Prólogo.

Mansão Malfoy - Wiltshire.

Áquila se olhou no espelho, conferindo o penteado muito bem organizado e a maquiagem impecável. Sorriu, vendo a figura no espelho lhe sorrir de volta. Contudo, esse ato nunca chegou ao seu olhar, que se mantinha frio e impassível. Todos diziam que possuía a exata aparência da mãe, quando a mesma tinha a sua idade, exceto pelos olhos. Esses eram cinzentos como os do pai. Se orgulhava, tanto quanto ele, da máscara que cuidadosamente haviam criado, buscando esconder qualquer requisito de perturbação emocional.

Satisfeita, ela deixou o quarto, passando pelos longos e escuros corredores de sua mansão, permeada por antigos quadros que lhe observavam, curiosos. Quando criança, fazia aquele trajeto correndo, nomeando os nomes de cada um deles, buscando decorar todos. Atualmente, entretanto, ela sussurrava conforme avançava, para que jamais se esquecesse daquele passatempo, agora sempre contida, sempre muito elegante.

Áquila Malfoy era o orgulho de seus pais, Lucius e Narcissa. Uma bruxa de puro-sangue que honrava veemente todas as tradições de sua nobre e antiga família, negando-se a macular sequer um fio de seu cabelo platinado. Pelo menos, era isso que eles sempre imaginaram.

Três pessoas viraram a cabeça para olhar em sua direção, conforme os saltos altos que usava faziam barulho contra a escadaria da sala de estar. Seus cabelos lisos se moviam atrás de si em uma perfeita dança e ela sabia que estava perfeitamente encantadora. Até porque, se fosse necessária uma palavra apenas para descreve-la, seria: perfeita. Isso é, até onde as pessoas podiam ver.

Ela terminou de descer os últimos degraus e se reuniu a família.

— Pronta? — Lucius perguntou, enquanto a mãe conferia a bagagem dos filhos, vendo se ambas as corujas estavam bem presas. Seu irmão, ao lado dela, parecia tremendamente entediado, como usualmente estava.

— Sim, papai. — Sorriu, buscando parecer animada.

— Eu vou sentir tanta falta de vocês! — Narcissa exclamou, puxando ela e Draco para um abraço. Não condizia com sua família se despedir dessa forma em público, então aproveitavam o momento antes de ir para a estação Kings Cross.

— Nós também, mamãe. — Respondeu o garoto, embora já procurasse se afastar para não abarrotar as vestes e ia se despedir do pai de forma mais contida. Áquila, entretanto, ficou mais em seus braços.

— Vou te escrever toda semana, como sempre. — A jovem prometeu, apertando de leve os braços ao redor de sua cintura. As duas sempre haviam sido muito próximas, não havendo ninguém no mundo que Áquila confiasse mais. Contudo, depois de um tempo, se afastou, notando que Narcissa discretamente procurava limpar o canto dos olhos, provavelmente cheios de lágrimas. Ela sempre havia sido muito emotiva com os filhos.

Ela, então, se virou para o pai, que lhe abraçou de forma refreada e rápida. Lucius não era um homem dado a demonstrações sentimentais ou afetivas.

— Se cuide em Hogwarts. — Ele disse, com a mão em seu ombro. Ela concordou com um aceno, reprimindo o desejo de abraçar os pais mais uma vez.

Finalmente, se afastou com Draco, indo até a lareira próxima. Seus pais iriam em seguida, com suas malas, porém eles aparatariam. Ele já tinha um tanto de pó de flu e, segurando sua mão, gritou “Estação Kings Cross, plataforma 9 ¾!”. A visão de seus pais e a sua sala de estar sumiram em meio a fumaça e ela apertou mais forte a mão do irmão, enquanto fechava os olhos. Odiava viajar dessa forma.

Rapidamente, eles pararam em uma das várias lareiras dentro da plataforma, que eram usadas para famílias bruxas embarcarem seus filhos. Ela saiu, limpando as cinzas das vestes.

— Não vejo a hora de poder aparatar. — Draco resmungou ao seu lado, também se limpando.

— Nem eu, felizmente não falta muito tempo. — Disse, torcendo o nariz ao ver como o local já estava lotado. Odiava aquele amontoado de pessoas reunidas e gritando umas com as outras, era atordoante. Pelo canto do olho, pode ver os Weasley, com o Potter e um cachorro que rodopiava animado entre eles.

Suspirou pesadamente, enquanto os pais surgiam em um estalo ao lado deles. Aquele seria um ano longo, principalmente após os acontecimentos que finalizam o Torneiro Tribruxo no ano anterior. E ela já podia sentir os ventos de mudanças arrepiarem sua pele, enquanto andava em direção ao expresso. Novamente, ela buscou a mão de Draco. Eles sempre haviam sido inseparáveis, embora, naquele ano, Áquila tivesse uma péssima sensação que a ligação que possuíam estava prestes a ser posta em prova.