Girls and Blood — Reimagined Twilight escrita por Azrael Araújo


Capítulo 4
Three




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Riley me cutucou de leve. 

— Ei, Bella, tudo bem? — o apelido não me passou despercebido e talvez minhas bochechas tenham ficado vermelhas. 

 Peguei uma barra de frutas quando cheguei no fim da fila. 

— Não está com fome? — perguntou Jeremy. 

— Na verdade, estou meio enjoada — falei. 

Ele fez uma careta, quase se desculpando enquanto dava um passo para trás. 

Esperei que eles pegassem a comida e os segui até a mesa, com olhos em qualquer lugar, menos no fundo do refeitório. 

Comi lentamente, tentando focar na conversa ao meu redor. 

Por duas vezes Riley perguntou como eu estava me sentindo; ela parecia realmente preocupada. Fiquei me perguntando o que havia de tão... Ruim na garota Cullen que me fazia estremecer só em ser olhada de cara feia por ela. 

Decidi me permitir dar uma olhada na mesa da família Cullen. Só para sentir o clima. 

Mantive a cabeça baixa e espiei pelo canto do olho, por entre os fios de cabelo. Nenhum deles olhava na minha direção. Ergui um pouco a cabeça. 

Eles estavam rindo. Edythe, Jessamine e Eleanor estavam com os cabelos totalmente encharcados de neve derretendo. Archie e Royal se curvavam, tentando se afastar, enquanto Eleanor sacudia o cabelo molhado na direção deles, deixando a marca dos pingos na parte da frente dos casacos. Eles estavam curtindo o dia de neve, como todo mundo — só que pareciam estar numa ridícula cena de filme, mais do que o resto de nós. 

Mas, além dos risos e das brincadeiras, havia algo diferente, e eu não conseguia perceber o que era. 

Examinei Edythe e a comparei com a lembrança que tinha da semana anterior. A pele parecia menos pálida e os círculos em torno dos olhos, bem menos perceptíveis. O cabelo estava mais escuro, molhado e grudado na cabeça. Mas havia mais alguma coisa. Esqueci-me de fingir que não estava olhando enquanto tentava identificar a mudança 

— O que você está olhando, Isabella? — perguntou Jeremy. 

Naquele exato momento, os olhos de Edythe lampejaram e encontraram os meus. 

Virei a cabeça toda para o lado oposto, onde Riley estava, mexendo também os ombros na direção dela. Riley foi pega de surpresa, os olhos castanho-claros se arregalando levemente com a minha invasão repentina ao seu espaço pessoal. 

Eu tinha certeza de que, no instante em que nossos olhos se encontraram, Edythe não estava com raiva e nem nojo, como na última vez que a vi. Só parecia curiosa novamente, e de certa forma insatisfeita. 

— Edythe Cullen está olhando para você — disse Jeremy, olhando por cima do meu ombro. 

— Ela parece estar com raiva? — Foi a primeira coisa estúpida em que pensei. 

— Não. — Jeremy pareceu confuso, mas sorriu de repente. — O que você fez, deixou ela com recalque ou algo assim? 

O encarei por um segundo. — Não... Eu nunca nem falei com ela. Mas parece que ela não gosta de mim. — dei de ombros. 

Eu nem ligava mesmo. 

Mantive o corpo inclinado na direção de Riley — que estava um pouco sem graça, assim como eu —, mas minha nuca ficou arrepiada, como se eu conseguisse sentir os olhos da Cullen em mim. 

— Os Cullen não gostam de ninguém... — Jeremy zombou — Bom, eles não percebem a presença de ninguém para gostar. Mas ela ainda está olhando para você. 

— Pare de olhar para ela — falei indiferente. 

Ele deu uma risadinha, mas desviou os olhos. Mike nos interrompeu nesse momento; estava planejando uma batalha épica de neve no estacionamento depois da aula e queria que fôssemos também. Jeremy concordou com entusiasmo. Pelo modo como olhou para Mike, havia poucas dúvidas de que ele concordaria com qualquer coisa que o loiro sugerisse. Eu olhei para a garota Riley novamente, voltando a minha posição inicial — um pouco mais distante dela. 

Ela sorriu novamente e eu não reprimi um suspiro. 

Ela tinha um sorriso contagiante, algo que me fazia querer sorrir junto. Seus olhos me analisaram por alguns segundos, demorando-se no meu rosto e eu ruborizei.

Pelo resto da hora de almoço, mantive os olhos voltados para a mesa. Edythe não parecia mais estar planejando me matar, então não foi nada demais ir para a aula de biologia. Meu estômago deu um nó com a ideia de me sentar ao lado dela de novo. 

Segui para a aula com a garota Riley ao meu lado, falando animadamente sobre a guerra de neve — a forma como ela falava empolgaria qualquer um. Ela me deixou na porta da sala, demorando-se por um segundo, como se estivesse prestes a falar algo. 

Mas então o sinal tocou e o momento se perdeu. Ela me lançou um sorriso de desculpas e correu para sua própria aula. 

Depois de entrar na sala, vi com alívio que a cadeira de Edythe ainda estava vazia. Isso me dava um minuto para me preparar para a guerra. A Sra. Banner andava pela sala, distribuindo um microscópio e uma caixa de lâminas para cada carteira. A aula só começaria alguns minutos depois, e a sala zumbia com as conversas. Mantive os olhos afastados da porta, encarando uma foto minha com Lauren que ela colara na capa de meu caderno, um ano atrás — eu estava com um ridículo pijama cinza, algo que deveria ser uma fantasia de elefante; Lauren vestia um pijama amarelo, uma fantasia de leoa. Nós duas estávamos sentadas no chão de seu quarto, um pote de sorvete ao nosso lado. 

Sorri com a lembrança, até que ouvi a cadeira ao lado da minha se mexer, mas meus olhos continuaram voltados para a foto adorável abaixo de mim. 

— Oi — disse uma voz baixa e melodiosa. 

Ergui o olhar de súbito, atordoada por ela estar falando comigo. Eu devia estar parecendo uma idiota, mas não me importei. 

Ela estava sentada o mais distante de mim que a carteira permitia, mas continuava meio inclinada na minha direção. O cabelo gotejava, despenteado. Mesmo assim, ela parecia ter acabado de gravar um comercial da L'Oreal Paris — quase uma Camila Cabello versão ruiva. O rosto perfeito estava simpático, franco, um leve sorriso nos lábios carnudos e rosados. Mas os olhos longos estavam cautelosos. 

— Meu nome é Edythe Cullen — continuou ela. — Não tive a oportunidade de me apresentar na semana passada. Você deve ser Bella Swan. 

Minha mente girava de tanta confusão. Aquilo tudo teria sido fruto da minha imaginação?  

Será que eu era esquizofrênica? 

Ela agora estava sendo perfeitamente educada. Eu precisava falar; ela estava esperando. Mas não consegui pensar em nada de normal para dizer. 

— Co-como você sabe meu nome? — gaguejei. 

Ela riu baixinho. 

— Ah, acho que todo mundo sabe seu nome. A cidade toda estava esperando você chegar. 

Eu franzi a testa, embora já soubesse que era algo desse tipo. 

— Não — insisti, feito um idiota. — Quer dizer, por que me chamou de Bella? 

Ela pareceu confusa. 

— Prefere Isabella? 

— Não é isso... — falei. — Mas nunca me chamaram assim... Quer dizer... Só a Riley me chama assim.  

— Ah. — Ela disse, parecendo subitamente desinteressada. Eu quis me bater por ser uma completa estúpida. 

Felizmente, a Sra. Banner começou a aula naquele momento. Tentei me concentrar enquanto ela explicava a prática de laboratório que íamos fazer hoje. As lâminas na caixa estavam fora de ordem. Trabalhando em equipe, teríamos que separar as lâminas de células de ponta de raiz de cebola nas fases de mitose que representavam e rotulá-las corretamente. Não devíamos usar os livros. Em vinte minutos, ela voltaria para ver o que tínhamos conseguido. 

— Podem começar — ordenou ela. 

— Primeiro as damas? — perguntou Edythe. 

Olhei para ela e a vi dando um sorriso com covinhas tão perfeito que só pude ficar olhando como uma idiota. 

Ela ergueu as sobrancelhas. 

— Ah, claro, pode começar — falei — Ou... Eu posso, se você quiser... Porque, sabe... Eu sou. Menina. Também. 

Vi o olhar dela se dirigir para os pontos vermelhos surgindo nas minhas bochechas. Por que meu sangue não podia ficar nas veias, onde era o lugar dele? 

Ela desviou o olhar rapidamente e puxou o microscópio para o lado dela da mesa. 

Ela observou a primeira lâmina por um quarto de segundo, talvez até menos. 

— Prófase. 

Ela botou a lâmina seguinte no microscópio, mas parou e olhou para mim. 

— Ou você queria verificar? — desafiou ela. 

— Ah, não, tudo bem — falei. 

Ela escreveu a palavra prófase com capricho na primeira linha da folha de papel. Até a letra dela era perfeita, como se ela tivesse feito aulas de caligrafia ou alguma coisa assim. Alguém ainda fazia essas aulas? 

Ela mal olhou o microscópio com a segunda lâmina, depois escreveu anáfase na linha de baixo, fazendo uma curva no A, como se estivesse escrevendo um envelope de convite de casamento. Eu precisei fazer os convites do casamento da minha mãe. Imprimi etiquetas com uma fonte elegante que não chegava nem perto da letra de Edythe. 

Ela colocou a terceira lâmina no lugar. Eu aproveitei que sua atenção estava voltada para isso e fiquei olhando para ela. Tão de perto, era de se pensar que daria para ver alguma coisa errada, uma sombra de espinha, um fio torto na sobrancelha, um poro, alguma coisa. Mas não havia nada. 

De repente, ela se voltou para a frente da sala, logo antes de a Sra. Banner chamar: 

— Srta. Cullen. 

— Sim, Sra. Banner. 

Edythe empurrou o microscópio para mim quando falou. 

— Que tal deixar a Srta. Swan ter a oportunidade de aprender? 

— Claro, Sra. Banner. 

Edythe se virou e me lançou um olhar de muito bem, vá em frente

Eu me inclinei para olhar. Consegui sentir que ela estava me observando, e era justo, considerando que antes eu não tirava os olhos dela, mas me senti constrangida, como se o mero movimento de inclinar a cabeça fosse desajeitado. 

Pelo menos, a lâmina não era difícil. 

— Metáfase — falei. 

— Você se importa se eu olhar? — perguntou ela quando comecei a tirar a lâmina. Ela segurou minha mão para me impedir enquanto falava. Os dedos estavam frios como gelo, como se ela os estivesse enfiado na neve antes da aula. Mas não foi por isso que puxei a mão tão rápido. Quando ela tocou em mim, senti uma dor que pareceu um choque elétrico de baixa voltagem. 

— Me desculpe — murmurou ela, puxando a mão rapidamente, embora continuasse querendo pegar o microscópio. 

Eu a observei, um pouca atordoado, enquanto ela examinava a lâmina por mais uma fração de segundo. 

— Metáfase — concordou ela, um pouco surpresa, e empurrou o microscópio na minha direção. 

Tentei trocar as lâminas, mas eram pequenas demais, ou meus dedos que eram grandes demais, e acabei deixando as duas cair. Uma caiu na mesa e a outra pela beirada, mas Edythe a pegou antes que caísse no chão. 

— Ugh. — Eu expirei, morrendo de vergonha. — Desculpa. 

— Bom, a última não é mistério nenhum, de qualquer jeito — disse ela. O tom era quase uma gargalhada. 

Edythe escreveu as palavras metáfase e telófase nas duas últimas linhas da folha de papel. Terminamos bem antes de todo mundo. Consegui ver Mike e o parceiro comparando duas lâminas repetidas vezes, e outra dupla estava com o livro aberto embaixo da carteira. 

Fiquei sem nada para fazer além de tentar olhar para ela... Sem sucesso. Olhei para baixo, e ela estava me encarando, com aquela mesma expressão estranha de frustração nos olhos. De repente, identifiquei a diferença sutil no rosto dela. 

— Você usa lentes de contato? — perguntei de repente. 

Ela pareceu intrigada pela minha pergunta sem propósito. 

— Não. 

— Ah — murmurei. — Achei que tinha alguma coisa diferente nos seus olhos. 

Ela deu de ombros e afastou o rosto. 

Na verdade, eu sabia que havia algo diferente. Não me esqueci de nenhum detalhe daquela primeira vez que ela olhou para mim com raiva, como se me quisesse morta. Eu ainda conseguia ver o preto chapado dos olhos dela, tão contrastante com a pele clara ao fundo. Hoje, os olhos estavam com uma cor completamente diferente: um dourado estranho, mais escuro do que caramelo, mas com o mesmo tom quente. Eu não entendia como podia ser assim, a não ser que, por algum motivo, ela estivesse mentindo sobre as lentes de contato. Ou talvez Forks estivesse me deixando louca. Ou talvez eu estivesse chapada. 

Olhei para baixo. As mãos dela estavam fechadas com força de novo. 

A Sra. Banner foi à nossa mesa, olhou por sobre nossos ombros para ver o trabalho concluído, depois foi verificar as respostas. 

— Então, Edythe... — A Sra. Banner começou a dizer. 

— Bella identificou metade das lâminas — disse Edythe antes que a Sra. Banner pudesse terminar. 

A Sra. Banner olhou para mim; sua expressão era cética. 

— Já fez essa experiência de laboratório antes? — perguntou ela. 

Eu ergui os ombros. 

— Não com raiz de cebola. 

— Blástula de linguado? 

— Isso. 

A Sra. Banner assentiu. 

— Você estava em algum curso avançado em Phoenix? 

— Estava. 

— Bem — disse ela depois de um momento. — Acho que é bom que os duas sejam parceiras de laboratório. — Ela murmurou mais alguma coisa ao se afastar. Depois que saiu, comecei a rabiscar no meu caderno ao lado da foto. 

— Legal essa história da neve, não é? — perguntou Edythe. 

Tive a sensação estranha de que ela estava se obrigando a bater um papinho comigo. 

— Na verdade, não. Nunca fui muito fã, mas todo mundo parece animado — dei de ombros. 

— Você não gosta do frio. — Não era uma pergunta. 

— Nem da umidade. 

— Forks deve ser um lugar difícil para você morar — refletiu ela. 

— Você nem faz ideia — murmurei, soltando uma risada amarga. 

Ela pareceu fascinada com a minha resposta, por algum motivo que eu não conseguia entender. Seu rosto era uma distração tal que tentei não olhar para ela mais do que a cortesia me exigia. 

— Então por que veio para cá? 

Ninguém tinha me perguntado isso, não da forma direta como ela fez, querendo mesmo saber. 

— Complicado. 

— Acho que consigo acompanhar. — pressionou ela. 

Fiquei muda por um longo momento, e depois cometi o erro de encontrar o olhar dela. Seus olhos dourado-escuros me confundiam, e respondi sem pensar. 

— Minha mãe se casou de novo — eu disse. 

— Isso não parece tão complicado. — discordou ela, mas o tom de voz ficou mais suave de repente. — Quando foi que aconteceu? 

— Mês passado. — Não consegui afastar a tristeza de minha voz. 

— E você não gosta dele...? — supôs Edythe, o tom de voz ainda gentil. 

— Não, o Phil é legal. Novo demais, talvez, mas é bem legal. 

— Por que você não ficou com eles? 

Eu não conseguia entender o interesse dela, mas ela continuava a me fitar com os olhos penetrantes, como se a história insípida da minha vida fosse algo de importância crucial. 

— Phil viaja muito, é jogador de beisebol. — Dei um meio sorriso. 

— Será que eu o conheço? — perguntou ela, sorrindo em resposta, só o suficiente para uma sombra das covinhas aparecer. 

— Provavelmente não. É da segunda divisão. Ele se muda muito. 

— E sua mãe mandou você para cá para poder viajar com ele. — Ela disse isso como uma suposição de novo, e não como uma pergunta. 

Meus ombros se empertigaram automaticamente. 

— Não, ela não me mandou para cá. Eu quis vir. 

As sobrancelhas dela se uniram. 

— Não entendi — admitiu ela, e parecia mais frustrada com isso do que deveria. 

Eu suspirei. Por que raios eu estava explicando isso? Ela continuava a me encarar, esperando. 

— Ela ficou comigo no começo, mas sentia falta dele. Isso a deixava infeliz... Então, cheguei à conclusão de que estava na hora de passar algum tempo de verdade com meu pai. — Eu soava mal-humorada quando terminei. 

— Mas agora é você que está infeliz — observou ela. 

— E? — questionei em desafio. 

— Isso não parece justo. — Ela deu de ombros, mas seus olhos ainda estavam intensos. 

Eu dei uma gargalhada. 

— Ninguém te contou ainda? A vida não é justa. 

— Acho que já ouvi isso em algum lugar — concordou ela secamente. 

— E então, é isso — insisti, perguntando-me por que ela ainda me encarava daquele jeito. 

Ela inclinou a cabeça para o lado, e os olhos dourados pareciam perfurar a superfície da minha pele. 

— Você está fingindo bem — disse ela devagar. — Mas aposto que está sofrendo mais do que deixa transparecer. 

Eu dei de ombros. 

— Eu repito: e? 

— Não entendo você direito, só isso. 

Franzi a testa. 

— Por que você iria querer entender? 

— É uma ótima pergunta — murmurou ela, tão baixinho que me perguntei se estava falando consigo mesma. Mas depois de alguns segundos de silêncio, concluí que era a única resposta que eu teria. 

Era constrangedor ficarmos nos encarando, mas ela não afastou o olhar. Eu queria ficar olhando para o rosto dela, mas tive medo de ela estar se perguntando qual era meu problema e acabei me virando para o quadro-negro. Ela suspirou. 

Olhei novamente, e ela ainda estava me observando, mas a expressão estava diferente... Meio frustrada ou irritada. 

— Eu... Estou irritando você? 

Ela balançou a cabeça e sorriu com metade da boca, de forma que só uma covinha apareceu. 

— Não, acho que estou mais irritada é comigo mesma. 

— Por quê? 

Ela inclinou a cabeça para o lado. 

— Decifrar as pessoas... Costuma ser fácil para mim. Mas não consigo... Acho que não sei como interpretar você. Isso é engraçado? 

Escondi o sorriso. 

— É... Inesperado. Minha mãe sempre me chama de livro aberto. De acordo com ela, dá para praticamente ler meus pensamentos impressos na minha testa. 

O sorriso dela sumiu, e ela olhou com intensidade nos meus olhos, mas não com a raiva de antes. Como se estivesse tentando muito ler a minha testa, como minha mãe fazia. E então, mudando de marcha de forma abrupta, ela sorriu novamente. 

— Acho que sou confiante demais. 

Eu não sabia o que dizer. 

— Hã, desculpa? 

Ela riu, e o som foi como música, embora eu não conseguisse pensar em nenhum instrumento com o qual comparar. Os dentes dela eram perfeitos, o que não era surpresa, e brancos e brilhantes. 

A Sra. Banner então chamou a turma, e eu fiquei aliviada de voltar a atenção para ela. Essa conversinha trivial com Edythe foi intensa demais. Eu me sentia tonta, de um jeito estranho. Eu tinha mesmo acabado de explicar minha vida chata para aquela garota bizarra e linda que podia ou não me odiar? Ela parecia quase interessada demais no que eu tinha para dizer, mas agora eu podia ver, pelo canto do olho, que ela estava se afastando de mim de novo, as mãos agarradas na beira da mesa com uma tensão evidente. 

Tentei prestar atenção enquanto a Sra. Banner repassava a experiência com transparências do retroprojetor, mas meus pensamentos estavam longe da aula. 

Quando o sinal tocou, Edythe correu da sala de maneira tão rápida e elegante quanto na segunda-feira anterior. E, como naquela segunda, fiquei olhando para ela de queixo caído. 

Mike chegou à minha carteira quase com a mesma rapidez. 

— Foi horrível — disse ele. — Todas elas pareciam iguais. Você tem sorte por ter a Edythe como parceira. 

— É, ela parecia conhecer bem uma raiz de cebola. 

— Ela pareceu bem simpática hoje — comentou Mike enquanto vestíamos as capas de chuva. Não aparentava estar feliz com isso. 

Tentei falar com casualidade na voz. 

— Nem imagino o que aconteceu com ela na segunda passada. 

Eu não consegui me concentrar na tagarelice de Mike enquanto íamos para o ginásio — nem mesmo a partida de futebol me distraiu. A garota Riley era do time adversário e eu senti uma certa áurea de desafio vinda dela. 

Quando saímos do ginásio, eu, Riley e Jeremy fomos cercados por um grupo de seus amigos e bombardeados com bolas de neve. Nem tive tempo de revidar, então só assisti enquanto Jeremy corria atrás de Erica tentando acertá-la. Riley revidou com alguns lançamentos, mas permaneceu ao meu lado, ambas tentando tirar o excesso de neve do cabelo. 

Começou a chover alguns instantes depois e eu estremeci com frio. 

Riley passou um dos braços ao redor dos meus ombros, me aquecendo, e seguimos até o estacionamento que estava bem úmido. Entrei no Tracker e coloquei o aquecedor na temperatura mais alta possível, torcendo os cabelos novamente. 

Quando olhei em volta para me certificar de que o caminho estava livre para sair, percebi a figura imóvel e branca. 

Edythe Cullen estava encostada na porta da frente do Volvo, a três carros de mim, e olhava intensamente na minha direção. O sorriso tinha sumido, mas pelo menos a fúria assassina também, ao menos por enquanto. Desviei os olhos e engatei a ré, quase batendo num Toyota Corolla enferrujado na pressa. Para sorte do Toyota, pisei no freio a tempo. Respirei fundo, ainda olhando para o outro lado, e dei ré de novo, com cuidado. Dessa vez, consegui. 

Fiquei olhando para a frente ao passar pelo Volvo, mas, pela visão periférica, consegui ver o bastante para saber que ela estava rindo.


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Notas finais do capítulo

https://fanfiction.com.br/historia/727887/The_Blood_Of_My_Enemy/

https://fanfiction.com.br/historia/731598/I_Hate_You_I_Love_You/

TT @pittymeequaliza



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