou autista. - Respondeu simples e diretamente.

Os colegas arregalam os olhos e começaram a cochichar. Nagumo sorriu orgulhoso pela coragem do namorado. A mesma garota se virou para Nagumo, incredulada.

— Você sabia disso, Nagumo?

Nagumo ergueu as mãos entrelaçadas.

— Sim, e estamos namorando. - O avermelhado sorriu para ela como se dizendo: é melhor que pensem duas vezes antes de fazer outra brincadeirinha de mal gosto com ele.

A garota pareceu surpresa e contrariada, afastou-se dos dois com passos largos. Nagumo a imitou a saiu daquela multidão barulhenta.

Ao se aproximarem do edifício da escola, encontraram um Midorikawa sentado em um banco de madeira. Muletas encontravam-se encostadas nela. O esverdeado acenou ao vê-los. Foram até ele.

— Está tudo bem com vocês? - Midorikawa perguntou.

— Sim, está tudo dolorido mas vamos sobreviver. - Nagumo respondeu.

Suzuno encarou o namorado.

— Sobreviver? Mas não tem como morrer com algo como aquilo.

Nagumo riu.

— Tinha esquecido como você leva as coisas ao pé da letra.

Suzuno arqueou os olhos diante daquele comentário.

Midorikawa os encarou  e começou a juntar os pontos, percebeu logo o jeito em que suas mãos estavam dadas. Sorriu.

— Vocês dois estão juntos agora?

Suzuno corou com a pergunta e novamente separou sua mão da de Nagumo que concordou com um aceno de cabeça.

— Aleluia. - Sorriu levemente, só não comemorava mais, como normalmente iria fazer, pois realmente não estava se sentindo bem. - Aliás, o que aconteceu lá ontem? - Midorikawa perguntou curioso. Havia pensado naquilo a noite toda. - Se tivesse sido uma partida de futebol como você contou, não estariam acabados como voltaram. O Usagi... fez alguma coisa, não fez? - O esverdeado olhou para Suzuno que baixou o olhar.

Nagumo lembrou-se do que Usagi tinha dito no dia anterior, imediatamente adquiriu um aspecto sombrio.

— Você também, Midorikawa, o que Usagi fez com você?

Midorikawa olhou para baixo e balançou a cabeça.

— Nada que eu consiga contar... Não quero falar sobre isso.

— Está bem... A gente também não. - Nagumo colocou sua mão no topo daqueles lisos cabelos esverdeados e bagunçou-os em um carinho suave. - Se aquele canalha ter a cara de pau de vir aqui eu vou ter o prazer de acabar com a raça dele.

— Nagumo, cuidado com as palavras. - Suzuno alertou, não gostava de palavrões. - E isso é, quando você estiver inteiro novamente.

— Desculpa, Suzuno.

Midorikawa sorriu enquanto ajeitava o cabelo que o atacante tinha bagunçado. Apesar de seu campo mental e emocional parecerem estar quebrados, ainda conseguia sorrir. Não queria contar que estava se sentindo péssimo por causa do beijo de Usagi, mas apenas estar com aqueles dois conseguia o fazer sorrir. Era estranho e reconfortante ver aqueles dois juntos, cada um tão diferente do outro; talvez fosse por isso que se completassem. Esperava que fossem felizes juntos. Mas já ele era um caso perdido.

O sinal para o início das aulas tocou e aos poucos os estudantes foram sumindo de vista.

— Então vamos. - Nagumo chamou.

Midorikawa suspirou e olhou com um semblante de tédio para as muletas ao seu lado. Pegou-as com desinteresse e pôs-se de pé com certa dificuldade.

Nagumo ia começar a andar mas em vez disso observou o portão da escola, curioso.

— Um aluno novo, será?

Suzuno e Midorikawa olharam para a mesma direção para ver um outro garoto de cabelos avermelhados. Ele andava desorientado pela entrada.

— Ei. - Nagumo o chamou com um aceno de mão.

O garoto estranho ouviu e foi se aproximando correndo. À medida que conseguia distinguir sua forma e seu rosto, Midorikawa se encobria mais e mais em um ninho de vergonha.

Droga. Droga. Droga. Era ele. A dois dias atrás, tinha derramado sorvete em cima dele sem querer e aquela pessoa tinha o seguido feito um doido pelo parque, provavelmente queria se vingar do incidente. Midorikawa abaixou o rosto, torcendo para que ele não lhe reconhecesse. Não fazia idéia de quem era aquela pessoa, mas não queria falar com ele.

O garoto de cabelo vermelho e olhos incrivelmente verde-esmeralda chegou até eles com um sorriso no rosto.

— Olá, meu nome é Kiyama Hiroto, hoje é meu primeiro dia nessa escola. Bem, então... Estou meio perdido.

— Eu sou Nagumo Haruya, qual é sua sala?

— 101.

— É a mesma que a nossa, vamos juntos.

Hiroto suspirou aliviado e assim que percebeu o garoto esverdeado, abriu um grande sorriso.

— Ah, depois da aula, podem me acompanhar até o clube de futebol? Eu assisti todo a partida de vocês ontem e fiquei muito impressionado, por isso decidi entrar para essa escola. Acabei de me mudar de Osaka e não sabia qual colégio escolher. Mas assim que vi vocês jogando soube que tinha que ser aqui.

Terminou a frase e olhou para Midorikawa que escondeu o rosto. Só conseguia pensar que tinha derramado sorvete na cabeça do cara.

Nagumo corou de orgulho.

— Fomos demais não é? - Haruya falou, animado. Bateu nas costas de Suzuno. - E o Fuu-chan salvou todos nós, meu namorado é incrível não é?

— Nagumo... - Suzuno o olhou torto.

— Sim, é. - Hiroto riu. - Você também foi impressionante. - Olhou para Midorikawa.

O esverdeado murmurou alguma coisa incompreensível e começou a andar em direção a sala de aula.

— Ele disse que a aula já vai começar. - Fuusuke traduziu.

Hiroto sorriu, achando fofo a rabugência do esverdeado.  Os três seguiram-no até a sala onde a turma se arrumava, esperando o professor.


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