Before The Sunrise escrita por Ágatha Rivera


Capítulo 20
Embaralhar de Conceitos


Notas iniciais do capítulo

Tomara que gostem do capítulo. Como vão perceber, ele é longo, a segunda razão pela qual demorei tanto a postar. A primeira era que eu estava em semana de prova e tinha que estudar. Aproveitem e comentem, ok? Não deixem a autora Ágatha Rivera morrer, mimimi.



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20. Embaralhar de Conceitos


Lizzie


Eu posso aprender a ser amiga dele.

Chacoalhei a cabeça com o pensamento, mal acreditando em mim mesma. Há algum tempo atrás eu era a maior inimiga secreta de Aiden Hills e, agora, estava pensando em ser amiga dele? Era isso mesmo?

– Podemos nos encontrar na rua do seu Wilbert à meia noite e 45, estaremos na praia 1h da manhã no máximo!... – Pisquei, voltando à realidade quando Catherine continuou a tagarelar sobre nossos planos para a noite. Finalmente voltaríamos para perto de Orazón, só para procurar sua estrela-do-mar-ondulada-e-de-strass-com-grande-significado-sentimental-familiar.

– É, parece ótimo – eu disse com descaso. Não queria realmente discutir sobre como chegar lá, só queria que essa história acabasse o mais rápido possível.

Olhei em volta, percebendo que nem tinha prestado atenção aonde Catherine estava me levando. Eu estranhei, porque não estávamos exatamente no corredor do meu armário, muito menos no corredor do armário dela.

– O que estamos fazendo aq...? – comecei, mas não tive a chance de terminar.

– AIDEN! – a voz de Catherine ecoou forte e sexy pelo corredor, transformando meu olhar em compreensão.

O medo me atingiu como um raio e eu lancei um olhar apavorado para a esquerda. E então foi como se tudo estivesse em câmera lenta.

Vi Aiden parado perto de um fila de armários, conversando empolgadamente com seu amigo loiro de olho verde (cujo nome agora eu sabia), Cole. Ele terminou de falar e riu sobre qualquer que fosse o assunto; depois, lentamente, virou a cabeça em nossa direção para identificar quem o havia chamado.

Ele ficou meio chocado quando nos viu. Bem, acho que até entendo sua reação. Quer dizer, tipo, “oi, somos nós mesmas, Catherine e Lizzie, você sabe; a Catherine com quem você falava antes de cair num buraco sinistro e ir para num mundo cheio de gente doida, e a Lizzie, com quem você não se dava até cair no mesmo buraco. ÉÉÉÉ, aquela que deixou de te ignorar ainda ontem! Exato, e hoje elas estão juntas paradas bem na sua frente, clamando por sua atenção”.

Em outras palavras, situação completamente HÃÃÃÃÃÃÃÃÃ?!

Após o meu blábláblá mental e uma breve hesitação de Aiden, ele resolveu lançar um educado sorriso de canto-de-boca para nós, o que pareceu INCRIVELMENTE adequado para aquela situação maluca. É, fiquei satisfeita e ainda o invejei por ter conseguido sair dessa tão... tão... elegantemente. GRRRR!

Contudo, infelizmente Catherine entendeu o sorrisinho discreto como um sinal verde para aproximação, e no segundo seguinte eu estava sendo puxada pelo braço e arrastada atrás dela. NÃÃÃÃÃÃÃÃÃO!, gritei em pensamento.

Paramos de frente para ele e Catherine abriu um sorriso grande e lindo de cara, deixando Aiden ainda mais chocado e, aparentemente, sem opção.

– Hã... – disse ele. – Bem, olá, Catherine. E oi pra você, Lizzie – dei um sorriso nervoso e exagerado em resposta. – Tudo bem com vocês?

– Tudo – como sempre acontece quando fico tímida, minha voz tinha que sair numa linha quase inaudível.

– TUDO ÓTIMO, Aiden! – Catherine respondeu, ao contrário de mim, com um berro e uma alta gargalhada. – Desculpem privá-los da minha maravilhosa companhia por ontem – ela arqueou uma sobrancelha maliciosamente. – Mas é que eu...

– Nossa, é mesmo! O que aconteceu com você? – Aiden cortou-a com uma súbita curiosidade na voz que me surpreendeu.

Era como se ele já tivesse se recuperado do choque de nosso encontro e agora estivesse conversando com Catherine como se fosse uma coisa normal! Enquanto ela explicava para ele toda sorridente sobre “ter dormido demais”, Cole ainda gargalhava do “desculpem privá-los da minha maravilhosa companhia por ontem”.

Revirei mentalmente os olhos para eles.

– Bom, e foi isso – Catherine concluiu.

Cole riu mais um pouco de tudo que minha melhor amiga acabara de falar, e foi quando ele e Aiden finalmente se entreolharam e fomos apresentados.

– Interessante. – Aiden sorriu para nós. – Em todo o caso, esse aqui é o meu grande amigo Cole Stryder; Cole, Catherine e Lizzie. Catherine e Lizzie, Cole.

– Muito prazer! – Catherine apertou a mão dele com entusiasmo, e, quando chegou minha vez, algo muito estranho aconteceu.

Estendi a mão para segurar a de Cole, que apertou a minha. Mas depois ficou parado com nossas mãos ainda dadas, e me encarou com um sorriso nos lábios por um ou dois segundos. Primeiro, fiquei tipo “hã?”. Mas depois, como era inevitável, corei.

Pior que Cole era tão bonitinho! Fofo, fofo, fofo, com seu cabelo loiro e liso estilo Zac-Efron-sem-franja e seus olhos verdes, que mais pareciam duas esmeraldas raras, preciosas e sedutoras. Em outras palavras, eles não tinham nada a ver com meu tom de verde fosco e sem vida.

Sorri rapidamente e super sem-graça para ele, que me surpreendeu mais ainda piscando para mim antes de soltar minha mão.

Esse pequenino gesto mudou tudo.

Enquanto minha mão formigava, senti meu rosto esquentar, embora eu realmente não soubesse por que estava ficando corada. A vergonha não mais me atingia. Meu coração disparou loucamente, de orgulho, e eu podia sentir lentamente um outro tipo de sorriso tomando conta de meu rosto. Um sorriso... sedutor.

Eu nunca havia me sentido melhor ou mais confiante.

Catherine percebeu a súbita mudança no clima, pois notei pelo canto do olho quando seus lábios se repuxaram num sorrisinho malicioso enquanto eu e Cole nos encarávamos indiscretamente.

Então, eu pensei em dizer com meu projeto de sorriso sedutor e idiota.

– Então – Cole disse com seu sorriso sedutor e nada idiota. Ai, que inveja!

– Então, Aiden – Catherine começou numa voz profissionalmente inocente. – Sabe, eu realmente queria te contar o que eu acho sobre...

Ela começou a pegar Aiden pelo braço, e eu bem sabia que ela iria tentar puxá-lo para longe e deixar eu e Cole a sós, o que me fez entrar em pânico. NÃO!, eu quis gritar para ela. Não gostei dele TANTO ASSIM, tenho medo!

Felizmente – ou seria infelizmente? –, não precisei tomar coragem para enfrentar meus temores mais profundos, no caso, flertar com um garoto.

O falatório incessante do corredor subitamente diminuiu. Isso só podia significar uma coisa. Lentamente, girei a cabeça na direção da escada.

Jake Hanson e Stella D’Amore gargalhavam juntos enquanto percorriam o colégio, em direção à porta. Eles estavam lindos, como sempre. Jake, estonteante em sua calça jeans da Calvin Klein, com uma camisa azul-clara (derreti-me nessa hora. Ele ficava simplesmente PERFEITO de azul-claro!), e Stella, super sexy como de costume, com uma minissaia jeans curtíssima de vadia, cinto gigante e uma blusinha preta apertada nas curvas da cintura que faziam seus peitos parecerem maiores.

Não sabia se fazia uma careta ou desmoronava com a cena. Então, eles estão juntos novamente.

Stella estava com o braço dado no de Jake, como se eles fossem casados, e, para a minha surpresa, eles diminuíram o ritmo conforme se aproximavam de nós, até finalmente estancarem a um passo de distância de mim.

Não entendi de início. Foi necessário que Jake pronunciasse uma palavra para que eu pudesse compreender.

– Aiden. – Ele cumprimentou, com um sorriso falso estampado no rosto e um ar de desprezo.

O corredor inteiro agora estava mergulhado no silêncio. Aiden abriu um sorriso cínico em resposta, e então tanto ele quanto o Mais Mais do colégio deixaram os rostos bonitos transformarem-se em duas carrancas de ódio.

Ah... é claro. O misterioso desacerto de contas entre Jake Hanson e Aiden Hills.

Eu prendi a respiração, assim como Catherine a meu lado. Mesmo Cole parecia desconfortável.

E não se escutou um pio por parte dos outros alunos.

– Jake – Aiden murmurou após longos segundos, “cumprimentando-o”.

Finalmente, começaram os burburinhos. Sussurros carregados de hipóteses e acusações saíam das bocas dos alunos em volta, ganhando adeptos e discordantes, como toda qualquer e boa fofoca. Pela manhã, Steklyn inteira deveria ficar sabendo.

Confesso que me surpreendi quando Jake soltou uma alta gargalhada que voltou a silenciar o corredor.

– Sabe o que é mais engraçado? Eu não sabia que a falsidade tinha nome – provocou, arqueando, numa brincadeira maldosa, a sobrancelha loira perfeita.

– Gozado. Não sabia que se afastar de uma pessoa idiota, que trata mal mesmo aqueles que deveriam ser seus “amigos”, era falsidade. – Aiden rebateu, numa voz fria.

Jake Hanson trincou os dentes e, pela primeira vez, eu me vi receosa e desconfiada com algo de ruim que diziam meu deus grego estar fazendo.

Foi a vez de Stella soltar uma alta gargalhada, antes que eu pudesse pensar qualquer outra coisa. Notei que só então foi que Aiden desviou realmente o olhar para ela. E, mesmo assim, pareceu... a contragosto.

– Stella – ele cumprimentou fria e educadamente.

– Aiden. – A patricinha mais odiosa do West Side retribuiu, sorrindo tão falsamente quanto Jake ou mais por um segundo, e semicerrando os olhos em seguida.

Aiden devolveu o olhar desprezível, mas não pude deixar de notar a mudança em sua expressão.

Olhei para Aiden e Stella. A intensidade do olhar entre eles era estranhamente assustadora. Ao mesmo tempo em que a raiva pairava e ondulava mortalmente na atmosfera ente eles, com a mesma intensidade vinha uma atração selvagem e irresistível, ao passo que eles pareciam querer fuzilar e ao mesmo tempo devorar – no sentido malicioso mesmo – um ao outro com os olhos.

Eu encolhi os ombros, desconfortável.

Stella piscou, desfazendo o transe e abrindo novamente seu sorriso mais cínico e insuportavelmente sexy.

– Espera – ela disse com sua voz mais indecente, parando para ajeitar propositalmente o decote da blusa preta apertada.

Aiden mordeu o lábio inferior e estremeceu quase imperceptivelmente.

Os garotos em volta arfaram, inclusive Cole – o que me fez fechar a cara. Aiden foi o único que não emitiu nenhum som, parecendo fazer um esforço sobrehumano para tal, mas foi bem-sucedido.

Stella ficou magoada. Eu pude ver em seus olhos azuis. E naquele momento, eu soube que ela o queria. Muito, demais, numa proporção que por algum motivo me incomodava. E eu não entendia nada daquilo! Não sabia como aquele tipo de relação entre eles era possível. Na verdade, podia sentir que nunca queria ter descoberto.

Um nó se formou em minha garganta. Eu desviei o olhar deles, enojada.

Jake, que até então estava parado feito estátua, finalmente pareceu se incomodar com a situação e perceber-se tão desconfortável quanto eu.

– Stella – ele murmurou –, vamos.

A garota piscou. Olhou para Jake, depois para nós, depois para Jake novamente.

Me perguntei se aquelas palavras não estavam fazendo sentido na cabeça da patricinha ou se ela simplesmente estava querendo chamar atenção. Mas a voz falha que se seguiu me fez escolher, surpreendentemente, a primeira alternativa.

– Vamos – Stella molhou os lábios.

Jake pegou a mão dela e os dois continuaram o caminho que faziam antes do encontro, ignorando a multidão boquiaberta que deixavam para trás.

E então eles desapareceram pela porta de entrada.

O silêncio prevaleceu só por mais alguns segundos. Depois, o colégio explodiu. Todos começaram a gritar e tagarelar histericamente ao mesmo tempo.

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!, surtei por dentro. Simplesmente não conseguia associar todos os acontecimentos recentes. COMO ASSIM?!

Desviei o olhar para Aiden e Cole. Eles pareciam seriamente perturbados, principalmente Aiden.

– Desculpe – Cole pediu ao amigo, e suspirou. – Eu não consegui me controlar...

– Não, eu te entendo. – Aiden murmurou e fechou os olhos, balançando suavemente a cabeça para lados. – Ela é horrível.

– Sei que é. Mas...

– Ele é pior.

Os dois se entreolharam com uma compreensão mútua e triste. Olhei para Catherine e vi que, apesar de ela estar tão confusa quanto eu, não tinha dúvidas sobre o que era o melhor a fazer no momento.

Ela pegou minha mão.

– Vamos, Lizzie – sua voz atraiu a atenção de Aiden e Cole. – Nos vemos por aí, meninos – sorriu fracamente para eles.

– Tchau – Cole e Aiden murmuraram em uníssono, num fiapo de voz. Pareciam envergonhados, meio arrependidos por termos presenciado aquela cena.

Caminhamos para longe como se nada tivesse acontecido. Eu quase podia sentir os olhos dos meninos em minhas costas, observando enquanto Catherine e eu nos afastávamos.

– MEU DEUS, o que foi isso? – ela berrou quando já estávamos a uma distância segura.

– E você acha que eu sei?! – arqueei as sobrancelhas para ela. Minha expressão era ligeiramente salpicada de medo.

– Você não disse que ele tinha dito que odiava Stella D’Amore?!

– Ele disse “a Stella pode ser muito bonita e tudo mais, mas sei o quanto é vadia” – corrigi. – Com ênfase no “muito”! Eu devia ter suspeitado que ele sentia algum tipo de atração por ela mesmo assim! – rosnei. – Mas, se não percebeu, eles quase se fuzilaram com os olhos. Tá na cara que se odeiam mesmo!

– É, quase se fuzilaram, mas quase se comeram também – lembrou Catherine, balançando as sobrancelhas maliciosamente.

– Ah, não me lembre disso! – berrei, fazendo uma careta de repulsa. – Foi nojento... Eca!

Ela riu de minha expressão.

– Caramba – Catherine comentou com humor. Depois se encolheu, e sua voz ficou muito séria. – Eu nunca tinha visto eles se confrontarem desse jeito...

Parei, dando-me conta de repente que ela agora se referia a Aiden e Jake.

– É – sussurrei num fio de voz, voltando a andar enquanto lembrava dos rostos enfurecidos. – Nem eu...

– O que acha que aconteceu? Para eles se odiarem, quero dizer.

– Não sei – suspirei. – Acha que algum dia vamos descobrir?

Foi a vez de Catherine parar. Ela olhou para trás.

– Não sei, Lizzie. Se conseguirmos virar amigas do Aiden, é provável que talvez um dia. Ela me encarou com um olhar divertido e nós duas rimos baixinho.

– Aham... – desviei os olhos dela, parando para pensar. – Catherine. Eu não quero parar de falar com ele por causa disso. – Vi-me admitindo inesperadamente.

– Nem eu – minha melhor amiga concordou comigo, para meu alívio. – Ainda mais agora que acho que, seja o que for, Jake Hanson é o culpado.

Mordi o lábio inferior.

Eu também estava quase prestes a aceitar tal idéia. Ah, meu Deus, por quê?, perguntei para mim mesma, enquanto sentia meu coração se apertar no peito. Por um lado, eu não queria aceitar que Jake Hanson talvez fosse um cretino. E era essa mesma parte de mim que, no fundo, ainda não queria reconhecer as qualidades de Aiden ou ganhar sua amizade.

Mas a outra parte de mim estava começando a tomar consciência do quanto talvez eu tivesse sido injusta com Aiden todos esses anos. E essa, eu sabia, também era a responsável por socar os muros anti-Aiden que haviam dentro de mim; querendo forçar minha outra eu a derrubá-los. Era a razão dos muros estarem pela metade, apesar de ainda firmes e fortes sob alguns outros aspectos.

***

Ai-meu-Deus! Nos distraímos tanto com os casos Aiden-Stella e depois Aiden-Jake que Catherine nem se lembrou de me perguntar se houve alguma coisa entre mim e Cole, foi o meu pensamento enquanto eu fitava através da janela do carro, no banco do carona. Confesso, senti-me um pouco grata.

Minha mãe dirigia, estávamos indo nós duas para a casa de vovó Faith. Mandy deveria ter vindo conosco, mas ligou para Jenna Johnson de última hora, dizendo que ia ter aula extra no colégio e que tinha esquecido.

Bufei ao me lembrar disso. Seria muito melhor se minha irmã tivesse vindo. Apesar de Mandy ser chata, ela era a única que conversava comigo quando íamos para a casa de qualquer um de nossos avós, já que eles sempre ficavam entretidos numa conversa adulta com minha mãe ou meu pai.

Não fique muito feliz, Lizzie Johnson, lembrou-me uma voz de dentro da minha cabeça. Ora, como se eu estivesse feliz! Lembre-se de que, mais cedo ou mais tarde, Catherine irá lhe perguntar sobre isso.

Suspirei. Maldita voz cheia de razão.

Jenna interrompeu minha linha de pensamentos ao frear bruscamente. Minha cabeça voou para frente de meu corpo, quase encostando no vidro, se não fosse o cinto de segurança. Fiquei enraivecida e comecei a xingar mentalmente toda a geração do motorista à nossa frente, que, eu tinha visto, fizera um movimento brusco, movendo-se de sua fileira à direita para a nossa, obrigando minha mãe a frear, e ainda passando no último resquício do sinal verde. Sinal esse que agora estava vermelho para nós, graças ao engraçadinho de uma figa. GRRRRRRRRRRRRR!

– CRETINO! – gritei, de repente. Quem ele pensava que era?! Que absurdo! Né não, mãe...?

Parei ao perceber que Jenna Johnson nem sequer dava um pio para reclamar do aprendiz de psicopata. Olhei bem para minha mãe, e notei que ela estava com o olhar fixo em frente, o queixo ligeiramente caído, fitando concentradamente a rua.

Curiosa, virei a cabeça para saber do que se tratava.

Senti meu queixo cair também. Na calçada, uma família próxima ao meu lado do carro se preparava para atravessar. Estavam todos molhados e com roupa de banho, o que me fez deduzir que eles deviam ter ido à praia.

O mais velho adiantou-se. Este devia ser o pai. Uma expressão ainda mais bestificada tomou conta de meu rosto enquanto eu analisava o coroa de cima a baixo.

Ele era simplesmente lindo, mesmo para um cara velho. Os cabelos pretos angelicais e com alguns fios brancos voavam para trás com a força do vento, de um jeito bem sexy, e o calção que ele estava usando deixava à mostra sua linda pele morena, mas, principalmente, seu tanquinho maravilhoso. UAU!, pensei. O que era aquilo? E por que meu pai não buscava se influenciar em caras preocupados com a boa forma, como esse daí?!

Notei que o homem parecia segurar uma mão pequenininha entre a sua, e olhei para baixo. Uma garotinha graciosa, de dez anos no máximo, estava agarrada a ele e gargalhava e dava piruetas enquanto andava. Sorri para a pequena quase inevitavelmente, era impossível não se encantar com ela. A garota era a cara do pai. Os cabelos eram igualmente escuros e alguns traços no rosto eram parecidos. Ela só se diferenciava pelos olhos azuis, ao contrário dos castanhos paternos, e pela pele exageradamente branca, nem um pouco puxada pro moreno-escuro como a dele.

Eles parecem me lembrar alguém, pensei. Mas quem?

E então eu o vi.

Aiden estava bem ao lado do homem e da garotinha, rindo à toa. Mal prestei atenção no abdômen dele – que era tão definido quanto o do pai. Não, meus olhos simplesmente se fixaram em seu rosto.

E aí me dei conta. Cara, depois de tudo o que tinha acontecido conosco em Orazón, ele ainda conseguia ir à praia?! COMO ASSIM?! Como, de onde ele tira tanta coragem e ignorância?, bufei. Acontece, Lizzie, que nem todo mundo é facilmente traumatizável como você, uma outra voz respondeu à primeira. Afinal, de dia não há perigo, lembra?

Sim, não há perigo, mas... ARGH! Grrr! Recostei violentamente minhas costas no banco, desistindo daquele estúpido diálogo-discussão interno.

Aiden sorriu e passou a mão pelos cabelos molhados, o charme em pessoa. Por que então, surpreendentemente, eu não estava me deixando afetar?... Eu tinha certeza de que se fosse qualquer outro garoto, eu surtaria. E, no entanto...

Os muros eram mesmo muito fortes.

Se fosse Jake Hanson...

Eu me recriminei pelo pensamento e bati a cabeça no encosto. Voltei a olhar para Aiden e sua família, e só então notei que havia uma quarta figura com eles. Uma mulher.

Meu queixo despencou completamente de meu rosto dessa vez, porque eu simplesmente não acreditei no que estava vendo. Aquela mulher poderia perfeitamente ter sua foto ao lado da palavra “perfeição” no dicionário que não ia me surpreender.

Ela tinha cabelos ruivos, mais ou menos no tom castanho-avermelhado de Glynda, mas sem dúvida uma cor artificial, já que ela devia ter passado dos quarenta. A estrutura de seus fios era perfeita – o cabelo caía grande e em cachos bem-definidos por suas costas. Ela sorriu, e juro que o mundo inteiro devia estar mais iluminado naquele momento. Ela era de uma beleza tal que deixava a Scarlett Johansson no chinelo. Sério!

Os olhos azuis eram brilhantes e a pele, branca como a neve. Agora eu sabia a quem Aiden e a garotinha tinham puxado nisso.

– Ah. Meu. Deus. – Minha mãe finalmente pronunciou uma palavra desde que tínhamos encontrado o palhaço do trânsito.

– Ela é linda – murmurei, com inveja.

– Nem me fale! – surtou minha mãe. – Que vergonha, como eu sou feia perto dessa aí! – reclamou, me fazendo rir. – E o homem, então?! Vai ser perfeito assim lá em casa, meu amigo! U-HUUU, QUE TANQUINHO MAIS LINDO! – delirou.

– MANHÊ! – bronqueei, gargalhando. – Você é uma mulher casada!

– Xi, é mesmo, tem o seu pai – ela fingiu se lembrar naquele instante, fazendo um falso biquinho de desapontamento e piscando para mim. Eu ri mais um pouco. – Você bem que podia agarrar o garoto e me dar uns netos lindos, né não, Lizzie? – brincou, me fazendo engolir em seco.

– Não, nem pensar – murmurei, voltando a olhar a frente do caro. Felizmente, eles não estavam mais ali.

– Por quê? – mamãe quis saber. – Já o conhece, é?

– Já. Não quero falar sobre isso – alertei.

Jenna Johnson arqueou uma sobrancelha para mim, mas não insistiu. Arrancou quando o sinal abriu novamente.

E eu virei o rosto para o lado da janela, outra vez perdida em meus pensamentos.


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Notas finais do capítulo

Bom, como eu disse, estou toda atolada, então tenho alguns avisos para dar. 1 - Eu não tenho mais tanto tempo disponível para escrever minhas fics, pois já que eu estou fazendo terceiro ano e vou ter que prestar vestibular em novembro (é, eu sou velha! rs), vou ter abrir mão das outras e escolher só uma pra continuar, que, adivinhem? É A BEFORE THE SUNRISE! :D Portanto, a Historinhas do Tio Emmett e a The Dream vão ficar hibernadas até segunda ordem. Me desculpem! Eu sinto muito mesmo. Acreditem, ninguém sente mais do que eu! 2 - Eu acabei de postar minha primeira One-shot em "Ágatha"! :D Dessa, não vou abrir mão porque não é planejada nem contínua, entendem? rs. CARACA, a one foi uma coisa muito adulta na minha opinião, e eu queria saber o que vocês acham porque realmente é a primeira vez que escrevo algo assim! Quando puderem, deem uma passadinha por lá, ok? 3- Obrigada por ainda acompanharem a BTS! Beijos! *-*