Cinco minutos escrita por Yokichan


Capítulo 2
Capítulo 2




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Mas cinco minutos vai muito além do tempo em que ela está se virando na cama, sem conseguir dormir. De olhos bem abertos para a semiescuridão do quarto, Karin se pergunta por que foi tão dura com Suigetsu – dura e ríspida ao ponto de agredi-lo fisicamente – e lembra-se das palavras dele, cortantes feito navalhas. Agarrando os lençóis sobre o peito e sentindo aquele gosto amargo na boca, um gosto de ofendida humilhação, ela tenta convencer-se de que apenas agiu por instinto e de que a culpa tinha sido dele por insistir naquela história outra vez. Porém, parece-lhe que duas mulheres lutam dentro dela e que ambas jamais chegarão a um consenso.

Irritada, Karin joga os lençóis para um lado e senta-se sobre o colchão. Abraçando os joelhos, ela pensa que, um dia, Suigetsu se cansará de tentar e que a deixará em paz. Entretanto, ao invés de sentir-se aliviada com a hipótese, ela sente-se subitamente mortificada pela ideia. E antes que possa se dar conta do rumo que a mente está tomando, ela começa a tentar separar aquelas duas mulheres, pois é um absurdo que pessoas tão diferente convivam dentro do mesmo corpo.

Uma delas é familiar e responde bem às expectativas. Segura de si mesma, tem plena consciência de como deve agir e sabe que as decisões tomadas serão as mais sensatas. Vê Suigetsu como um colega de trabalho, como um companheiro de equipe, e, embora se compadeça dos sentimentos dele, sabe que não deve envolver-se além dos limites. Ele lhe fala de amor, mas coisas como o amor não são dignas de confiança, e ela sabe disso muito bem. Já apaixonou-se uma vez e foi a pior experiência de sua vida. Portanto, ela entende que o erro não deve se repetir. Karin pensa que essa versão de si mesma parece oferecer menos riscos – parece ser a versão certa.

A outra mulher, porém, não está ali para que decisões sejam tomadas tão facilmente. Ela é intensa, impulsiva e, por isso mesmo, tão atraente. É como se, dentro dela, houvesse uma chama inextinguível, uma chama que queima com força e que acaba fazendo com que Karin se sinta atordoada. Trata-se de uma mulher perversa e quase lasciva. Nesse exato momento, ela tem a boca úmida e a vontade de dar a Suigetsu o que ele tanto quer – e o que ela mesma deseja. Ela não tem pudor algum em admitir que o ama e que necessita do calor de sua presença. Sobretudo, ela não se importa com o passado – o passado está morto e ela e Suigetsu estão mais vivos do que nunca. Mas Karin tem medo dessa mulher, medo de deixá-la livre para agir como quiser, medo de não resistir mais a ela.

Então as duas continuam brigando e fazendo de sua cabeça uma barafunda.

Se ao menos ela pudesse encontrar um equilíbrio, se ao menos percebesse onde aquilo tudo poderia dar... Se ao menos ela compreendesse a si mesma, não como duas ou três vontades antagônicas, mas como um ser completo, então Karin seria capaz de tomar uma atitude. Mas o tempo passa e ela vê que o abismo cresce a cada momento. Quando se encontram, Suigetsu não pode evitar olhá-la com aquela ansiedade que chega às raias do desespero e ela não consegue ignorar a sensação de borboletas no estômago. O fio está a ponto de romper-se e, mesmo que o dia amanheça, nada se tornará mais claro.

De repente, o próprio corpo a empurra para fora da cama, cansado daquela tensão constante. Karin enfia os pés nos chinelos e, ajeitando a blusa e o short do pijama sobre o corpo, pega os óculos de cima do bidê de cabeceira. O quarto está frio, assim como tudo dentro daquele enorme e labiríntico complexo de pesquisa que, um dia, servira de base aos experimentos de Orochimaru, e Karin passa as mãos pelos próprios braços na esperança de aquecê-los.

Ao abrir a porta do quarto para a escuridão do corredor, silencioso como um túmulo àquela hora da madrugada, Karin não tem ideia do que pretende fazer. Enquanto caminha ao longo de uma das paredes, contudo, ela pergunta-se como deve estar sendo a noite de Suigetsu. E lembra-se das coisas que disseram um ao outro naquela conversa de horas antes.


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