SIBYL - Deuses do Amanhã escrita por Maegyr


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

** O sistema elege a cada sete anos um número de pessoas de todo mundo para viverem na capital do planeta, os Estados Unidos. Essas pessoas são as mais notáveis em sua área, seus talentos são promissores e sua índole inquestionável. Eles são levados para viverem como reis em um lugar totalmente privilegiado. A contrapartida, o sistema seleciona outro numero de pessoas que não possuem nenhuma aspiração na vida ou falharam em algum ponto na mesma; de ladrões e assassinos até pessoas que se estressaram no transito. Qualquer um com a Matiz acima de 100 é considerado descartável para o julgamento de SIBYL. Essas pessoas são exiladas e são convocadas para o evento denominado "Prégua dos Virtuosos", uma competição feita para apreciação da elite e de todos aqueles se sabem viver em boa harmonia. Essas pessoas com a Matiz alta são colocadas em prova numa acirrada competição que vale a vida ou a morte. O vencedor tem a chance de poder retornar a sua vida normal com sua Matiz regulada abaixo de 70.


** A Matiz é o nome dado ao chip implantado na nuca de cada pessoa. Na verdade, a Matiz se refere ao algarismo que indica a situação da pessoa. Em resumo, é o número calculado pelo sistema que indica a posição da pessoa na vida. Uma pessoa calma, com poucos problemas e uma vida prodiga, possui uma Matiz baixa, pois não há evidências de estresse em seu organismo. Ao contrário de uma pessoa que se preocupada demais, se estressa fácil seja com a adrenalina, medo ou a culpa. Essa pessoa possui uma Matiz alta. Uma Matiz acima de 100 é considerada "passível de atitude alterada" e é retirada do seu convívio para uma terapia até que sua Matiz volte ao normal. Acima de 300 é uma pessoa perigosa e é sinalizada como "conduta criminosa". Essa pessoa pode ser presa ou até morta, independente disso, ela é imediatamente detectada por SIBYL e retirada da sociedade pelos orgãos responsáveis.



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 Clovis se balançava seu corpo largo na poltrona em frente ao espelho enquanto decorava seu texto em um dispositivo de leitura. Anos de pratica o deu a habilidade de se concentrar na leitura enquanto é rodeado de assistentes que puxam seus cabelos castanhos para o alto e o enrolam e soltam novamente com leves escovadas.  Um dispositivo de transmissão reproduzia o noticiário que antecedia seu horário em volume baixo. Ali era apenas aceito o som de sues lábios sussurrando o script e da escova passando pelas suas madeixas.

Ele demorou leves segundos para perceber que seus belos cabelos tinham parados de ser escovados e suas duas assistentes olhavam para o noticiário, boquiabertas.

— Vocês querem se sentar para assistir, ou tão confortáveis em pé mesmo? – Indignado com a

Quebra do ritual, o apresentador se empertigou na poltrona e estalou os dedos, chamando a atenção de suas assistentes. As duas voltaram rapidamente aos afazeres com inúmeros pedidos de desculpas.  Clovis ainda perturbado com o acontecido voltou os olhos para o holograma e leu o rodapé com o lead da noticia: “Inspetora Shisui continua desaparecida, e investigadores encontram suas armas e pistas em seu apartamento”. Ele arqueou a sobrancelha fina para cima quando a imagem de uma porta de madeira quebrada saltava do holograma. Podia ler nitidamente duas letras escritas com, possivelmente, sangue, próxima a fechadura. QC?. QC? O que isso significava? Bom, pensou ele, isso não é do meu feitio, e mesmo se fosse, não seria nada a se preocupar. No mínimo, uma desistência após uma elevação no Coeficiente; nada de novo. Por incrível que pareça aquilo era raro nos Estados Unidos, mas não impossível, o estresse de uma profissão podia assolar a pessoa a loucuras. Clovis era um exemplo disso; quantos apresentadores de talkshows ele já viu serem afastados por motivos de um Matiz descontrolada.

Novamente, aquilo não era para o Clovis. Essa era sua grande noite, a cereja no topo do bolo de sua carreira! Desde que fora escalado para apresentar a cobertura do Prégua, sua vida tomou um rumo totalmente novo. A cada sete anos era obrigação pessoal sua a se superar. Passara a participar do núcleo de elaboração de provas e desafios junto com os programadores e a equipe desenvolvedora. E CÉUS! Aquela edição iria calar a boca da concorrência; ele seria um marco na história do mundo.  Só de pensar o que estava por vir, sentia um formigamento entre as pernas e um tesão imensurável.

Estava vivendo o melhor momento de sua vida!

Uma voz ecoou no ponto de seu ouvido. Clovis, cinco minutos! Ele deu um salto da poltrona em resposta. Olhou seu reflexo no espelho e checou o trabalho impecável de suas assistentes de estimação: Cabelo estava esplendido! Alto e volumoso, um colosso cheio de mechas e adorno. A maquiagem, intacta, olhos retinindo e brilhosos; lábios e maças do rosto perfeitas.

Ele esticou os braços e as duas assistentes vieram com o smoking feito sob medida, uma tecnologia pioneira permitia uma acentuação nos lados apertando sua barriga a dando-lhe uma forma definida e esbelta. Como se poderia suspeitar, os anos de comodidade e luxo lhe roubaram a falta de vontade de visitar a academia, e em troca aumentou seu apetite.

O noticiário estava encerrado. Uma propaganda sobre as novas atualizações do sistema SIBYL tomava conta do holograma. Faltavam dois minutos. Ele estava pronto.

Clovis permanecia parado no centro do palco enquanto a música que indicava a abertura do seu programa começava, uma orquestra de cordas e sopros rugia até as luzes se acenderem e ele sorrir para a câmera do androide a sua frente.

— Boa noite a todos os cidadãos do mundo! – sua voz ecoava no ponto em seu ouvido direito. Era sua deixa. – Como sabem, estamos a alguns dias do tão aguardado dia! A Prégua das Virtudes está batendo em nossa porta. Dá pra sentir o cheiro da emoção! – Aplausos e vozes artificiais explodiram no fundo. Troca de câmera.

— Mas se pensa que já viram tudo o que podemos fazer nessa competição... Tsc, tsc,tsc. Estão muito enganados. – Fez uma pausa – Essa será a décima edição e, meus caros... Vocês não sabem o que preparamos para vocês...

 Um telão do dobro do tamanho de Clovis surgiu em suas costas, iluminado com as cores azul e branca. Com um toque do indicador do apresentador, a tela ganhou mais cores e mostrou um mapa de uma cidade desconhecida, até então.

— Bem-vindos a Colmeia!  Nessa edição nossos competidores irão viver nessa cidade dividida em cinco distritos. – Pequenos pontos vermelhos invadiram o mapa, mostrando a localização de cada um dos distritos. – Estamos desenvolvendo essa cidade desde o final da nona edição que, desculpem a modéstia, foi um sucesso estrondoso! – Com um pigarro, limpou a garganta e continuou – Nela já existe uma população de mil e duzentas pessoas com a Matiz elevada há duzentos e trinta e cinco. Os piores dos piores, meus caros! Selecionamos a dedo os moradores dessa cidade. MAS, não para por aí!

Cruzando o palco, Clovis avançou com empolgação a outro telão.

— No dia da abertura da competição, o sistema SIBYL irá integrar a Colmeia mais vinte e cinco novos moradores; todos forasteiros de países diversos!  Eles irão lutar e conviver com a escória de nossa sociedade e de lá, tentarem sobreviver a desafios que VOCÊS IRÃO ESCOLHER! Vocês vão acompanhar de perto essa jornada e o melhor é que ela só irá acabar dois dias antes da décima primeira edição, ou seja: DAQUI A SETE ANOS!

Clovis não conseguia conter seu êxtase e se aninhava com palmas entusiasmadas junto com as outras palmas dos efeitos sonoros do programa. Em seu ouvido, seu ponto zumbiu:

Clovis, vamos cortar a exibição agora. O noticiário vai entrar. Encontraram o corpo da Inspetora Shisui.

Antes mesmo de um protesto ou de assimilar a informação, as luzes do palco se apagaram assim com as câmeras. Atônito, o apresentador ficou parado no meio do palco, sentindo a barriga estufar e se liberar do smoking para fora.  


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