Girls and Blood — Reimagined Twilight escrita por Azrael Araújo


Capítulo 31
Thirty




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Durante horas, fiquei jogada no colchão, com as mãos apertadas. Minha mente andava em círculos quando acordei, tentando encontrar uma saída daquele pesadelo. Não havia escapatória, só um final possível. A única pergunta era quantas outras pessoas seriam feridas antes que eu chegasse lá. 

A única esperança que me restava era saber que veria Edythe em breve. Talvez, se pudesse apenas ver seu rosto novamente, eu fosse capaz de enxergar uma solução. As coisas sempre ficavam mais claras quando estávamos juntas. 

Quando o telefone tocou, voltei à sala, um pouco envergonhada por meu comportamento desesperado. Eu esperava não ter ofendido ninguém. Esperava que eles soubessem como eu estava grata pelos sacrifícios que faziam por mim. 

Archie falava rapidamente ao telefone de novo. Olhei ao redor, mas Jessamine tinha sumido. O relógio dizia que eram cinco e meia da manhã. 

— Eles estão embarcando no avião — disse Archie. — Vão pousar às nove e quarenta e cinco. 

Eu só precisava ficar controlada por algumas horas, até que ela estivesse aqui. 

— Onde está Jessamine? 

— Foi pagar a conta. 

— Vocês não vão ficar aqui? 

— Não, vamos ficar mais perto da casa da sua mãe. 

Senti vontade de vomitar, mas o celular tocou novamente. Archie olhou para o número e esticou a mão para mim. Arranquei o aparelho da mão dele. 

— Mãe? 

— Bella? Bella? — Era a voz da minha mãe, aquele tom familiar que ouvi mil vezes em minha infância, cada vez que chegava perto demais da beira da calçada ou quando ela me perdia de vista em um lugar abarrotado. Era o som do pânico. 

— Calma, mãe — falei na voz mais tranquilizadora que pude, afastando-me lentamente de Archie, voltando ao quarto. Não tinha certeza de que conseguiria mentir de forma convincente com os olhos dele em mim. — Está tudo bem, tá? Só me dê um minuto e vou explicar tudo, eu prometo. 

Parei, surpresa que ela ainda não tivesse me interrompido. 

— Mãe? 

— Tome muito cuidado para não dizer nada até eu mandar. 

A voz que ouvi agora era conhecida e inesperada. Era uma voz de mulher, mas não da minha mãe. Era uma voz de contralto, genérica e agradável, o tipo de voz que se ouve ao fundo dos comerciais de carros de luxo. 

Victoria falava com muita rapidez. 

— Escute, não preciso machucar sua mamãe, então faça exatamente o que eu disser e ela ficará bem. — Ela parou por um minuto enquanto eu ouvia, num pavor emudecido. — Muito bom — elogiou. — Agora repita comigo e procure parecer natural. Diga: “Não, mãe, fique aí onde está.” 

— Não, mãe, fique aí onde está. — Minha voz mal passava de um sussurro. 

— Estou vendo que será difícil. — A voz revelava diversão, ainda leve e amistosa. — Por que não vai para outro cômodo agora, para que sua cara não estrague tudo? Não há motivos para que sua mãe sofra. Enquanto estiver andando, diga: “Mãe, por favor, me ouça.” Diga isso agora. 

— Mãe, por favor, me ouça — pedi. 

Andei muito devagar para o quarto, sentindo o olhar preocupado de Archie nas minhas costas. Fechei a porta depois de entrar, tentando pensar com clareza através do terror que imobilizava meu cérebro. 

— E agora, está sozinha? Responda apenas sim ou não. 

— Sim. 

— Mas eles ainda podem ouvi-la, tenho certeza. 

— Sim. 

— Muito bem, então — continuou a voz agradável — diga: “Mãe, confie em mim.” 

— Mãe, confie em mim. 

— Isso foi melhor do que eu esperava. Eu estava preparada para esperar, mas sua mãe chegou antes do programado. É mais fácil assim, não acha? Menos suspense, menos ansiedade para você. 

Esperei. 

— Agora, quero que ouça com muito cuidado. Vou precisar que se afaste de seus amigos; acha que pode fazer isso? Responda sim ou não. 

— Não. 

— Lamento ouvir isso. Esperava que você fosse um pouco mais criativa. Acha que pode se afastar deles se a vida da sua mãe depender disso? Responda sim ou não. 

Tinha de haver um jeito

— Sim. 

— Muito bem, Bella. O que você tem que fazer é o seguinte. Quero que vá para a casa da sua mãe. Ao lado do telefone, haverá um número. Ligue para ele e eu lhe direi aonde ir em seguida. — Eu já sabia aonde iria e onde isso terminaria. Mas seguiria suas instruções com exatidão. — Pode fazer isso? Responda sim ou não. 

— Sim. 

— Antes do meio-dia, por favor, Bella. Não tenho o dia todo — disse ela. 

— Onde está Phil? — sibilei. 

— Ah, cuidado agora, Bella. Espere até que eu lhe peça para falar, por favor. 

Eu esperei. 

— É importante que você não deixe seus amigos desconfiados quando voltar a eles. Diga-lhes que sua mãe telefonou e que você a convenceu a não voltar para casa por enquanto. Agora, repita comigo: “Obrigado, mãe.” 

Diga isso agora. 

— Obrigado, mãe. — Era difícil entender as palavras. 

Minha garganta estava se fechando. 

— Diga: “Eu te amo, mãe. A gente se vê em breve.” Diga isso agora. 

— Eu te amo, mãe — falei, engasgada. — A gente se vê em breve — prometi. 

— Adeus, Bella. Estou ansiosa para vê-lo novamente — ela desligou. 

Segurei o telefone na orelha. Minhas articulações estavam congeladas de pavor, eu não conseguia desdobrar os dedos para largá-lo. 

Eu sabia que precisava pensar, mas minha cabeça estava cheia do som do pânico da minha mãe. Os segundos passaram enquanto eu lutava para me controlar. 

Devagar, lentamente, meus pensamentos começaram a furar o muro de dor. A planejar. Porque agora eu não tinha alternativa: precisava ir para a sala de espelhos e morrer. Eu não tinha garantias de que fazer o que ela queria fosse manter minha mãe viva. Só podia esperar que Victoria se satisfizesse com a vitória no jogo, que derrotar Edythe fosse o bastante. O desespero parecia uma forca apertando meu pescoço; não havia como barganhar, nada que eu pudesse oferecer ou esconder que pudesse influenciá-la. Mas, ainda assim, eu não tinha alternativas. Precisava tentar. 

Sufoquei o terror ao máximo que pude. Minha decisão estava tomada. Não fazia nenhum bem perder tempo me torturando. Eu precisava pensar com clareza, porque Archie e Jessamine me esperavam, e enganá-los era absolutamente essencial e absolutamente impossível. 

 

De repente fiquei grata por Jessamine ter saído. Se ela estivesse aqui para sentir minha angústia nos últimos cinco minutos, como eu poderia evitar que eles suspeitassem? Lutei com o medo, com o horror, tentei abafá-los. Agora eu não podia me permitir isso. Não sabia quando ela voltaria. 

Tentei me concentrar em minha fuga, mas percebi na mesma hora que não podia planejar nada. Eu tinha que estar indecisa. Sem dúvida Archie veria logo a mudança, se já não tivesse visto. Eu não podia deixá-lo ver como aconteceu. Se aconteceu. Como eu conseguiria fugir? 

Principalmente quando nem podia pensar no assunto. 

Eu queria conferir o que Archie entendera de tudo aquilo, se já tinha visto alguma mudança, mas sabia que tinha que lidar com mais uma coisa antes de Jessamine voltar. 

Eu tinha que aceitar que não veria Edythe novamente. 

Nem mesmo um último vislumbre do seu rosto para levar comigo para a sala de espelhos. Eu ia magoá-la e não podia dizer adeus. Era como ser torturada. Fui consumida nessa sensação por um minuto, deixei que me arrasasse. Depois, tive que recompor as aparências para enfrentar Archie. 

A única expressão que pude fazer foi um olhar apagado e vazio, mas achava que era compreensível. Entrei na sala com o roteiro pronto. 

Archie estava inclinado sobre a mesa, segurando as beiradas com as duas mãos. O rosto dele... Primeiro, o pânico quebrou minha máscara, e pulei ao redor do sofá para chegar a ele. Enquanto ainda estava em movimento, percebi o que ele devia estar vendo. Parei a pouca distância dele. 

— Archie — falei com voz seca. 

Ele não reagiu quando chamei seu nome. A cabeça se movimentou lentamente de um lado para outro. Sua expressão trouxe o pânico de volta; talvez não fosse por minha causa, talvez ele estivesse vendo a minha mãe. 

Dei mais um passo para a frente e estiquei a mão para tocar o braço dele. 

— Archie! — A voz de Jessamine soou na porta, e ela logo estava ao lado de Archie, as mãos sobre as dele, que soltavam a mesa. Do outro lado da sala, a porta se fechou com um clique baixo. 

— O que foi? — perguntou ela. — O que você viu? 

Ele virou o rosto vazio para longe de mim e olhou cegamente nos olhos de Jessamine. 

— Bella — disse ele. 

— Estou bem aqui. 

Ele virou a cabeça e olhou nos meus olhos, ainda com expressão vazia. Percebi que não estava falando comigo, estava respondendo a pergunta de Jessamine.


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Notas finais do capítulo

https://fanfiction.com.br/historia/748419/Give_Me_Love/

TT: @pittymeequaliza



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