Autistic Love escrita por Claraneko


Capítulo 17
Fantoche


Notas iniciais do capítulo

Muito bem, olá pessoal ^^ Como estão?
Estamos agora entrando na reta final de Autistic Love, espero que aproveitem e me perdoem por 'esse' capítulo em especial, está bem?
Sem mais enrolações, boa leitura!



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Uma figura com grande estatura voltou a aparecer da rua em que tinha sumido, e os olhos de um negro devorador se aproximou dos dois.

— Oi pequenos, felizes com a vitória? - Ele perguntou sorrindo, entretanto, não era um sorriso feliz, tampouco divertido; um aspecto rancoroso e quase vingativo se escondia por trás dele.

Midorikawa encarou-o com olhos afiados. Colocou a mão em seu tornozelo. Depois de tratado pela equipe médica do campeonato, descobrira que havia rompido um tendão. Não podia andar e muito menos correr. Cerrou as sobrancelhas para o recém chegado.

Com olhos frios, Suzuno fitou Usagi. Os sentimentos que lhe envolviam quando o via eram completamente opostos dos que sentia quando via Nagumo. Não gostava daquela pessoa. Dentro de uma única partida, Usagi, o capitão da Seishou, tinha conseguido machucar seu joelho direito e ferir profundamente Midorikawa, em um ponto onde ele demoraria para se recuperar e jogar futebol novamente. O que mais Usagi poderia querer agora?

Usagi riu.

— Não me olhem assim, eu só estou de passagem - Balançou as mãos em tom de brincadeira. - Não vou fazer nada, afinal, não tem nenhuma bola aqui.

— Você não precisou da bola para nos machucar, queria nos tirar do jogo para poder vencer. - Midorikawa falou, exasperado, e lançou olhos sagazes - Aliás, o ônibus quebrado, foi você não foi? Fiquei imaginando em como ele quebraria parado.

— Muito esperto, você. - Usagi parou na frente deles, seu tamanho se sobressaindo sob os dois. - Sim, fui eu. Algum problema com isso?

— O que está planejando? - Midorikawa perguntou, sentindo-se desconfortável com a rala distância entre os dois. - Você quer terminar o que começou, quebrando de vez nossas pernas?

Usagi gargalhou.

— Quem sabe, se vocês resistirem.

Midorikawa estreitou as sobrancelhas.

— O quê..?

Não teve tempo de terminar, o esverdeado sentiu seu cabelo ser agarrado por trás por aquelas grossas mãos e uma língua invadir forçadamente sua boca. Imediatamente tentou reagir o afastando, mas seu tornozelo gritou em resposta ao movimento apressado. A dor o fez gemer e se retesar, desesperado. Sentiu suas mãos serem presas por aquela pessoa.

Usagi satisfeitou-se com a impotência do garoto na sua frente e não tardou em levar sua mão no pescoço fino e puxá-lo mais forte, aprofundando rudemente o beijo.

Midorikawa mordeu o lábio de Usagi, mas isso não bastou para fazê-lo parar ou se afastar, e então apertou os olhos, aflito por não conseguir fazer nada. E o que era pior, nunca tinha beijado ninguém antes. Sentia como se tivesse sido manchado por algo negro e que ficaria na memória para sempre, era uma sensação muito ruim. Aquilo não estava acontecendo, não podia estar acontecendo consigo. Ninguém nunca tinha visto o esverdeado daquele modo, nem para como um possível namorado, e muito menos como um alvo de prazer, sentia-se enojado com aquela situação. Pensou consigo mesmo que nunca conseguiria beijar alguém novamente depois disso, mesmo que o amasse, sentiria repulsa no ato, pois estava manchado. Seria, para sempre como sempre foi, um amigo.

Suzuno estava sobressaltado, tinha congelado aonde estava. Estava assustado mas, pela primeira vez em sua vida, sentiu raiva de alguém. Viu a covardia de Usagi em atacar Midorikawa que não tinha condições de se defender. Estava inseguro sobre como agir, mas seu objetivo no momento era afastá-lo do seu amigo.

Seus objetivos eram o que lhe movimentavam, desde sempre, vivera seguindo seus padrões para chegar até eles. Desenhar, jogar futebol, correr... Não sentia interesse em nada em particular, tirando essas coisas. Às vezes pensava: no final, aonde seus sonhos o levariam? Não queria ser famoso, tampouco alguém conhecido e importante. As pessoas costumam focar suas preocupações em coisas como dinheiro, trabalho, ou em outras pessoas. Suzuno não se sentia em posição de julgá-las, se coisas materiais as satisfaziam e as faziam felizes, então que continuassem vivendo suas vidas. Mas esse materialismo, esse sistema e essa vida não lhe cativava; e por mais que procurasse um caminho para um futuro em que pudesse se encaixar, tal caminho não parecia existir.

Deixaria de procurar respostas no futuro. Precisava parar.

Já tinha percebido. Não há nada o que se possa fazer pelo que já passou, assim como no futuro, se problemas chegariam, pensaria como resolvê-los na hora. Dali por diante viveria de momento em momento. As coisas pareciam mais fáceis e leves se fizesse desse jeito.

Midorikawa havia lhe salvado em campo e se machucara por isso, essa era sua vez de ajudá-lo.

Suzuno pegou a garrafa de água no chão, deixada pela metade pelo esverdeado, e deixou que o resto de seu conteúdo caísse sobre os cabelos alaranjados do capitão da Seishou.

O prateado sentiu um calafrio, sentindo que agora seus problemas aumentariam em decorrência daquela simples ação.

Usagi sentiu o líquido escorrer de sua cabeça para seu corpo e afastou-se de Midorikawa, que cobriu a boca tossindo pela falta de ar. Olhou para o lado, pensando no que fazer com a presa que desafiava-o. De súbito sobressaltou-se, aqueles não eram olhos de uma presa. Frios olhos azuis, tão belos quanto austeros, perfuravam os seus. Por um momento, Usagi sentiu um frio na espinha, percebendo que seus olhares se cruzaram de verdade pela primeira vez. Logo soltou uma gargalhada e levantou-se para fitá-lo de cima. Gotas de água caíam aleatoriamente no chão.

— Ninguém faz isso comigo. - Usagi se aproximou do menor, que se afastava. - Você é um garoto incomum, qual é o seu nome? - O maior esperou poucos segundos antes de se armar com um olhar impaciente. - Além de tudo, continua sem falar nada. Você sabe falar, não é mesmo? Tenho certeza que disse não gostar de mim naquele dia.

Suzuno recuou ainda mais, o maior não parava de avançar. Já não o olhava nos olhos, não tinha mais como. De relance passou seus olhos por Midorikawa, o mesmo parecia desnorteado, respirava com dificuldade e o braço escondia a boca. O prateado não demorou em analisar a situação. O que o futuro lhe reservava era uma pergunta impossível de se obter mas, naquele momento, a resposta não importava. Seu intuito era proteger Midorikawa e levar Usagi para longe dali.

Decidiu correr.

Deu meia volta e ultrapassou o atacante, sem que esse pudesse reagir, e disparou em uma das ruas. Como pensou, ele o seguia. Começou a tentar despistá-lo entre as alamedas da cidade.

Era fácil. Realmente, era fácil manter distância, pois afinal de contas, era rápido. Mas por que então não conseguia afastar o pânico que lhe acompanhava? Seu coração palpitava de forma alarmante, revelando o medo em seu andar. Seu joelho não ajudava, a cada vez seu pé direito tocava o chão, sentia uma forte fisgada na região.

Em pouco tempo, perdeu Usagi de vista. Virou mais uma ruela solitária e encostou-se em um muro. Respirou pesado, estava com medo. Ainda sentia a presença dele próxima; ele estava lhe procurando!

Não teve tempo o suficiente para recuperar sua energia. Ao seu lado, viu o capitão da Seishou surgir abruptamente no seu campo de visão.

O menor sobressaltou-se ao sentir repentinamente os braços presos na parede pelas grossas mãos. Arfou ao sentir as costas se chocarem contra a superfície fria do muro.

Puxar os braços era inútil diante o peso do atacante da Seishou, antes que pudesse pensar em usar suas pernas para fugir, sentiu um forte choque do encontro da perna de Usagi com seu joelho machucado. Arquejou de dor.

— Você vai parar de fugir agora. - O maior ordenou, observando-o com olhos possessivos.

Suzuno repulsou aqueles olhos, virou seu rosto e apertou os olhos para não encará-los. Logo arrependeu-se. Sua ação havia abrido uma oportunidade para o maior atacar a lateral de seu pescoço descoberto. O prateado segurou-se para não emitir nenhum som com o toque áspero da boca do outro. Um sentimento horrível lhe abateu, não soube discernir o que era, mas era ruim, fazendo-o sentir vontade de cobrir toda a pele exposta senão algo o faria muito mal. Afinal, o que o atacante estava fazendo consigo? Não estava preparado para aquela situação.

Encolheu-se e fechou as mãos em punho. Não tentou puxar os braços novamente, pois não conseguiria se livrar dele e a energia que lhe restava era importante. Virou bruscamente a cabeça, fazendo-a se chocar contra a do outro, afastando Usagi a força. Ouviu-o gargalhar.

— De novo isso... Devia saber que nada que faça vai adiantar - Disse a voz impaciente e irônica do alaranjado. - Estou cansado de esperar.

Suzuno arregalou os olhos quando o atacante o puxou da parede e o jogou de costas no chão, para imediatamente prendê-lo naquela superfície dura com o próprio corpo. Percebeu as pernas deles imobilizando as suas.

Uma mão alheia envolveu seu rosto e Suzuno sentiu-se forçado a olhá-lo. Era difícil fechar os olhos, como se se o fizesse daria oportunidade para ele fizer o que quisesse consigo.

— Você é mesmo muito lindo - Usagi o avaliava, passeando os dedos grossos pela pele lisa do albino. Aqueles belos olhos azuis miravam-no, mas não o viam, era como se passassem diretamente por si, olhando para algo além dele. Isso enraiveceu Usagi. - Vou devorá-lo.

O atacante continuou com apenas uma mão a prender os braços do menor, enquanto a outra tratou de se livrar da camisa que mostrava o brasão do time adversário.

Suzuno desesperou-se, sentindo-se desprotegido sem a camisa. Uma língua gelada percorreu a região de seu peito, logo descendo pela barriga. Novamente negou-se a emitir qualquer som, ao mesmo tempo que uma sensação de angústia lhe envolveu. Sentia-se desconfortável, usado, fraco. Perguntou-se aonde estariam seus colegas de time naquele momento, o que estavam fazendo? E Nagumo? Será que Midorikawa estava bem? Queria muito que sim.

O prateado arregalou os olhos, com um pensamento que o surpreendera. Era muito incomum: ele se preocupar com alguém e pensar no bem-estar dos outros acima do seu próprio. Sim, era muito estranho, normalmente, era o contrário: sempre estivera se remoendo por causa de seus próprios problemas, e não se importava com os dos demais. Estranhamente, naquele momento, ficou um pouco feliz. Aquilo queria dizer que havia mudado nem de fosse apenas um pouco.

Uma dor aguda na sua barriga o fez voltar para a situação presente. Gemeu com as pontadas que vinham da mesma região. Focalizou os olhos para ver o que estava acontecendo e percebeu um desenho avermelhado em seu copo. Usagi tinha lhe mordido.

O maior brincava com a pele do prateado que começou a ficar inquieto ao ver que o outro descia cada vez mais. Aflito, Suzuno tentou se soltar. Entretanto, como pensava, de nada adiantava gastar seus esforços em vão, o alaranjado era muito forte e o seu peso não lhe permitia se mover.

— Nagumo... - Suzuno murmurou. Ao mesmo tempo, deixou que suas mechas brancas caíssem por sob seus olhos marejados.

Usagi parou o que fazia e ergueu o olhar. Atento a qualquer ruído que sua presa emitia.

— Nagumo é? - repetiu, interessado. -, aquele capitão que se recusou a entrar no meu time. Qual é a relação entre vocês dois?

Suzuno o ignorou, virando o rosto para outra direção. Aquele assunto não dizia respeito a ele. E não gostava daquela voz... Daquela pessoa pronunciando o nome de Nagumo.

— Sei - Usagi sorriu, refletindo. - Aquele garoto não é tão idiota quanto pensei, então ele pega você também? Talvez eu o tenha subestimado. Deve pegar aquele outro também, aquele com cabelos verdes...

Usagi parou ao vê-lo novamente: aqueles olhos gélidos e perfurantes de sua presa.

— Isso, esses olhos te deixam tão atraente. Me fazem querer devorá-lo ainda mais.

— Você não tem o direto... - Suzuno começou, atraindo mais a atenção do outro. - De julgá-los desse jeito.

— Então sua voz voltou - riu irônico, avaliando aquele semblante desafiador. - Você é rápido e é forte em campo, reconheço. Vou fazer a mesma proposta que fiz para aquele atacante idiota: saia desse time de fracotes e entre para a nossa escola. No lugar em que você está, nunca será alguém.

Suzuno apertou os olhos. Sentiu suas mãos formigarem aonde Usagi as prendia com uma pressão absurda.

— Esse time fracote acabou com vocês.

Usagi rosnou impacientemente e abaixou o rosto, se aproximando de Suzuno.

— Não vou aceitar negativas.

— Tem a sua resposta.

Usagi aumentou a pressão sob o menor, irritado.

— Não pensei que você fosse ter coragem para me desafiar. Eu não estou lhe dando a opção de recusar. Se for preciso, vou te obrigar a sair da sua escola, a entrar na minha... E depois, você vai ser meu, todo dia, e vai fazer tudo que eu quiser. Se ainda quiser resistir, eu não vou te deixar em paz. Você deve ter família, não é mesmo? - Perguntou, mas Suzuno não conseguiu responder, seu corpo doía, tornando difícil pensar em qualquer coisa. -  Se não fizer o que estou dizendo, eles também sofrerão, e a culpa será sua.

Suzuno não conseguiu segurar as lágrimas que começaram a cair, sorrateiras. Balançou a cabeça nervosamente, novamente desconsiderando o que o outro dizia.

Não faria nada a força, simplesmente não aceitaria. Se Usagi tentasse fazer mal a sua família, faria de tudo para os proteger.

Incitado e frustrado pela persistência do outro, Usagi agarrou-lhe a nuca e o puxou para si.

— Vou te fazer mudar de idéia. - O atacante da Seishou encaminhou sua boca para aqueles lábios que o enlouqueciam a tempos. Mas, antes que pudesse terminar o percurso, uma mão segurou seu ombro e o puxou fortemente para trás.

— Deixa ver se eu entendi - a pessoa disse, incredulada. Olhos em chama viva perfuravam o outro atacante. - Você está tentando obrigar Suzuno a se tornar o seu fantoche? É isso mesmo o que eu ouvi?

Antes que pudesse responder, Usagi voou, desequilibrado, com o soco que Nagumo lhe deu.

Nagumo exalava raiva e perplexidade, o olhar transbordando em fúria encarou Usagi sem nenhuma empatia.


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