Dias de Desespero escrita por Roger64


Capítulo 3
(1x03) Três dias de pavor


Notas iniciais do capítulo

E aí galera, aqui está o terceiro capitulo da minha história, quando terminarem de ler, comentem tudo o que quiserem, isso me incentiva bastante!
Boa leitura! (E sim, irá continuar)



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17 de Março de 2015

—Austrália_

00h15min AM

O vento sumiu e um calor intenso começou a ser sentido naquela madrugada de Domingo. Três dias já se passaram após o inicio do caos.

O departamento de testes científicos era parecido com a O.S.E de muitas formas, sua estrutura similar, a cor igual, 3 andares, parecia grande e extenso.

O trailer dos Bartzen estava longe da base, acima de uma lomba, afinal, eles não poderiam arriscar, nunca se sabe o que poderia ter lá dentro.

Nada informava que o lugar era um centro de operações de segurança ou de experimentos científicos da Austrália, até porque, era secreto.

Ficava no meio do nada, rodeado por uma floresta e ruas esburacadas.

Ainda com uma faixa sobre a cabeça, seu boné azul a cobria, Garry Calvin, de pé em frente ao trailer, segurando sua espingarda, observava a estrutura de longe.

Ele disse para o resto do grupo que permanecia dentro do trailer:

— Não tem ninguém lá dentro! – Virou-se para o trailer. – Se tivesse alguém, já teriam visto a gente.

Alice Jacob saiu da porta, carregando consigo uma faca de cozinha.

— Não pode ter certeza disso! – Disse Alice, irritada. – Talvez tenha pessoas que possam nos ajudar lá dentro.

— Isso é besteira, nós iremos arriscar entrando nesse lugar, pode ter monstros ali. – Garry avisou.

Durante a discussão, Marcos também saiu do automóvel, armado com um bastão de beisebol e disse:

— Se tá com medo Garry, devia ter avisado antes, foram três horas de viagem até aqui, não reclama agora cara!

Garry queria debater, mas preferiu não dizer mais nada.

— Vamos logo galera, temos que ser rápidos. – Marcos chamou o pessoal que se preparava dentro do trailer.

Drake surgiu do trailer, correndo até Alice, atrás dele vinha o casal Eva e Steve, de mãos dadas.

— Me deixa ir junto, por favor! – Pediu.

— Já conversamos sobre isso Drake! – Repreendeu o irmão. - Você vai ficar no trailer com o Ezequiel e a grávida, eles tomarão conta de você.

— Mas eu não fui com a cara deles, eles são muito estranhos.

Alice fez um sinal para Drake calar a boca.

Steve, que escutou a conversa, riu.

— Ficou calor assim de uma hora pra outra? – Eva abanava o rosto com as mãos. – Que merda.

— Cuida essa boca suja menina! – Carlos disse enquanto saía do trailer.

A jovem de dezenove anos revirou os olhos.

Após a preparação, finalmente o grupo foi até a base, com exceção de Ezequiel, Kate e Drake, que ficaram no trailer.

Os motivos eram óbvios:

Kate era uma mulher gravida, não teria condições em ir até lá, então Ezequiel ficou para cuidar dela. Já Drake ficou ali por ser perigoso para uma criança, mesmo não concordando com a ideia.

***

Ainda no lado de fora, na entrada, o local era conservado, tinha alguns bancos avermelhados para espera e plantas verdes para decorar o ambiente. Já as paredes eram de vidro, mas muito resistentes.

Steve saiu do lado da namorada e foi o primeiro a se aproximar para olhar.

— Tá tudo escuro, não dá pra enxergar nada. – Informou.

Marcos foi até a porta dupla, tentou empurra-la, mas não foi aberta.

— Tá trancado. – Ele deu mais duas batidas, mas foi inútil.

— Se a gente chamar por alguém, vai adiantar? – Disse o idoso, longe das portas.

— Senhor Carlos, melhor não. – A loira respondeu, também se aproximando da parede de vidro. – Tem que ter outro jeito de entrar.

Isso tudo é uma incrível besteira, nós não temos que entrar aqui. – Pensamento de Garry.

Eva andava de um lado para o outro, ansiosa.

Podia não ser esperta, nem inteligente, mas é a pessoa mais observadora do grupo.

Encontrou um duto de ventilação aberto a alguns metros do chão, em uma parede de gesso, ficava atrás de alguns vasos de plantas.

— Olhem ali! – Apontou para o duto. – Tá aberto!

Todos se aproximaram para verificar.

Sorriu sarcasticamente, sentiu um ar de importância e aquilo era muito bom pra ela.

Marcos enfiou a cabeça no duto e falou:

— Esse é o único lugar que dá pra entrar. – Retirou a cabeça. – Temos que ter cautela redobrada.

— Tem certeza disso? – Garry questionou.

— Já conversamos sobre isso Garry! – Marcos o encarou. – Por acaso alguém aqui sofre de claustrofobia?

— Não. – Todos responderam.

O rapaz calmo pegou uma lanterna e a colocou em sua boca, iluminando o duto de ventilação.

Marcos colocou as duas mãos sobre o duto e ergueu o seu corpo, entrando no buraco. Logo após colocou a lanterna na mão.

— Eu vou até o final primeiro, eu grito pra vocês se eu tiver certeza que é seguro.

Ele já rastejava sobre o duto, enquanto isso, escutou a voz da amiga de infância:

— Tenha cuidado. – Alertou.

O calor de antes agora se tornou insuportável para Marcos, sentiu pingos de suor sobre a sua testa e a camisa começou a ficar encharcada.

Mas esse não foi o maior problema, Marcos percebeu que a parte de sua camisa branca, nos braços, começou a ficar com manchas vermelhas.

— Sangue? – Perguntou.

Várias poças rasas de sangue predominavam o duto de ventilação.

O cheiro começou a ficar horrível, péssimo e desagradável.

Marcos se sentiu enjoado.

Colocou a mão no nariz, tampando-o.

O rapaz de capuz percebeu que abaixo dele, através dos vãos da estrutura, tinha outras salas e corredores do departamento cientifico.

Avistou corpos no chão, mutilados.

Era um mar de sangue e brutalidade.

— Algo muito ruim aconteceu por aqui (Pensamento de Marcos).

Desviou a visão e ignorou os fatos.

Já estava na metade do percurso e avistou uma luz no final do caminho.

Mesmo relutante, continuou a rastejar até o final do duto, iluminando tudo, as poças de sangue finalmente acabaram e o cheiro desagradável foi parando aos poucos.

Sentiu um tremor na parte de baixo do lugar estreito, teve a sensação de que ia cair.

— Merda.

Apressou o ritmo, preocupado.

Mas nada aconteceu, conseguiu sair do duto sem problemas.

O lugar em que Marcos entrou era um pequeno corredor deserto.

Não havia ninguém ali.

— PODEM VIR, MAS TENHAM CALMA, TEM BASTANTE SANGUE PELO DUTO E O CHEIRO É INSUPORTAVEL. – Gritou Marcos em direção ao caminho que tinha percorrido no duto.

***

00h20min AM

A voz de Marcos chegou ao resto do grupo.

Alice foi a primeira a se aproximar do percurso.

Antes de tudo, jogou uma mochila preta para o duto, ali dentro tinha todas as armas e objetos de defesa que eles possuíam.

Esticou os curtos braços com a intenção de se segurar nas bordas da estrutura, mas sua altura foi insuficiente e acabou desistindo.

Virou em direção á Carlos e Garry, que estavam bem atrás dela.

— Qual é o problema? – Perguntou Garry.

Alice deu uma tossida falsa.

— Não sou tão alta como vocês, querem me dar uma mão aqui? – Disse sorrindo.

Os dois foram imediatamente ajuda-la á subir.

Um pouco distante deles, os jovens Eva e Steve conversavam discretamente.

A garota parecia nervosa, de braços cruzados, dava batidas leves com seu pé no chão.

— Tenho claustrofobia. – Sussurrou para Steve.

A cara do Cowboy demonstrou surpresa.

— Isto é sério? Tu nunca me disse nada sobre isso! – Colocou as mãos na cintura, indignado.

— É que... eu tenho vergonha de falar. – Eva se sentiu constrangida.

— Tu tinhas que ter falado isso quando Marcos perguntou. – Franziu as sobrancelhas. – Cê sabe que se tu não conseguir, a hora de voltar é agora.

A menina do interior ficou pensativa por alguns segundos.

O cowboy aguardou a resposta.

— Eu vou. – Falou firme, mas sua expressão facial demonstrava medo.

— Tem certeza disso? E se tu não aguentar? – Perguntou tirando o chapéu.

— Cala a boca idiota, vou conseguir.

Eva rolou os olhos para o duto e ninguém mais estava por perto.

Todos já tinham entrado.

Uma voz surgiu da estrutura:

— Cês vão vir ou vão ficar de papo furado ai? – Era de seu pai.

Ambos começaram a caminhar até o duto.

— FICAMOS PRA TRÁS. – Disse Eva com um tom de apreensão, colocando a mão no peito.

— Vai ficar tudo bem. – Consolou Steve.

Ao passarem pelos vasos de plantas, Steve se aproximou do duto de ventilação, olhou por dentro e percebeu que ninguém mais estava lá.

— Vamos logo, acho que eles pensaram que a gente desistiu de ir junto. – Mostrou o duto com as mãos. – Primeiro as damas.

— Há, há, há! – Eva riu desanimadamente.

A garota passou pelo seu par, indo até o duto.

Roía as unhas constantemente, demonstrando ansiedade.

Segurou as duas mãos pelas bordas e forçou seu corpo para cima, entrando na estrutura.

Antes de ir, avistou a escuridão profunda e o caminho era mais apertado do que pensava.

Ela parou por três segundos.

Vai dar tudo certo, é apenas a merda de um duto de ventilação. (Pensamento de Eva)

— Vamos gata? – Steve colocou a mão costas da namorada.

E então ela começou engatinhar.

Logo atrás dela, Steve a seguia.

— Seria bem melhor se nós tivesse com uma lanterna. – Seguia pra frente sem enxergar nada.

— Ia ser bom se tu fosse mais rápida pra alcançar o resto. – Steve a apressou.

O coração de Eva foi acelerando aos poucos, mas ela mantinha o controle até então.

A dupla estava quase na metade do caminho.

Por um momento, Eva escutou Steve parando de rastejar.

— Steve? – A garota bonita o chamou, olhando para trás.

— Acho, acho que tem sangue por aqui. – Steve se apavorou. – Cê sabe que eu não posso ver ou chegar perto de sangue, eu passo mal pra caramba.

Steve colocou a mão na boca, quase vomitando. O enjoo dele era incontrolável.

Sempre foi fraco com sangue, desde criança.

Eva sentiu suas mãos cheias de sangue, mas esse não era seu problema.

Os sintomas de sua Claustrofobia começaram a aparecer ao mesmo tempo:

A sensação normal virou desconfortável, o coração acelerou exageradamente, a respiração ficou ofegante, a falta de ar também virou um problema, a tontura apareceu e a boca ressecou.

Teve uma crise de surto.

Imaginou-se dentro de uma caixa preta que se fechava aos poucos, a apertando cada vez mais.

A luz no final do duto sumiu e uma parede escura ia rapidamente para a frente de Eva, fechando tudo.

Alucinações.

— VAMOS VOLTAR, VAMOS VOLTAR AGORA. – Eva berrou horrorizada.

— O que houve? – Steve a questionou.

Eva começou a berrar desesperadamente, virou seu corpo para trás, batendo com o de Steve.

Ela agarrou suas mãos e continuou a gritar:

— ME TIRA DESSA PORCARIA DE DUTO.

Seus pés batiam na parte de baixo do duto, fazendo com que a estrutura oscilasse aos poucos.

Steve gritou:

— PARA DE SE MEXER, NÓS VAMOS CAIR.

Eva o ignorou e o empurrou para trás, tentando voltar.

A estrutura bruscamente se partiu ao meio e caiu para baixo na direção diagonal. Os corpos de Eva e Steve giraram e deram uma pirueta no ar, caindo da plataforma.

Ambos berraram de susto.

Eles bateram de costas no chão sangrento de uma das salas cientificas do departamento.

A distância foi pequena, mas o suficiente para se machucarem.

— Droga, droga...

Steve aos poucos foi se levantando, passando as mãos nas próprias costas, sentindo uma intensa dor.

O lugar era iluminado por uma lâmpada.

— Eva, cê tá bem? – Se preocupou, olhando pra ela.

A moça continuou sentada no chão, em posição fetal, se recuperando da claustrofobia.

— Ah não. – Disse Steve após olhar para o baixo.

No chão, ao lado de Eva, um corpo morto mutilado e deformado estava ali, a sala fechada estava com sangue e órgãos espalhados pelas mesas, paredes e porta.

Os objetos ensanguentados daquela sala eram copos de vidros de ciência, máquinas diferentes e objetos como agulhas e seringas acima dos móveis. Também havia armários com portas frágeis, dentro deles tinha remédios.

Steve ficou chocado com o corpo e o sangue, colocou a mão na boca novamente e correu para trás de uma das mesas, vomitando.

Eva continuou sentada, em estado de choque, não demonstrou reação, apenas manteve seus olhos fechados, sem olhar para lugar algum. Ela escutava os sons de Steve vomitando e ao mesmo tempo, escutou passos pesados vindo de trás dela.

Abriu os olhos, se levantou e olhou para trás.

Não acreditou no que viu.

Ela viu uma criatura alta, com roupa de cientista que estava rasgada, pele pálida, olhos esbranquiçados e mãos cobertas por sangue.

Estava bem na sua frente.

O monstro bizarro não fazia nada, apenas a encarava, suas narinas cheiravam alguma coisa.

A garota de touca ficou parada por alguns segundos, assustada, olhou para o lado, Steve ainda estava atrás da mesa vomitando, não sabia o que acontecia.

Deu um passo para trás e o monstro atacou.

Segurou o pescoço da vítima com as duas mãos e a impulsionou para trás, empurrando-a contra a mesa.

Eva caiu encima dos copos de vidro, que se quebraram, causando um estrondo.

Steve escutou e a criatura sufocava Eva com os dedos, ela não reagia ou gritava.

Seu olhar era de pavor.

O monstro pegou um dos cacos de vidro e apontou diretamente no olho esquerdo de Eva.

Se não fizesse nada teria um caco de vidro grudado no olho.

Eva o impediu, segurando seu punho. Mas a aberração gritou, sangue escorreu de sua boca ligeiramente, espirrando no rosto da moça. E depois disso, mordeu seu pulso com seus dentes afiados.

Ela largou o punho do atacador rapidamente, expressando dor.

Steve surgiu atrás do cientista louco, puxou-o para trás, segurando pelo pescoço.

— SEU MONSTRO. – Steve disse fazendo força.

O monstro cientista se contorcia nos braços de Steve, que cada vez mais fazia força para sufoca-lo.

Eva se levantou da mesa com seu rosto coberto por sangue, exceto os olhos.

Ainda em estado de choque, ela observou o namorado matando seu agressor aos poucos com o afixiamento.

— Mate ele. – Eva sussurrou friamente.

As palavras de Eva não foram nem um pouco convenientes, muito menos para Steve, por um segundo, ele se assustou ao ver que ela não estava com medo.

— Eva...

Steve tentou dizer algo, mas parou ao continuar fazendo força com o braço no pescoço do cientista. O monstro parou de se contorcer, morrendo pelo sufocamento.

Steve o largou.

Eva ainda olhava para a criatura com o rosto coberto de sangue, séria.

Seu comportamento era estranho, muito estranho...

— O que aconteceu contigo? – Perguntou Steve, espantado.

***

França, Paris

00h50min AM

A floresta de Sharwood era uma das mais conhecidas de Paris, embora ninguém entrasse nela, pelo fato da mata ser bastante fechada por dentro e pelos galhos de árvores que eram cortantes. Não ficava totalmente longe do comércio, ao lado direito tinha uma grande estação de trem, bem movimentada pela população francesa. Já no lado esquerdo, eram as ruas onde as lojas e restaurantes caros predominavam.

Entre as inúmeras árvores da floresta, na escuridão da noite, os galhos eram esbarrados por um homem sozinho, de altura média, cabelo comprido, pele branca e cheio de tatuagens da cabeça aos pés, chamativas correntes de ouro esbanjavam o seu pescoço.

Em suas mãos tatuadas e suadas, segurava uma potente submetralhadora, onde disparava as balas a todo lugar onde passava. As balas perfuravam os troncos das árvores e destruía os galhos, o barulho era absurdo de alto.

Charlie Thompson era o principal terrorista mandado por Helena Stanford. Ele e mais três parceiros estavam naquela floresta com o mesmo objetivo: Capturar Mohammed e entregar ele vivo á sua chefe.

— CADE VOCÊS, SEUS FILHOS DA MÃE? – O tatuado gritou furiosamente, chamando por seus companheiros.

Parou de atirar, não ouviu ninguém. Posicionou-se em frente á uma árvore próxima, com uma de suas mãos sacou um celular de seu bolso, digitou rapidamente o número e esperou a pessoa do outro lado da linha atender a ligação.

Mohammed observava tudo silenciosamente acima de um galho resistente no topo da mesma árvore, agachado, segurava outros galhos finos e sensíveis com as duas mãos para se equilibrar.

Aquela era a hora perfeita para pular.

O agente árabe saltou sorrateiramente do galho em direção á Charlie, onde acertou os pés nos ombros do terrorista.

— MERDA! – Gritou antes de cair no chão.

Charlie apertou no gatilho da submetralhadora, mas as balas saíram em vão, acertando outras árvores do local.

A submetralhadora caiu de sua mão.

Mesmo com dificuldades, Mohammed imobilizou Charlie pelas suas costas.

O outro tentava se soltar.

— EU VOU MATAR VOCÊ, ESTÁ ME OUVINDO? SEU ÁRABE FERRADO FILHO DA MÃE – Ameaçou com raiva.

Mohammed estava por cima das costas de Charlie, onde o prendia com os braços e pernas.

Repentinamente ele segurou a cabeça do oponente e começou a golpear contra a terra barrosa do chão. Fez isso cinco vezes até Charlie desmaiar.

Levantou-se, colocou as mãos na cintura e começou a respirar lentamente, demonstrando cansaço. Mohammed segurou o desmaiado pelos pés e começou a puxa-lo para as profundidades da floresta de Sharwood.

O corpo de Charlie era arrastado sobre as raízes das árvores e sobre o barro úmido da superfície.

Após passar por alguns arbustos, Mohammed achou um valão de terra bastante alto.

Lá embaixo, outros três homens também estavam jogados por ali, desacordados. As roupas deles eram parecidas com a de Charlie.

Eram seus parceiros.

Mohammed arrumou o desacordado na extremidade do valão e o empurrou com seu pé, fazendo seu corpo rolar do precipício.

Charlie caiu rapidamente encima dos outros.

Finalmente o espião tinha terminado com seus perseguidores da floresta.

Depois disso, a primeira coisa que pensou foi avisar a seus colegas da O.S.E que seu disfarce tinha sido descoberto e chamar uma equipe de resgate para o levar de volta até a base.

Entretanto, lembrou-se de quando seu chefe, Michel Bryans, afirmou que tinha altas chances de ter algum infiltrado trabalhando como funcionário no centro de operações e isso mudava tudo!

E se o traidor descobrisse a posição de Mohammed e informasse aos terroristas? Seria facilmente morto.

E então uma importante decisão foi tomada por Mohammed: Iria sozinho até a O.S.E, sem ajuda qualquer.

Mas ir da França até os Estados Unidos realmente seria um desafio, tinha noção de que Helena Stanford mandaria todos os seus homens até ele.

Logo pensou no lugar mais próximo para fugir rapidamente da floresta de Sharwood.

Foi a estação de trem.

***

O.S.E

5h30min AM

A pista de aeronaves e helicópteros da O.S.E é um dos locais mais movimentados de lá, vários helicópteros aterrissavam na pista larga de pouso.

Existia apenas outro tipo de aeronave sem ser o helicóptero comum, os aviões eram chamados de “Aeroataque”. O significado do nome é que, eles eram tanto para se locomover com segurança de um lugar para o outro, ou tanto para atacar bases inimigas que seriam ameaças.

Um Aeroataque se aproximava da pista de pouso, o avião era de tamanho médio, entretanto, o número máximo de passageiros era de dez pessoas. Ele era branco, mas bastante discreto, tinha as pequenas siglas da O.S.E escritas no canto da aeronave.

A loira de coque caminhava sozinha sobre a pista área, em uma parte segura, seus cabelos eram bagunçados pelo vento forte do lugar aberto. A supervisora Ashley May esperou o Aeroataque aterrissar em chão firme, aguardando os passageiros de dentro.

Após pousar normalmente, Ashley se aproximou da traseira do avião.

A parede traseira do avião foi aberta, revelando ser uma rampa que descia até o solo, era ali onde os passageiros sairiam do Aeroataque.

O rapaz cabeludo surgiu no topo da rampa. Mike Pitterson sorriu após ver sua colega.

— Mike, que bom que está de volta! – Ela sorriu também, enquanto Mike descia da rampa.

Ambos se cumprimentaram com as mãos.

Atrás de Mike, também descendo da rampa, vinha uma cama de hospital, onde tinha um homem com graves ferimentos, sangue jorrava de sua barriga. A cama era controlada por dois médicos e dois agentes armados.

Ashley ficou abismada ao ver o homem hospitalizado.

— É o agente Ian? – Ela apontou pra cama.

— Não, não, não. Um grupo de terroristas nos atacou na cidade do México, felizmente conseguimos conter a situação, mas esse foi o único terrorista que ainda está vivo, estamos torcendo para ele nos revelar pra quem está trabalhando, ele levou um tiro na barriga. – Contou. – Os agentes Ian e Charlotte tiveram ferimentos leves, mas preferiram ficar no hospital do México para ver se não aconteceu nada grave, provavelmente voltarão á noite.

Mike e Ashley começaram a caminhar em direção ao departamento da O.S.E, as luzes da pista iluminavam o caminho, enquanto os médicos levavam a cama, seguindo eles.

— E quanto a família do assassino? – Ashley o questionou.

— Eles simplesmente desapareceram. – Mike ficou inconformado.

***

Austrália

00h50min AM

O trailer dos Bartzen era antigo, porém, bem conservado pela família. O automóvel era estreito, mas comprido. Constituído por três partes:

Três degraus que levavam á entrada do trailer, no lado direito era á sua frente, tinha os bancos de motorista e do acompanhante.

Para o outro lado, um corredor bastante estreito, apenas uma pessoa por vez podia passar por ali, nas laterais havia dois sofás parcialmente confortáveis, eram bons para dormir.

E no final do trailer, tinha a pequena cozinha, uma mesa de madeira com cadeiras e um frigobar, mais para o fundo, tinha todo o estoque de enlatados da família Bartzen, aquilo duraria por mais ou menos um mês.

Enrolado sobre um cobertor quente no sofá, Drake Jacob se revirava de um lado para o outro, inquieto. Nos seus pensamentos, o garoto pensava como estaria sendo dentro do departamento de experimentos, ele queria ir junto com sua irmã, até porque gostava de aventuras e desafios.

Não conseguia dormir, até que, desistiu de tentar, ele se desenrolou do cobertor e o jogou no sofá.

Estranhamente, ele não ouvia as vozes ou movimentos de Kate e Ezequiel na frente do trailer, então ficou curioso, resolveu se levantar e caminhar silenciosamente até lá.

Após passar pelo corredor, chegou ao banco de motoristas e teve uma surpresa: O casal não estava mais ali.

Mas ele começou a escutar as vozes do casal no lado de fora do trailer, escorou a cabeça na porta e começou a ouvir.

— Nós não podemos fazer isso agora Kate! Temos que esperar – A voz de Ezequiel demonstrava nervosismo.

— Tem que ser agora, todos estão longe daqui, me ouça, eu estou certa e você sabe disso. – A voz de Kate parecia ser confiante.

— Mas e quanto ao garoto? – Ele se referia a Drake.

Neste momento, Drake arregalou os olhos e ficou interessado pelo assunto.

Porque esses infelizes estão falando de mim? – Pensamento de Drake.

Kate soltou as seguintes palavras de sua boca e isso fez com que o corpo de Drake se arrepiasse.

— Nós podemos chutar ele pra fora do trailer.

— Você tá maluca Kate? Ele é só uma criança. – Ezequiel confrontou.

— Certo, iremos esperar mais por esse momento, mas não podemos demorar por mais dias, eu não suporto escutar a voz daqueles caipiras. – Kate reclamou.

— Tá, tá, vamos entrar pro trailer antes que o pivete escute a gente.

Drake retirou as orelhas da porta e correu silenciosamente até a cama, se enrolando no cobertor novamente.

A porta do trailer foi aberta pelo casal e eles sentaram nos bancos da frente, descansando.

Se Drake já não gostava de Kate e Ezequiel antes, imagina agora.

Ele sabia que o casal estava aprontando alguma coisa e ele iria descobrir, mesmo com medo deles.

***

O.S.E

8h00min AM

O cômodo de descanso da O.S.E é uma parte da base onde os agentes param para relaxar e obviamente descansar. O lugar era parecido com uma cafeteria por dentro, com várias mesas e cadeiras, além disso, tinha máquinas de café e alguns petiscos sobre uma mesa central.

Enquanto alguns agentes descansavam ou faziam suas refeições nas mesas, uma agente de tamanho pequeno e de cabelos negros entrou no lugar.

Anna Pitterson foi diretamente até a mesa central, onde pegaria seu café. Ela depositou o dinheiro na máquina e colocou o copo em baixo do filtro.

Mas foi interrompida quando uma voz conhecida gritou dentro do lugar:

— ANNA! – Ela sentiu seu braço sendo puxado para trás.

A jovem ficou cara-a-cara com seu primo, Mike Pitterson, ela teve que erguer o pescoço para ver os olhos do rapaz.

Ele parecia extremamente zangado.

Todos os agentes do local ouviram o grito e começaram a olhar para os dois.

Anna se sentiu incomodada e falou:

— Você precisa de alguma coisa, bobão? – Disse braba. – Estão todos olhando para a gente.

— Dane-se. – Ele não ligou. – EU JÁ FALEI MILHÕES DE VEZES PRA PARAR DE FICAR MEXENDO NAS MINHAS COISAS.

Anna ficou ainda mais incomodada quando Mike levantou o tom da voz.

— Acho que você é um doente. – Ela riu. – Eu não mexi nas suas coisas, apenas fiquei monitorando a sua sala como você pediu.

— ENTÃO ME EXPLIQUE PORQUE MINHAS GAVETAS ESTÃO BAGUNÇADAS E OS OBJETOS FORA DO LUGAR? – Ele disse alto novamente.

Os olhos dos outros agentes continuaram focados na discussão no meio do refeitório.

Anna fez uma cara de desentendida e pegou seu copo de café.

— Quem bagunça o seu escritório é você mesmo... – Ela saiu da frente de Mike e começou a caminhar em direção a saída, tomando a bebida. – Agora me dê licença, tenho coisas importantes para fazer.

Mike tinha um ódio incontrolável de Anna, sempre se sentia irritado quando ela estava por perto.

Os funcionários das mesas pararam de olhar e continuaram a fazer suas refeições, exceto um deles.

— É sua irmã? – A voz vinha de um dos agentes sentado em uma mesa próxima.

Mike olhou para o rapaz, era Jefferson dos Santos.

— Minha prima idiota. – Ele se aproximou da mesa. – Você é Jefferson, não é?

O doutor deu uma risada sarcástica e respondeu:

— Qual é cara, não se lembra de mim não? Fui aquele que vocês eletrocutaram na sala de interrogamento.

Mesmo sendo errado, Mike deu uma risada, mas logo depois disfarçou. Ele puxou a cadeira e se sentou na mesma mesa do médico.

— Você veio da O.C.T, o que ainda faz aqui? – Ficou curioso.

Jefferson fechou o sorriso e fez uma cara deprimente.

— O desgraçado do seu superior, Michel Bryans, convenceu o meu chefe á me deixar aqui na maldita base de vocês. – Ele tirou uma pequena garrafa de uísque debaixo da mesa, junto com uma taça.

 - Por quê? – Mike questionou de sobrancelhas erguidas.

 - Mesmo eu não sendo o traidor, ele me considera uma possível ameaça até não encontrarem a pessoa que armou pro meu lado. – Ele despejou o uísque sobre a taça.

Tomou um gole de uísque e continuou a falar:

— Ou seja, vou ficar aqui, sem fazer nada, um verdadeiro inútil. – Ficou brabo.

— Fala português? – A pergunta de Mike soou em fora de momento.

— Porque quer saber? – Jefferson se sentiu surpreso.

— Vi que você nasceu no Brasil. Ainda consegue falar no idioma?

— Bem, claro que sim, eu vivi lá por dezoito anos. – Ele franziu os olhos. – Cara, porque você tá me perguntando isso?

— Venha comigo, você será útil pra uma coisa.

Mike se levantou, puxou Jefferson pelo braço e os dois começaram a caminhar até as escadas onde levaria ao escritório de Michel Bryans.

***

00h50min AM

A porta do corredor se abria aos poucos.

Steve Jensen verificava se havia alguém pelos arredores.

Olhou para os dois lados do corredor e não avistou ninguém.

O caipira saiu da porta, voltando para a sala.

Ele encarou Eva, que estava sentada no canto do local.

A garota não estava mais com o rosto coberto com sangue, mas mesmo assim era possível ver pequenas marcas que não saíram.

Com as pernas encolhidas e a cabeça abaixada, os olhos de Eva ainda se mantinham fixos no defunto entre as mesas.

Steve se aproximou da namorada e ficou de joelhos.

— Tu não tá bem. – Ele colocou a mão no ombro dela.

Desta vez, Eva o encarou, mas com um olhar diferente.

— Já te disse que eu to bem. – O tom da voz era baixo.

— Cê foi mordida Eva. – Ele apontou para o seu pulso. – Já imaginou se isso é contagioso?

— Dá onde tu não entendeu que eu não to sentindo nada, só foi uma mordida.

Ela abaixou a manga de sua camisa preta, mostrando a mordida, notavelmente a profundidade do ferimento não foi grande, mas mesmo assim, era possível ver as marcas de dentes do homem.

Steve virou sua cabeça, olhando para o cientista morto.

— Ele era um cientista, vi o crachá dele. – Ele mostrou o crachá para Eva. – Como ele foi se transformar nessa aberração...

Eva se levantou rapidamente e disse:

— Ele ficou que nem a minha mãe, eu pude ver nos seus olhos esbranquiçados. – Ela se aproximou da porta de saída. - Seja lá o que aconteceu, afetou os dois.

Steve também foi até a porta.

A namorada o perguntou:

— Cê acha que tem mais desses monstros por aqui?

— Isto é mais do que provável. – Ele abriu a porta. – Temos que encontrar os outros antes que seja tarde.

— E as armas? – Ela segurou o seu braço, o impedindo de sair.

— Tavam na mochila da menina loira. – Fez uma cara de abalado. – Mas ainda sim podemos fugir e correr.

Eva acenou com a cabeça positivamente.

Os dois saíram da sala e entraram no curto corredor.

— Pra qual lado? – Perguntou Eva.

— Direita sempre! – Ele foi na frente, enquanto Eva o seguia.

Eles não corriam, mas o passo era apressado, também cuidavam pra não fazer barulho.

Encontraram uma porta dupla e a abriram com cuidado.

Chegaram no Hall de Entrada, o local estava bagunçado, os vasos de plantas destruídos, sangues nas paredes e as poltronas azuis estavam caídas.

Eles pararam de caminhar ao verem tudo isso.

— Parece que aconteceu uma luta aqui. – Sussurrou Eva.

Também tinha um balcão normal para atendimento, não tinha ninguém ali, apenas uns objetos jogados sobre a mesa.

Além dos objetos quebrados, avistaram a mesma porta de saída que tinham visto anteriormente ao chegarem à base.

As paredes eram esverdeadas

Mais para o fundo, perto de alguns elevadores, tinha uma escadaria que levava ao segundo andar, havia cinco pessoas mortas espalhadas pelos degraus.

Eva apontou para lá e disse:

— Pessoas mortas!

— Ah merda. – Steve preferiu não olhar.

Eva segurou as duas mãos de Steve, fazendo com que ele ficasse na sua frente.

— O que houve? – Perguntou Steve, confuso.

— Me promete que não vai contar pros outros que eu fui mordida. – Ela suavemente mordeu os próprios lábios e seu comportamento era estranho.

— Tu tá doida? É claro que temos que contar. – Steve ficou indignado. – E se tu começar a se transformar que nem aqueles monstros, o que eu vou fazer?

Eva suspirou, como se estivesse perdendo a paciência.

— Deixa de ser trouxa, isso aqui não é The Walking Dead.

Steve ignorou o comentário e disse:

— Esse não é o momento pra nós discutir sobre isso. – Ele saiu de sua frente, caminhando no Hall.

— Apenas me prometa. – Ela insistia, o seguindo.

— Essa não é uma boa ideia. – A atenção de Steve foi para o balcão. – Um telefone!

Um telefone fixo estava posicionado sobre o balcão.

Eva correu, chegando na frente do objeto, tirou-o do gancho e o colocou no seu ouvido.

— Que merda, tá fora de área. – Ela jogou o telefone no balcão com raiva, causando um estrondo.

— Para de fazer barulho. – Steve continuava andando pelo Hall.

O cowboy avistou outro corredor, desta vez mais longo, no lado dos elevadores e decidiu dar uma verificada para ver se encontrava os outros.

Antes de ir até o corredor, Steve teve uma surpresa: A porta de um dos elevadores foi se abrindo e sons de gritos podiam ser ouvidos.

Várias criaturas bizarras e insanas estavam dentro do elevador, eram cientistas.

— CORRE EVA, CORRE!

***

1h00min AM

—Eva_

Eu fiquei com tanta raiva que arremessei o telefone de volta no balcão. Nem sei porque fiz aquilo, simplesmente me deu vontade.

O Steve, que estava um pouco longe de mim, pediu pra eu parar de fazer barulho.

Eu espero que, sinceramente, ele não conte para o resto do grupo que aquele monstro bizarro me mordeu. Não quero que ninguém pense que vou virar uma daquelas coisas.

Até então, foi apenas uma mordida, não sinto nada de diferente até agora.

Mesmo sabendo que seria inútil, continuei a fuçar nos objetos do balcão. Encontrei alguns cadernos, jornais, revistas, canetas, nenhuma droga que fosse importante.

De um segundo para o outro, comecei a ouvir vários gritos na minha direita, me assustei e olhei para o mesmo lado.

Eu vi o Steve paralisado perto dos elevadores.

Percebi que um deles começou a se abrir.

Não fui idiota a ponto de esperar a porta se abrir completamente pra descobrir que os gritos vinham dali e que provavelmente tinha monstros como aquele cientista que me atacou.

Comecei a correr pelo mesmo percurso que nós tínhamos entrado no Hall. Meu coração começou bater mais forte e senti minha ansiedade voltando.

Eu ouvi o som do elevador se abrindo e ao mesmo tempo escutei o Steve gritando algo como: Corre Eva!

O retardado pensou que eu já não estava correndo.

Avistei a porta dupla a alguns metros de distância, estiquei meus braços com a intenção de abri-la rapidamente e foi o que aconteceu.

Deixei a porta aberta pro Steve conseguir correr sem se atrasar, eu não escutei seus passos atrás de mim e isso me deixou com preocupação.

Continuei correndo como se não houvesse amanhã, aumentei minha velocidade, eu sentia as minhas pernas tremendo mesmo correndo. O nervosismo tomou conta de mim.

Eu ignorei as portas laterais do corredor, não adiantaria nada me trancar, aqueles monstros com certeza iriam derrubar a porta.

A única coisa que pensei é a onde tava o meu pai e os outros idiotas do grupo.

Esse departamento não é nem um pouco seguro

Tive que dobrar no corredor.

Tava indo tão rapidamente que tive que apoiar minha mão na parede pra não me desequilibrar.

Minha velocidade desacelerou, um cansaço tomou conta dos meus pés.

Avistei outra porta dupla no final do corredor e me surpreendi ao ver que o Garry estava posicionado na frente dela, sozinho, sem ninguém junto.

Ele segurava um machado que eu nunca tinha visto nos equipamentos de armas. Acho que consegui ver sangue e órgãos de alguém no objeto.

Eu tinha certeza que ele assassinou alguém com aquilo.

Mesmo a alguns metros de distância, gritei alto:

 - ONDE ESTÃO OS OUTROS?

Sem me responder, repentinamente, o cara de boné azul entrou pela porta dupla e ele simplesmente a fechou.

O idiota tinha me visto e ele trancou a porta.

***

01h00min AM

—Steve_

Eu nunca senti tanto medo na minha vida ao ver várias daquelas pessoas doentes surgindo do elevador.

Eu tentei correr, mas as minhas pernas ficaram paralisadas por alguns segundos até eu enxergar que um deles carregava um facão de cozinha.

O monstro parecia ser um cientista e era ele quem estava na frente dos grupo.

Consegui contar pelo menos uns oito.

Finalmente consegui correr. Comecei a gritar pra Eva ser rápida, mas eu não a avistei, provavelmente já tinha fugido a alguns segundos atrás.

Quase tive um ataque cardíaco quando eu vi aquela faca de cozinha voando perto de mim, passou perto do meu braço e cravou na parede esverdeada do local.

Corri até a porta dupla que já estava aberta.

Avistei a minha namorada dobrando no final do corredor, ficando fora da minha vista.

Quando eu passei pela porta, me virei pra fecha-la.

Um dos monstros estava mais rápido, longe dos outros.

Fechei a porta e vi a criatura batendo de cara no outro lado porta.

Eu estranhei, se ela simplesmente tivesse usado as mãos para abrir a porta eu seria pego.

Continuei a correr e um enorme medo de morrer crescia dentro de mim.

Estava na metade no corredor e ouvi as criaturas gritando e batendo na porta, não ouvi o ruído, que significou que os cientistas não tinham a aberto.

Tomei coragem, parei e olhei para trás.

As aberrações não usavam as mãos para segurar e empurrar a entrada, eles simplesmente batiam para tentar entrar.

Eles não pensavam.

Eu levei um susto quando a força dos monstros fez a porta se quebrar, liberando a entrada.

Aos berros, eles começaram a correr insanamente na minha direção.

***

O.S.E

8h20 AM

No escritório do diretor havia seis pessoas:

Michel Bryans e Mike Pitterson estavam pertos das paredes de vidro laterais, as pessoas que trabalhavam no lugar principal dos computadores poderiam vê-los. O chefe da O.S.E estava de braços cruzados e parecia estar receoso. Já Mike, com as mãos na cintura, transbordava confiança em sua face.

Dois seguranças inexpressivos estavam posicionados na seguinte forma: O de camiseta branca, ao lado direito de uma cadeira ocupada e o de camiseta preta, ao lado esquerdo.

Na cadeira em frente da mesa, Matheus Bittencourt, o suposto terrorista de origem brasileira que tentou assassinar os agentes na cidade do México, sua aparência era normal e civilizada para um criminoso. Calmo e tranquilo, o fato de ter sido capturado pela O.S.E não era nenhum problema para ele.

No outro lado da mesa, o doutor Jefferson dos Santos, estava na sala com o objetivo de traduzir as palavras do Brasileiro. A ideia foi do Mike, mesmo o chefe não concordando muito, era a melhor opção no momento, já que o tradutor mais próximo demoraria horas á chegar na base.

— Pode começar. – Mike permitiu para Jefferson.

O doutor fez uma cara arrogante para o terrorista e disse várias palavras em português.

Michel e Mike não entenderam nada.

Matheus Bittencourt o respondeu com uma frase curta.

— Eu perguntei se sabia o que aconteceu com a família de Eugene Almeida. – A cara do doutor era preocupante. – Ele respondeu que estão mortos e que ele foi o assassino.

Os seguranças se entreolharam indignados com a confissão.

Mike colocou a mão na boca, espantado.

O chefe, surpreendido, disse ao doutor continuar.

Jefferson perguntou em português novamente.

E rapidamente, Matheus o respondeu, sem pensar.

— Segundo ele, não importa o que vocês façam, ele irá responder as perguntas apenas na hora certa.

— E qual será a hora certa? – Perguntou Mike.

Jefferson perguntou a mesma frase de Mike.

Desta vez, o criminoso demorou uns segundos para responder.

— Ele disse que vocês saberão. – O doutor fez uma cara de confuso.

Depois de suas palavras, Michel surtou, inesperadamente empurrou e jogou a mesa central para o lado e ficou na frente de Matheus.

Começou a o chacoalhar pelos braços, gritando:

— O que vocês querem de nós, ME DIGA O QUE VOCÊS QUEREM DE NÓS!

Todos se assustaram com a postura do diretor, exceto Matheus, que deu uma risada irônica.

Nenhuma de suas perguntas foram respondidas.

***

10h30 PM

No banheiro da base, apenas Ashley estava no cômodo.

Ela conversava no celular, andando de um lado pro outro.

A pessoa no outro lado da linha era alguém bastante próximo.

— Eu estou com saudades – Disse a voz masculina com intimidade.

— Também estou, James. – Ashley falava como se fosse importante. – E os nossos filhos?

— Estão brincando no pátio, também sentem a sua falta. – Disse James.

Os olhos de Ashley se encheram de lágrimas.

— Eu sei, eu sei... - Engoliu seco. – O trabalho, eu tenho trabalhado tanto James, sei que não tenho dado tanta atenção pra vocês, mas a minha carreira é a forma que tem para sustentar os nossos filhos.

— Daqui a dois dias, você entra em férias e podemos nos ver novamente. – Sua voz era eletrizante.

Ashley se sentiu mal ao ouvir suas palavras.

Teve que falar a verdade:

— E-eu não posso entrar em férias James, temos muitas coisas importantes para resolver aqui, eles precisam de mim...

Cinco segundos de silêncio se passaram.

Ashley esperou ouvir a reação do marido, mas a ligação foi encerrada.

E foi aí que ela entrou aos prantos lentamente. Colocou a mão no rosto pra tentar disfarçar as lágrimas.

Além de ser a coisa mais importante de sua vida, a família dela era sua única fraqueza.

***

Austrália

00h20min AM

— Cês vão vir ou vão ficar de papo furado ai? – Carlos gritou na direção do duto, chamando pelos outros dois jovens.

Carlos, Garry, Marcos e Alice já estavam dentro da base.  Eles estavam esperando Steve e Eva á algum tempo.

O lugar onde estavam era um pequeno corredor largo.

O aspecto era velho e rústico, poeira e teias de aranhas predominavam esta parte do departamento.

Na parede lateral, a primeira coisa a se perceber era uma porta de emergência vermelha.

Várias portas marrons de madeira também foram vistas, janelas de vidro também.

Garry, com sua espingarda, foi até a saída de emergência e a abriu.

— Caso algo der errado, vamos fugir por este caminho – Ele apontou para uma escadaria no lado de fora, onde levava ao primeiro andar.

— Estamos no segundo andar da base. – Informou Marcos, olhando o trailer dos Bartzen pela janela.

Ele carregava nas mãos o mesmo bastão de beisebol.

Marcos e Garry começaram a caminhar, verificando se era seguro.

Ambos apontavam suas armas para frente.

Carlos ainda esperava na frente do duto.

— Senhor Carlos, acho que eles desistiram. – Disse Alice, se aproximando do velho. – Venha comigo, não podemos nos separar do grupo.

— É, tu tens razão. – Concordou.

Eles deram uma curta corrida para se aproximar dos outros dois.

Garry se atreveu a falar a seguinte frase:

— Vocês viram, não é? – Garry olhou para trás, focando nos olhos de Alice. – Este departamento está vazio, os cientistas daqui provavelmente fugiram quando o surto dos monstros começou.

— Bem, meu pai disse que em situações como essa, as forças armadas viriam diretamente pra cá. – Respondeu Alice.

— Você está com falsas esperanças. – Garry disse, enquanto ajeitava a espingarda nas mãos.

Alice fechou os olhos e se segurou para não responder de forma grossa.

— Dá pras criancinhas pararem com essa briga tosca? – Pediu Marcos.

O assunto se encerrou quando o quarteto avistou duas passagens escuras em frente deles.

— Dois caminhos. – Carlos contraiu a boca.

As duas passagens mostravam escuridão, ou seja, sem iluminação alguma.

— Tá na hora de nos separarmos. – Marcos olhou pra todos.

— Acha mesmo que isso é uma boa ideia? – Alice perguntou em um tom de desaprovação.

— Eu e Garry vamos pela direita, enquanto vocês dois vão pela esquerda.

Alice arregalou os olhos, indignada.

Logicamente ela queria ficar junto com Marcos, porque ele era o único em quem confiava.

— Tá mais e se alguma coisa ruim acontecer? – O velho perguntou olhando para o líder.

— Comecem a correr e vão para a saída de emergência, entrem no trailer e fujam. – Marcos se aproximou da passagem direita.

— Mas e quanto á vocês? – Perguntou a loira, angustiada.

— Alice, nós vamos ficar bem. – Tranquilizou.

Neste instante, Garry arremessou a espingarda em direção aos dois.

Carlos pegou a arma no ar.

— Vocês vão precisar. – Garry pegou um machado da mochila preta que estava no chão.

E então, Garry e Marcos entraram pela passagem direita, desaparecendo aos poucos na escuridão.

Carlos deu três passos á frente, olhou para trás e disse:

— Vamos, jovem? – Perguntou para Alice.

— Claro. – Ela se juntou á Carlos.

Lado a lado, o senhor de idade e a garota jovem começaram a caminhar pela escuridão.

Ela agarrava no braço dele, enquanto o idoso apontava a arma pra frente.

Os dois não conseguiam ver nada.

A mão de Alice tremia no braço do senhor.

— Está com medo? – Perguntou, ainda caminhando.

— Um pouco, é que, sinceramente senhor Carlos, depois do que eu presenciei é difícil continuar vivendo. – Alice soltou um suspiro de tristeza.

— Perdi a minha esposa, mas acredito em que Jesus fará nós sairmos dessa situação, acredito em que o resgate chegará. – Disse em tom de esperança.

— Então o senhor acredita em Jesus? Vi a cruz no seu pescoço - Ela balançava seu colar dourado.

— Sempre acreditei, desde criança. Além de fazendeiro eu sou padre. – Ele sorriu para Alice, mesmo sem ela ver. – E quanto ocê minha jovem? Acredita em Jesus?

Alice pensou um pouco antes de responder.

— Pra falar a verdade, não. Eu acho que se Jesus existisse, coisas ruins não aconteceriam com pessoas boas. – Contou sua opinião, expressando sinceridade.

— Talvez eu te faça acreditar em Jesus algum dia. – Ele deu uma risada. – Também vi um colar dourado em seu pescoço, o que ele significa pra ocê?

— Significa que eu ainda tenho um pingo de esperança. – Ela sorriu. – Meu pai me deu á um dia antes do surto se iniciar.

— Pela foto, teus pais pareciam ser pessoas do bem.

— Eles eram.

A escuridão finalmente terminou e eles conseguiram enxergar novamente.

Avistaram alguns elevadores e uma escada que levava ao primeiro e terceiro andar.

Além disso, no centro do lugar, havia mesas e cadeiras e alguns objetos para experimentos científicos.

Ao lado dessas mesas, tinha uma bancada velha que cercava um computador moderno, porém desligado.

Supostamente uma área para atendimento, onde trabalhariam os secretários.

— Será que o computador funciona? – Alice se aproximou da bancada.

— Tome cuidado. – Carlos Alertou.

Os dois ouviram uma voz masculina que surgiu de baixo da bancada:

— QUEM ESTÁ AÍ? – Perguntou a voz.

Alice deu um pulo de susto ao se aproximar e ver um homem negro de aproximadamente quarenta anos, escorado com as costas sobre a bancada pelo lado de dentro.

Parecia estar machucado, o rosto estava arranhado e o corpo sangrava.

Seu uniforme era parecido com a de um agente de campo.

O crachá entregava que o nome dele era Robert Jonhson, abaixo do nome estava escrito agente das forças armadas.

— Graças a deus, pessoas sem serem aqueles monstros. – Disse o homem ferido.

Alice e Carlos se aproximaram ainda mais.

Alice se agachou, ficando na altura do agente das forças armadas.

— Quem é você? O que aconteceu nesse lugar? - Ela perguntou, observando os ferimentos.

— Meu nome é Robert Johnson, sou um agente das forças armadas, eu e minha equipe viemos até esse departamento para questionar aos cientistas se eles tinham noção do que estava acontecendo na Austrália...

Antes de continuar a frase, ele tossiu com dor.

Alice percebeu que ele estava gravemente ferido.

— Quem fez isso com você?

— Quando chegamos nesse departamento, tinha cientistas matando uns aos outros, como animais ferozes sem remorsos. – Ele tossiu novamente e continuou a falar com dificuldades. – Nós tentamos salvar a maioria, mas eles já estavam mortos, levamos a maioria dos corpos até um lugar do departamento, mas... mas...

Robert começou a perder a consciência aos poucos.

Alice não podia o deixar desmaiar.

— Robert! Robert! – Ela mexia no seu ombro. – Acorda!

— Ele tá morrendo. – Carlos também se agachou, olhando para o homem.

Robert conseguiu resistir.

— Eu, eu tenho pouco tempo... – Ele tossia cada vez mais e gemia de dor. – Outras criaturas apareceram e nos atacaram, eu sou o único que está vivo.

Alice olhou para Carlos com preocupação.

Se ainda restava um pingo de esperança nela, já havia acabado.

— Mas o resgate dos Estados Unidos vai chegar pra nos resgatar, né? – Carlos perguntou com esperanças.

Desta vez, a voz do agente ficou mais trêmula e mais difícil de entender.

— Não faço ideia, des-desculpe. – Revelou o agente.

Carlos bufou, ficando decepcionado.

Alice segurava as lágrimas.

— Vocês te-em que sa-sair desse lugar, a-aqui não é seguro. - Gaguejou

O agente fechava os olhos aos poucos.

Alice se desesperou.

— NÃO MORRA, POR FAVOR! – Ela começou a sacudir o agente pelo corpo, tentando o impedir de morrer. – Você é a nossa única salvação. 

Carlos segurou o braço de Alice.

— Não tem nada que possamos fazer. – O senhor de idade disse a verdade.

Com os olhos fechados, quase morto, Robert disse suas últimas palavras, mas desta vez elas não estavam trêmulas ou difíceis de entender:

— Os franceses... Eles são os culpados.

E logo depois, não disse mais nada, finalmente descansando em paz.

Alice e Carlos se surpreenderam com a confissão.

— Ele disse que os franceses são os culpados, isso tem algum sentido pra você? – Alice o questionou, confusa.

Carlos se levantou e falou:

— Isso pode fazer sentido mais pra frente, agora essa informação é inútil para a gente...

Inesperadamente altos gritos de monstros ecoaram pelo local.

Vinha de trás deles.

Alice ficou de olhos arregalados e Carlos sentiu uma tensão pelo seu corpo

— Vamos, vamos... – Apressou Carlos.

E então os dois começaram a correr rapidamente para o lado oposto dos gritos.

***

1h00min AM

Sangue, sangue e mais sangue.

A sala de espera do departamento tinha sangue por todo o lugar.

Vários corpos mutilados e deformados sobre o chão.

Aquela imagem era terrível de se ver, muitos não aguentariam aquilo.

Marcos e Garry cuidavam para não pisar nos corpos.

Garry tampava o seu nariz, com enjoo.

— Isso é muito horrível. – Ele quase caiu ao tropeçar em um dos corpos.

— Realmente. – Marcos caminhava para a frente.

Garry avistou, no meio dos corpos, um cientista com um machado cravado na cabeça.

Ele se posiciona na frente do corpo e faz força para retirar a arma.

— Isso pode ser necessário.

— Então Garry, você é filho do Carlos? – Marcos perguntou mesmo não sendo o momento mais conveniente para isso.

— Sim, sim, eu sou seis anos mais velho do que a minha irmã, Eva. – Ele avistou sangue e entranhas no machado que carregava e fez uma cara de nojo.

Um estrondo surgiu de dentro de uma das portas do lugar.

Marcos resolveu ir até lá investigar.

— Eu vou ir ver o que tem ali, já alcanço você.

Garry concordou e seguiu em frente, indo para uma porta dupla.

***

—Marcos_

Depois de eu me separar do Garry, eu caminho lentamente em direção á porta marrom que estava entreaberta.

Eu tinha o bastão de beisebol nas mãos e estava pronto para matar se necessário, não tinha medo, estava confiante.

Tentava não pisar naqueles mortos no chão, acho que realmente Garry estava certo sobre esse lugar, todos estão mortos e o resgate não chegou até agora.

Era lógico que eu não poderia dizer essas coisas na frente da Alice, ela tinha perdido os pais e parecia não ter mais fé na vida.

Eu estiquei a minha mão para puxar a maçaneta da porta, mas sons e barulhos altos chamarão a minha atenção.

Olhei para trás e descobri que os sons vinham da mesma porta dupla da onde Garry tinha entrado.

Logo ouvi uma voz feminina gritando “Onde estão os outros”.

Com certeza a voz não era de Alice, pois o tom era diferente, então era daquela outra garota bonita que me esqueci o nome.

Comecei a ir em direção da porta dupla, mas os corpos no chão me atrasaram.

O Garry tinha voltado rapidamente pela porta e a fechou bruscamente.

— OS MONSTROS ESTÃO VINDO. – Ele gritou para mim.

Chego perto da porta e escuto a mesma voz feminina gritando do outro lado da porta:

— ABRE A PORTA, MEU DEUS, ABRE A MERDA DA PORTA. – A voz era desesperadora.

Eu encarei o Garry com tanta raiva e gritei pra ele:

— VOCÊ TÁ MALUCO CARA? – Eu puxei ele para trás. – PORQUE VOCE FECHOU A PORTA?

Quando abri a porta a garota dos lindos olhos castanhos e cabelos escuros passou pela minha frente, esbarrando em mim e correndo para longe em uma velocidade muito rápida.

— CORRE, CORRE! – Ela gritou enquanto tropeçava nos corpos do chão.

Quando olhei pra frente, avistei o namorado dela, correndo na minha direção.

Atrás dele havia vários daqueles monstros horrendos e macabros o perseguindo.

— ME ESPERA POR FAVOR, ME ESPERA. – Gritava sem parar.

TUDO TAVA SENDO TÃO RÁPIDO, OS MONSTROS QUASE ESTAVAM O ALCANÇANDO.

MAS CONSEGUIU CHEGAR ATÉ MIM.

PASSOU PELA PORTA E UM DAQUELES MONSTROS FICOU CARA-A-CARA COMIGO, EU CONSEGUI FECHAR A ENTRADA ANTES QUE ELE ME PEGASSE.

— VAMOS, VAMOS. – Me apressou.

NÓS DOIS COMEÇAMOS A CORRER EM DIREÇÃO AO LUGAR ONDE EU TINHA ENTRADO.

ELE QUASE CAIU NO CHÃO DEPOIS DE TROPEÇAR NOS CORPOS, MAS CONSEGUIU SE EQUILIBRAR.

EU HAVIA PASSADO PELA FRENTE DELE, TOMANDO O CAMINHO.

— CÊ VIU A EVA? – OUVI A VOZ DO RAPAZ ATRÁS DE MIM.

EU TENTEI RESPONDER, MAS QUANDO OLHEI PRA TRÁS AQUELES MONSTROS JÁ TINHAM DERRUBADO A PORTA E AQUILO SÓ ME FEZ DEIXAR MAIS RÁPIDO.

EU E O STEVE ESTAVAMOS LONGE O SUFICIENTE PARA NÃO SERMOS ALCANÇADOS, MAS PERCEBI QUE ELE ESTAVA COM BASTANTE MEDO.

POR INCRÍVEL QUE PAREÇA, EU NÃO SENTIA MEDO OU PAVOR ALGUM, EU SABIA QUE TUDO IA DAR CERTO.

NÓS IRIAMOS FUGIR, MINHA ÚNICA PREOCUPAÇÃO É QUE SE ALGUM MEMBRO DO GRUPO TEVE CONTATO COM ESSAS ABERRAÇÕES.

DOBRAMOS NO CORREDOR E LOGO CHEGAMOS ATÉ AQUELA PASSAGEM ESCURA.

NÓS ENTRAMOS ALI, NÃO TINHA TEMPO PRA PENSAR, OUVIAMOS OS SONS DOS MONSTROS LOGO ATRÁS DA GENTE.

FIQUEI SURPRESO, ALGUÉM TINHA CONSEGUIDO LIGAR AS LUZES.

MAS ME DEPAREI COM A SEGUINTE SITUAÇÃO E TUDO PARECEU FICAR EM CÂMERA LENTA:

GARRY, ESTIRADO SOBRE O CHÃO, GRITAVA DE DOR, APONTANDO PARA O SEU PE, POSSIVELMENTE TINHA TORCIDO ENQUANTO ESTAVA CORRENDO.

MAIS PARA O FUNDO, UM CIENTISTA ATACAVA A GAROTA BONITA CONTRA A PAREDE, ELE SEGURAVA UMA TESOURA E TENTAVA A MATAR.

EU E O STEVE CORREMOS PARA AJUDAR ELA.

MAS PARAMOS QUANDO UM BARULHO DE TIRO ECOOU PELA PASSAGEM.

OLHEI PARA TODOS OS LADOS PARA VER DA ONDE TINHA SAÍDO A BALA.

NO FINAL DA PASSAGEM, LÁ ESTAVA CARLOS BARTZEN, EM SUAS MÃOS TINHA A ESPINGARDA.

O CIENTISTA SAIU DE CIMA DA GAROTA, CAINDO NO CHÃO.

STEVE E CARLOS CORRERAM EM DIREÇÃO Á EVA, PARA CERTIFICAR QUE ELA ESTAVA BEM.

— TEMOS QUE CONTINUAR CORRENDO! – GRITEI PARA OS TRÊS.

OS OLHOS DO TRIO SE FIXARAM PARA A DIREÇÃO ATRÁS DE MIM.

ME VIREI PARA TRÁS E ME DEPAREI COM AQUELE GRUPO DE ABERRAÇÕES VINDO ATÉ MIM, ESTAVAM BEM MAIS PERTO DO QUE ANTES.

EVA, STEVE E O CARLOS SAÍRAM CORRENDO EM DISPARADA.

GARRY, AINDA NO CHÃO, INSISTIU:

— NÃO ME DEIXA SOZINHO AQUI, ME AJUDA. – ELE ESTENDEU O BRAÇO.

APESAR DO GARRY NÃO SER UMA DAS MINHAS PESSOAS FAVORITAS, EU RAPIDAMENTE O PUXO PELA MÃO E APOIO O BRAÇO NO MEU PESCOÇO.

EU NÃO PODERIA O DEIXAR ALI.

E ENTÃO NÓS DOIS CORREMOS O MAIS RÁPIDO QUE PODÍAMOS.

COMO O GARRY TAVA APOIADO EM MIM, NOSSA VELOCIDADE FOI ALTERADA.

EU APENAS ESCUTAVA OS GRITOS DAQUELES MONSTROS CHEGANDO CADA VEZ MAIS PERTO.

NÓS DOBRAMOS PELO CORREDOR E ENCONTRAMOS ALICE, PARADA AO LADO DA PORTA DE EMERGÊNCIA ABERTA.

ELA APONTOU PARA A SAÍDA E DISSE RAPIDAMENTE:

— VAI, VAI, VAI!

PASSAMOS POR ELA E ENTRAMOS NA SAÍDA DE EMERGÊNCIA.

O LUGAR ERA ESTREITO, AS ESCADAS ERAM EM FORMA DE UM CARACOL.

OLHEI PRO LADO EM DIREÇÃO PARA BAIXO E AVISTEI OS OUTROS MEMBROS DO GRUPO QUE CORRIAM PELOS DEGRAUS.

DESCER OS DEGRAUS DAQUELA ESCADA SEGURANDO O GARRY, QUE GEMIA CONSTANTEMENTE DE DOR, ERA UM DESAFIO.

ESCUTEI UM BARULHO DE ESTALO, COMO SE A PORTA DE EMERGÊNCIA TINHA SIDO TRANCADA.

QUANDO FINALMENTE DESCEMOS UM LANCE DAS ESCADAS, DEI UM MOLHADA PARA TRÁS E AVISTEI ALICE NO TOPO DOS DEGRAUS.

— TRANQUEI A PORTA, MAS ELA NÃO VAI DURAR POR MUITO TEMPO. – DISSE ALICE.

QUANDO FALOU AQUILO, ACABOU SE DESCUIDANDO E BATEU COM O PÉ NO DEGRAU.

O CORPO AMEAÇOU A CAIR PARA FRENTE, MAS ELA SE SEGUROU COM AS DUAS MÃOS NO CORRIMÃO.

— HOW!

— VOCÊ TÁ BEM? – PERGUNTEI E OLHEI PRA FRENTE.

— SIM, NÃO ME AJUDE. – ELA GRITOU.

PELA PRIMEIRA VEZ, EU A OBDECI.

DEPOIS DE DESCER 15 DEGRAUS DE ESCADAS, MEUS PÉS COMEÇARAM A DOER E COM CERTEZA OS DO GARRY TAMBÉM.

SENTI O SUOR VOLTANDO PRO MEU CORPO, EU ODIAVA AQUELE CALOR.

EU MANTINHA SEMPRE O MESMO PENSAMENTO: NÓS VAMOS SAIR DESSA, NÓS VAMOS CONSEGUIR.

FINALMENTE OS DEGRAUS TERMINARAM E DEMOS DE CARA COM UMA PORTA VERMELHA ENTREABERTA.

EU A CHUTEI COM A MINHA PERNA, LIBERANDO O CAMINHO PARA FORA DO DEPARTAMENTO.

A SENSAÇÃO DE ALIVIO CONTINUOU A CRESCER AO VER QUE ESTAVAMOS NO LADO DE FORA DO INFERNO DAQUELE LUGAR.

SENTI A GRAMA ALTA BATENDO NA MINHA PERNA E A TERRA ÚMIDA DO CHÃO DEIXOU BARRO NOS MEUS SAPATOS.

EU SIMPLESMENTE ESTAVA EXAUSTO AO TER QUE CARREGAR O FERIDO Á TODO ESSE TEMPO, NÃO AGUENTAVA MAIS.

EU AINDA ESTAVA CORRENDO.

Á ALGUNS METROS DE DISTÂNCIA, EVA, STEVE E CARLOS ESTAVAM NO MEIO DA RUA, OLHAVAM PARA TODOS OS LADOS, CONFUSOS, PROCURANDO POR ALGO.

CARLOS GRITOU:

— O MEU TRAILER SUMIU!

ALICE, QUE ESTAVA TÃO RÁPIDA QUE ME ALCANÇOU, TAMBÉM GRITOU:

— ELE ESTÁ ALI! – APONTOU PRO LADO DIREITO DA ESTRADA.

AVISTEI O TRAILER DOS BARTZEN VINDO NA DIREÇÃO DO TRIO.

NO BANCO DE MOTORISTA E DO PASSAGEIRO ESTAVAM EZEQUIEL E A KATE.

O TRAILER PAROU BRUSCAMENTE, ENQUANTO ALGUÉM ABRIU A PORTA, ERA DRAKE.

— VENHAM! – CHAMOU.

OS TRÊS QUE JÁ ESTAVAM NA ESTRADA ENTRARAM RAPIDAMENTE NA PORTA.

EU AINDA ESTAVA ATRÁS DA ALICE, MEU RITMO PARAVA AOS POUCOS POR CAUSA DO CANSAÇO.

NÓS TINHAMOS COLOCADO O PÉ NA ESTRADA ENQUANTO VÍAMOS ALICE ENTRANDO NO TRAILER.

— VEM, VEM! – CHAMOU ALICE NA PORTA DO TRAILER, DESESPERADA.

APOIEI-ME NO TRAILER E TIREI O BRAÇO DO GARRY DO MEU PESCOÇO.

EMPURREI ELE PARA O LADO DE DENTRO DO AUTOMÓVEL.

DEPOIS DISSO, ALICE ESTICOU A MÃO COM A INTENÇÃO DE SEGURAR A MINHA.

INESPERADAMENTE SENTI DUAS MÃOS PUXANDO OS MEUS OMBROS PARA TRÁS.

CAI DE COSTAS NA SUPERFÍCIE, INDO PRA FORA DO TRAILER.

EU VI AQUELA ABERRAÇÃO TERRÍVEL NA MINHA FRENTE.

***

Carlos Bartzen surgiu na porta do trailer com a espingarda nas mãos, ao lado de Alice Jacob, que berrava desesperada.

Mirou na cabeça da criatura que estava de costas e apertou o gatilho.

O tiro entrou em cheio na cabeça da criatura, matando-a instantaneamente e a fazendo cair.

Alice correu até Marcos, estirado no chão.

— VENHA! – Ela o segurou pelo braço.

Ele se levantou e os dois correram de volta pro lado de dentro do trailer.

Atrás deles, o grupo das aberrações quase entraram pela porta, mas Carlos foi mais rápido, conseguindo bloquear a entrada.

Na frente do trailer, Ezequiel pisou em fundo no acelerador, fazendo com que o automóvel saísse de longe das criaturas aos poucos.

Elas continuavam a bater no automóvel, tentando entrar.

O trailer seguia para longe do departamento, seguindo a estrada.

Momentos de alívio e de descanso.

Dentro do trailer, Alice e Marcos respiravam ofegantemente lado-a-lado, com as costas escoradas na porta.

Drake apareceu correndo e abraçou os dois.

— VOCÊS ESTÃO VIVOS. – Seus olhos brilhavam.

— DRAKE! – Alice ficou feliz. - Nós não morremos, lembra?

Durante o abraço, tanto lágrimas de Alice, Marcos ou Drake caíram de seus olhos.

No sofá, Eva estava escorada sobre o ombro de seu pai, onde não demonstrava reação, nem chorar chorou.

— Tá tudo bem, querida, já passou. – Ele alisava seus cabelos escuros.

No outro sofá, estava Steve, onde rezava para o céu, ainda apavorado.

Sentado na cadeira da cozinha, Garry mexia no seu pé, tentando fazer a dor parar.

Nos bancos da frente, Kate olhava o resto das pessoas pelo retrovisor, enquanto massageava a sua enorme barriga.

A voz de Ezequiel chegou aos ouvidos de todos:

— Pelo visto, não devíamos ter ido até essa base.

***

França, Paris

1h30min AM

Um trem percorria seu caminho normalmente pelos trilhos do chão firme.

O caminho seguia ao lado da floresta de Sharwood, a próxima parada seria um lugar bastante popular na França, bem perto da renomada torre Eiffel.

O trem tinha um tamanho médio, mas bastante comprido.

No terceiro vagão, caminhava Charlie Thompson, o rosto estava arranhado e seu braço doía. Dentro de seu casaco quente escondia a mesma submetralhadora de antes.

Seus olhos vermelhos demonstravam raiva e ódio. Aquele árabe desgraçado tinha matado seus parceiros, que além disso, eram seus companheiros fieis.

Agora Charlie não apenas queria capturar Mohammed e levar para Helena, ele queria mata-lo como vingança.

E se achasse o seu oponente, ninguém iria o parar.

O tatuado esbarrava nas inúmeras pessoas do vagão enquanto conversava no celular.

— EU TO TE DIZENDO CHEFIA! – Falou com raiva. – EU JÁ PROCUREI POR TODO ESSE LIXO DE TREM, O ARABE TÁ AQUI NÃO.

Segundos depois, ele desligou o celular e percebeu que o trem parava em uma estação.

Charlie desistiu de procurar Mohammed.

O trem lentamente foi parando em uma estação que ficava aos arredores da torre Eiffel.

Quando todas as portas se abriram, Charlie passou por uma delas, indo para fora.

Vou achar o desgraçado em outro lugar (Pensamento de Charlie).

Perto da porta, em um dos bancos, um homem de óculos escuros e chapéu na cabeça lia o seu jornal.

Esperou alguns segundos e mostrou sua identidade.

O homem abaixou o jornal, tirou os óculos e o chapéu, revelando ser Mohammed.

Levantou-se do banco e correu pro outro vagão do trem.

Será que Mohammed vai conseguir fugir para os Estados Unidos sem ser pego?

***

O.S.E

11h50min PM

Os agentes da O.S.E trabalhavam normalmente em seus devidos lugares.

No primeiro andar, ou melhor dizendo, no estacionamento é onde todos os carros dos funcionários locais ficavam.

Entretanto, uma caminhonete vermelha estacionada no local não era de um dos agentes.

Estava estacionada perto de uma coluna de concreto, onde informava o as letras e números “C4” e ao lado de outros carros.

Nos bancos da frente, o casal discutia com vozes alteradas.

Ashley e seu marido, James, estavam no carro.

O homem loiro, de 35 anos, expressava fúria.

— VOCÊ VAI TER QUE ESCOLHER, ASHLEY. – Ele bateu com as duas mãos no volante.

— James, isso não é hora pra discutir! – Ela colocou a mão na bochecha do homem, alisando o rosto. – Eu tenho que trabalhar.

As palavras de Ashley fizeram com que o rapaz se irritasse mais ainda.

Ele retirou a mão da bochecha.

A mulher sentiu uma tristeza dentro de si.

James fechou os olhos e tentou tirar toda a raiva que ele sentia.

— Ashley... – O tom da voz ficou com menos raiva. – Eu sei que eu to muito irritado agora, mas já parou pra pensar que o trabalho tá fazendo com que você não dê mais atenção para a nossa família?

Ashley sabia que aquilo era verdade, mas tinha que convencer á James que a O.S.E era importante.

— O meu trabalho ele, ele... – Ela pensou na resposta que daria. – Ele é importante pra mim! Eu ajudo a salvar o mundo das pessoas ruins, eu sinto a necessidade de estar aqui.

James suspirou em um ar negativo.

— Você nem fica mais em casa. – Olhou profundamente nos olhos azuis da moça loira.

— COMO NÓS VAMOS SUSTENTAR OS NOSSOS FILHOS!? VOCÊ ESTÁ DESEMPREGADO. – Ashley desabafou erguendo a voz.

— Eu vou conseguir um emprego. – Manifestou mágoas com as palavras da esposa.

— Quando? Você disse isso a três meses atrás! – Começou a ficar nervosa.

O silêncio dominou a discussão por alguns segundos.

James respirou firme. Nos seus pensamentos, tinha certeza que aquela discussão não mudaria a opinião de sua mulher.

— Amanha de manhã, se você voltar pra casa, saberei que você ainda ama á mim e aos nossos filhos...

— MAS E O MEU TRABALHO? – Ela gritou, interrompendo a frase.

— Se não aparecer, é sinal de que escolheu o trabalho ao invés da sua família. – Ele ignorou a mulher, olhando para o volante e girando a chave na ignição do carro.

— ELES PRECISAM DE MIM, VOCÊ NÃO ENTENDE? TUDO O QUE EU FIZ ATÉ HOJE NA VIDA É PRA AJUDAR AS PESSOAS E TENTAR FAZER COM QUE O MUNDO FIQUE MELHOR E É ASSIM QUE EU ME SINTO NA O.S.E.

Tudo que falou, tudo aquilo era verdade. Amava tanto sua família quanto o seu trabalho. Tinha a necessidade proteger e salvar o mundo de todo o mal que o cercava.

Depois disso, sentiu uma sensação muito desconfortável, era como se ela estivesse dizendo as últimas palavras na vida.

Lágrimas começaram a escorrer de seus olhos, caindo sobre as bochechas.

— Sai do carro. – James sussurrou com os olhos fechados.

Ficou surpresa e magoada.

Mas pouco podia fazer, obedeceu a seu marido.

Rapidamente puxou a porta do carro, se levantando.

James deu ré na caminhonete e começou a ir à direção da saída, subindo pela rampa.

E Ashley ficou no mesmo lugar de quando tinha saído do carro.

Ela observou á caminhonete indo para longe, parada.

Cruzou os braços e tentava parar de chorar.

Um mau pressentimento era o que Ashley sentia naquele instante, era como várias coisas ruins estivessem prestes a acontecer.

A moça se assustou quando uma voz conhecida surgiu pelas suas costas, já que o estacionamento estava supostamente vazio.

Aquela voz era tão... tão suspeita, tão cruel, tão misteriosa.

Isso lhe deu arrepios

— Você ainda acredita na salvação do mundo?

***

Austrália

11h58min PM

O calor não desapareceu, até mesmo a noite era infernal.

As estrelas estampavam o céu.

O grupo de sobreviventes australianos haviam feito uma parada depois de 4 horas.

Dentro do trailer, eles se deparam com alguns monstros, mas nenhum bando grande o suficiente pra parar com o trailer. Ou seja, nada até agora tinha sido problema pra eles, exceto o sofrimento dentro da base cientifica.

Eles percorriam uma longa estrada federal praticamente deserta. Nas laterais da estrada havia matagais e bosques abertos.

Pelo fato do mato ser bastante visível, aquilo facilitava o trabalho pra Garry.

O rapaz de aproximadamente trinta anos era o vigia daquele período de tempo, estava sentado sobre uma cadeira de praia acima do teto do trailer, onde ele tinha uma visão maior de tudo e de todos.

Marcos era o segundo vigia, também estava sentado em uma cadeira no meio da estrada, um pouco distante do trailer, para cuidar do outro lado do campo de visão.

Mesmo estando sonolentos, ambos se mantinham ativos na tarefa.

Ao lado do trailer, na beira da estrada, uma toalha vermelha de piquenique estava estendida no chão.

Kate e Ezequiel dormiam sobre a toalha, perto das extremidades, agarrados, o calor não importava pra eles.

Outra cadeira de praia ocupada também se localizava acima da toalha, Carlos Bartzen equilibrava seu violão preto nas mãos.

— Essa vai ser clássica. – Começou a tocar nas cordas.

E a musica antiga de John Lennon cantada por Carlos se iniciou.

I won't cry, I won't cry

no I won't shed a tear

Just as long as you stand, stand by me

And darling, darling, stand by me

oh stand by me, oh stand now…

A música acalmava todas as pessoas que permaneciam com os nervos á flor da pele, eram momentos de paz e calmaria.

Whenever you're in trouble won't you stand by me

Oh stand by me, stand by me, stand by me, stand by me…

Deitada sobre a toalha, Eva usava uma camisa de lã com mangas compridas para disfarçar a mordida secreta.

Darling, darling, stand by me, oh stand by me

Stand by me, stand by me, stand by me…

Sentado com as pernas cruzadas, Steve se mantinha distante de Eva, encarando-a friamente. A vontade de revelar a mordida pros outros era imensa.

Whenever you're in trouble won't you stand by me…

Carlos apagou a morte de sua esposa da mente. Sorria enquanto cantava alegremente, afinal, era o único que tinha esperanças que o resgate chegará.

Oh stand by me, stand by me, stand by me, stand by me...

Distante do resto do grupo, Alice caminhava até Marcos, ela estava destinada a lhe fazer uma pergunta que queria fazer a um bom tempo.

— Marcos... – O chamou.

Marcos olhou para trás e sorriu ao avistar Alice.

Ele se levantou da cadeira e deu passos em frente.

Ambos estavam frente-a-frente e a lua do céu podia ser vista no meio deles.

— E o Drake?

— Está dormindo dentro do trailer, ele tava muito cansado... Preciso te fazer uma pergunta.

Marcos ficou curioso.

— Que pergunta?

— Eu queria te perguntar isso desde que essa loucura de monstros e desespero começou, Marcos, porque você está aqui?

Ele contraiu as sobrancelhas.

— Como assim?

— Porque você tá aqui? Porque quando tudo isso começou você correu até a minha casa pra nos ajudar? Sei que fomos amigos de infância, mas a gente se distanciou e ultimamente nós nem tinhamos nos falado! E quanto á sua família Marcos? Aposto que existia milhões de pessoas mais importantes do que eu e Drake, você jurou nos proteger de tudo isso. – Seu olhar expressou incompreensão.

Marcos ficou de boca aberta com as ínumeras perguntas feitas por Alice.

Pensou no que ia responder, cada palavra tinha que ser dita com cautela.

Alice insistiu:

— Estou te perguntando isso porque sei que quando falei que meus pais eram cientistas do governo você não tinha ficado surpreso, eu pude ver nos seus olhos que você já sabia... Eu te conheço Marcos.

Marcos decidiu então revelar a verdade:

— Eu to junto com vocês, eu to protegendo vocês porque... Eu devo isso á seu pai Alice.

— Dever ao meu pai? – Fez uma cara confusa.

As seguintes palavras foram ditas por Marcos e aquilo fez com a mente da Alice ficasse extremamente desnorteada.

— Eu sou um agente das forças armadas australíanas e o seu pai me deu a missão de proteger vocês.

***

O.S.E

Com a mesma roupa provocante de antes, Charlotte Lewis caminhava dentro do estacionamento da O.S.E., já tinha tratado de seus ferimentos, por isso voltou até o seu trabalho.

Enquanto passava ao lado de uma fileira de carros, escutou a voz de seu parceiro á chamando.

— Querida, você chegou tão rápido. – Ian apareceu no lado dela.

— Cuidado com as palavras Ian, lembra o que aconteceu da ultima vez, não é? – Fez um olhar de desaprovação.

Os dois caminhavam juntos.

— Você chegou agora? – Perguntou Charlotte.

— A alguns minutos, tive que resolver umas coisas no carro. – Ele ignorou o olhar da moça dos cabelos alaranjados.

— É, eu também tive que resolver algumas coisas. – Disse coçando a cabeça.

Quando os dois dobraram pela fileira dos carros, viram uma cena assustadora:

Ashley May inconsciente com uma poça de sangue jorrando de seu tórax.

Suas costas estavam escoradas na coluna de concreto “C4”.

Tanto Charlotte quanto Ian arregalaram os olhos, chocados.

— Meu deus! – Charlotte correu até a colega.

Ian sacou uma pistola de sua cintura e rapidamente apontou ao redor, verificando se havia alguém por perto.

— Ashley? Ashley?

A agente a chamou, tentando fazê-la acordar.

— Ela levou um tiro! – Revelou Charlotte.

— Não tem mais ninguém por aqui. – Ian guardou a arma. – Checa os pulsos dela.

Agachada, Charlotte com a mão tremida pressionou no pulso da ferida.

Enquanto isso, Ian pegava o celular de seu bolso.

— Temos que avisar ao Michel! – Sua voz era trêmula. – Ela tá viva?

Será que a pobre Ashley teria chances de sobrevivência?

Charlotte olhou para trás e o encarou com um olhar amedontrador.

11h59min PM...

00h00min AM.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram? Espero que sim.
Comentem e tudo mais, favoritem se possível.
Até o próximo capitulo!



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