retr(atos) escrita por Lyn Black


Capítulo 3
FRAGMENTO 3 – R-o-x-a-n-n-e


Notas iniciais do capítulo

Assustada comigo mesma. Aproveitem o capítulo, não esqueçam de comentar, acho que vcs conhecem o esquema certo?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/743266/chapter/3

FRAGMENTO 3 – R-o-x-a-n-n-e

(uma conversa de bar bem alta, nem ouve necessidade de interceptação já que esse objeto pode ser especialmente efusivo)

 

 

 

Roxanne limpa a gota de suor que escorre pela nuca, antes de voltar a sua atenção para as vinte e três páginas de questões que repousam diante de seus olhos. O concorrente na sua frente teima em mastigar a parte plástica da pena, gerando um barulho irritante. É nervosismo, ela entende bem, pois está o sentindo no modo como o seu coração ainda se encontra desregulado, porém é sem remorso que chuta discretamente com seus coturnos a carteira seguinte antes de murmurar claro o suficiente um “Para de morder a pena, buceta”. O palavrão escorre da sua boca antes de conseguir filtrá-lo, mas ela dá de ombros ao perceber que o garoto de cabelos pretos espetados entendeu o recado e o fiscal não pareceu se importar com o barulho.

A jovem cruza as pernas, friccionando para seu desespero a meia longa colorida que achara confortável o suficiente, mas que agora está lhe dando irritação. Ela não era bem confiável pela aquela manhã quando, ainda levemente inebriada pela reunião da noite slash madrugada anterior, decidira num visual bem despreocupado. Essa era a vantagem do concurso no ministério: não havia entrevistas onde teria que usar um feitiço temporário para tirar o piercing da sobrancelha e seu sobrenome não seria influência já que, ao invés de nome, ela apenas tinha uma sequência numérica aleatória entregue na hora. Achava justo, pelo menos caso houvesse sucesso não teria como acusarem-na (e ela se incluía na lista) de privilegiada ou qualquer outra coisa do gênero.

Olhou a ampulheta já começando a demonstrar a passagem de uns bons quinze minutos e decidiu finalmente que era agora ou nunca: prendeu a respiração, tirou os óculos redondos (embora o rumor fosse que usava só pelo charme de acessório, ela era míope com astigmatismo de brinde) e limpou-os na beira do casaco de flanela. Este, ela tinha enfiado às pressas após o sermão de sua mãe sobre mudanças de tempo que quase a fizeram perder o horário. Como sempre.

Após isso, com muita confiança e determinação preencheu todas as linhas disponíveis, terminando o exame de qualificação com uma folga de aproximadamente dez minutos. Não era a única, metade dos concorrentes ainda estavam por lá, alguns, ela notou pelo canto do olho, definitivamente longe de completar a prova.

Roxy levantou da carteira mais ao fundo e batucando os saltos da bota se encaminhou até a mesa central, onde colocou a prova. O homem sentado levantou os olhos da novela romântica que lia e indicou um espaço onde deveria deixar sua assinatura mágica. Parando alguns bons segundos para analisa-la, a jovem reparou como seus olhos pousaram especialmente no anel com um rubi tão conhecido, símbolo das negociações de Bill Weasley. Segurando o revirar de olhos, e exausta após as seis horas respirando aquele mesmo ar, ela nem se importou o suficiente para sustentar um olhar arrogante.

É razoável comentar sobre como bateu a porta com um estrondo, e lá ia a Weasley sempre suscetível aos pequenos comentários, explodindo diante de pequenos detalhes mal calculados, uma “bomba-relógio hipersensível” foi o que seu último chefe disse quando fora estagiária numa empresa de advocacia trouxa-bruxa no centro londrino. Por três semanas e quatro dias até resignar com direito a um “Foda-se essa merda, eu estou fora. Bando de cúmplices de escravização ilegal de elfos!” e começar a estudar hermionamente para o concurso que acabara de realizar.

Ela andou com passo apertado até o escritório de tio Rony onde deixara sua vassoura, sem permissão, certa de que o horário que pegara quando o secretário estava distraído sobre uma reunião demorada estava certo. Ronald Weasley nunca fora um grande fã das manias da filha mais velha de George, e bem, não é a culpa dela se eles têm visões completamente diferentes em relação à ética trabalhista. O ruivo ainda está pagando algumas multas pelas condições de trabalho da sua antiga empresa de equipamentos de quadribol, todos os itens notificados em uma carta redigida para a Internacional Bruxa ainda em seus dezesseis anos quando visitara a Indonésia com Hugo no pretexto de férias. Roxanne não disfarça o riso sarcástico ao perceber que a sua vassoura, marca concorrente, está posta do lado de fora da sala.

Sua corrida é interrompida pelo secretário quem enganou, Smith é o que a placa no seu peito diz. Ele a segura pelos braços, os óculos quadrados quase caindo pelos enormes olhos e o cabelo sufocado por gel já com um fio fora do lugar. A gravata preta, amarela e vermelha é tão assombrosa que a garota desvia o olhar, considerando que devem existir limites na moda, pelo visto.

— Srta., você tem cinco minutos para sumir daqui, o Sr. Weasley falou que se ‘cê pisar aqui nesse tempo o esquadrão será chamado por invasão já que você leva a lei tão a sério.

O tom alarmado não comove a Weasley, somente faz com que sua impaciência aumente ao ponto de empurrá-lo para o lado. A menina pega a varinha desarmando o sinal de alarme que o tio colocou sobre o meio de transporte indesejado que deixou lá, sem parar de andar, levitando a vassoura antes de murmurar mais encantos de verificação. Faz tudo isso tentando bloquear as frases que o garoto mais velho solta nervosamente, tique no olho já se fazendo presente.

Tomando pena, passa a vassoura pelo corpo como se fosse uma guitarra, e segura ambas as faces do recém-formado tão inseguro e introvertido em sua frente.

— Respire comigo, Scott. Você consegue fazer esse trabalho sem ter uma síncope nervosa. – ela conta 1, 2 e 3 até ele se acalmar. Checando o pulso dele com um feitiço, suspira aliviada antes de dar-lhe as costas, focada em sair do setor de importação bruxa.

É com mais desprazer (ela está cansada, afinal!) que uma mão impede uma trombada ainda mais fenomenal. Dar de cara com Ronald não estava nos planos, mas o destino não se escolhe, dizia sempre um fantasma em Hogwarts. O homem não aparenta satisfação, embora seu rosto não deixe passar muita da irritação: o que os anos lidando com os reguladores das alfândegas bruxas não fazem com alguém, ela pensa.

— Eu deveria te fazer ficar uma noite inteira presa no quartel general dos aurores para aprender, Roxanne Mary. – a voz sai rouca, a boca oculta por um bigode que ele teima em deixar a crescer.

Ela sorri com diversão, já se preparando para correr após soltar sua réplica:

— Eu conheço metade dos aurores que ficam plantados lá sem fazer porra nenhuma, e ninguém quer uma manchete sobre fuga encoberta pelos próprios funcionários.  

Roxanne ainda se dispõe a virar e piscar exageradamente para o tio que a acompanha correr para a janela mais próxima e saltar habilmente montada na vassoura de marca concorrente a dele, é claro, e ele poderia jurar que ela só tinha feito isso para provocar. Grifinórios se provam irritantemente ousados nos dias de hoje quando a fibra da revolução se desgasta com os anos nos velhos. E Roxanne era da santa Lufa-Lufa. Ele já desistira de qualquer chance de entender.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Quem será protagonista do próximo fragmento?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "retr(atos)" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.