Dahlia escrita por Naughty Face


Capítulo 1
Capítulo 1




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Que triste era ter que se desfazer daquelas plantinhas que, mesmo tendo se dedicado tanto, resolveram morrer - e isso sem sequer terem nascido de fato. Os caules brotavam, longos e verdinhos, bem como deveria ser, mas antes que os botões florescessem… Murchavam. Apodreciam, assim, de repente; como numa doença, pouco a pouco, iam adotando um tom arroxeado - igual um hematoma! - e se curvavam de dor. As pétalas novinhas, mal nascidas e deformadas, caíam como lágrimas. Abortos espontâneos que, posteriormente, e se tivessem chance, serviriam de fertilizante às irmãs de mesmo destino. 

Mas não gostava (e nem permitia) que fizessem isso.

 Talvez porque fosse por conta delas - dessas pétalas pestilentas - que todo o seu jardim estava morrendo. Uma doença contagiosa, uma praga, que passava de canteiro a canteiro, infiltrando-se na terra e absorvendo (sugando, mesmo) toda a vitalidade de suas pobres florzinhas.

— Sem sucesso outra vez, senhor Matthew? - Questionou uma voz não muito distante, que se aproximava junto ao arrastar das pedras que compunham o caminho até ali.

— Outra vez - Respondeu com um suspiro chateado, cortando o último botão deficiente e jogando-o no balde junto de seus semelhantes anômalos.

— Talvez seja o tempo, o clima… - Retomou a tal voz, rouca e grave, enquanto seu dono postava-se logo atrás do jardineiro desafortunado, com um baque da bengala.

Foi com um sorriso consternado, visto pelo recém-chegado através de seu perfil, que o jovem rapaz discordou da teoria, encolhendo de leve os ombros. Estava cansado de debater quaisquer que fossem as especulações sobre suas flores. No final das contas, parecia não haver ninguém ali com sensibilidade o bastante para perceber a verdade tétrica por trás daquilo; se incomodavam, mudavam de assunto. Se negavam a tocar naquele ponto, preferindo ignorá-lo como se, ao evitar falar à respeito, pudessem - de alguma maneira - impedir o que estava por vir. 

Só que, quanto mais tentavam contornar a situação, mais ela o incomodava.

Pondo-se, por fim, de pé e trazendo o balde consigo, Matthew voltou-se ao criado - que continuava a observá-lo em silêncio, com seus olhos negros e o sorriso cansado no canto da boca.

— E os meus irmãos? - Perguntou, abaixando o olhar ao interior metálico, cheio até a metade de suas preciosidades natimortas. -  Já deram notícias?

— Oh, sim! Foi por isso que eu vim. - O homem soltou um riso nasalado, dando um tapinha na própria testa. - O senhor Phillipe e a esposa acabaram de chegar, o esperam na sala… - E fez uma pequena pausa ao notar um lampejo de curiosidade no garoto, que içou novamente os olhos em sua direção. Completando em seguida: - Junto ao senhor seu pai. - E toda aquela breve animação se esvaiu... Como o ar de um balão.

— Entendo. - Foi tudo o que o jovem conseguiu formular, abandonando então a inércia para se aproximar daquele que, agora, estava diante de si. - Bem, é melhor que eu me apresse, então. Papai não gosta de esperar.

E estendendo ao outro o balde, fez menção de sair.
 

— Mas vai de mãos vazias ao encontro de Lady Dali, senhor? - Questionou-lhe o criado, que punha os olhos sobre os botões podados. - Ela parece gostar tanto do senhor… Não seria deselegante?

— Não acho que Lady Dália iria apreciar um mimo desses, Benjamin. - Replicou aborrecido. Referia-se aos mesmos botões. Suas Dálias. - Seria uma ofensa de tão tétrico.

— Oh, não! — Disse o homem, retomando o tom divertido e o sorriso aberto. - Não me referia à isto. Por Deus, senhor Matthew. - E soltou uma risada curta. - Leve uma outra flor, uma daquelas, o que acha? - E indicou, com um aceno da cabeça, as margaridas num canteiro próximo. - Sempre me disse que lhe lembravam Lady Dália.

Matthew corou vividamente diante disso, ficando ainda mais aborrecido agora, com a própria falta de jeito. - Avise-os que logo irei ao seu encontro. - Rosnou o rapaz  entredentes, unindo as mãos atrás do corpo e apertando os dedos, numa atitude que fez o criado abrir ainda mais o sorriso e seu senhor ficar ainda mais desconfortável.

— Vá logo! - Disse com uma firmeza que não lhe cabia, projetada de tal forma, que o fez estremecer.

— Sim, senhor Matthew! - Respondeu prontamente o homem, curvando-se de leve e lhe dando as costas por fim. Tudo sem perder a curva divertida nos lábios.

Ora essa!” Pensou consigo o garoto, ainda coradíssimo e extremamente desconcertado, desviando o olhar na direção do tal canteiro de margaridas - que se estendia por uma estreita, mas vasta, faixa do jardim. As pequenas florzinhas se amontoavam próximas ao limite do canteiro, quase como se transbordassem para fora, tão rasteiras que eram.

Naquele momento, enquanto Matthew as observava, uma brisa sutil - e igualmente rasteira -, dedilhou cada um daqueles rostinhos dourados, sacudindo-lhes de tal forma que pareciam, assim como o velho criado, rir da timidez do garoto. O assobio baixo do vento eram suas risadinhas.

Soltando o ar pelo nariz, ele franziu ainda mais o cenho, vincando ainda mais as sobrancelhas finas, ao que sentia as bochechas formigarem, tão ruborizadas que estavam. “Ora essa…” Repetiu, mentalmente, erguendo mais uma vez o olhar.
 

Lembram mesmo, a Lady Dália.


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Notas finais do capítulo

Ufa, finalmente postada!

Depois de muito, muito tempo, sem saber se postava ou não, aqui está minha primeira história. Espero que gostem.



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