Uma Nova Chance escrita por Arikt


Capítulo 11
Crises


Notas iniciais do capítulo

Voltei a postar aqui, mesmo que ninguém me acompanhe mais XD



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Dois dias depois, trocaram de hotel. Mais uma vez, L deu a Lucy um quarto apenas para ela, mantendo o acordo de deixá-la em paz quando estivesse trancada nele. E foi isso que ela fez pelos próximos dias. Quase não saiu, até mesmo para se alimentar, o que fez com que Watari fosse até si diversas vezes, preocupado com sua saúde.

Parte disso era a vergonha que sentia pelo ocorrido e por ter exposto sua história. Nunca imaginou que faria isso, e muito menos imaginou que quebraria a barreira de apenas um abraço com o detetive. Odiava ficar pensando incessantemente nessas coisas, e odiava ainda mais quando seu corpo se arrepiava inteiro ao lembrar em como o homem lhe tocara. Precisava urgentemente parar com aquilo.

L nunca teria qualquer interesse nela. Era tudo parte da investigação. Afinal, estava morando em um quarto de hotel por causa disso, não era? Lucy já havia lidado com outros caras antes, mas nenhum havia chegado perto de ter a atenção que a garota dispensava ao detetive.

Levara consigo a foca de pelúcia que ganhou no dia em que foram ao parque de diversões. Era embaraçoso admitir, mas gostava de abraça-la quando ia dormir e se sentia solitária. Era como um travesseiro de consolo, que crianças de cinco anos não viviam sem. Ficava até um pouco receosa de L entrar no quarto e encontrar a pelúcia lá. Esperava que isso nunca acontecesse.

Pelo menos as aulas na faculdade lhe distraiam. Mas não deixava de pensar em Raito na hora do intervalo, que sempre passava sozinha. Fazia mais de uma semana que não se falavam. Sabia que estava certa na discussão que tiveram, mas sentia falta dele, de tê-lo ao seu lado. Pensava se valia tanto a pena o orgulho de não ir procurá-lo, a despeito da solidão que sentia.

Mas queimava de raiva ainda, quando se lembrava do modo como ele a tratou, como falou consigo, desconsiderando todos os sentimentos dela, totalmente alterado e ciumento, como se ela realmente fosse propriedade dele. Aquilo beirava o imperdoável.

Queria muito saber de onde tirara tanta coragem para peitá-lo daquela forma. Parecia até que outra pessoa tomara seu corpo. Não pôde deixar de se sentir receosa com o que ele faria depois, já que realmente poderia matá-la se quisesse. Tentava não ponderar muito sobre isso e apenas respirava fundo quando o assunto lhe vinha. As coisas iam se ajeitar, de alguma forma. Tinha esperanças disso.

Um dia, enquanto saía de sua última aula do dia, avistou a figura do amigo sentado em uma mesa, lendo um grosso livro, provavelmente para alguma matéria. Ryuuku estava ao seu lado como sempre, parecendo ler também. Franziu o cenho, intrigada com aquela repentina presença ali. Foi até ele, só conseguindo sua atenção quando pousou a mochila pesada no banco ao lado dele.

― O que um estudante de Direito está fazendo na ala da engenharia? ― perguntou, a expressão séria.

Ele se levantou, fechando o livro e o segurando. Deu um sorriso encabulado, passando a mão livre nos cabelos. Parecia não saber muito como se portar, o que era novo para a garota.

― Esperando uma certa estudante de Design, talvez? ― respondeu com uma voz divertida.

Lucy continuou com a mesma expressão, cruzando os braços.

― Espero que essa estudante não seja eu.

O sorriso dele morreu, dando lugar a um ar contrariado.

― Eu sei que está brava comigo, mas podemos conversar, pelo menos?

― Conversar sobre o quê? Sobre você ter sido um idiota e quase ter me agredido? ― a voz dela era irônica.

― Também. Olha, eu sinto muito, mesmo. Acabei me descontrolando e sendo um babaca, falando coisas horríveis... Você não merecia aquilo. Quero dizer, você é minha melhor amiga.

O Shinigami deu uma risadinha, provavelmente achando engraçado o fato de Raito saber se desculpar por algo. A garota estreitou os olhos e encarou o amigo com desconfiança. Não conseguia acreditar muito naquelas desculpas. Sabia das habilidades de lábia que ele tinha.

― Claro. Ok. Olha, eu tenho que voltar logo para o QG, então... Nos vemos outra hora ― falou, colocando a mochila de volta nas costas e começando a andar.

Mas Raito se adiantou e pegou na mão dela, atraindo sua atenção novamente.

― Lucy, por favor. Me perdoa, de verdade. Eu... eu disse uma vez, me sinto tão só sem você. Você é a única que está sempre lá por mim, ao meu lado... Como eu falei, você é minha melhor amiga, e eu vou te tratar melhor.

Ela perscrutou-o por alguns segundos, sem saber como proceder. Estava ainda muito assustada com o lado que ele mostrou. Nunca imaginou que ele poderia ser tão violento.

Mas ele tinha razão. Eram melhores amigos, e sempre estavam se apoiando um no outro. Sem ele sentia-se no escuro, totalmente cega, andando pela vida sem rumo. Não queria se sentir assim. Não queria ficar sem seu único amigo.

Puxou-o repentinamente para um abraço, aspirando o gostoso perfume do garoto. Ele retribuiu o gesto fervorosamente.

― Você é um idiota ― murmurou, soltando-o depois. ― Eu deveria nunca mais falar com você. Mas, felizmente pra você, eu ainda te amo. Eu perdoo, com uma condição.

― E qual seria?

― Chega de Kira, pelo menos ao meu lado. Eu realmente não quero mais me envolver nisso, e quanto menos eu sei, menos tenho que fingir para L.

Raito fez uma cara surpresa, mas depois sorriu.

― Tudo bem. Serei apenas Raito, então. E que tal irmos assistir um filme, para selar esse acordo?

A face dela se iluminou por um momento, mas acabou ficando taciturna.

― Eu bem que queria, mas tenho uma consulta agora, com um psiquiatra. E depois tenho que voltar para o QG... Não posso dar nenhum passo sem avisar a L previamente, e ele monitora meus horários. Me desculpa.

O garoto suspirou, resignando-se.

― Fazer o quê. Me diga quando achar um momento para mim nessa sua agenda apertada, então ― acabou a fala com um meio sorriso.

Lucy esperava que isso significasse que ele entendia sua situação.

― Bom, ainda temos o intervalo para passarmos juntos ― sugeriu tentando ser divertida, mas soando triste. ― Até mais, Raito. Ryuuku.

Enquanto se afastava, sentia que aquela situação poderia afetar de forma definitiva como se sentiam em relação um ao outro. Querendo ou não, estavam tomando rumos diferentes dentro dessa história.

***

Quem a levou ao médico foi Matsuda. L achou melhor que alguém com quem ela se desse bem a acompanhasse, e a garota não discordou. Durante todo o trajeto conversaram sobre coisas triviais, e o agente descrevia como eram as visitas para a sua avó, de quem gostava muito.

Matsuda era novo na polícia japonesa, mas era muito competente e tinha uma visão muito bonita da justiça que queria para o país. Lucy gostava dele por isso, e achava injusto como os outros o menosprezavam só por ele ter menos tempo na profissão. Acabava por tentar animá-lo quando o via para baixo e sempre o ouvia quando ele queria falar.

Mesmo estando consternada com o aumento da dosagem e da quantidade dos remédios que tomaria quando saiu do consultório, conseguiu manter o humor por causa dele.

― Sabe, da próxima vez em que minha mãe fizer uma torta de limão, vou trazer um pedaço para você ― dizia o homem, mantendo a voz divertida. ― É a melhor torta de limão do mundo, você vai ver! Não tem restrições na sua dieta sobre tortas de limão, não é?

Lucy riu do jeito dele, balançando negativamente a cabeça.

― Não, Matsu, não tenho restrições quanto a nenhum tipo de doce de limão. E é bom trazer mesmo, vou estar esperando por ela!

Quando chegaram ao QG, a garota cumprimentou os outros e entrou para o quarto, enquanto Matsuda teve de relatar seu tempo com ela para L. Era a rotina. Qualquer agente que saísse com Lucy tinha que fazer um relatório sobre o que aconteceu, mesmo que fossem coisas sem importância.

L queria achar alguma brecha que pudesse indicar que ela teve qualquer tipo de contato com Kira de uma forma “não convencional”, como disse Raito. Mas, até agora, nada conseguiu além de conversas que pareciam ser amigáveis entre os membros da investigação e a garota.

Estava cogitando a possibilidade de colocar um dos agentes sempre a seguindo, mas precisava de cada um deles para outras coisas, e também já contava com um a menos, já que Soichiro ainda estava internado. Se bem que dar certa liberdade a ela era uma forma também de avaliá-la. De qualquer jeito, sempre acabava com as mesmas dúvidas, e nesse momento até mais do que tinha antes, pois até como objeto de estudos Lucy lhe era estonteante.

Gostaria de voltar a falar com ela como antes, como meses atrás. Nunca imaginou que sentiria falta daquilo, mas sair com ela era divertido. Infelizmente havia arruinado tudo, umas cinquenta vezes. Estava bem claro para ele que a garota não voltaria a simplesmente agir como se nada tivesse acontecido. Acabou por decidir ficar na dele, já que ainda se sentia confuso com a torrente de emoções que fluiu de si aquela noite, ao chegar perto demais dela.

Estava fora de qualquer ideia ir até ao quarto de Lucy apenas para papear, ainda mais se isso resultasse em vê-la novamente em roupas tão... reveladoras. Nas câmeras conseguia simplesmente virar o rosto ou ler alguma coisa, mas ali não podia ignorar. Era quase um pecado ignorar. Passou a tarde sentado perto da janela, pensando nessas e outras coisas, compenetrado demais até mesmo para interagir com Watari.

Lucy, por sua vez, tentava dormir para não ter que aguentar seus próprios pensamentos pessimistas e desagradáveis. Mas se revirava na cama, pois nem nos sonhos tinha sossego, onde imagens das coisas que vivia no momento se misturavam e a faziam sentir uma forte sensação de inquietude.

Queria muito voltar no tempo e estar na Inglaterra ainda. Muito provavelmente sua vida não estaria tão estragada. Queria fazer novamente terapia com o psicólogo simpático da clínica. Era bom contar seus problemas para alguém que ouvia e não julgava.

Mas como iria voltar a ter esse tipo de assistência? Como iria contar dos seus novos problemas? Que seu amigo era um assassino em massa e que ela escondia sua identidade, e que havia se envolvido com o detetive que o caçava. Colocando desse jeito, soava até absurdo.

Quando decidiu abrir os olhos, já era noite. A lua formava uma fraca luz no quarto. Virou-se para o lado esquerdo, encontrando sua foca de pelúcia. Suspirou, sentindo a barriga roncar. Estava com fome, mas não queria sair dali. Ouvia murmúrios vindos da sala, até bem agitados. Pareciam estar brigando. Provavelmente L havia irritado alguém.

Sentou-se na cama esfregando o rosto, e olhou para o espelho do armário a sua direita. Seu reflexo a encarou de volta. Fez um bico ao observar o corpo desnudo. Não havia percebido que seu cabelo crescera nos últimos meses. Usava uma lingerie da qual gostava muito. Era de cetim rosa pastel, o sutiã sem bojo ou aro evidenciando seus seios pequenos, a calcinha larga e confortável era como um shorts, mas não chegava nem perto de cobrir tudo que um shorts cobriria.

Não costumava olhar para si mesma se atentando ao fato de que tinha um corpo, que aquilo que via era real. Só vivia os dias como deveria viver, sem tomar consciência da própria existência.

Mas, nesse momento, estava bem consciente. De seus nervos, músculos, o sangue correndo nas veias. Essa era Lucy Chinatsu, então? A expressão cansada, os membros finos, os cabelos negros, a pele clara. O conjunto não chegava nem perto de ser feio. Até se sentiu atraente. Se tinha essa forma, por que L correra? Não deveria ser o contrário?

Só então lhe passou pela cabeça que, talvez, ele não tivesse o mínimo de experiência com esse tipo de coisa. De como deveria agir. Será que ele queria beijá-la, mas não o fez por medo? Passou a mão no pescoço, soltando um leve gemido. Tinha que parar de voltar a esse assunto. Era caso encerrado, não podia se deixar levar e cometer o grave erro de esperar esse tipo de relação com o detetive.

Acabou tirando a atenção de si e ligou a TV para se distrair, mesmo que não gostasse muito dos programas de entretenimento. Talvez tivesse sorte de ter algum anime legal passando naquela hora. Mas algo parecia muito errado. Algumas emissoras famosas de TV, que apresentavam jornais sérios, estavam fora do ar por “problemas técnicos”, como se exibia na tela. Lucy achou realmente bizarro, elas caírem todas de uma vez. Acabou parando em uma chamada Sakura TV, acabando boquiaberta.

Essa emissora em particular não era nada confiável, pois seus programas eram extremamente sensacionalistas e mentirosos, distorcendo verdades sobre pessoas apenas pela audiência. Mas não era algo assim que se apresentava agora. Havia um quadro estático, escrito em uma tipografia estranha e retorcia “Kira”. Uma voz devidamente distorcida para não ser identificada falava, fazendo a garota se arrepiar inteira de pavor.

Pessoas do mundo, por favor, ouçam: a última coisa que quero é matar inocentes. Eu odeio o mal e amo a justiça. Sempre pensei na polícia como aliada e não como inimiga. Pretendo criar um novo mundo, um mundo perfeito e livre do mal. Se concordarem em se unir a mim na missão, sei que podemos fazer isso. E se ninguém tentar me pegar, prometo que inocentes não morrerão. Mesmo não concordando, eu peço que não publiquem suas ideias na mídia. Se puderem fazer isso, serão poupados. E só precisam agora serem pacientes...”

Lucy estava incrédula. Raito havia enlouquecido? Que ideia absurda era essa de mandar mensagens para a polícia pela mídia? Aquilo não era do feitio de seu amigo. Não podia ser. Tinha que haver outra explicação.

Sem nem ao menos lembrar de colocar uma roupa, saiu apressada da cama e abriu a porta do quarto, indo para a sala. Todos os agentes estavam lá, menos Ukita. L estava estático em sua cadeira, em frente a três televisores. Ninguém pareceu notar sua presença. Aquele lugar estava um caos.

Um dos televisores avisou que interrompera a programação normal para mostrar a entrada da Sakura TV ao vivo, onde um homem parecia estar desmaiado. O corpo de Lucy gelou com o grito que Matsuda deu:

― Ukita! Não pode ser! Kira fez isso?

O corpo do policial não se mexia, a imagem parecia estar congelada. O pensamento da garota começou a acelerar, tentando entender tudo o que acontecia. Ukita estava morto? Não podia ser, Raito não conhecia os agentes que trabalhavam com o pai, muito menos sabia seus nomes verdadeiros. Ela nunca havia contado tal informação. Havia outro modo de matar, então? Mas o garoto nunca falou nada sobre. Não podia ter sido outro alguém além de Kira a assinar o homem. Não havia sangue, nem outras pessoas transitando por ali. Tinha que ter outra forma de saber o nome verdadeiro de alguém, então. Era a única maneira do agente ter morrido pelas mãos de Kira.

Um estalo soou na mente de Lucy. O enigma não estava em Raito, e sim em Ryuuku! Humanos que não tivessem tocado o Death Note não conseguiam ver um Shinigami, nem falar com eles. Então, como Deuses da Morte conseguiam saber os nomes completos de suas vítimas, se não podiam perguntar diretamente? Um poder sobrenatural, oras. Eles, por si só, já eram sobrenaturais. Mas esse poder poderia ser transferido a um humano?

Se Raito tivesse ganhado esse poder de Ryuuku, muito provavelmente ele não o gastaria fazendo algo tão barulhento, que chamasse tanto a atenção. Fora que ele já saberia o nome real de L, por terem se encontrado na Universidade. L já estaria morto, ou pelo menos no caminho de estar. E também a garota saberia desse poder, pois o amigo adorava se gabar quando adquiria novas habilidades. Talvez ele até soubesse sobre isso, mas o preço poderia ser alto demais para se arriscar. Ryuuku nunca daria algo assim de graça.

Não, quem estava fazendo aquilo não era Raito. Seria Ryuuku, querendo bagunçar mais as coisas? Não também, ele não havia mexido um dedo para ajudar o garoto até então. E não batia com sua personalidade. Assim como Raito, o Shinigami gostava de brincar em silêncio. Seria outro? Talvez, mas o que ele ganharia com isso? Pelo que Ryuuku falava, Shinigamis não tinham o mínimo interesse na vida humana. Ele era o único curioso.

Só restava uma alternativa: um novo caderno estava na Terra, e ele foi parar nas mãos de alguém tão inconsequente a ponto de se passar por Raito e pagar o preço para saber o nome das pessoas sem perguntar. Isso era muito mais perigoso do que lidar com o verdadeiro Kira. L estava duas vezes mais encrencado.

Acordou de seu pequeno transe se deparando com L e Aizawa brigando, pois o agente queria ir até a emissora e o detetive o estava proibindo por ser muito perigoso. Desesperou-se. Ninguém mais podia sair daquele quarto de hotel. Atravessando a todos como um furacão, empurrou com força Aizawa que estava parado na frente da porta e a trancou, agora sim conseguindo a atenção de todo mundo.

― Vocês não podem sair de jeito nenhum, precisam de outro plano para parar essa palhaçada ― falou com firmeza, segurando a chave com toda a força que possuía. ― Esse não é o Kira verdadeiro. Se ele descobrir sobre vocês, nem L tem mais chances.


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