“Minha mãe, sua mãe, num tronco a voar

Minha mãe, sua mãe, bruxas vão pagar [...]”

Tateei as paredes, tão sujas quanto minhas próprias mãos, buscando pela voz infantil que soprava o cântico nostálgico nos meus ouvidos, levando-me a beira da insanidade.

A voz me era familiar. Minha voz.

Levei as mãos aos ouvidos, sacudindo o corpo para frente e para trás em posição fetal.

E então, ele surgiu no portão. Com o olhar penetrante e enigmático de sempre e o sorriso arrefecido no canto de sua boca.

— Milorde? — Meus olhos se arregalaram.

A imagem mudou.

No lugar do Lorde das Trevas, havia um enorme dementador com sua capa esvoaçando aos ventos uivantes. Ele agarrou-me pelo pescoço com a mão cadavérica, mas já não era mais ele. Voltara a sua forma anterior.

Sorri, vendo aquele rosto perfeito. Lembrei-me de tempos já distantes, dias de glória.

Um ato de extremo atrevimento. Sorrisos não eram permitidos em Azkaban.

Seus lábios pareciam excepcionalmente sedutores naquela noite, irresistíveis.

Em transe, me aproximei e... o beijei, esquecendo-me de tudo.

A última lembrança de quem eu fora até aquele momento, abandonou-me junto com o que restava de minha alma calejada.

Em seguida, apaguei.

E jamais voltei à consciência.