Hopeless escrita por vivian darkbloom


Capítulo 11
Capítulo X - Família (nem tão) Feliz.


Notas iniciais do capítulo

Olá, meu amores.
Eu sumi essa semana por causa do ENEM, espero que entendam. Além disso, sei que alguns de vocês fizeram a prova, como foram?

Eu queria dizer que eu estou MUITO feliz com os quase 100 comentários, leitores novos e duas mil visualizações! Vocês fazem todos os meus dias mais felizes e são a luz do meu patrono, obrigada, de verdade.

Esse é o capítulo mais longo da fanfic, espero que gostem dele tanto quanto eu gostei. O próximo saí segunda que vem.

Aliás, eu tenho uma pergunta: o próximo capítulo é o de natal, porém eu escrevi uma cena de sexo mais explícito e fiquei em dúvida se postava nele ou não, porque se eu incluir, vai dar um capítulo ainda maior que esse. O que vocês acham? Preferem que eu poste essa cena no tumblr?

No mais, prestem muita atenção nesse capítulo! Tem muitos detalhes importantes. Além disso, recomendo ler o POV da June ao som de Because of You, da Kelly Clarkson (de verdade, é linda essa música). O que me lembra que eu vou atualizar a playlist da fanfic hoje, com algumas recomendações que vocês deram (se quiserem deixar mais, eu vou amar).

Última observação: o POV do Jonathan passa algumas horas depois do da June, embora venha antes. Então não estranhem o final dele.

Boa leitura!



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Natalie Granger.

No dia 13 de dezembro, todos os alunos se reuniam do lado de fora do castelo de Hogwarts, procurando carruagens vazias que os auxiliassem a atravessar uma estradinha, a caminho do antigo Expresso que os aguardava, pacientemente.

Bem, nem todos os alunos, na verdade. Os Weasley haviam ido embora alguns dias mais cedo, após Harry acordar aos gritos em seu dormitório, dizendo que Arthur havia sido atacado. A confusão que se instalou depois, foi inevitável. Todos da família foram levados rapidamente para casa, porém seus amigos ficaram, causando uma indignação no Potter, nas Granger e em Lyanna, que até havia erguido a voz para Minerva e recebeu uma detenção por isso.

Nenhum deles queria deixa-los em um momento tão delicado quanto aquele, mas foram forçados a isso. Entretanto, rapidamente uma solução foi encontrada, durante a madrugada, quando Lyanna e Natalie invadiram o dormitório de Harry, tomando cuidado para não acordar os outros meninos e o puxando para o Salão Comunal. Lá em baixo, Hermione os esperava impaciente.

— Não deveríamos estar fora da cama nesse horário — ela disse, olhando severamente em direção a irmã.

— Você quer ou não saber como eles estão? — Replicou Natalie, sendo apoiada por Lyanna, enquanto o Potter ainda olhava confuso para elas.

— Quero, claro que sim!

— Então, senta aí — A garota a puxou para baixo, fazendo ambas caírem no sofá.

— Alguém pode me explicar o que diabos está acontecendo? — Harry perguntou, semicerrando os olhos para as garotas, enquanto a Black lhe sorria de lado. Um sorriso que ele conhecia bem e só desabrochava quando a mesma estava aprontando o que não deveria.

— Meu pai comentou que lhe deu um espelho de dois sentidos nas férias.... Bem, ele achou outro par na Mansão e entregou para mim, usamos para conversar às vezes. — Ela começou a explicar, erguendo o objeto para que todos pudessem ver. — E sei que ele não vai se negar a explicar o que está acontecendo com Arthur e, se tivermos sorte, algum dos Weasley vai estar acordado a essa hora.

— Brilhante. — Respondeu o garoto, sentindo-se meio idiota por não ter pensado nisso antes e também por nunca ter se dado ao trabalho de utilizar o presente do padrinho. Porém, não se surpreendia que a ideia viesse justo de Lya, ela sempre teve o pensamento extremamente rápido.

Lyanna se ajeitou no meio deles, embora o espelho fosse pequeno e somente seu reflexo aparecesse.

Sirius Black — chamou, com uma entonação de ordem. Eles esperaram em silêncio, olhando ansiosos para os olhos azuis refletidos. Natalie quase pulava no lugar, mas a mão firma da irmã sobre a sua lhe ajudava a se acalmar.

— Oi, filha. — A voz de Sirius era muito bem conhecida por todos ali e veio como um alivio, que os fez soltar a respiração que seguravam. Logo seus traços se tornaram visíveis, junto com seu costumeiro sorriso brincalhão, cujo qual ele parecia reservar exclusivamente para Lyanna e Harry. — Aconteceu algo? — Perguntou, quando notou os outros adolescentes se apertando para ficar ao redor dos ombros da Black.

— Não — ela respondeu, retribuindo seu sorriso. — Na verdade, a gente queria saber como está o sr. Weasley.

— É claro —riu, nada surpreso pela insistência deles em se preocupar com os amigos. — Ele está no hospital, ainda. Estão tentando descobrir o antidoto para fechar as feridas, mas vai ficar bem.

— Então não foi nada grave? — Harry perguntou, se apoiando em Lyanna para chegar mais perto. Ela, milagrosamente, não recuou do toque. O garoto era para si, como um irmão, conseguindo ter uma proximidade maior do que muitas vezes tinha com Jason. Era uma das poucas pessoas no mundo que ela não sentia a necessidade de afastar subitamente.

— Foi, Harry. — Sirius balançou a cabeça, lamentando o ocorrido. — Mas seu aviso foi crucial, se tivessem demorado, Arthur não teria aguentado.

O sentimento de assombro passou como uma brisa por cada um deles. Perde-lo era quase inimaginável, visto que era como uma família para todos ali.

— E como todo mundo está lidando com isso? — Natalie perguntou, lembrando-se que nem havia conseguido se despedir de Fred e Jorge, antes de partirem para casa.

— Eles estão ficando aqui — isso parecia animar Sirius, que sorria mais abertamente agora. — Todos ficaram bastante nervosos, mas agora que podem visita-lo sempre, as coisas se acalmaram.

— Não se preocupa com a gente — A voz conhecida de Fred (ou Jorge) soou, após um alto estalo que fez o Black rir. Natalie notou que Lyanna parecia mais feliz ao ver o pai tão relaxado, diferente de dias atrás.

— É, ninguém aqui está reclamando de férias adiantadas. — Ambos surgiram um pouco atrás de Sirius, com olhares brincalhões.

— Idiotas... — A Granger murmurou, balançando a cabeça. Eram, sem dúvidas, uma causa perdida.

Passar o resto da noite conversando com Sirius e os gêmeos foi como uma salvação naquela longa semana que tiveram que esperar em Hogwarts. Um profundo suspiro diante do mergulho, que renovou a energia de todos eles.

Assim, Natalie Granger sentia-se consideravelmente mais aliviada, enquanto seu corpo balançava com os solavancos da carruagem na estrada íngreme que levava ao Expresso.

O percurso era um tanto longo, porém a animação de todos fazia o tempo passar mais rápido, como batidas aceleradas de um coração pulsante. Os risos percorriam entre os estudantes, assim como brincadeiras e despedidas. Nem parecia que há quase um mês, havia acontecido uma tragédia na escola. Natalie suspeitava que essa era justamente a intenção da Alta Inquisidora, ao prolongar as férias de natal: desviar a atenção deles para assuntos mais fúteis.

Bem, não seria ela quem iria reclamar de ter menos dias de aulas e mais dias com os Weasley, de forma alguma. Assim, quando a carruagem que dividia com Hermione e Harry parou abruptamente junto com as outras, ela saiu contente, respirando profundamente o ar gelado de inverno. O frio sempre a deixava mais animada.

— Vamos entrar? — Perguntou Mione, notando que boa parte dos alunos já haviam embarcado, poucos quiseram ficar na escola. Se o clima em Hogwarts já era de desconfiança com os rumores sobre a volta do Lorde das Trevas, depois do ataque a Søren ficou pior ainda.

— Vamos, por favor. — Harry sussurrou, desconfortável com os olhares tortos que recebia. Alguns idiotas haviam até tentado espalhar o boato de que havia sido ele a atacar o garoto, Natalie suspeitava que isso tinha partido de Draco, que parecia testar a paciência de todos cada vez mais.

Eles entraram em silêncio no trem, com Hermione procurando uma cabine vazia. Natalie, entretanto, esticava o pescoço para ver se conseguia encontrar Lyanna, que havia ido de carruagem com o irmão, Jason.

— Aqui, esse está vazio. — Disse Harry, apontando para o pequeno compartimento, entrando no mesmo.

— Eu vou continuar procurando a Lya — explicou, sem seguir a irmã para dentro. — Depois a gente encontra vocês.

— Tudo bem — Hermione deu de ombros de leve, antes de fechar a porta e deixar a garota seguir seu caminho.

Era fato que Natalie era consideravelmente distraída e estava constantemente ocupada olhando pelas janelas, principalmente quando o Expresso começou a se mover, para conseguir realmente avistar a Black.

Sua mente ultimamente andava mais fora de foco que o normal, com pensamentos constantes na situação que se agravava tanto na escola, quanto na guerra. Ela sabia que a hora de lutar se aproximava cada vez mais, talvez todos pudessem sentir isso, embora fizessem o máximo para negar. Seus amigos, sem dúvida, tinham o mesmo pensamento. E isso a assustava.

Quantas vidas ainda seriam colocadas em jogo por um ideal estúpido que ameaçava tudo que conheciam? Era impossível dizer. Tudo que a jovem sabia era que, quando chegasse a hora, queria lutar, mesmo que isso significasse ir contra forças inimagináveis.

Se ela não fosse tão distraída, teria notado Lyanna quase ao seu lado, quando esbarrou seu braço em uma figura loira, que conversava com a mesma.

— Olha por onde anda... — Áquila começou a xingar, se virando e dando de cara com Natalie. Seus olhos cinzas pareciam mais escuros, como se uma nuvem os cobrissem. — Ah, tinha que ser você.

— Claro, tinha que ser eu para esbarrar em vossa majestade, tão intocável — resmungou, com visível ironia, fazendo a Black rir e a outra estreitar os olhos.

Para sua surpresa, Áquila não rebateu, limitando-se a suspirar pesadamente. Natalie percebeu que sua expressão parecia diferente naquele dia, quase melancólica, quase triste. Porém, antes que pudesse afirmar qualquer coisa, ela pareceu notar seu olhar e balançou de leve a cabeça, seu rosto voltando a exibir a mesma arrogância de sempre.

— Nós nos falamos depois, tudo bem? — Perguntou, ignorando a Granger e olhando diretamente para Lyanna.

— Tem certeza que vai ficar bem? — A morena questionou, parecendo preocupada. Áquila sorriu de leve, acenando com a cabeça. Era tão estranho para Natalie vê-la assim, tão... humana. — Okay, mas só para garantir: fique perto de Lyra e Charles, eles sabem cuidar de você. E qualquer coisa, usa o espelho para me chamar.

— Pode deixar, mamãe. — A Malfoy brincou, arrancando um sorriso da amiga e até mesmo de Natalie, surpresa por saber que ela tinha senso de humor. Para seu espanto, notou que o espelho de Lyanna, que ela usava para falar com o pai, estava nas mãos da garota. — E se você tiver um pesadelo, pode me chamar, na hora.

— Eu chamo, prometo. — Respondeu, sorrindo de leve para ela.

— Nos vemos semana que vem, então.

— Até semana que vem. — Lyanna concordou, enquanto a mesma se adiantava que a abraçava. Ela não recusou o gesto, sabendo que sentiria sua falta.

Quando se afastaram, Áquila parecia um pouco melhor e ela notou um sorriso em seus lábios. Talvez, o primeiro genuíno que realmente tenha visto durante todos esses anos de convívio. Porém, quase ficou de boca aberta quando a loira se virou em sua direção, parecendo contrariada se dizia ou não algo. Por fim, a garota suspirou novamente e soltou:

— Tenha um feliz natal, Granger. — Disse, a voz soando firme, contudo era o mais próximo de uma frase amistosa que havia dito para si em toda a vida.

— Você também, Malfoy. — Respondeu, ainda chocada, vendo-a acenar de leve com a cabeça e se virar, andando pelo longo corredor. — Mas que merda foi essa?

Lyanna finalmente deixou escapar o riso que estava segurando durante aqueles breves segundos, se apoiando na parede de um vagão para não perder o equilíbrio, diante da cara pasma que a amiga fazia.

— Vocês duas, de verdade, deveriam se entender. — Falou, quando finalmente parou de rir, respirando fundo para recuperar o ar.

— Ela que deveria se entender. — Replicou, andando um pouco na frente da Black, para mostrar o caminho até o vagão que Harry e Mione esperavam. — Nunca dá para saber o que essa garota vai dizer.

Lyanna soltou mais um riso baixo, embora sua voz ficasse um pouco mais séria em seguida.

— Ela é inconstante, realmente..., mas não é culpa dela.

— Ah, não? — Natalie perguntou, irônica.

— Não. — Afirmou, decidida.

— Aliás, por que seu espelho está com ela? — Questionou, ainda confusa com o fato. Sabia o quanto o objeto era precioso para amiga, não fazia sentido ela se desfazer dele.

— Bem, eu vou ficar com meu pai nas férias, então não vou precisar dele. — Explicou, gesticulando um pouco. — Pensei que ela poderia usar o meu, e eu o de Sirius, para caso ela precise de mim em uma emergência.

— Porque com certeza ela vai ter uma emergência, Lyanna. — Natalie disse, rindo de leve. O que diabos poderia atingir uma Malfoy?

— Áquila passa por muitas coisas e nem sempre dá para ficar bem, entende? — Replicou, enquanto jogava os cabelos pelo ombro.

— Claro, deve ser muito difícil ser a filha de ouro dos pais, tão linda e tão rica, por Merlin, coitada dela. — Disse, revirando os olhos e parando em frente ao vagão que a irmã e o amigo estavam. Havia um tom de amargura em sua voz, que não combinava muito consigo, mas não podia evitar.

A Malfoy era tudo que mais odiava, a maior representação do preconceito e prepotência que Natalie desprezava. Ainda sim, de certa forma, entendia que a garota não era responsável pelos atos de seu pai, embora não fosse tão diferente assim dele.

— Sabe, Nat, tem muita coisa sobre ela que você nem imagina. — Lyanna respondeu, dando uma leve piscada para ela, antes de entrar no vagão.

A Granger a seguiu lentamente, ainda um pouco estática, a expressão triste de Áquila voltou a sua mente e algo dentro de si pareceu incomodado. Bem, talvez a família Malfoy não fosse a perfeição que ela imaginava ser...

Jonathan La Marche.

Havia algo sobre os Malfoy que todos os bruxos conheciam: a família, sem dúvidas, sabia exatamente como aproveitar o dinheiro que tinha. Seja nas roupas caras, festas exuberantes ou joias luxuosas, eles jamais poupavam uma moeda de ouro sequer. Tampouco precisavam, a fortuna que tinham no banco era algo inimaginável e que apenas crescia, com o passar dos anos.

Assim, inevitavelmente, a mansão que moravam estava mais para um palacete. Rumores diziam que Brutus Malfoy, o primeiro da família a se mudar para Inglaterra, deixando a França, havia ganhado aquelas terras por serviços prestados ao rei trouxa, mas ninguém tinha realmente coragem para comentar sobre isso na frente de algum de seus descendentes.

Bem, independente da forma, era claro que o local era muito bem cuidado e cheio das mais várias extravagâncias de seus membros, desde pavões albinos até artefatos mágicos – a maioria proibida pelo Ministério. E, desde que Narcissa Black se tornou Narcissa Malfoy, a mansão parecia ter adquirido mais vida, com inúmeras flores espalhadas e uma decoração mais brilhante.

E de todos os ambientes sociais da casa, o favorito de Jonathan La Marche era uma das salas de estar, com uma das paredes de vidro, oferecendo uma vista suntuosa do jardim leste. E era lá que estava ele, sentado em um confortável sofá branco, observando Hécate correr pelo gramado cheio de neve, perseguindo alguns pássaros, que voavam ao seu redor. Ela se destacava, um pontinho preto em meio ao todo branco que a cercava.

Uma fonte perto dela vertia água, encantada para não congelar, fazendo com que os bichos batessem as asas até o alto da mesma, longe do alcance das pequenas patinhas da felina. Ela parecia feliz de estar em casa, provavelmente um reflexo dos sentimentos da própria dona.

Como se atraída pelos seus pensamentos, Jonathan ouviu o barulho de saltos altos pelo chão ecoarem em direção a sala que estava. Ele observou Áquila entrar, conversando animadamente com Lyra, que estava consideravelmente melhor desde que as férias haviam começado.

— Achei que me deixariam esperando uma eternidade. — Brincou, enquanto Lyra sentava-se ao seu lado no sofá e a Malfoy na poltrona, na frente deles.

— Consideramos a possibilidade... — A morena provocou, rindo, enquanto a prima acenava com a mão para chamar um elfo doméstico e lhe dava algumas ordens, fazendo-o desaparecer em um estalo.

— Pelo menos sua mãe me fez um pouco de companhia — ele disse, lembrando-se da conversa agradável que teve com Narcissa quando chegou. Há anos a mulher insistia que não a chamasse de Sra. Malfoy, segundo ela, isso a deixava mais velha do que realmente era. Jonathan gostava muito dela, pois de maneira sublime, lembrava-se de sua falecida mãe, Carolline.

— Ela gosta quando você vem visitar, acho que tem esperanças de te juntar com Lyra. — Áquila comentou, com um sorriso. A prima, imediatamente, riu, embora suas bochechas ficassem um pouco vermelhas. Jonathan, entretanto, franziu a testa, surpreso. — O que foi? Minha mãe é uma casamenteira nata.

— Isso é verdade. — Lyra concordou, ainda sorrindo, achando graça da ideia. — Ainda fico surpresa dela e a Elia não terem preparado seu noivado.

— E quem disse que não? — A loira brincou, rindo. — Elas já devem ter pensado em tudo, mas meu pai não deixaria acontecer.... pelo menos, não ainda.

— Você e Charles casados seria algo realmente engraçado. — Jonathan comentou, com um sorriso brincalhão, provocando a loira. Seu sotaque francês fazia os nomes de ambos soarem mais acentuados. — Quem passaria mais tempo na frente do espelho, marido ou esposa?

— Hm, eu aposto nele. — Lyra entrou na brincadeira, fazendo Áquila revirar os olhos.

— Idiotas. — Eles foram interrompidos pelo estalo do elfo doméstico reaparecendo, com uma bandeja nas mãos. Ele a deixou na pequena mesa de centro, na frente do sofá, olhando ansioso para os três.

— Whynou trouxe o que mandou, senhorita, em que mais Whynou pode servir? — Perguntou, seus olhos grandes focados em Áquila.

— No momento, mais nada, Whynou, obrigada.

— Como quiser, senhorita. — O elfo fez uma reverencia tão exagerada que seu nariz grande quase tocou o tapete da sala e ele aparatou, apressado.

— Meio assustado ele, não? — Jonathan comentou, achado um pouco de graça, enquanto se inclinava para pegar um pouco de chá. Havia sido criado com elfos, também 

— Obra do meu tio... — Lyra comentou baixinho, recebendo um olhar meio torto de Áquila, que era sempre a primeira a defender o pai de qualquer comentário que julgasse ser negativo.

— Como está Beatrice? — A loira perguntou, desviando o rumo da conversa. Ela gostava muito da irmã dele, sempre brincava que queria ter uma filha tão adorável quanto a mesma.

— Bem, ela queria vir junto, mas tinha algumas aulas de etiqueta que meu pai a mandou fazer. — Explicou, lembrando da carinha triste da mesma, quando a deixou para trás.

— A traga da próxima vez, então. — Pediu, o que Jonathan concordou com um aceno. Ambas se davam tão bem provavelmente graças a facilidade de serem extrovertidas com as pessoas ao redor, fato que o La Marche admirava em ambas.

— Eu achei que Lyanna viria para cá, também. — Lyra falou, estranhando a falta de visita da mesma, que normalmente aparecia vez ou outra na mansão.

— Não, vou ir visita-la semana que vem, junto com Selina. — Explicou, pegando uma xicara de café e tomando um profundo gole. Talvez por isso seja tão energética, pensou, balançando a cabeça de leve. — Draco concordou em mentir que vai sair comigo, mas vai na casa de Zabini.

Jonathan torceu o nariz na menção do nome. Tinha pegado uma séria implicância com o garoto desde a festa no Salão Comunal.

— Seu irmão ainda fala com aquele idiota? — Perguntou, olhando sério para a amiga, que se limitou a dar de ombros.

— Lyra diz que ele não fez nada de errado.

— E não fez mesmo. — A jovem concordou, colocando a mão sobre o braço de Jonathan, em uma tentativa de lhe passar confiança em suas palavras. O gesto ajudou o garoto a se acalmar um pouco, pelo menos. — Eu só estava mal e achei que beija-lo ajudaria, mas pudemos ver que não.

— Podemos ver que a impulsividade é de família, então. — Brincou, tentando deixar o clima mais leve e fazer sumir de sua mente a lembrança de Lyra chorando naquela noite.  

— Provavelmente. — Ela concordou, rindo. — Mas e você? Mal te vi na festa.

Áquila colocou a mão na boca, para conter a risada. Até aquele momento, era a única que sabia exatamente onde estava, porque tinha passado por ele enquanto subia para um dos dormitórios com o namorado. Era incrível a capacidade que a mesma tinha para lembrar de todos os detalhes, mesmo que estivesse bêbada.

— O que foi? — Lyra tornou a perguntar, estranhando ele ter ficado sem graça. — La Marche, o que você está escondendo?

— Nada....

— Jonathan! — Ela insistiu, jogando uma almofada nele, que rapidamente desviou.

— Tá bom, tá bom, eu falo. — Respirou fundo, ouvindo agora a risada de Áquila, porém mantendo seus olhos focados aos escuros de Lyra. — Estava ficando com uma pessoa, okay?

— Quem? — Questionou, curiosa.

— Aron Zhyra. — O nome saiu tão rápido que ele tinha dúvidas se ela realmente havia escutado. A cara surpresa e o riso ainda mais alto da Malfoy, evidenciaram que sim.

— Você me deve 20 galões. — Áquila disse para ela, quando parou de rir, fazendo Jonathan lhe olhar confuso. — Eu tinha apostado que ele ia ficar com você até o final do ano, estava na cara que Aron te lançava uns olhares.

— Claro que não! — Rebateu, indignado.

— Às vezes você consegue ser mais cego que eu... — Ela disse, balançando a cabeça de leve, embora ele duvidasse seriamente disso. Afinal, não havia sido Jonathan que demorou quase um ano para notar que o melhor amigo era afim de si.

— Ninguém é mais cego que você, Áq. — Disse, dessa vez levando um pequeno chute na perna dela, porém sem muita força.

— Concordo. — Lyra riu, balançando a cabeça de leve. — Mas então vocês têm algo sério?

— Não. — Ele notou que respondeu rápido demais e ambas trocaram olhares rápidos. — Nós trocamos algumas cartas, mas nada demais.

— Sempre começa assim... — Áquila cantarolou, rindo.

— Claro que não, Malfoy. — Ele não queria explicar que, na verdade, não esperava nada sério com Aron. Tinha sido uma noite apenas, uma ótima noite, mas seus olhares frequentemente desviavam para outra pessoa, a quem ele realmente tinha um sério interesse.

— Se você diz.... — A conversa deles foi interrompida por um barulho em uma lareira próxima a eles, que flamejou com um fogo verde e, quando o mesmo abaixou, revelou Lucius Malfoy, que saiu da mesma de maneira calma e elegante.

— Boa tarde, crianças. — Ele cumprimentou, acenando com a varinha para tirar o pó das vestes. Jonathan nunca entendeu exatamente o que o mesmo fazia no Ministério, mas sabia que o quer que fosse, era importante.

— Boa tarde, sr. Malfoy. — Respondeu, educadamente, acenando com a cabeça.

— Oi, pai. — Áquila levantou, indo até o mesmo e dando um leve beijo na bochecha. Era sempre estranho vê-lo próximo da filha, pois Jonathan estava acostumado com a aparência de frieza que o mesmo portava diante de todos, cujo qual parecia se desmanchar cada vez que a garota se aproximava.

Para seus olhos observadores, era uma mudança curiosa. Mas boa, presumia, sinal que até mesmo ele tinha mais que apenas trevas dentro de si.

— Tio. — Lyra cumprimentou-o com um aceno. Nunca havia sido muito próxima do mesmo, até onde o La Marche sabia.

— Espero não estar interrompendo nada importante.

— Não, estamos apenas conversando sobre a escola. — A loira respondeu, piscando os longos cílios. Se Lucius dispensava suas máscaras perto dela, Áquila erguia as suas de inocência e submissão, o que era até engraçado de ver.

— E está tudo bem em Hogwarts, presumo. — Disse, os olhos cinzas, iguais aos da filha, sempre desconfiados.

— Estaria, se não fosse por Søren... — Lyra respondeu, ainda lamentando a ausência do amigo.

— Eu conversei com colegas do St.Mungos — Lucius disse e Jonathan pensou ter visto uma sombra de preocupação cruzar seu rosto. — Disseram que seu quadro vem piorando, ninguém sabe ao certo o que o atingiu ou como reverter. Imprestáveis, na minha opinião. A mãe dele deveria procurar um tratamento em outro lugar.

 — Eu posso ir visita-lo, pelo menos ir falar com a mãe dele? — Áquila perguntou, seus olhos brilhando ao lembrar com carinho do amigo.

— Nós vemos isso depois. — Respondeu, não parecendo muito contente com a ideia de deixar a filha se aproximar de algo desconhecido. — Eu vou ir ver sua mãe, nos vemos no jantar.

— Tudo bem, papai...

— Lyra, La Marche. — Lucius se despediu de ambos com um aceno, antes de sair da sala.

Áquila sentou-se novamente na poltrona, parecendo mais triste.

— É horrível o que aconteceu, mas não acho que tenham sido os comensais. — Ela disse, afastando alguns fios de cabelo do rosto. — Até Anthony parecia surpreso com o ataque.

— Isso é verdade. — Lyra confirmou, lembrando da reação do Fimmel quando contaram a ele o que aconteceu, logo após chegarem da escola. Ele havia ficado visivelmente chocado com a ferocidade com que Sooren havia sido ferido.... e ele raramente se chocava com algo.

— Mas então quem faria isso?

Eles ficaram em silêncio. Ninguém queria responder essa pergunta. Por sorte, foram poupados por uma interrupção, dessa vez o elfo doméstico novamente, trazendo pequenos frascos na mão.

— Senhorita — ele se adiantou, oferecendo-os a Áquila, que torceu o nariz na visão das poções — , sua mãe mandou Whynou trazer os seus remédios.

— Obrigada. — Ela agradeceu, seu tom saindo mais frio quando pegou delicadamente os fracos e deixou-os no colo. — Pode ir, Whynou.

— A senhora mandou Whynou ficar aqui até a senhorita beber. — Explicou, nervoso. — Whynou não pode desobedecer a sua senhora.

O elfo bateu com força na sua cabeça, se repreendendo pelo desejo de acatar as ordens de Áquila, opostas as de Narcissa. Porém, rapidamente a garota levantou o braço, segurando-o.

— Para, Whynou, não precisa se bater, tudo bem, fica. — Ordenou, soltando-o quando viu que não iria mais se machucar.

— É melhor beber de uma vez só... — Lyra disse, levantando-se e indo para o lado dela, sentando no braço da poltrona e fazendo um leve carinho em seus cabelos. Áquila suspirou, encostando a cabeça nela.

— Realmente, Áq, você sabe que é melhor. — Jonathan concordou, também se aproximando dela. Queria poder ajuda-la nessas horas, tirar todos os sentimentos ruins que conflitavam dentro dela, todos os problemas que a forçavam tomar aquelas poções toda semana. Mas era impossível.

— É, eu sei... — Ela respirou fundo, abrindo o primeiro frasco. Esse, bebeu em um gole só e não reclamou. O garoto reconheceu a cor clara do anticoncepcional e sabia que não era essa poção que a deixava mal.

— Vamos, só as duas, toma igual essa. — Lyra aconselhou. Ele viu a relutância da mesma e se inclinou, pegando o frasco e abrindo para ela.

— Você sabe que precisa. — Áquila assentiu, pegando de sua mão e virando-o, também.

Pelo o que dizia, o gosto era horrível, mas controlou seu rosto para não se transformar em uma careta.

— Só mais um. — Disse, repetindo o processo de abrir para ela. — E aí pronto.

A garota ergueu os olhos para ele, como se suplicasse que não queria. Mas não tinham escolhas. A última vez que ficou sem tomar, quase que a haviam pedido e nem Lyra, nem Jonathan, iriam correr o risco disso acontecer novamente.

— Áquila, tudo bem, a gente está aqui, é só tomar. — Lyra praticamente pediu, incentivando-a a seguir em frente. Ela suspirou, antes de pegar a poção e ingeri-la rapidamente, dessa vez sua mão apertou a da prima com força, para que não acabasse vomitando o liquido horrível.

— Eu odeio isso. — Resmungou, se inclinando para deitar a cabeça no colo da Lestrange.

— E nós odiamos te ver assim, mas é preciso. — Ele rebateu, embora segurasse sua mão, também.

— Eu sinto muito, senhorita. — Whynou disse, vendo a tristeza dela, mas desapareceu novamente, levando os frascos vazios.

— O que eu faria sem vocês? — Ela perguntou, esboçando um sorriso.

— Hm, provavelmente estaria perdida no primeiro dia. — Lyra respondeu, fazendo-a rir.

— É, estaria mesmo....

— Ei, o que é aquilo? — Jonathan perguntou, apontando em direção a janela, cujo qual uma coruja enorme tentava entrar.

— É o Salazar, eu havia enviado ele com uma carta para Lyanna mais cedo. — Áquila respondeu e, sabendo que ela estava fraca demais para levantar, o La Marche foi até o vidro, abrindo-o para o animal, que lhe deu umas boas bicadas antes de entregar a carta.

— Coruja doida. — Resmungou, olhando para os dedos machucados. — Toma.

— Obrigada. — Ela agradeceu, pegando o pergaminho de sua mão e lendo atentamente. Seu rosto, agora suave, foi se transformando em uma expressão de incredulidade. — Eu preciso ver Lyanna, agora.

Jonathan a olhou surpreso, mas não contestou quando ela pediu sua ajuda para subir as escadas até o quarto. Ele simplesmente ajudou ela a se apoiar, enquanto Lyra a segurava pelo outro braço. Demorariam algumas horas para sua força voltar, mas ele via claramente chamas de preocupação brilhando em seus olhos.

Uma coisa que Jonathan aprendeu sobre Áquila: ela não deixava ninguém magoar seus amigos.

June Black.

Às vezes, nós sentimos quando algo ruim está prestes a acontecer. Pode ser um sinal, uma sensação, uma superstição, mas nós simplesmente sabemos. E como os seres humanos assustados que somos, corremos o mais rápido possível para longe disso.

Entretanto, há situações que simplesmente não temos como fugir.

June Black sabia, desde o começo, que aquele seria um péssimo dia. Havia acordado sentindo-se mal, com a noite preenchida de pesadelos inconstantes que jamais tomavam forma definitiva, e o rosto conservava uma expressão cansada, de quem sabia que havia dormido pouco. O tempo fora de sua casa esfriava consideravelmente e nuvens pesadas enfeitavam o céu. Tudo parecia fadado a dar errado.

Uma vez ela havia lido em algum lugar que dias que começam cinzas, raramente acabam bem. Merlin, mal poderia saber como estava certa.

— Então, animada para passar o natal com seu pai? — Sua mãe, Lucy, perguntou, enquanto a mesma servia-se no café da manhã. Ela sabia que era importante para filha a data, afinal nunca havia passado a mesma com Sirius.

— Bastante. — Respondeu, após tomar um gole de suco. Nem a comida estava lhe descendo bem, naquele dia. — Só nervosa.

— Não precisa ficar, vai ser como as outras férias, só que agora com mais gente e uma comida melhor. — Disse, lembrando-se com um sorriso dos Weasley. Molly havia lhe convidado para ir também, suspeitava que a mesma estava tentando lhe juntar com o Black novamente, mas Lucy havia preferido ir passar a data com a família, na Irlanda.

— É, eu acho que sim... — June deu de ombros, como se não fosse grande coisa..., mas era. Faltavam dez dias para o natal e ela havia planejado a data ansiosa para passar tanto tempo com o pai e, também, com Fred.

Ambos haviam se beijado algumas vezes, depois do acontecido na floresta, mas raramente tinham tempo para ficarem sozinhos, tanto pelos amigos, quanto pela nova gestão da escola, agora consideravelmente mais rígida. Ainda sim, ela queria ficar perto dele cada vez mais.

Porém, nessa manhã, era como se uma nuvem encobrisse toda a extrema felicidade que estava sentindo nos últimos dias, a sufocando um pouco, conforme os minutos passavam. Olhou ansiosa para o relógio, ainda eram 9:30, faltava meia hora ainda para o horário combinado, cujo qual a Ordem havia lhe instruído a seguir, pois estariam tomando conta das redes de flu, para que ninguém desconfiasse sobre onde estava indo.

— Você pegou tudo que precisa? — Sua mãe questionou, olhando atenta para a mochila que descansava aos seus pés, perto da pequena mesa. Estava levando mais coisas do que aparentava, mas o feitiço que Phillipa e Rigel ensinaram gerava espaço para tudo.

— Acho que sim. — Se abaixou, abrindo o zíper e conferindo se todos os seus pertences estavam lá, principalmente o pequeno porta-retratos, de uma foto sua com Lucy, que costumava deixar na cabeceira da cama quando estava na mansão Black.

— Tome cuidado lá, com o menino dos Weasley — alertou a mulher, embora um sorriso estivesse presente em seus lábios, quando June voltou a se sentar ereta. Seu rosto esquentou consideravelmente, deixando suas bochechas vermelhas de vergonha.

— Mãe, não começa.... — Havia comentado com ela sobre o beijo e, desde então, a mesma adorava lhe provocar com piadas e brincadeiras. Admirava seu jeito, sempre tão divertida e era exatamente isso que a fazia entender porque Sirius se apaixonou antigamente. Porém, era inevitável ficar sem graça com a situação.

— Começo sim, é claro que seu pai não vai deixar nada acontecer, mas ainda sim.... Se lembra dos feitiços que te ensinei, não é, para se proteger caso ocorra algo? — Lucy segurou a risada, conforme a filha ficava ainda mais vermelha e tentava esconder o rosto entre as mãos, desesperada.

— Nós não vamos falar sobre isso! — Disse, nervosa. Nem sequer havia pensado na situação, muito menos queria discutir o tema com a mãe.

— Mas June, é importante. — Insistiu, levantando-se da cadeira e indo para mais perto dela, que parecia se encolher no assento.

— Mãe, por favor, para. — Pediu, abaixando a mão um pouco para que a mulher pudesse ver seus olhos suplicantes.

— Tudo bem, tudo bem. — Lucy se rendeu em uma risada, segurando suas mãos e as tirando do rosto. — Só me preocupo com você e isso é sério.

— Eu vou ficar bem, prometo. — Respondeu, tentando se forçar a parar de corar. Sua mãe sorriu, puxando-a para um abraço apertado, do tipo que ela sempre lhe dava em despedidas.

Lucy tinha cheiro de baunilha nos cabelos e era sempre confortável estar perto dela, cada vez que tinha que se afastar June sentia uma falta imprescritível. Sua mãe era, para todos os efeitos, seu maior porto seguro.

— Eu te amo, garota. — Sussurrou, um pouco antes de solta-la.

— Eu também, você sabe disso. — Sorriu, querendo mantê-la para sempre perto de si. Porém, o barulho do relógio, encantado para avisar os compromissos, as despertaram, fazendo ambas se afastarem.

— Bem, acho que é hora de ir embora. — Lucy falou, segurando sua mão enquanto ambas iam até a lareira. — Trate de me escrever sempre, ouviu?

— Pode deixar. — Assentiu, rapidamente, rindo enquanto pegava um pouco de pó de flu. — Até o ano novo, mãe.

— Até, June. — Ela lhe depositou um cálido beijo na bochecha, antes de soltar sua mão e deixa-la entrar na grande lareira da sala. June sorriu mais uma vez, antes de jogar o pó e exclamar:

— Largo Grimmauld, número 12, mansão Black. — Seus olhos fecharam, conforme seu corpo era puxado e tudo ao seu redor girava. Céus, ela odiava viajar de lareira.

Quando tudo parou, ela cambaleava em meio a cinzas e fuligem, saindo desajeitada para a sala da casa de seu pai. Resmungou, um pouco irritada, enquanto limpava a roupa e balançava o cabelo, tirando a sujeira.

— Alya? — Ouviu a voz de seu pai, parado a porta, lhe chamando. Ele raramente usava seu primeiro nome, pois sempre dizia preferir o que lhe remetia as estrelas. — Que bom que veio, filha.

Ele atravessou a sala com passos largos e rápidos, tomando-a nos braços quando estava perto o suficiente. June enterrou o rosto em seu pescoço, retribuindo o abraço e deixando que a erguesse um pouco. Sirius era como uma visão, às vezes. Ela nunca sabia se ele estava realmente ali, até toca-lo para ter certeza.

— Senti sua falta, pai. — Disse, quando a colocou no chão novamente, lhe soltando.

— Eu também, querida. — Sorriu para ela e, embora Azkaban tivesse levado embora uma parte da beleza que um dia possuiu, a garota ainda conseguia ver os traços da família Black, jamais apagados.

— Os Weasley já estão aqui? — Perguntou, sentindo seu coração sair um pouco do ritmo. Acima de tudo, estava preocupada, pois ninguém havia lhe informado direito sobre o ataque que o pai de Fred havia sofrido.

— Sim, mas estão visitando Arthur agora. — Explicou, pegando a mochila dela e fazendo um aceno com a mão, para chamar Monstro.

O elfo apareceu em um estalo, sempre olhando para baixo, resmungando consigo mesmo.

— Garota mestiça sujando a imagem da casa da minha senhora — ele dizia, claramente para June. — Que vergonha para os Black.

— Monstro! — Sirius repreendeu, claramente se controlando para não machuca-lo. — Leve a mochila de June para cima e pare de falar assim dela.

— Claro, meu senhor. — A doçura em sua voz, ao responder a ordem, era enjoativa. A garota não entendia porque simplesmente não libertavam ele logo, para que o mesmo pudesse viver da forma que desejasse, sem ter que se submeter a um mestre que odiava.

Sirius suspirou, quando a criatura desapareceu, deixando-os sozinhos.

— Você está bem? — Ela perguntou, notando que seu olhar parecia estranhamente perturbado.

— Sim, eu só... preciso falar com você. — Ele segurou sua mão, levando-a até o sofá no canto da sala. June sentou-se ao seu lado, confusa. Seu pai raramente era tão sério e vê-lo daquela forma, em nada lhe agradava.

— Aconteceu algo? — Já imaginava as piores cenas em sua cabeça: o Ministério desconfiava dele, a Ordem estava com problemas, ele precisaria se afastar, fugir novamente. Todas essas hipóteses lhe traziam calafrios.

— Não, nada aconteceu, quer dizer, pelo menos não agora. — Sirius gesticulava, a cada segundo mais nervoso. Ele passou as mãos no cabelo, tentando achar as palavras certas a dizer. — Tem algo que você precisa saber, June, algo sobre nossa família....

— Pai, quem está aqui? — Uma voz atravessou a sala, vinda da porta, fazendo imediatamente a garota fechar o rosto. Pai?! — Eu ouvi algumas vozes e...

Lyanna Black, a garota da Grifinória que sempre andava perto dos gêmeos, parou na porta, olhando confusa para os dois, principalmente para June, que retribuía com a mesma expressão. Por que ela está na casa do meu pai?

— O que ela está fazendo aqui? — Era claro que não queria soar grosseira, mas ver seu pai tão próximo da jovem fez todos os instintos de Lya se aguçarem, procurando por algo errado. Definitivamente, tinha alguma coisa estranha acontecendo.

— Por que você chamou ele de pai? — June respondeu com uma pergunta, seus olhos escuros se estreitando, olhando dela para Sirius, que parecia ainda mais confuso e perdido.

— Talvez porque ele seja meu pai. — Lyanna disse, erguendo o rosto desafiadoramente, embora não entendesse direito porque parecia se preparar para uma briga.

— Não é não! — Negação foi o primeiro instinto dela, erguendo-se do sofá e olhando indignada na direção de Sirius, esperando que ele se levantasse também e negasse aquilo. Ele precisava negar. — Você é meu pai.

— Meninas, eu posso explicar.... — Por que ele não está negando?  June queria encontrar forças para dizer algo, fazer alguma coisa, além de ficar encarando-o assustada. Isso não é verdade.

— É melhor que possa mesmo. — Lyanna afirmou, andando em direção a eles. Diferente de June, ela não parecia irritada ou nervosa, mas sim... traída. Seus olhos faiscavam com um fogo que a garota conhecia bem, era o mesmo que fazia seu interior queimar naquele momento.

— Bem, como Lyanna já sabe, antes de eu ir preso eu era casado, com a mãe dela, Rosamée... — Ele começou, meio sem jeito, com medo de que reação elas poderiam ter.

— Você era casado?! — June cortou a explicação, sua voz saindo mais alta do que pretendia. Por quê sua mãe nunca lhe contou isso? Talvez ela não soubesse... era o que queria acreditar, o que precisava acreditar. Não era possível que ambos estivessem mentindo para ela esse tempo todo.

— Sim, June, eu era. — Ele explicou, tentando manter a voz calma. Lyanna mantinha-se em silêncio, ainda encarando-o, com as mãos fechadas em punhos. — Mas, durante um tempo, as coisas começaram a desandar e.... bem, foi quando eu conheci Lucy.

— Quem é Lucy? — Lyanna perguntou, a raiva visível em sua voz.

— Minha mãe. — June respondeu em um sussurro seco, com o rosto baixo. Não queria olhar para a garota, muito menos para seu pai, pois sabia que se o fizesse, não conseguiria mais segurar as lágrimas que ameaçavam cair.

— Você traiu minha mãe?! — A garota praticamente gritou, incrédula. — Você sempre disse que amou ela!

— E eu amei, Lyanna! — Sirius respondeu, se aproximando para tentar acalmar ela, mas a jovem o afastou, dando alguns passos para trás. — Eu a amei até o último suspiro dela e, durante um tempo, também me apaixonei por Lucy e ela acabou engravidando de June.

— Não... — A garota sussurrou, olhando abismada de Sirius para a garota, como se não pudesse acreditar. Sua respiração estava mais acelerada a cada minuto que passava e June podia sentir a raiva e a mágoa que vinha dela, porque era exatamente o que passava consigo também. — Minha mãe sabia disso?

— Não, ela nunca soube. — Ela ergue o rosto, vendo claramente nos olhos do pai a dor que ele sentia. Mas, naquele instante, não conseguia sentir pena dele. — Contei a Lucy toda a verdade, mas Rosa nunca me perdoaria se soubesse e eu não queria perder vocês.

Aquilo foi como outro tapa atingindo June em cheio. Então sua mãe sabia, durante todos esses anos, que ela tinha uma irmã. E nunca disse nada.

— Você é egoísta. — Sussurrou, olhando séria para Sirius, enquanto Lyanna parecia desmontar na poltrona perto de si. Podia ouvir o barulho do choro dela, baixo, porém intenso e se controlou para não sucumbir as lágrimas também. — Egoísta e covarde. Por que não contou para a gente quando voltou? Por que esperar todos esses anos?!

— Eu fiquei longe por tempo demais, June, não queria que vocês me odiassem por isso... — Sirius parecia transtornado, como se o peso do mundo tivesse caído sobre seus ombros. Sua vontade era gritar ainda mais com ele, quebrar toda a sala e lançar as piores maldições. Mas tudo que conseguia fazer era respirar fundo para não perder o controle. — Eu sinto muito.

Você mentiu para mim, queria acusa-lo. Queria faze-lo sentir a dor que a infligia, mas jamais poderia machuca-lo daquela forma. Você me traiu também. Como ele pode simplesmente esconder uma da outra?

— Não odeio você... — Lyanna sussurrou, com o rosto ainda baixo. — Você só.... Deveria ter dito, pai. Você deveria ter nos contado.

Pai. Aquela palavra parecia queimar nos seus ouvidos, como fogo. June fechou os olhos, embora uma lágrima escorresse pela sua bochecha.

— Eu sei... — Sirius se aproximou delas, olhando-as desesperado. Ele tem medo, June percebeu, medo de perder a única família que lhe resta.

Queria ficar e dizer que ia ficar tudo bem, mas não conseguia. Talvez Lyanna fosse melhor nisso do que ela.

De forma rápida, June virou as costas para ele, dando um breve olhar a, agora, sua irmã. Elas observaram uma a outra como dois animais machucados e curiosos, que não sabiam como se aproximar. A garota entendia que ela não lhe odiava, não lhe culpava, tampouco sentia qualquer sentimento ruim também. Mas simplesmente não podia lidar com a situação, não naquele momento.

June não estava preparada para nadar a superfície e fugir daquela sensação de afogamento. Pelo menos por agora, queria sentir toda a raiva e dor do mundo. Precisava sentir.

Então, sem pensar duas vezes e lançando um último olhar a Lyanna, ela correu. Correu tão rápido que suas pernas pareceram lutar contra, mas nem assim parou. Subiu as escadas rapidamente, mesmo com o medo de acabar tropeçando e passou pelos corredores apressadamente, fazendo o retrato de sua avó se abrir e começar a gritar pela casa. Mas nada disso importava. Ela correu até parar na porta de seu quarto, abrindo-o com um estrondo. Todo o ambiente era terrivelmente familiar e cheio de memórias. Memórias que agora já não eram mais somente suas.

Se jogando na cama, ela deixou todas as lágrimas virem com força.

Naquele dia, June aprendeu uma das lições mais doloridas de sua vida: que a família pode quebrar seu coração, também.


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