Era noite quando Kate estacionou seu carro na frente do prédio em que morava, sabia que sua filha estava chateada, ela sequer conseguiu pegar o final da festa, se sentia tão culpada que não saberia dizer. Pegou suas coisas e saiu do carro após estacioná-lo, observou sua blusa branca manchada num tom tão vermelho que as vezes doía seus olhos, o ferimento em sua costela latejava e ela poderia arriscar que inflamaria mais cedo ou mais tarde. Mas no momento só importava se desculpar com sua filha, Kate sempre soube que tinha escolhido uma profissão complicada, e que quando fosse realmente montar uma família, teria que se abdicar de certas coisas. 

—J.J? Rosa? -A mulher chamou assim que abriu a porta de sua casa. 

—Aqui dona Katherine... -Rosa disse e suspirou observando a pequena escondida dentro de seu armário. 

—Sai Rosinha, e tranca a porta porque eu não quero falar com ela. -J.J disse secando o rostinho e o escondeu entre suas mãozinhas. 

—Aconteceu algo Rosa? -Kate perguntou entrando no quarto da filha, e suspirou ao ver a pequena encolhida dentro do armário. -Filha...

—Sai... eu não quero... 

—J.J... por favor, escuta a mamãe... -Kate pediu, e imploraria se fosse necessário. 

—Não quero, você mentiu pra mim! Você disse que ia, e não foi. Eu estou decepcionada mamãe... 

As palavras de J.J eram como navalhas afiadas cortando o coração de Kate, ela se sentia tão mal por ter decepcionado sua filha. Desde pequena Kate não lidava muito bem com decepções, e ela nem sabia, que a pior era aquela. A mulher se levantou e caminhou até a sala de estar do apartamento, suspirou e fitou Rosa, que estava sentada no sofá. 

—Pode ficar até mais tarde hoje Rosa? Te pago a mais, quando eu chegar. 

—Certo dona Katherine. Mas não precisa me pagar, deveria cuidar do seu ferimento. -Rosa se levantou e observou a mancha na blusa da mulher. 

—Não é o que mais dói agora. -A mulher suspirou e saiu do apartamento, desceu as escadas o mais rápido que pode, não teria paciência para esperar o elevador, sentia suas costelas latejarem e arderem, mas ela não se importava. Entrou em seu carro e deu partida, saindo um pouco de sua realidade. 

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Castle sorriu ao avistar o amigo entre aquele bando de pessoas, finalmente era sexta feira e ele poderia descansar, tinha acabado de chegar ao pub que costumava frequentar, e se sentou no bar, pedindo uma água. 

—Você já foi melhor, Tio Rick... -O amigo riu vendo o outro beber um gole de sua água. 

—Eu estou de carro Joe... não bebo se estiver dirigindo... sabe disso. -Rick sorriu. 

—Esqueci como você costuma ser chato as vezes. 

—Que tipo de professor eu seria, se eu bebesse e depois pegasse o carro? Eu disse aos meus alunos na semana passada, se beber não dirija. -Ele riu e observou mais pessoas entrando no espaço que agora ficava pequeno, o Party's Pub era animado, em qualquer dia da semana, não importava se no dia seguinte as pessoas iam trabalhar, mas na sexta feira... ah, a sexta feira. 

—Vai ter show mais tarde... por isso tanta gente. -Joe explicou e riu quando o amigo fez uma careta, Rick não era do tipo que curtia festas, na verdade preferia ficar em casa e aproveitar sua solidão, que nunca lhe foi um problema, ou então uma boa companhia, mas desde seu último relacionamento, que a primeira opção vem lhe agradando mais. O professor observou mais algumas pessoas entrarem no pub, e começou a cogitar a ideia de ir embora, até reconhecer a figura que entrava naquele instante, a detetive mais turrona que ele tivera o prazer de conhecer. 

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Kate suspirou ao observar todas aquelas pessoas, porque a vida delas parecia tão fácil? Talvez pelo simples fato de elas não decepcionarem seus filhos, como ela havia feito. Caminhou até o bar e pediu um drink duplo. 

—Eu não sabia que a detetive bebia... -Aquela voz... não lhe era estranha.

—Rick Castle... -Kate sorriu de lado. -Achei que professores só corrigiam provas e preparavam aulas. 

—E eu achei que detetives não fossem sarcásticas, parece que tínhamos ideias diferentes. -Ele riu. 

—É... acho que sim... 

—Você... hum... chegou a falar com a J.J? -O homem perguntou curioso. 

—Ela está decepcionada comigo... eu a decepcionei... -O suspiro de pesar fez Rick entender o que havia acontecido, o encontro entre mãe e filha não havia sido nada bom, e nem mesmo os policiais podiam lidar com tudo tão friamente. 

—Eu tenho certeza que vai passar, ela ficou chateada, mas ela sabe que você precisa trabalhar detetive... 

—Mas e daí? Eu passei o dia todo procurando respostas, e não encontrei, perdi a festa da minha filha, um momento importante, e ainda levei uma facada nas costelas... pra que? 

—Você o que? -Rick abriu a boca incrédulo e só então notou a grande mancha de sangue na blusa da mulher. -Você é louca? Por acaso já limpou isso? 

—Nah... já tive experiências piores... -Kate riu conformada. 

—Tem noção de que isso pode inflamar e te dar um problemão? Uma facada? Que droga Kate... 

—Pois é... mas vamos deixar de falar de mim agora... como foi a festa? 

—Hum... esse lugar está insuportável, que tal se eu te convidar, como professor da sua filha, para irmos a cafeteria do outro lado da rua? Podemos conversar, tomar um café, eu te conto da festa, você me conta do seu dia... 

—Não me parece o tipo de conversa que professores e responsáveis teriam... -A mulher arqueou a sobrancelha e ele riu, seria J.J uma cópia compacta de Kate, ou Kate uma cópia crescida de J.J? 

—Escute bem detetive Elsa... não estou na escola, e você é mãe de uma das minhas alunas, acho que posso conversar sobre outras coisas que não sejam trabalhos e provas. 

—Então não é uma conversa de professor? -Kate riu.

—Uma conversa de amigos... -Ele sugeriu. -Que tal? 

—Certo... então você está me convidando como amigo, para tomar um café? 

—Como você é complicada... já sei a quem J.J puxou... -Castle riu e passou a seguir a mulher enquanto saiam dali. 

Rick respirou fundo quando sentiu o ar gélido de Nova York tocar sua face novamente, nem mesmo o frio conseguia impedir as pessoas de lotarem aquele lugar, observou com mais atenção o local onde havia o ferimento na mulher a sua frente e suspirou. 

—Você vem sempre aqui no pub? -Kate perguntou curiosa. 

—Sempre não... prefiro tomar um Whisky em casa. 

—Hum... você não tem mesmo cara de quem curte uma multidão... 

—E você não tem cara de quem vai continuar sem limpar o machucado... sério Kate, eu estou ficando incomodado com a quantidade de sangue na sua blusa... -Rick suspirou e olhou em volta, apontando para a farmácia que havia mais a frente. -Vamos lá... eles fazem curativos. 

—Não íamos tomar café? -A mulher perguntou suspirando quando sentiu a mão de Rick pousar no meio de suas costas e a empurrar levemente para onde ele havia apontado. 

—Primeiro vamos cuidar disso, certo? 

—Então é uma conversa de amigos... na farmácia... -Kate riu.

—Certamente porque amigos se preocupam com os outros... -Rick sorriu e Kate sorriu junto, era impossível não sorrir.