Her Wealth & His Misery escrita por UnknownTelles


Capítulo 4
Quando A Bela Adormecida Acorda


Notas iniciais do capítulo

Feliz 2018!!!!!!
Primeiro post do ano foi para HW&HM assim como o último de 2017 foi com Love Doesn't Have Legs (minha outra história).
Esse capítulo foi outro desafio para mim porque em toda a minha vida eu nunca havia escrito, nem mesmo em esboços, um capítulo que fosse no ponto de vista masculino.
Não sei se vocês vão gostar, mas sei que dei o meu melhor para mostrar o que Aiden pensa sobre Keith.
Boa leitura!



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»›» Aiden's P.O.V. «‹«

Abaixei a arma e sem tirar os olhos um segundo do frágil corpo caído à minha frente disse com a voz firme:

— Já sabem o que fazer.

Não precisei dizer mais nada e logo F e E voltaram pelo mesmo caminho que viemos. Joguei a arma de festim no chão junto com a máscara que cobria meu rosto e me aproximei da pequena figura desmaiada. Eu mesmo já havia testado um tiro daquela arma na minha própria perna, e embora a munição fosse apenas balas de borracha, aquilo doía como o inferno. Imaginar um impacto daquele no peito seria doloroso até mesmo para mim, quanto mais para uma mulher tão delicada quanto àquela. Toda a bravura e coragem que demonstrara durante seu plano brilhante de nos ludibriar eram insanamente contraditórias à sua aparência física, que parecia implorar por cuidado e dependência.

Aparências enganam.

Ajoelhei-me no chão ao seu lado e observei o lugar onde a havia acertado. A blusa estava intacta, não havia nenhum buraco, mas por dentro sabia que o roxo do hematoma já deveria estar se formando. Por um segundo, quis atirar em mim mesmo com uma arma de verdade pelo que fizera à ela. E eu nem sabia o porquê...

— Me perdoe — sem perceber essas palavras escaparam dos meus lábios como um sussuro.

Eu envolvi um braço em sua pequena cintura e outro em suas pernas a erguendo. Sua cabeça imediatamente repousou em meu peito enquanto alguns fios soltos do seu cabelo loiro caiam em seu rosto.

De perto ela era impossivelmente mais bela. 

Na primeira vez em que a havia visto no grande salão no andar superior, tive que conter a urgência que senti em manter meus olhos fixos na sua figura, especialmente depois que vi aquele imbecil do F não tirar os olhos sujos de cima dela. Eu praticamente conseguia ler os pensamentos pútridos que ele tinha e aquilo estava me enfurecendo por dentro de uma forma que eu quase não conseguia controlar. Eu já estava no meu limite com ele toda vez que abria a boca. Ameaçar matá-lo, ainda que ele soubesse que eu não iria fazer aquilo realmente, ajudou a pô-lo em seu devido lugar. Era muito bom que depois desse nosso teatro ele fosse voltar para cadeia. Ter nos ajudado a encenar o assalto faria com que ele tivesse um ano da pena reduzida, mas ele ainda tinha mais uns bons 20 anos na cadeia, o que me deixava mais tranquilo.

Quando finalmente ergui a bela estranha quase caí para trás com nós dois juntos. Eu havia posto mais força do que o necessário para levantá-la, de forma que perdi o equilíbrio momentaneamente, mas logo o recuperei. Fitei-a surpreso por ser tão leve! Ela era uma mulher adulta, como podia pesar tão pouco? Não estava se alimentando o suficiente? Mas sendo ela uma funcionária da minha empresa até mesmo o menor salário possível era o suficiente para sustentar uma família de cinco pessoas. 

Voltei meus olhos para o seu crachá e sorri quando vi seu nome. 

Keith Connor.

Ela havia clamado ser Siara e essa era uma das mil perguntas que eu precisava fazer para ela quando acordasse. Como sabia de Siara e como sabia que isso seria uma arma poderosa contra um assalto ao banco? Só então reparei que havia uma fita branca grudada no seu crachá. Ajustando o seu corpo para que repousasse em minhas pernas, alcancei a capa plástica que pendia de seu pescoço e retirei a fita. Tive que conter uma risada quando vi em letras maiúsculas o seu cargo. 

ESTAGIÁRIA. 

Ela era realmente uma mulher interessante. Sua beleza ia muito além do seu corpo e rosto. Sua mente pensou brilhantemente em todo o momento em que conduziu a situação. Tive que segurar uma gargalhada na hora que abriu o prompt de comando do windows. Tanto E, cujo nome era Dylan, e F, que era Nathan, não tinham a mínima ideia do que ela estava fazendo, mas eu sabia muito bem. Ela estava enrolando. Estava comprando tempo para a polícia chegar. Naquele momento eu não sabia qual era exatamente o plano dela, apesar de já saber que tinha alguma coisa em mente.

Como se tivesse todo o tempo do mundo, caminhei pelo corredor de volta para o elevador. Conforme subíamos os andares e nos aproximávamos do térreo me preparei mentalmente para a sucessão de ordens que precisava sair uniforme, rápida e clara dos meus lábios. Eu não tinha tempo a perder e esperava que Carl já tivesse tudo sob controle. Precisava entregar essa curiosa mulher chamada Keith aos cuidados de Cristina antes de voltar para o escritório. 

A primeira pessoa que vi assim que as portas se abriram foi ele, estava falando com dois policiais. Quando ouviu o elevador, disse mais algumas palavras para eles e veio rápido em minha direção. 

Carl era meu fiel assistente pessoal e mesmo não querendo admitir por muito anos, tive que ceder ao fato de que também se tornara um grande amigo. Ele já sabia da nossa tradição e de toda a encenação que fazíamos a cada quarenta meses, por isso, o mesmo discurso e protocolo que precisávamos seguir com a polícia confirmando cada detalhe era responsabilidade dele e não mais minha.

— Aiden — ele sempre me chamava pelo primeiro nome quando não havia ninguém perto o suficiente para ouvir a nossa conversa. — Meu Deus! O que foi que aconteceu? Eu pensei que tudo seguiria como sempre planejamos. Por que não me avisou da mudança de planos? 

Franzi o cenho.

Era bem verdade que havíamos demorado mais do que devíamos no subsolo, e isso com certeza não fazia parte do plano, porém Carl estava muito bem avisado disso. Antes de descer, eu havia expressamente informado a Gabe e Tristan que estavam de olho nos reféns que entrassem em contato com Carl e o avisassem sobre isso. Ele sabia que aquela era uma potencial chance de ter achado alguém competente para aquele cargo.

— Explique.

Ele passou os dedos pelos cabelos já bagunçados. Parecia estar realmente preocupado com alguma coisa.

— Quando liguei para a central de segurança pedindo para desativarem o alarme temporariamente para que vocês entrassem, eles me informaram que a entrada da ala leste do subsolo estava desativada...

— O quê!? — Tive que me controlar para controlar o volume da minha voz. Ainda assim alguns dos atores por perto me olharam assustados e a mulher em meus braços pareceu encolher com o tom da minha voz. Lançando meu olhar mais intimidador para Carl, eu acrescentei: — Por que não me avisou antes?

Meu olhar pareceu ter funcionado porque ele encolheu os ombros visivelmente.

— Eu pensei que pudesse ter sido ordens sua e que não tinha me contado. Quando me ligou dizendo que os planos haviam sofrido alteração e de que estava justamente indo para aquela direção, então achei que fosse você...

Um monte de palavras não muito boas surgiram em minha cabeça enquanto tentava refrear a minha língua. Eu precisava entrar em contado com a central e pedir as gravações de horas anteriores bem como interrogar os responsáveis pelo sistema para saber de onde tinham recebido a maldita ordem de desligar a segurança da ala leste.

— Carl, você sabe muito bem o que pode acontecer com uma brecha na segurança. Nós estamos falando de todas as agências do banco. Se vazar a informação de que a segurança daqui falhou, todas as outras agências vão estar muito mais vulneráveis.

Ele assentiu, parecia cansado. Provavelmente já sabia de tudo o que eu tinha falado. Carl sempre tinha a mente à frente de todos e conseguia entender minhas ideias e forma de pensar sem que eu dispensasse muito tempo explicando. Quando tudo isso aconteceu ele já devia ter pintado todos os cenários possíveis em sua cabeça.

— Assim que tiver isso resolvido e todos os culpados devidamente punidos, eu quero que tire duas semanas de férias — ordenei.

Ele arregalou os olhos como se eu tivesse dito que eu iria de férias.

Esse era um pensamento irrisório. Nunca havia tirado férias desde que assumira a presidência da empresa. Não era como se não confiasse em meu vice, que na verdade era meu próprio pai, o presidente anterior, mas nunca tinha tido a necessidade de tirar uns dias fora, eu amava meu trabalho apesar de todo o estresse. Eram ossos do ofício.

Porém, apesar de Carl dividir a mesma paixão que eu pelos negócios, era evidente em seu rosto o quanto precisava de descanso e eu não o culpava. O trabalho por si só era capaz de sugar as energias de uma forma alucinante, mas o fato de ainda ter que lidar com o meu gênio requeria muito mais estamina. 

— Isso não é necessário, Aiden — disse após se recompor do susto. — Nós ainda temos aquela transação com a Swiss Corps. que está pra estourar a qualquer momento.

A Swiss Corps. era sem dúvida um dos melhores investimentos que a A&A Banks jamais havia feito. Todo o processo requeria muita atenção e cuidado, mas eu sabia que meu pai e eu éramos capazes de lidar com aquilo sem Carl por alguns dias.

— Carl — ele parou de falar. Fitou-me por alguns segundos e suspirou. Não tinha como argumentar comigo. Ninguém tinha. — E a polícia? — Perguntei mudando de assunto.

— Resolvido. Eles já sabem como tudo funciona, só estavam surpresos que alguém daqui conseguira entrar em contato e pedir socorro.

Um sorriso imediatamente tomou conta dos meus lábios antes que eu pudesse sumprimi-lo. 

Como se só então tivesse completa consciência da mulher em meus braços ele disse:

— É ela?

Assenti sem olhá-la. Por um segundo, tive medo de fitá-la novamente e me perder em sua beleza. 

Carl não parecia querer desgrudar os olhos dela e isso me irritou profundamente me fazendo apertá-la ainda mais contra o meu corpo. 

 — Ligue para Cristina — pus mais autoridade do que o necessário na voz para que ele desviasse os olhos dela e prestasse atenção no que dizia. — Ainda tenho algumas coisas para resolver no escritório. Mande Cristina me ligar assim que ela acordar.

— Cristina não está no apartamento — ele parecia um pouco desconcertado. — A filha entrou em trabalho de parto em casa e ela correu para lá.

Assenti, mas fiquei um pouco incomodado. A menina claramente não tinha como escolher o dia que iria parir, mas eu precisava da minha empregada naquele momento. Ela era a única que eu confiava para trabalhar para mim e a única que conseguia cuidar tão bem do meu apartamento. Cristina era como se fosse a vó que eu nunca tive e apesar da nossa relação ser patrão-empregada, ela nunca hesitava em me repreender quando eu fazia algo que não gostava. 

Respirei fundo pensando na próxima pessoa que poderia cuidar de Keith até que eu tivesse o trabalho terminado.

— E Hellen?

Carl parecia surpreso, mas tentou esconder inutilmente.

— Ela provavelmente está trabalhando.

Eu não tinha muito tempo para pensar, uma pilha de problemas em forma de documentos me esperava para serem resolvidos.

— Avise Hellen que estarei chegando lá em vinte minutos e que vou precisar de um favor — Carl parecia ainda mais confuso e surpreso, mas balançou a cabeça pegando no celular para fazer o que mandei. — Ah, Carl.

Ele levantou os olhos da tela do aparelho esperando que eu terminasse.

— Sim?

— Keith Connor. Quero saber tudo relacionado a esse nome. Pra ontem.

Não esperei para ouvir a resposta dele e fui em direção à saída. Pelo caminho acenei algumas vezes para alguns polícias que estavam por perto e me olhavam desconfiados. Obviamente eu não esperava passar desapercebido no meio de tanta gente segurando uma mulher nos braços. Surpreendente eu não me importei com aquilo.

Vi Gabe e Tristan vindo em minha direção, mas com apenas um aceno de cabeça sinalizei para que fossem falar com Carl. Eu estava exausto e ocupado. Não tinha tempo para discutir o que quer que fosse naquela hora, precisava ainda deixar Keith com Hellen.
Hellen.
Espero que ela não faça disso um tormento para mim.

*******

Passei a mão pelos cabelos pela milésima vez. Cruzando os braços me recostei na cadeira de couro preta do meu escritório sentindo a minha cabeça prestes a explodir. 

Eu não tinha mais ideia do que iria fazer sobre o acordo com a Swiss Corps. Os malditos haviam triplicado a oferta e por mais que as ações realmente valessem aquilo tudo, eu sabia que era apenas uma oportunidade para montar nas minhas costas.

Uma série de palavras não castas saíram dos meus lábios enquanto meus olhos reliam as linhas dos documentos à minha frente. A situação tinha ido muito além de apenas lucros e perdas. A questão se tornara sobre poder. Quem controlava quem. Se eu aceitasse os termos deles ainda teria muito lucro sobre aquilo tudo, mas eles me teriam exatamente onde queriam. Eu estaria fazendo eles se sentirem confiantes.

E não há nada mais perigoso do que uma pessoa com um pouco de confiança em si mesma.

Respirando fundo pela décima vez liguei a tela do computador enquanto tomava um rápido gole do café gelado. Na tela vi que já eram 6 horas da manhã e eu não havia nem mesmo fechado os olhos por cinco minutos.

Hoje vai ser um longo dia.

Uma luz acendeu na mesa ao lado do teclado do computador, mas não dei muita importância. Abri alguns arquivos que Carl havia encaminhado do email da empresa para o meu email privado para analisar. Ele merecia um prêmio por conseguir pescar só o que era importante daquele bando de lixo.

A luz continuou a piscar insistente e quando baixei os olhos vi que era o meu celular. 

15 ligações perdidas.

Dela.

Resolvi atender já me arrependendo. Não estava com muita disposição de falar com aquela mulher duas vezes no mesmo dia.

— Hellen, eu acabei de sair daí, por que está me ligando? — Saiu mais como um suspiro do que uma pergunta.

— Sim, você acabou de sair daqui sete horas atrás — debochou.

— Estou desligando.

Já estava com o celular afastado do ouvido para desligar quando a ouvi:

— Ela fugiu.

Franzi o cenho sem entender. De quem ela estava falando?

— Quem?

Ela deu uma risada que fez todo o meu corpo se tensionar. Pressenti que algo péssimo estava para vir.

— A sua bela adormecida fugiu, garanhão. Nem mesmo os dois postes que você chama de guarda-costas conseguiram impedi-la.

— Hellen, o que...

— Aiden, eu não tenho mais cinco anos para ficar passando trote e embora eu pudesse pagar muito bem para ver a sua cara agora, eu não iria mentir sobre isso.

Outra série de palavras inapropriadas saíram da minha boca.

— Onde ela está? — Perguntei, acabou soando mais como uma ordem.

— Oh, bem que eu gostaria de saber. Me parece que ela fugiu pela janela.

— O quê!? — Levantei da cadeira bruscamente ainda com o celular no ouvido. — Hellen, ela estava no sexto andar do hospital! Como pode ter saído pela janela?

Eu conseguia imaginá-la dando de ombros antes de responder.

— Pergunte a ela por mim quando a encontrar.

E desligou.

Ela desligou!

Além de não ter feito o que mandei ainda tinha a audácia de desligar na minha cara!

Sem tempo para perder me estressando com aquela médica incompetente, saí do escritório e peguei a chave do carro em cima do balcão da cozinha sem parar por um segundo.

Hoje vai ser um dia terrivelmente longo.


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Notas finais do capítulo

Hohohoho
Keith sempre me surpreende, por essa nem mesmo eu estava esperando.
Pobre Aiden... Corre atrás, meu filho, porque a Bela Adormecida Acordou.
Gostaram do capítulo? Ou Aiden soou muito menininha? Se vocês acharam que ele não foi másculo o suficiente eu realmente peço perdão, eu não sei como um homem pensa e pra falar a verdade tenho medo de saber!
Se gostaram favoritem e comentem, vou responder a todos individualmente tão logo seja possível.
Até a próxima!



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