Thinking Too Much escrita por ChopperChan


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

NÃO ME MATEM
Gente, eu sei que ja tem mais de um ano desde que eu prometi voltar a escrever, mas simplesmente não deu. Entrei em ano de vestibular (terceirão, uuuh) e, além da escola com uma quantidade insana de matéria, também comecei curso técnico de artes visuais e comecei a trabalhar de freelancer. Quem me acompanha a mais tempos sabe que eu amo escrever, e eu não iria parar se não fosse extremamente necessário.
Mas eu prometo que assim que baixar a poeira eu volto a escrver tanto quanto antes!!
Isso tudo dito, por favor parem de me mandar ameaças de morte na caixa mensagens, please.
Essa história tem um clima um pouquinho diferente do que eu geralmente posto, mas dado meu estado de espírito (faltam 30 dias pro ENEM)a pegada angst é justificada. Nada muito pesado que eu não quero tacar ninguém na bad, e(spoiler) o finalzinho compensa.
Sem mais delongas, enjoy! :*



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 "O comportamento deles era, o tempo inteiro, uma ilustração de seus pensamentos "

—Razão e Sensibilidade, Jane Austen

 

Koala usava luvas. Todos os dias.

Como Sabo nunca percebera isso antes?

Esse fato era pequeno, claro. Um mero detalhe entre os muitos que ele convivia diariamente, mas essa constatação em nada ajudava a aliviar o peso na consciência que ele sentia no momento. Eles já conviviam juntos haviam quase 10 anos, e durante todo esse tempo Koala vinha sendo uma presença tão constante no dia a dia do revolucionário que ele já nem se lembrava mais dos 3 anos após o dia que ganhara a cicatriz. Eram 3 anos, não eram? Ele já não tinha certeza e, sendo sincero, nem se importava. Não fazia questão de relembrar nenhum período de tempo que não envolvesse a ASL ou Koala.

Em que ponto ela passara a usar luvas?

Sabo abafou um grunhido no travesseiro.

Virando a cabeça e erguendo o braço para pegar o relógio na mesa de cabeceira, ele não fez questão de decifrar os minutos do horário que já passava de duas da manhã, deixando o objeto cair no chão com um baque e sem se importar se havia quebrado ou não.

Virando de novo na cama de modo a ficar mais confortável, ele voltou a fechar os olhos mesmo sabendo que de nada adiantaria tentar dormir.

Havia sido o mesmo durante toda a semana anterior, desde que eles haviam se reunido na nova sede do exército revolucionário, e se prolongara pela atual também: o mau humor que Dragon vinha sustentando desde o ataque da Marinha a Baltigo quase dois meses antes acabava gerando chuvas de modo involuntário de forma que, mesmo que ele conseguisse manter o controle durante o dia, acabava liberando tudo enquanto dormia a noite.

A chuva em si não era um problema. Sabo gostava de dormir com o som das gotas batendo na janela. Entretanto, naquele dia em específico a tempestade estava pior que o normal. Os relatórios completos dos problemas que Luffy causara em Whole Cake haviam chegado naquela manhã e, embora o líder tivesse ficado orgulhoso ao receber a notícia de que seu filho havia derrotado uma younkou, o caos que isso gerara em certas ilhas protegidas pelo exército doce tornaria muito mais difícil a ação dos grupos revolucionários infiltrados no local, deixando Dragon muito mais azedo e preocupado do que o normal.

Com isso, o céu estava praticamente desabando do lado de fora da janela.

Um novo trovão ecoou do lado de fora, tremendo a janela e fazendo Sabo inconscientemente se encolher embaixo das cobertas.

Ele sabia que o medo de tempestades era irracional, mas o trauma deixado pela destruição do covil da ASL tantos anos antes deixara sua marca, e ele simplesmente não conseguia supera-lo mesmo que....

De repente, a imagem das mãos enluvadas de Koala retornara à sua mente.

É.... Quem dera os trovões fossem a única razão da falta de sono.

Virando de lado na cama de casal desnecessariamente larga para uma única pessoa, ele puxou para si o travesseiro sobressalente para abraçar em busca de algum conforto.

Inútil.

Aquele saco de enchimentos frio não ajudava em nada, mas ele não tinha motivos para solta-lo, de qualquer forma.

Unindo as mãos, Sabo procurou pelo dedo anelar da mão esquerda, sentindo a falta do anel prateado que residia ali até o dia anterior, antes de ser substituído pelo vazio, deixando como lembrança apenas uma faixa de pele mais clara. Ele preferia não pensar em quanto tempo ela levaria para desaparecer.

Xingando a si mesmo por ser tão emotivo em relação a uma coisa tão boba, ele tentou se forçar a pensar em outra coisa.

Inútil, também.

A verdade é que ele havia passado as últimas duas semanas treinando até a exaustão todos os dias para não ter que passar por essa exata situaçã.

E com "situação" ele se referia ao fato de ficar sozinho com seus próprios pensamentos.

Mas, por causa da tempestade, a estratégia havia falhado.

Desgraça. 

Parando pra pensar bem, até dois meses atrás ele nunca vira nenhum problema com ficar sozinho. Muito pelo contrário, adorava poder passar algumas horas apenas relaxando no dormitório individual, sem mais ninguém. 

Agora a cama parecia grande demais e ele não suportava mais ouvir apenas as próprias batidas do coração retumbante no fundo do ouvido e o "tic-tic" do relógio que ele não se preocupara em pegar do chão.

Ugh. O que havia mudado?

Ah, é. Aquelas seis semanas.

Ele revirou os olhos para si mesmo, reconhecendo a própria idiotice.

Para quem observasse de fora, parecia ilógico. Seis semanas com uma rotina diferente não deveriam substituir outra que durara por mais de dez anos. Mas a prática sempre difere da teoria, e ele nunca sentira tal frase com tal literalidade.

Ele fora muito tolo em pensar que tudo voltaria a ser como antes, que ele ainda seria o mesmo após as semanas que a armada se dispersara antes de se reunir de novo na nova base.

Afinal, durante 6 semanas ele e Koala foram casados.

Ou... tecnicamente casados.
—___________**____________

Tudo começara a desabar havia dois meses.

Meio que literalmente, também.

Baltigo inteira havia desabado, afinal ser contas.

O ataque “surpresa” da Marinha havia falhado quase que totalmente, já que os infiltrados haviam conseguido passar as informações sobre o ataque antes da chegada dos navios. Com isso, eles haviam conseguido evacuar todos os membros do exército a tempo, bem como tudo que era importante.

A manobra de evacuação fora planejada para ser discreta. Todos haviam sido divididos em pequenos grupos e mandados para diversas ilhas diferentes de forma a não levantar suspeitas em cima da chegada de muitas pessoas em um único lugar ao mesmo tempo, o que atrairia muita atenção, e deveriam esperar pela convocação na base secundária.

Sabo acabara dividindo um pequeno barco com Koala, como sempre. Os dois haviam preparado a embarcação juntos, em um acordo silencioso que ninguém ousara questionar. Hack não iria com eles dessa vez, sendo responsável pela turma de karatê tritão que lecionava.

Eram só os dois.

Não que isso fosse algum problema, óbvio. Ele adorava Koala mais do que jamais iria admitir e eles se sentiam tão confortáveis na presença um do outro que ele não conseguia se recordar se alguma vez na vida já tivera tanta intimidade assim com alguém. Mas, mesmo assim, já fazia algum tempo desde a última vez que haviam passado um bom tempo juntos sem mais ninguém conhecido por perto.

(E ele jamais admitiria que a expectativa o deixava nervoso. Não, não. Nunca. )

Deixando sentimentos confusos de lado, a ideia de usarem a imagem de recém casados como cobertura fora dele. Não era a primeira vez que eles teriam de interpretar tal papel, já que era um disfarce comum que usavam em missões curtas, e sempre funcionara muito bem. Ninguém nunca suspeitava quando um pequeno barco chegava trazendo um casal jovem, procurando um pouco de privacidade e distância logo após terem se casado

Eles nunca haviam estendido a atuação por mais de uma semana, mas agir como um casal já vinha tão natural que eles conseguiriam enganar até mesmo pessoas que os conheciam. Andar de mãos dadas pela ruas, fazer compras juntos, um abraço ou um beijo ( no rosto, nos cabelos, no anel.... Nunca nos lábios) quando tinham alguma platéia moderada. Coisas assim já nem pareciam mais fingimento.

Mas então uma semana havia se tornado em um mês, e um mês havia se tornado em seis semanas.

Seis semanas de casamento de mentirinha.

Sabo não tinha certeza de quando exatamente ele havia parado de atuar, mas já na segunda semana ele já não pensava mais antes de toca-la de alguma maneira mais íntima que o necessário ou continuar a abraça-la pela cintura mesmo depois de já não estarem próximos a nenhum outro ser humano. Ele se justificava dizendo que era tudo questão de hábito, mas não convencia nem a si mesmo.

A verdade é que ele acabara se apegando aquela rotina pacata, civil. Durante aquelas seis semanas, ele pudera sentir o que era ter uma vida normal, sem grandes preocupações, vivendo cada dia com a certeza de que quando voltasse para casa -a casa deles- Koala ainda estaria lá.

Ela estaria na cozinha, usando um avental cheio de detalhes enquanto cozinhava qualquer coisa. E quando ele anunciasse que estava em casa ela iria se virar, sorrir e lhe dar boas vindas. Depois ele iria se aproximar e puxa-la pela cintura para um abraço, e ela iria reclamar que ele estava atrapalhando, mas sem falar realmente sério, porque ela não iria resistir quando ele....
Sabo estava tentado a se auto estapear numa tentativa de parar com as fantasias.

Koala não era o tipo de mulher que aceitaria ser só a esposa que ficava em casa. Isso não ocorrera naquelas seis semanas e com certeza nunca ocorreria no futuro também. E ele era grato por isso.

Afinal, aquelas seis semanas haviam sido muito melhores do que ele poderia ter imaginado. Longe de perfeitas, claro, mas não menos agradáveis.

No primeiro dia, eles haviam alugado um pequeno chalé um pouco afastado da cidade. Era bem discreto com apenas uma suíte, uma sala e a cozinha, e era todo coberto por hera do lado de fora, quase que invisível em meio a vegetação que o cercava. Era aconchegante, segundo Koala, e Sabo concordava.

O quarto único não era problema. Já havia muito que não se importavam em dividir o mesmo espaço na hora de dormir, uma das intimidades que haviam adquirido ao longo dos muitos anos de amizade, e se Koala ainda se importava com o fato de que ele roubava as cobertas enquanto dormia, ela não deixava transparecer. Ou talvez ele já fornecesse calor o suficiente, já que não raramente ele era acordado com a garota se aninhando contra o peito dele durante o sono. Se ele a abraçava de volta não era do interesse de ninguém.

Já no segundo dia, eles estabeleceram uma rotina. Koala acordaria cedo e tentaria se soltar dele sem acorda-lo. Ele sempre acordava, mas fingia que não. Vinte minutos depois, ele seria recebido na cozinha com um sorriso ainda sonolento e uma xicara de café. Mais tarde, depois de terem dividido turnos para usar o banheiro, eles iriam sair, passando um bom tempo apenas andando sem rumo pela ilha, parando para almoçar em algum lugar antes de voltar para o chalé. A tarde eles iriam treinar até começar a escurecer, não querendo perder a forma durante o periodo indeterminado que ficariam afastados da armada. Por fim, depois de ambos terem tomado banho, eles se sentariam no sofá velho da sala já de pijamas e comendo qualquer besteira, conversando sobre tudo e nada ao mesmo tempo, até que a comida acabasse e os dois escovassem os dentes para ir dormir.

Claro que certas vezes haviam quebras de rotina. As vezes Koala se demorava um pouco mais antes de levantar e tiveram dias de chuva em que eles não haviam feito nada a não ser ficar dentro de casa, aproveitando a companhia um do outro mesmo sem conversar. As vezes eles passavam a tarde na cidade fazendo compras e as vezes eles acabavam caindo no sono ainda no sofá.

Relembrando tudo isso, Sabo sentiu vontade de rir. Aquela rotina era tão banal, tão sem graça, tão.... tranquila. Tão diferente de tudo o que ele estava acostumado...

Parando para analisar, ele deveria achar tudo aquilo chato. Não havia nada de perigoso ou excitante sobre aquela vida a dois, nada de que ele normalmente sentiria falta....

Exceto Koala.

Quer dizer, ele ainda a via todos os dias, conversavam todos as manhãs e treinavam juntos varias vezes na semana. Mesmo naquele momento ela estava do outro lado da parede, no quarto vizinho.

Mas não era tempo o suficiente, próximo o suficiente. Ele sentia falta de passar 24 horas com ela por perto. Sentia falta das discussões bestas que tinham sobre quem iria tomar banho primeiro ou porquê eles não podiam comer pizza no almoço por 4 dias seguidos, das conversas até a hora de dormir cheias do humor estranho mas cativante com o qual ela falava, de sentir a respiração constante contra o peito antes e depois de acordar.... E sentia falta de chama-la de sua.

Era idiota, disso ele tinha certeza.

Koala nunca fora sua, e jamais admitiria que alguém a tratasse usando termos possessivos. Mas ainda assim, havia algo extremamente agradável em puxa-la pela mão, mostrar os (falsos) anéis de casamento e chama-la de "minha esposa".

Algo bem diferente de quando ele tinha de apresenta-la como "Minha melhor amiga".

Ele realmente tinha começado a confundir a realidade com a fantasia, não tinha?

Com certeza.

Talvez fosse por isso que ele não havia voltado a usar luvas desde então. Talvez fosse por isso que ele se esquecera de tirar o anel do dedo até que Hack apontara isso na manhã anterior. Talvez fosse por isso que ele mantinha o anel no bolso do sobretudo. Talvez fosse por isso que o fato de Koala usar luvas o incomodasse tanto.

Aquelas alianças falsas representavam algo que ele queria que fosse de verdade.

Mas que não era.

Ainda assim, ver Koala com luvas, cobrindo qualquer sinal de que algum dia um anel estivera ali, enquanto ele continuava apegado aquela ilusão, era algo difícil.

Ela não usara luvas nenhuma vez durante aquelas seis semanas, o anel brilhando no dedo toda vez que eles saíam. Com certeza ela teria uma marca clara como a dele, não é? Será que era por isso que ela voltara a usar luvas? Por não querer que ninguém visse?

Diabos, ele devia parar de ficar tão focado nas luvas. Ele estava apenas enganando a si mesmo.

As luvas não eram o problema.

Aquele beijo tinha sido o problema.

Naquele último dia na ilha, quando eles estavam carregando o barco para ir embora. Aquele desgraçado no porto e seus olhares nada discretos para as curvas da garota o havia tirado do sério. Ele precisava fazer alguma coisa, mas o barco ja havia sido solto da plataforma e ele não podia simplesmente pular de volta e soca-lo na cara.

Então ele simplesmente puxara Koala pela cintura e a beijara. Nos lábios.

Ele não dera tempo da surpresa passar e ela retribuir, apenas lançara um olhar ameaçador para o homem no porto e voltara para a cabine para comandar o barco.

Ele agira como se nada tivesse acontecido, e Koala fizera o mesmo.

Nao era como se a relação dos dois tivesse mudado, pelo menos nao da parte dela. Koala continuava como senpre, mas Sabo se sentia ansioso toda vez que eles estavam juntos e não conseguia agir com naturalidade.

Eles tinham que falar sobre aquilo. Mesmo que fosse só para ele pedir desculpas.

Mas e se ela não quisesse desculpas? E se ela simplesmente o despachasse e nunca mais voltasse a falar com ele?

Caramba, ele estava ficando muito depressivo. Koala nunca faria nada disso. Ela daria risada e diria que não tinha sido nada.

Mas isso não era pior? Ele queria que aquilo fosse alguam coisa?

Queria.

Ou melhor, não. Não queria, não.

Ou talvez...

Ele estava pensando demais.

Koala sempre dizia que nada bom acontecia quando ele pensava demais.

Koala, Koala, Koala.

Sabo abafou uma dúzia de palavrões no travesseiro, frustrado. Era claro que ele não iria pregar o olho naquela noite, e já estava sofrendo de mau humor adiantado pelo restante do dia.

Outro trovão fez com que ele soltasse um grito involuntário de susto. Não fora tão alto assim, fora? Ainda bem que ele ainda estava com o rosto enterrado no travesseiro, assim as chances de alguém ter ouvido eram menores. A última coisa que precisava era mais um motivo pra passar vergonha.

De repente, ele ouviu pequenas batidas na porta. Sem pensar muito, ele se levantou e a destrancou, abrindo com um puxão e pronto para esbravejar com qualquer pessoa que tivesse vindo incomoda-lo àquela hora da noite.

A porta aberta revelou uma Koala esopada com a chuva, olhando preocupada para o amigo.

Ele não conseguiria gritar com ela.

—-Você está bem?- A voz dela dela ja eatava meio rouca, trêmula de frio e a chuva continuava a cair sobre sua cabeça.- Eu ouvi você...

Ele não deixou ela temrinar a frase, a puxando para dentro em uma abraço desajeitado e deixando a porta bater com força.

—-Não devia ter vindo aqui.- Ele disse, o rosto enterrado no pescoço dela.

—-Eu deixo voe acreditar nisso, se faz você se sentir melhor.-Ela riu, enlaçando os braços pelo pescoço dele e passando os dedos pela nuca de forma calmante.

Sabo congelou com o toque.

Ela não estava usando luvas.

E em uma das mãos nuas ele conseguia sentir o frio característico de metal.

Um anel.

Mais tarde, ele definiria aquele momento como o exato em que seu cérebro havia parado de funcionar.

Por que ele não exitou nem por um segundo e capturar os lábios dela nos dele.

E não havia a menor chance de ele voltar a pensar depois que ela passou a retribuir.


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Notas finais do capítulo

Bom, é isso por enquanto!
Simtam-se livres pra abrir seus corações pra mim e me xingar a vontade ❤
Até a próxima! O/



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