Era uma vez um homem que se conheceu demais. Que desvendou mistérios intocáveis. Que perdeu o juízo e a fé. Que viveu em pecado. Que errou e não se arrependeu. Que foi até o fim e ressurgiu das cinzas. Que aprendeu e ignorou. Que se partiu. Ele era como um homem. Cada peculiaridade humana. Cada incompreensão e dúvida. Não há como moldá-lo ou encaixá-lo em um padrão. Ele não poderia explicar-se. É a sua essência (um emaranhado de muitas), é a sua idiossincrasia. Um quebra-cabeça que só ele sabe montar quando vê seu reflexo o encarando. Ainda assim sempre falha.

É rotundo o modo como as coisas acontecem. Como uma criança alegre que gira até cair e ainda se diverte com isso. O comum passa a ser incomum. Tudo que ele pensa pode fazer todo o sentido do mundo e ao mesmo tempo nenhum. Suas explicações estão além do entendimento, mas elas o confortam. Confortam a muitos. E há certo prazer em negar o que sente e vê. Negar a coceira que faz na pele quando suas células mudam. Negar a mudança que o encara diante do espelho. Nunca é indolor. Queima por dentro e por fora. Queima seus sentimentos.