Sábado à tarde e Temari nem tinha tirado o pijama ainda. Era o seu dia de descanso, não sairia de casa nem se ela estivesse pegando fogo. Não queria saber de fazer nada, não quando já tinha feito a besteira de confirmar presença num projeto de verão de Itachi. Não havia entendido muito bem do que se tratava esse projeto, mas havia aceitado no impulso e agora se lamentava. Ele não merecia a sua ajuda, não depois do fiasco que havia sido o encontro duplo com aquele primo grudento e chato dele.

Por sorte havia conseguido escapar daquelas mãos pegajosas e ido embora sem dar o gostinho para ele de beijá-la de novo. Não, não, não. Ela não iria beijar aquele cara só pela pena, ela não era assim, valorizava demais a si mesma e por isso, talvez, fosse muito seletiva quanto aos homens que poderiam ter a honra de tocá-la. Entretanto, estava sentindo falta de ter alguém, não podia negar. Tinha Izumi com Itachi já planejando o casamento, Konan e Nagato se acertando depois da confusão por conta da gravidez, Tenten tentando (do modo louco dela) conquistar Neji… Até mesmo seus irmãos estavam com alguém, Gaara com Ino e Kankuro com quem quer seja a do mês.

E ficar no quarto até às três da tarde assistindo comédia romântica não ajudou nadinha.

Se levantou depois de revirar os olhos para si mesma tentando entender como havia chegado naquele filme com o Sam Claflin e Lily Collins sobre dois melhores amigos que se apaixonavam e blá blá blá. Precisava sair do quarto e tomar algo gelado.

Não arrumou o cabelo e nem trocou o short curto do pijama para ir até o outro cômodo, no máximo somente seus irmãos estariam lá, mas viu que não era a realidade quando ouviu o grito de Naruto xingando algo de sua sala. Teria pensado em voltar e trocar de roupa se depois do palavrão Naruto não tivesse entregado a presença de alguém ali.

— Puta que pariu, Shikamaru!

Prendeu o cabelo com o elástico que tinha no braço em um coque no alto da cabeça, tentando parecer despojada, alisou a regata soltinha do pijama e puxou um pouco o short curtinho, iria passar perto dele e dar um pouco de risada da cara que ele faria, um sorriso sádico já preenchia seu rosto.

Depois daquele dia da praia, ela tinha adquirido um novo passatempo divertido: Provocar Shikamaru.

Seja com sua perna saindo pela fenda lateral de uma saia, com decote discreto que ela inclinava na direção dele, com a aproximação pelas costas o pegando de surpresa... Shikamaru não ficava olhando-a como os outros amigos de seus irmãos, até fingiria bem estar desinteressado no sexo oposto com tanta “disposição”, mas não conseguia esconder que ficava constrangido com esse tipo de investida dela e ficava vermelho na hora. A graça era que ele tentava fingir que nada aconteceu e retomar o que estava fazendo, nunca tendo êxito. Temari sentia uma satisfação tão grande.

Mas, havia um problema nisso tudo…

— Boa tarde, meninos.

Era que Shikamaru a atiçava também, mas, no caso dele, era sem querer.

Quatro pares de olhos se ergueram para ela, Kankuro, Gaara, Naruto e Shikamaru, mas os olhos dela se prenderam no peitoral malhado dele. Todos estavam sem camisa, mas era impossível prestar atenção em outro corpo, ainda mais quando parecia que ele estava ficando cada dia mais forte, mais definido.

Engoliu em seco desviando os olhos para o chão, ela não esperava aquilo e agora não sabia o que falar e se deveria dizer algo. A melhor coisa era seguir o plano original, pegar uma bebida gelada e voltar para o quarto.

— Tema, quer jogar War? — Kankuro perguntou quando ela se virou de costas para a cozinha.

— War? — perguntou por cima do ombro e viu Shikamaru terminando de colocar a camiseta. Estava calor e era o único ali que tinha feito aquilo.

— Sim. Lembra que a gente jogava quando éramos mais novos? — Kankuro apontou para uma caixa do jogo entre eles em cima do tapete da sala e ela ergueu as sobrancelhas se lembrando — O Shikamaru que trouxe…

— Era para ele trazer um jogo de videogame. — Naruto reclamou cruzando os braços e olhando feio para Shikamaru, mas o garoto não respondeu, olhando para caixa e tirando as peças de dentro.

— Ele traz essas coisas porque só ele ganha. — Gaara resmungou e Shikamaru respondeu com um quase inaudível “Mentira”.

— Vou só trocar de roupa. — respondeu e não recebeu nem um olhar sequer de Shikamaru.

O que havia acontecido? Pensou que ele pudesse rir ou fazer algum comentário subestimando ela sobre jogar com eles, mas nem ao menos a olhou uma segunda vez. Estranho…

Voltou a sala com um short jeans maior que o que usava e uma camiseta que poderia se inclinar sem se preocupar com o decote. Prendeu o cabelo em duas maria chiquinhas no alto da cabeça e se sentou entre Gaara e Kankuro no chão.

— Eu vou ser o vermelho — se pronunciou pegando as pecinhas para si e os outros foram escolhendo as deles. Kankuro ficou com as azuis, Naruto com as amarelas, Gaara com as pretas e Shikamaru com as verdes. O mapa foi estendido a sua frente e seu objetivo foi entregue pelas mãos de Shikamaru. Ele não a olhava em momento algum.

— Como que joga isso aqui? — Naruto perguntou e Kankuro e Gaara tentaram explicar, mas virou uma bagunça.

— Deixem que eu explico — Shikamaru disse em voz alta pela primeira vez e Temari ergueu os olhos para ele. Ele parecia focado demais em Naruto, não olhava nem para o tabuleiro e nem para as cartas. — Cada um recebe um objetivo, diante disso você tem que montar sua estratégia para vencer sem que o outro descubra qual é…

E enquanto Shikamaru ia explicando, Temari olhava para as primeiras peças que tiveram que colocar no tabuleiro e depois para seu objetivo: “Destruir totalmente os exércitos Preto”. Sorriu de canto olhando para Gaara e já pressentindo o quanto aquilo ia ser divertido.

— Vocês sangram? — rolou um peça vermelha entre os dedos sorrindo maldosa — Vão sangrar.

♚♛

— Eu sou o general dos generais! — Gaara riu malignamente mostrando o tanto de territórios já conquistados e Temari fez uma careta para ele, daquele jeito estava sendo difícil destruir o exército dele, sua estratégia de cercá-lo, aumentar suas tropas e atacá-lo pelas margens fingindo querer somente os territórios não estava dando muito certo.

Naruto por pouco ainda estava no jogo, era muito impulsivo e toda hora queria sair na porrada com alguém e acreditava firmemente que ganharia aquele jogo, Kankuro perdia os territórios para Gaara e reclamava, mostrando nitidamente que tinha como objetivo conquistar o continente africano (território tomado por Gaara).

— Tsc. — Shikamaru era o mais silencioso ali, até mesmo ela dava uns gritos com Gaara perdendo a paciência, mas Shikamaru continuava focado no jogo, o único que não havia encorajado uma luta com alguém. Era a vez dele e ela pensava que talvez ele não conseguisse mais fugir de um embate. Estava curiosa para os próximos movimentos dele. — Gaara…

— A areia do meu deserto vai ser o caixão de vocês se ousarem entrar em meus domínios! — mais uma risada maligna e Temari rolou os olhos. Shikamaru o chamou mais uma vez e Gaara se calou.

— Vamos fazer uma aliança?

— Isso não vale! — Kankuro berrou e Temari apertou os olhos na direção de Shikamaru.

— Uma aliança? — Gaara testou desconfiado, olhando para as suas peças e para as de Shikamaru — A areia sangrenta e… — viu as peças verdes e sorriu — a folha?

— Folha? — Shikamaru olhou sem entender e balançou a cabeça. — Que seja. Temari quer destruir suas tropas, Kankuro quer invadir a África e Naruto é um perdido, vamos nos aliar.

Kankuro e Naruto reclamaram alto mostrando suas objeções e Temari apertou ainda mais os olhos na direção dele, ele nem a olhava. Estava incomodada com aquele comportamento dele. Resolveu que era hora de mostrar para aquele garoto como se jogava aquele jogo.

— Gaara, — chamou o mais novo erguendo uma sobrancelha — Se eu quisesse te destruir não estaria pegando territórios tão próximos, estaria te atacando de todas as frontes. Não percebe que ele está querendo que você poupe os exércitos dele?

Então Shikamaru a olhou.

— O objetivo dele fica muito longe de onde minhas tropas estão, não tenho porque ter medo do Gaara, o tenho como um forte aliado. — respondeu sério e Temari bufou.

— E seu objetivo não tem nada a ver com os territórios que ele já conquistou? Para mim não faz o menor sentido essa aliança se você não tiver uma segunda intenção.

E os garotos moviam a cabeça de um para o outro como se vissem um jogo de ping-pong. Shikamaru então sorriu como resposta, um sorriso misterioso e pequeno.

— A não ser que você tenha uma segunda intenção com essa discussão, mulher.

E foi a vez de Temari sorrir. Os dois se encarando e sorrindo um para o outro como se esperassem o próximo movimento de batalha que já previam, mas nenhum dos dois se movia, só desafiavam através dos olhos e dos sorrisos ferinos.

Temari sentia o coração acelerar, sua pele se arrepiava só de sentir aquela adrenalina que Shikamaru fazia correr por suas veias quando batia de frente com sua inteligência. E se sentiu um pouco feliz ao perceber que ele estava voltando ao normal com ela.

— Olha… — Naruto disse depois de longos segundos e Shikamaru quebrou o contato visual para olhar o amigo ao lado. Temari o olhou a contra gosto. — O Shikamaru não perdeu nenhuma tropa ainda e ele é muito inteligente. — começou a argumentar com resmungos, Temari olhou feio para ele — Não que a Temari não seja inteligente! Ela é muito! Mas nesse caso, bom… eu teria Shikamaru como braço direito se eu fosse o rei do mundo. — ergueu os ombros.

— E a Tema tá mais pra víbora do deserto — Kankuro recebeu um tapa pelo comentário.

Gaara ponderou um pouco e antes que Temari pudesse armar sua defesa ele já abria a boca para dar sua decisão.

— Shikamaru, vamos firmar essa aliança, eu confio mais em você do que nela. Não me bate! Você tava me atacando! Vou confiar em você, Nara. — Gaara estendeu a mão por cima do tabuleiro para firmar a aliança e Kankuro e Naruto soltaram seus resmungos frustrados dizendo que a derrota estava próxima. Shikamaru apertou a mão branca sorrindo e dando um olhar convencido na direção de Temari. Ela prometeu uma vingança apenas com os olhos e ele sorriu mais — Se eu ganhar — Gaara entrou novamente no personagem — te deixo se casar com a princesa da areia. Vou te aceitar na minha família, Shikamaru.

Temari arregalou os olhos com aquilo, por um momento pensou estar sendo ela a prometida ao invés de uma princesa imaginária do reino imaginário de Gaara, mas ao contrário da atitude agressiva que teria por ser “vendida” pelo irmão, ela se sentiu... constrangida.

Shikamaru gaguejou algo mas não teve tempo de responder porque Kankuro batia na nuca de Gaara mandando-o calar a boca.

Por um momento, um breve segundo eterno, Temari e Shikamaru se olharam com as faces vermelhas.

♚♛

Quase uma hora e meia depois Gaara ganhava o jogo tendo os 24 territórios conquistados como era de seu objetivo, Naruto aniquilado e choroso, Kankuro nem perto de conseguir o único território que precisava e Temari completamente cercada por Shikamaru. No fim do jogo ele havia mostrado que o objetivo dele era destruir o exército dela.

— Eu estava contando que os seus irmãos te enfraquecessem para eu dar o golpe de misericórdia, mas você é dura na queda. — ele disse na cozinha quando foi pegar um copo de água junto dela. Ele mantinha aquele sorriso convencido e ela uma carranca.

— Você podia ter me derrotado e ganhado o jogo, mas ao invés de me atacar ficou me segurando protegendo o Gaara. Covarde.

— Não fui covarde — ele bebeu o copo de água inteiro em três goles e devolveu para ela — Fui esperto.

— Você perdeu. — ela revirou os olhos com o óbvio e ele riu um pouco, uma daquelas raras e bonitinhas risadas dele.

— Eu ganhei a princesa da areia em casamento.

— Shikaaaa! — Ino surgiu na cozinha pulando nas costas dele e dando tempo para Temari se virar e não mostrar seu rosto pegando fogo.

Seu coração saltava no peito e ela não entendia o que estava acontecendo, porque estava daquele jeito. Ficou tempo demais olhando para dentro da geladeira bem escondida atrás da porta aberta enquanto Ino perguntava coisas animadas para Shikamaru, o telefone tocou na sala e Temari aproveitou a distração dos dois para correr lá atender.

— Temari? É o Itachi. Podemos nos reunir hoje? Vou só apresentar o grupo que irá participar do projeto.

— Hã... Oi, Itachi! Claro, que horas?

— Bom, se quiser vir aqui, Izumi já está em casa e mais alguns amigos.

— Ótimo, já estou indo.

E seus planos de não sair de casa foram frustrados e ela estava feliz com aquilo. Ia correndo para o quarto se trocar quando um estalo a fez se dar conta de que havia guardado tanto a jarra de água quanto o copo que Shikamaru usou dentro da geladeira. Correu de volta para a cozinha antes que um dos irmãos visse e comentasse alto, lógico que Shikamaru ia saber que foi ela e a vergonha ia ser grande.

Contudo, entretanto, porém… cravou os pés no chão quando ouviu a afirmativa pela metade de Ino para a única pessoa que estava com ela na cozinha.

— … minhas amigas concordam comigo, você gosta dela.

— Eu já falei que não tem nada a ver, Ino.

Temari sem olhar conseguia saber que ele estava mentindo, a voz não saiu tão despreocupada, muito pelo contrário.

— Nem mentir você está conseguindo! Sakura também já reparou a mesma coisa que eu, e eu acho que é recíproco, hein?

— Tá ficando doida? Ninguém gosta de ninguém, Ino. Esquece isso.

Ele estava bravo, Temari percebeu, mas ela nem se importava, queria que Ino continuasse perguntando, uma curiosidade cortante que apertava seu estômago queria, saber quem era a menina. Bom, se as amigas de Ino que comentavam sobre, então certamente era uma garota da escola delas. Mas quem? Aquilo era angustiante.

— Já passou do tempo de você negar, Shika. Eu sei que você gosta dela e não é de hoje. Chouji mesmo me falou que já faz um tempão. — Então aquilo pareceu a cartada final de Ino, porque Temari escutou um soco seco e um resmungo de Shikamaru maldizendo o amigo.

Os dois ficaram em silêncio um minuto, Temari sentia-se gelada, como se um iceberg tivesse caído em seu estômago. Encostou as costas na parede e respirou fundo.

— Isso! — Ino festejou rindo — Sabia que você parece um idiota quando ela tá perto? Parece até um garoto normal, não um gênio.

— Sei. — ele suspirou — Só… não fala pra ninguém, ok? — a voz dele saiu miúda, quase baixa demais para Temari ouvir.

— Eu ainda amo você e não quero te ver morto, Shika. — Ino riu — Mas só toma cuidado, ok? Não com ela. Bom, você sabe…

— Sei. Isso é problemático. — e lá estava Shikamaru.

— E como! Nunca concordei mais. — Ino riu de novo e Shikamaru pareceu resmungar cansado — Pra você nada pode ser fácil, né? Se eu fosse você pegaria uma experiência antes para impressionar ela, hein?

— Deixa disso, Ino. Não fala mais nada.

— Ok, ok! E sobre o que você fez com o Sai… não sei o que foi, mas ele me deixou em paz. Obrigada!

— No fim não precisei fazer nada.

Temari segurou a respiração ouvindo os dois se aproximarem e viu que não daria tempo de fugir, então começou a andar em direção a cozinha como se não tivesse ouvido nada e os dois deram um tremendo pulo quando deram de cara com ela.

— Oi, cunhada! — Ino soou estridente e ergueu os braços querendo abraçar Temari. Mas, tudo o que recebeu foi o vácuo. Já Shikamaru recebeu um olhar gélido de Temari, muito breve antes de passar silenciosa pelos dois e tirar o copo que guardou sem atenção dentro da geladeira.

♚♛

Temari havia dado muito de seu tempo pensando sobre a garota que Shikamaru gostava e porque aquilo a afetava tanto. Pensou muito, muito mesmo, até chegar a conclusão de que deveria ser ciúmes. Ciúmes de amigo! Isso!

Ele era único, tinha uma mente brilhante e conseguia fazer ela rir com pouco, ele a desafiava e ela o provocava. Ele entendia ela sem muitas palavras, estava sempre ao lado dela e topava tudo o que ela propunha (mesmo que reclamasse muito antes de fazer). Se ele começasse a namorar, ele poderia se afastar. Ela não queria aquilo.

— Sobre o que tanto pensa? — Izumi sentou ao lado dela em uma das cadeiras de plástico que havia na garagem de Itachi.

Já estava ali há mais de uma hora e conhecera os amigos de Itachi: um estudante de teologia chamado Hidan, um de biologia chamado Kisame, um de economia chamado Kakuzu e, estranhamente, o de filosofia e ex namorado de Konan, Yahiko. Itachi os chamou para ajudarem ele em um projeto sobre doenças psicológicas onde ele entrevistaria pessoas que sofressem de qualquer uma delas. Ele precisava de ajuda para catalogar e também para divulgar o projeto. Temari preferiu ficar com a parte “administrativa” e quase engasgou quando ouviu o número de pessoas que Itachi pretendia entrevistar: mais de 200.

Era uma pequena confraternização para se conhecerem, mas ela havia se esquivado daqueles caras sorridentes e estranhos e sentou bem longe apenas com seus pensamentos mais estranhos ainda.

Sorriu um pouco para Izumi e respirou fundo.

— Caraminholas. — Izumi apertou os olhos na direção de Temari e ia abrir a boca para perguntar, mas Temari não queria conversar sobre aquilo. Se levantou e sorriu — Onde fica o banheiro?

E saiu da garagem entrando na sala para ver uma cena completamente inusitada. Os sofás estavam perto das paredes e havia um espaço grande onde Sasuke e a namorada, que agora Temari se lembrava se chamar Sakura, lutavam.

Ou melhor, ela chutava um apoio no braço dele com uma força incrível. Sasuke já suava muito e fazia cara de dor a cada chute certeiro dela.

— Vamos dar uma pausa. — Sakura disse rindo e Sasuke agradeceu passando a mão pela testa. — As regionais estão quase aí e o treinador não me deixa… — ela se calou quando reparou na presença de Temari, Sasuke a olhou também.

— Precisa de alguma coisa?

Temari ia dizer que ia ao banheiro, mas Sakura a olhava com tanta atenção e estava ali sozinha…

— Queria conversar com a Sakura. — respondeu por impulso, mas não desfez a cara de naturalidade mesmo que o casal tivesse estranhado aquilo.

— Hmm, eu vou ao banheiro. Fica a vontade. — Sasuke saiu deixando as duas sozinhas e Sakura sorriu um pouco secando a mão no short de ginástica e se adiantou para cumprimetar Temari.

— Você é a irmã do Gaara e do Kankuro, né? Prazer te conhecer.

— Sou sim, o prazer é meu. — Temari estava desconfortável, agir por impulso era ridículo e saber o que queria saber era ainda mais. Sakura a olhou esperando o que quer que fosse falar, então não havia mais volta. — Hm, bom. Eu vou fazer uma… confraternização com o pessoal do meu comitê da universidade e, bom… — limpou a garganta, precisava parecer convincente. — Shikamaru é do meu comitê, sabe? E queria saber se ele tem alguma… namoradinha na escola de vocês para eu convidar ela também. Sabe como ele é, não fala nada. — Temari riu e Sakura a acompanhou balançando a cabeça concordando.

— Bom, que eu saiba ele está solteiro. Por enquanto. — e abafou uma risadinha marota entre a mão que cobria a boca.

— Por enquanto… — Temari estava agitada, mas fazia um esforço danado para parecer calma.

— Sim. Não posso falar muito. Mas… Ele está caidinho por uma garota e acho que logo ele assume isso.

— E quem é? — Temari nem fingiu desinteresse, queria ir logo ao assunto e ser discreta não era com ela.

— Não posso falar. — Sakura segurou o sorriso entre os dentes e Temari teve que repetir um mantra dentro dela mesmo. Como assim não podia falar? Eram crianças agora? Mas ela não seria grosseira, não tinha para que ser.

— Eu a conheço? — perguntou vendo os olhos verdes de Sakura passarem por seu rosto com muita atenção, aquilo era estranho. Sakura segurou o riso de novo.

— Isso é relativo… Quero dizer, acho que conhece sim, não sei.

Temari suspirou derrotada, não havia mesmo forma de saber por Sakura, talvez Ino contasse, ou Gaara… Ou melhor! Se Kankuro soubesse, ele decididamente ia contar, aquele fofoqueiro.

Ficou mais um tempo com os amigos de Itachi e Izumi até decidir estar tarde e ir para casa a pé. Não era muito longe de sua casa, a noite estava quente e Kankuro havia implorado para ela não sair com o carro naquela noite. Negou a carona que ofereceram e foi andando e pensando com ela mesma sobre coisas que não deveria estar pensando, e uma delas era o menino gênio que tinha um charme inegável e uma beleza que pouco se destacava perante a inteligência dele.

Era estranho pensar que ele poderia estar interessado em alguém, ainda mais Shikamaru que parecia tão desinteressado de tudo. Nunca havia o visto com uma garota, e também tinha certeza que jamais havia dado uma chance para Shiho, senão aquele seria o assunto do momento.Não, ele era discreto, não esfregaria na cara das pessoas se estivesse saindo com alguém. Mas nem era isso o que a atormentava, e sim pensar que ele gostava de alguém já fazia bastante tempo, talvez aquilo já pudesse ser classificado como paixão? Shikamaru estava apaixonado? Isso era estranho. Muito.

Não conseguia nem conceber a imagem em sua cabeça, ele sendo bobo com a garota que decididamente era do ensino médio, da idade dele. Se fosse alguém da universidade, Temari já teria percebido, claro. Passavam tanto tempo juntos…

Aquilo era frustrante, agora se sentia traída! Como ele nunca disse nada para ela? Eles eram quase melhores amigos! Isso se já não o fossem.

Estava com raiva.

Quase chegava em casa quando avistou Shikamaru ali na frente, na rua, conversando com o amigo gordinho Chouji. Pensava que ele já teria ido embora quando chegasse, mas pelo visto ele não tinha tanta pressa. Apressou o passo para passar direto por eles, aquele sorriso de Shikamaru enquanto cutucava o amigo envergonhado a estava irritando, tudo estava.

— Temari? — ouviu seu nome ser chamado e viu Chouji sorrindo para ela e Shikamaru ficando com cara de paspalho.

— Não Chouji, não é uma boa ideia — o ouviu sussurrar nervoso, mas o amigo sorria sem se importar.

Ela nunca havia visto Shikamaru tão intranquilo. Chouji respondeu algo ainda mais baixo.

— O que estão cochichando aí? — perguntou ríspida. Shikamaru choramingou e Chouji continuou sorrindo sem se abalar.

— Shikamaru quer falar uma coisa para você. Vai lá… — e empurrou o amigo na direção de Temari saindo de fininho.

Shikamaru olhava para o chão e ela começava a sentir o coração palpitar novamente. As bochechas dele estavam coradas e ele coçava a nuca com constrangimento.

Ela não sabia o que esperar, mas a ansiedade estava tomando conta da raiva que sentia antes.

E se…

— Bom, eu.. eu… — ele gaguejou e ela segurou a respiração.

— Fala logo.

Ele resmungou algo olhando para o chão e ela quis chacoalhar ele, mas sua imaginação a levava por um caminho estranho, suspeito. Talvez impossível.

— Bom, você… você quer sair em um encontro?

Não, não era possível.

Ela ficou em silêncio, aquilo caindo em cima dela em parcelas enquanto ia entendendo aos poucos o que ele tinha acabado de falar.

Um encontro? Com ele? Ela e ele?

Era ela a garota?

Ela não conseguia respirar e ele parecia querer sair correndo dali, mas as pernas dele deveriam estar como as dela: paralisadas.

Temari respirou fundo e olhou para o céu. Um sorriso estranho para ela despontou em seu próprio rosto, e seu coração pareceu se acalmar. Que loucura, não? pensou consigo mesma. A resposta seria bem óbvia se ela não tivesse sentido alívio com aquele desfecho.

Desceu o rosto para olhar o rosto torcido de arrependimento dele e riu um pouco, passou por ele assim que ele olhou em seus olhos.

— Já deixo avisado: encontros comigo podem ser problemáticos.

betado por Mrs. Fox