Lavínia precisava dizer aquilo.

É por isso que afugenta qualquer arrependimento que tente imergir. Guarda isso para mais tarde, quando tudo estiver resolvido. Depois de Rael dar a sua resposta.

Coisa que ele não fez até esse momento.

Encontrar as palavras parece ser difícil para ele, é por isso que Lavínia decide ajuda-lo.

“Você está se ajudando, isso sim”, se corrige.

— Eu só preciso saber porque você não me ligou.. – sua voz falha, mas se obriga a continuar – É por eu ser transexual?

Em instantes, o rosto de Rael empalidece e se torna rotundo, como se ele tivesse prendido respiração por tempo demais. Lavínia percebe, mas não quer facilitar.

— O que você vê quando olha pra mim?

Rael demora para responder, mas, ainda assim, solta alguma coisa.

— Você não é homem.

— Eu sou mulher.

— E eu sei disso... E eu não quero dizer o contrário, mas...

— Você tem medo do que as pessoas podem pensar?

— Não! Eu estou seguro, bem seguro, da minha masculinidade.

— Então qual é o problema?

— Eu só... Preciso de um tempo.

Lavínia cruza os braços.

— Não, Rael. Não. Eu não tenho tempo pra dar.

Rael levanta as sobrancelhas.

Lavínia ignora.

— Você quer sair comigo ou não?