Cinco minutos escrita por Yokichan


Capítulo 5
Capítulo 5




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Karin abre a porta do laboratório ao ver que as luzes estão acesas lá dentro. E depara-se com uma versão abandonada de Suigetsu – porque a verdadeira está muito distante agora, perdida nas dobras imprevisíveis da alucinação. Ela vê o frasco vazio de dimetiltriptamina concentrada sobre a bancada, a seringa largada no chão e os cacos do tubo de ensaio que Suigetsu quebrou por algum motivo. Alguns dos pedaços de vidro repousam sobre manchas de sangue, enquanto outros ainda estão fincados na palma da mão dele.

Ela tem ímpetos de gritar e de chacoalhá-lo até que ele retorne daquele estado de torpor, mas sabe que não resolverá nada com desespero. Também sente vontade de bater-lhe no rosto e de chamá-lo de idiota, até mesmo de coisas piores, porém, acaba deixando a ideia de lado pelo mesmo motivo com que refutou o primeiro impulso. Karin tenta acalmar o coração que martela dentro do peito e aperta a boca numa linha tensa quando os lábios começam a tremer.

Ela ajoelha-se diante de Suigetsu e ergue suas pálpebras com um polegar, uma depois da outra, a fim de avaliar até que ponto ele está mergulhado naquele transe. Ao considerar a proporção em que as pupilas estão dilatadas, Karin engole o nó que se forma no meio da garganta. Suigetsu se encontra muito além de seu alcance agora. Ela mede o ritmo de seus batimentos cardíacos pelo pulso e pensa que a tensão arterial beira uma situação perigosa. Karin tenta afastar o pensamento, mas a ideia insinua-se para dentro dela mesmo assim – a ideia de que aquela idiote poderia ter sido fatal.

Maldito Suigetsu.

Karin tira as lascas de vidro cravadas na pele dele e então prepara-se para tentar erguê-lo do chão. Passando um dos braços de Suigetsu por cima de seus ombros e agarrando-o de lado, ela reúne a força nos músculos necessários e levanta-se com ele. Depois, a odisseia é arrastá-lo até o quarto. Pelo caminho, grunhindo palavrões e amaldiçoando-o por tomar sempre as decisões mais imbecis, Karin não pode evitar sentir uma ponta de culpa. Talvez, se tivesse mantido a cabeça no lugar e apenas conversado sobre aquilo, se tivesse evitado aquela bofetada, ele poderia não ter pensado em drogar-se com uma das porcarias que ela possui no laboratório. Talvez, se...

Ela interrompe-se, exausta sob aquela tortura mental que não a levará a lugar algum, e acaba batendo a cabeça de Suigetsu na moldura da porta ao passar com ele para dentro do quarto. Resmungando um pedido de desculpas, ela o deixa cair sobre a cama e finalmente se permite respirar profundamente. Ela pensa que, para alguém que é feito de água, Suigetsu é exageradamente pesado.

Karin senta-se na beira da cama e toma a mão ferida dele entre as suas. Como os cortes não são sérios, ela apenas limpa a pele com um algodão embebido em antisséptico. Cuidadosamente e sem pressa, ela trata dos ferimentos, sentindo sobre as pernas o peso e o calor da mão daquele homem que dissera amá-la. Pela primeira vez, Karin repara em como as mãos dele são grandes e fortes, marcadas de cicatrizes.

Ao olhá-lo, adormecido no próprio delírio, ela se pergunta por que diabos precisa escolher. Os relacionamentos são complicados, às vezes, até mesmo incompreensíveis, e Karin não quer passar pelo mesmo sofrimento novamente. O peito de Suigetsu ainda sobe e desce num ritmo acelerado, mas ela sabe que o pico da droga já passou. Inclinando-se sobre ele, ela apoia um ouvido sobre o lugar em que está seu coração e escuta as batidas que quase atropelam-se. Por um momento, Karin apenas fecha os olhos e deixa-se envolver pelo som daquele coração que bombeia o sangue numa velocidade incomum.

E sorri.

Ela se sente bem ali, junto do corpo daquele cara irritante e inconveniente que não sabe como fazer as coisas do modo certo. Instintivamente, ela se vê abraçando-o, e antes que sua versão sensata possa protestar contra isso, Karin apenas afasta-a para longe, para o fundo mais escuro da mente. Não quer pensar em nada nesse momento. Não quer perturbar-se pela briga das duas mulheres dentro de si. Não quer refletir sobre questões que, na verdade, não estão ao seu alcance. Enquanto o abraça e escuta as batidas do coração de Suigetsu, ela deseja apenas que a madrugada seja longa.

Karin sente que aquela é a sua resposta.

E acomodando-se melhor junto ao corpo dele, ela deixa-se adormecer.


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