Girls and Blood — Reimagined Twilight escrita por Azrael Araújo


Capítulo 33
Thirty Two




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 — Mas ainda não. Vamos nos divertir primeiro, vou levar você daqui. 

Ela tirou algo do bolso de trás do jeans, uma seringa pequena brilhou contra a palma de sua mão pálida. 

Um segundo depois a agulha perfurava meu pescoço. 

 

Quando acordei, estava entorpecida. 

Ergui os olhos, a visão tingida de vermelho pelo sangue que eu não fazia ideia se era meu. O local escuro e pouco salubre parecia úmido, com goteiras por todos os lugares. O cheiro de mofo queimava meu nariz. 

Girei a cabeça tentando olhar ao redor e sentindo pontadas de dor com o pequeno movimento. 

Respire fundo, apenas respire. 

O som de passos me alertou de que eu não estava sozinha, os ecos atingindo meus ouvidos e me levando ao pânico. 

Ergui o olhar novamente, dessa vez encarando a figura escondida sob as sombras da parede mais distante. Não podia ver por onde ela havia entrado, mas uma abertura pouco iluminada chamara minha atenção, perto do que parecia ser um corpo estirado no chão úmido. 

Espirei pesadamente, enquanto Victoria ainda me encarava. 

Talvez pudesse ser considerado altruísta morrer no lugar de outra pessoa, de alguém amado. Nobre, até. Mas será que apenas a intenção bastava? Será que a tentativa falha seria o suficiente para que eu não fosse condenada? 

A vampira escondida nas sombras sorriu, um daqueles sorrisos que me tiravam o fôlego antigamente, enquanto avançava para me matar. 

— Que bom que acordou, docinho. Estava começando a achar que teria que te acordar... De outra forma. — ela sorriu maliciosamente, lambendo os lábios. Me coloquei de joelhos e pressionei a mão pela cabeça, tentando localizar o ferimento que sangrava. Victoria pareceu gostar disso. 

— Sabe, esse sempre foi um dos meus sonhos com você. Tê-la ajoelhada pra mim. 

Ela riu baixinho e deu pequenos passos em minha direção. 

— Como você... Como se transformou? — eu perguntei, tentando ganhar tempo. Ela parou por um segundo, os olhos me avaliando, depois começou a andar em círculos a minha volta. 

— Depois que os pais da sua amiga... Lauren... Me ameaçaram — ela cuspiu a palavra — eu tive que voltar para a casa da minha família, uma fazenda no meio do nada. Eu não podia arriscar a minha carreira, por mais que doesse o inferno ficar longe de você. Se eu fosse exposta, me envolvendo com você, se descobrissem... Seria meu fim. 

A tontura venceu a minha determinação e eu caí, sentada, ainda pressionando a cabeça. 

— No começo foi difícil — sua voz falhou e ela parou de andar, ficando atrás de mim — Eu pensava em você a todo momento, desejava ouvir sua voz, ver você de novo. Eu sonhava com você, sonhos sobre o que fazíamos, o que eu fazia quando tinha seu corpo sob o meu. — ela respirou pesadamente — Pensei que ficaria mais fácil com o tempo, mas não ficou. 

Seus passos voltaram a soar pelo espaço úmido e logo ela estava de frente para mim. 

— Então, quase dois meses depois, eu saí para correr. Deveria ter ficado na estrada, mas eu queria adrenalina e a floresta parecia bem convidativa. Não me preocupei com o sol que parecia cada vez mais baixo, com os barulhos que me cercavam, os arrepios que lambiam minha pele. Eu corri e corri e me deparei com eles. Eram um casal. Eu nem tive tempo pra racionar sobre o que estava acontecendo. Eles simplesmente me jogaram no chão e sugaram quase até a última gota do meu sangue. — ela me olhou e seu rosto estava enraivecido, ressentido — Por sorte... Ou melhor, destino... Ainda havia sangue o suficiente para que meu coração continuasse batendo depois que eles me largaram como uma carcaça podre. Desci ao inferno, sabe. 

Seus olhos agora pareciam nublados, o vermelho vivo poderia estar marejados se fossem humanos. 

— Quando acordei, não sabia o que eu era. Corri por horas pela floresta, matando animais, mas nunca era o suficiente. Então segui um cheiro diferente, mais... carnívoro. Cheguei a casa da minha família. Eu passei direto pelos animais da fazenda e cravei os dentes no pescoço do meu sobrinho. Depois, meu irmão mais novo. A esposa dele. Meus avós. — ela parou novamente e se abaixou perto de mim — Quando consegui pensar com um pouco mais de clareza, eu lembrei de você. 

Fiquei em silêncio enquanto ela inspirava com força, o nariz deslizando pela lateral do rosto, cruzando meus cabelos e chegando ao fluxo de sangue. 

Ela lambeu, evitando a ferida aberta, e gemeu eroticamente quando sua língua tocou meu sangue ainda quente. 

— Oh, baby. Você sempre teve um gosto tão bom... — ela lambeu novamente e depois se levantou. Sem falar mais nenhuma palavra ela apontou para uma parede do outro lado do cômodo. Havia uma câmera lá, a luz vermelha indicando que a filmagem estava sendo feita. 

A rastreadora começou a me circular, despreocupadamente, como se estivesse tentando ter uma visão melhor de uma estátua em um museu. Seu rosto ainda estava amistoso enquanto ela decidia por onde começar. O sorriso foi crescendo até a boca ser um rasgo cheio de dentes. 

Não vi que parte dela me acertou, foi rápido demais. Ela virou uma mancha, houve um estalo alto e meu braço direito de repente ficou pendurado como se não estivesse mais ligado ao cotovelo. A última coisa foi a dor, subiu pelo meu braço um longo segundo depois. 

A vampira estava olhando de novo agora, mas o rosto não tinha voltado ao normal, era basicamente todo dentes. Ela esperou que a dor me atingisse, viu-me ofegar e me encolher ao redor do braço quebrado. 

Antes mesmo que eu pudesse sentir todo o começo da dor, enquanto ainda estava aumentando, ela virou outra mancha, e, com mais estalos, alguma coisa me derrubou contra a parede. Um choramingo estranho e animalesco escapou por entre meus dentes. Tentei inspirar, e foi como se dez facas perfurassem meus pulmões. 

— É um belo efeito, não acha? — perguntou ela, o rosto amistoso novamente. Tocou em uma das linhas que seguia do ponto onde bati na parede. — Assim que vi este lugar, eu soube que era o local certo para meu filme. Visualmente dinâmico. E com tantos ângulos; eu não ia querer que Edythe perdesse nada. 

Não a vi se mover, mas houve outro estalo, e meu indicador esquerdo começou a latejar. 

Ela riu. 

O estalo seguinte foi bem mais alto, como uma detonação abafada. O cômodo parece voar por mim, como se eu estivesse caindo por um buraco. A dor me atingiu na mesma hora que bati no chão. 

Engasguei com o grito que estava tentando sair pela minha garganta, lutando com a bile que inundava meu esôfago. Não havia ar suficiente, não consegui encher os pulmões. Um gemido estranho e sufocado pareceu vir do fundo do meu tronco. 

Meu corpo cuspiu automaticamente o vômito para eu conseguir respirar, ainda que respirar parecesse estar rasgando minhas entranhas. A dor do meu braço quebrado latejava ao fundo agora; minha perna era o palco. Essa dor ainda estava aumentando. Eu estava caída no chão em uma poça de vômito, mas não conseguia mexer nada. 

Ela estava de joelhos ao lado da minha cabeça agora, e a luz vermelha brilhava na mão dela. 

— Hora do seu close, Bella. 

Eu tossi mais ácido da garganta, chiando. Ela aproximou seu rosto do meu ee lambeu minha bochecha lentamente. 

— Diga para Edythe o quanto dói — disse ela. — Diga para ela como eu machuquei você, como abusei de você, diga que quer vingança. Você merece.

Meus olhos se fecharam. 

Ela levantou minha cabeça com uma delicadeza surpreendente, embora o movimento tenha gerado pontadas lancinantes de tortura pelos meus braços e costelas. 

— Vamos, meu bem — disse ela, suavemente, como se eu estivesse dormindo e ela, tentando me acordar. — Docinho, você consegue fazer isso. Diga para Edythe vir atrás de mim. 

Ela me sacudiu de leve, e um som como um suspiro vazou dos meus pulmões. 

— Amor, querida, você ainda tem tantos ossos, e os grandes podem ser quebrados em tantos lugares. Faça o que quero, por favor. 

Olhei para o rosto fora de foco dela. Não era realmente uma proposta. Nada que eu dissesse agora me salvaria. E havia tanto em jogo. 

Com cuidado, balancei a cabeça uma vez. Talvez Edythe soubesse o que eu queria dizer. 

— Não quer gritar — disse ela com uma voz cantarolada esquisita. — Devo fazer você gritar, como costumava fazer na minha cama?

Esperei o estalo seguinte. 

Mas ela levantou delicadamente meu braço bom e levou minha mão aos lábios. A dor seguinte quase não foi dor em comparação ao resto. Ela poderia ter arrancado meu dedo, mas só mordeu. Os dentes nem foram fundo. 

Eu nem reagi, mas ela deu um pulo e voou longe. 

Minha cabeça bateu no chão, e minhas costelas quebradas gritaram. Eu a vi, estranhamente alheia enquanto andava pelo outro lado da sala, rosnando e balançando a cabeça de um lado para outro. Ela tinha deixado a câmera ao lado da minha cabeça, ainda ligada. 

A primeira dica do que ela tinha feito foi o calor. Meu dedo estava tão quente. Fiquei surpresa de conseguir sentir isso em comparação às dores maiores. Mas me lembrei da história de Carine. Eu sabia o que já tinha sido começado. Eu não tinha muito tempo. 

Ela ainda estava tentando se acalmar; o sangue, esse era o problema. Ela estava com um pouco do meu sangue na boca, mas não queria me matar ainda, então tinha que lutar contra o frenesi. Estava distraída, mas não seria difícil chamar a atenção dela. 

O calor estava aumentando rápido. Tentei ignorar, ignorar a pontada no peito. Estiquei a mão e peguei a câmera. Levantei o mais alto que consegui e bati no chão. 

E saí voando para trás, na direção de outra parede. O impacto pareceu quebrar novamente todos os meus ossos. Mas não foi por isso que gritei. 

Fogo ardia no meu dedo mordido; chamas explodiam na palma da minha mão. Calor subia pelo meu pulso. Era um fogo que era mais do que fogo, uma dor que era mais do que dor. 

As outras dores não eram nada. Ossos quebrados não eram dor. Não assim. 

O grito pareceu vir de algum lugar fora do meu corpo; era um uivo de animal de novo. 

Meus olhos estavam fixos, grudados, e vi a luz vermelha piscando na mão da rastreadora. Ela foi rápida e eu falhei. 

Mas não me importava mais. 

Sangue corria pelo meu braço e se acumulava debaixo do cotovelo. 

As narinas da ruiva estavam dilatadas, os olhos, enlouquecidos, os dentes, à mostra. O sangue pingava no chão, mas não consegui ouvir em meio aos gritos. Aquele era meu último fragmento de esperança. Ela não conseguiria se controlar agora. Teria que me matar. Finalmente. 

Ela abriu bem a boca. 

Eu esperei, gritando. 

Outro grito acima do meu, um grito como o de uma serra elétrica cortando ferro. 

Victoria atacou, mas os dentes se fecharam a dois centímetros do meu rosto porque uma coisa a puxou para trás e a fez voar para longe. 

O fogo se acumulava na dobra do meu cotovelo, e eu gritei. 

Eu não estava sozinha, havia outros gritando; o rosnado metálico foi acompanhado de um lamento agudo que ecoava nas paredes e parou de repente. Um rosnado grave soava por baixo dos outros sons. Mais metal se quebrando, sendo arrebentado... 

— Não! — uivou alguém em uma dor tão intensa quanto a minha. — Não, não, não, não! 

A voz significava alguma coisa para mim, mesmo pela queimação que era tão mais intensa do que isso. Embora as chamas tivessem chegado ao meu ombro, a voz ainda exigia minha atenção. Mesmo gritando, ela soava como um anjo. 

— Bella, por favor! — Edythe chorou. — Por favor, por favor, por favor, Bella, por favor! 

Tentei responder, mas minha boca estava desconectada do resto de mim. Meus gritos sumiram, mas só porque não havia mais ar. 

— Carine! — gritou Edythe. — Me ajude! Bella, por favor, por favor, Bella, por favor! 

Ela estava com minha cabeça no colo, e os dedos apertavam meu couro cabeludo com força. O rosto estava desfocado, como o da caçadora. Eu estava caindo em um túnel na minha cabeça. Mas o fogo estava indo comigo, tão intenso quanto antes. 

Uma coisa fria entrou na minha boca e preencheu meus pulmões. Meus pulmões reagiram. Outra respiração fria. 

Edythe entrou em foco, o rosto perfeito contorcido e torturado. 

— Continue respirando, Bella. Respire. 

Ela colocou os lábios nos meus e encheu meus pulmões de novo. 

Havia dourado ao redor das bordas da minha visão, outro par de mãos frias. 

— Archie, faça talas para a perna e para o braço dela. Edythe, endireite as vias respiratórias dela. Qual é o sangramento pior? 

— Aqui, Carine. 

Olhei para o rosto dela enquanto a pressão na minha cabeça diminuía. Meus gritos eram só choramingos agora. 

A dor não tinha diminuído, estava pior. Mas gritar não me ajudava, e magoava Edythe. Enquanto eu mantivesse os olhos no rosto dela, conseguiria me lembrar de alguma coisa além da queimação. 

— Minha bolsa, por favor. Prenda a respiração, Archie, vai ajudar. Obrigada, Eleanor, agora saia, por favor. Ela perdeu sangue, mas os ferimentos não são profundos demais. Acho que as costelas são o maior problema agora. Encontre fita adesiva. 

— Alguma coisa para a dor — sibilou Edythe. 

— Aqui... Não tenho mãos. Você pode ajudar? 

— Isso vai tornar tudo melhor — prometeu Edythe. 

Alguém estava endireitando minha perna. Edythe estava prendendo a respiração, esperando, acho, que eu reagisse. Mas não doía como meu braço. 

— Edythe... 

— Shh, Bella, vai ficar tudo bem. Juro que vai ficar tudo bem. 

— E... não... é... 

Alguma coisa estava afundando no meu couro cabeludo e outra coisa puxava meu braço quebrado. Isso machucou minhas costelas, e perdi o fôlego. 

— Aguente, Bella — implorou Edythe. — Por favor, aguente. 

Eu me esforcei para inspirar de novo. 

— Não... costelas — falei, engasgada. — Mão. 

— Você consegue entender o que ela está dizendo? — a voz de Carine soou ao lado da minha mão. 

— Descanse, Bella. Respire. 

— Não... mão — tentei dizer, ofegante. — Edythe... mão direita! 

Não consegui sentir as mãos frias dela na minha pele, o fogo estava intenso demais. Mas ouvi-a ofegar. 

— Não! 

— Edythe — disse Carine, assustada. 

— Ela a mordeu. — A voz de Edythe quase não saía, como se ela também tivesse ficado sem ar. 

Carine prendeu a respiração de horror. 

— O que faço, Carine? — perguntou Edythe. 

Ninguém a respondeu. A sensação de puxão no couro cabeludo continuou, mas sem doer. 

— Sim — disse Edythe entredentes. — Posso tentar. Archie, bisturi. 

— Há uma boa chance de você matá-la — disse Archie. 

— Me dê — disse ela rispidamente. — Eu consigo fazer isso. 

Não vi o que ela fez com o bisturi. Não consegui sentir mais nada no corpo, nada além do fogo no braço. Mas a vi levar minha mão à boca, como a caçadora tinha feito. 

Sangue fresco saía pelo ferimento. Ela colocou os lábios ali. 

Eu gritei de novo. Não consegui evitar. Era como se ela estivesse puxando o fogo de volta pelo meu braço. 

— Edythe — disse Archie. 

Ela não reagiu, com os lábios ainda pressionados na minha mão.


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Notas finais do capítulo

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TT: @pittymeequaliza



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