Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 89
CAPÍTULO89




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CAPÍTULO89

    A alguns meses atrás, Itajaí havia sido presa em flagrante por
tentativa de homicídio contra a ex-namorada, mas fugiu da prisão, o que acabou complicando
ainda mais sua situação perante à justiça.
Foi encontrada dias depois pela polícia através de uma denúncia anônima
e levada de volta para a cadeia. Foi julgada pela tentativa de
homicídio e condenada a três anos de reclusão, e na penitenciária
conheceu Laguna.
    Ainda jovem e formada a pouco tempo, Laguna se revelava uma
psicóloga brilhante, e toda semana realizava atendimentos na
penitenciária onde Itajaí cumpria pena. Em uma das primeiras vezes em
que esteve com a psicóloga, ela abriu sua vida; falou sobre sua
orientação sexual, sobre Chapecó, e claro, sobre a tentativa de
homicídio contra a ex-namorada que a levou para aquele lugar.
Durante aquela conversa, Itajaí chorou muito, foram poucas as vezes em
que a jovem conseguiu chorar como naquele momento. E quando deixou a
penitenciária, Laguna desabou dentro do carro, longe dos olhos dos
outros, jamais uma conversa com um paciente mexeu tanto com ela.
    Durante os meses que se seguiram, as duas conversaram toda semana,
e Laguna já não conseguia mais esconder. Sabia que seria um escândalo,
sabia que seria muito julgada pelos outros mas estava disposta a tudo.
Os atendimentos na penitenciária a fizeram conhecer uma Itajaí
completamente diferente; frágil, machucada, uma Itajaí que estava
mudando e a muito tempo não recebia um gesto de amor.
    Laguna se apaixonou por sua paciente, que cumpria pena por tentativa de
homicídio. Havia decidido que nunca ninguém saberia sobre sua orientação
sexual, havia decidido que nunca se casaria e nunca precisaria contar à
ninguém o seu maior segredo. Mas decidiu encarar a
realidade e esperar que Itajaí ficasse livre; estava disposta a fazer
tudo por ela, ajudá-la a reconstruir sua vida, e se fosse de sua
vontade, viver ao lado dela.
    E um ano se passou.
Palhoça e Jaraguá concluíram o encino fundamental; enquanto a mais nova
optou pelo curso de psicologia, a irmã, que nunca foi de estudar muito,
resolveu se dedicar a algo que ela realmente gostava, fotografia.
Palhoça começou um curso técnico, e em pouco tempo já estaria
trabalhando.
Nunca pensou que fosse gostar tanto; havia realmente descoberto sua
vocação.
    E chegou o grande dia; o dia mais feliz da vida da enfermeira
Camila. Foram meses de espera, de preparação; naquela noite, ela e São
José se casariam:
— Você está linda, amiga! - os olhos de Chapecó brilhavam ao falar do
quanto a melhor amiga estava bonita; embora não pudesse se casar na
igreja, a enfermeira fez questão de usar um lindo vestido de noiva:
— Eu não vou poder me casar na igreja, Chapecó, mas eu quero que ele me
veja assim, eu quero que São José me veja assim, vestida de noiva!
Chapecó parou por um instante, e olhando para a amiga começou a rir:
— Você vai se casar com o meu sogro, Cami! Que vida louca!
— Põe vida louca nisso!
— Eu ainda lembro da noite em que você foi lá em casa e contou pra gente
que estava namorando com ele!
— Você estava com um barrigão, Joinville não sabia o que fazer... e
falando nisso, cadê ela?
— Está lá em baixo de olho no noivo e no meu filho!
    - Cami! Cami! - Palhoça entrou no quarto correndo, usando um vestido
azul claro, estava linda:
— Ei, menina - brincou Chapecó -, a casa está pegando fogo?
— Ainda não, cunhadinha; mas o meu pai vai acabar botando fogo naquela sala, de tão
nervoso! Ele está tão lindo, gente, até parece que é a primeira vez que
ele se casa!
— Palhoça, a Ana já chegou? Ela é minha testemunha junto com Chapecó!
— Chegou sim, Cami; e o juiz também já chegou!
    O lugar escolhido para a cerimônia foi a casa onde o futuro casal
viveria; Camila já passaria aquela noite na casa nova com seu marido, e
os dois viajariam no dia seguinte.
    Antes que Camila descesse para a sala onde o juiz, os convidados e o
noivo já esperavam por ela, Joinville pediu para conversar com ela.
Chapecó as deixou a sós no quarto, e ali, vestida de noiva, a enfermeira
pôs-se a ouvir o que a enteada tinha a lhe dizer:
— Camila, eu quero te pedir uma coisa importante! Eu não quero parecer
chata, implicante, mas eu quero te pedir que cuide do meu pai! Ele
sofreu uma decepção muito grande, eu não vou admitir que ninguém faça
meu pai sofrer de novo!
— Eu te dou a minha palavra, Joinville! Eu sei que a maioria das pessoas
pensam que eu estou me casando com um homem mais velho por causa do que
ele pode me oferecer, mas eu amo o seu pai, eu quero ficar com ele!
— Eu nunca disse que você não amava meu pai!
— Mas é isso que todo mundo pensa!
— Eu sempre tive ciúmes de você, Camila; primeiro com Chapecó, depois
com o meu pai...
— Eu te entendo, Joinville, no seu lugar eu também me sentiria assim! Eu
quero que você saiba que eu estou aqui, sempre que você precisar de mim!
— Você já teve alguma coisa com ela?
A pergunta caiu como uma bomba para a jovem enfermeira; mas ela não
perdeu a serenidade. Olhou Joinville nos olhos e deu sua resposta:
— Não, Joinville; eu e Chapecó nunca tivemos nada!
— Ela me disse isso na noite em que você esteve lá em casa e contou que
estava namorando meu pai; mas eu precisava te fazer essa pergunta!
— Joinville, Chapecó é completamente apaixonada por você; eu nunca vi
minha amiga sofrer tanto por alguém como ela sofreu por você; nunca se
esqueça disso! Agora eu preciso descer, os nossos convidados estão me
esperando, o seu pai está me esperando!
    Camila estava descendo a escada, conduzida por seu pai; todos os seus
amigos e familiares estavam ali. Prestou atenção em sua mãe, que
já estava com a maquiagem borrada, em sua avó, em sua irmã Karlla e em
Davi, que foi escolhido por São José para ser sua testemunha junto com
Lucas, casado com a doutora Ana a alguns meses.
Entre os convidados também estava Clara, agora esposa de Davi, grávida de quatro meses.
Carlos, o pai de Camila, se aproximou do noivo levando sua filha;
olhou-o nos olhos e sussurrou:
— Deus me deu dois tesouros muito valiosos, eu estou te entregando um
deles; cuida bem dela!
Todos fizeram silêncio; o juiz de paz começou:
— Sejam bem vindos! Estamos aqui reunidos, amigos, familiares, para
celebrar o amor desse casal; e esse amor, gente, é uma resposta divina
para eles, um sentimento que começou de forma singela, São José, e foi
aos poucos ganhando força, Camila! Saibam que o casamento é um ato
solene, repleto de direitos e deveres garantidos pela união; vocês estão
diante de um juiz que pode uni-los pela lei, mas só o amor de vocês pode
fazê-los plenamente felizes!
O juiz de paz fez a pergunta, se era de livre e espontânea vontade que
eles estavam ali para receberem um a o outro como marido e mulher; a
primeira a responder foi Camila, o sim saiu em alto e bom som de sua boca e uma lágrima
rolou de seus olhos. Ao ser perguntado pelo juiz, São José olhou à sua
volta; seus filhos, sua ex-mulher, todos aqueles que faziam parte de sua
vida estavam ali; e ele disse seu sim:
— De acordo com a vontade que ambos acabaram de manifestar perante mim, de
vos receberem um a o outro como marido e mulher, eu, Flávio Queiroz,
juiz de paz desta comarca, os declaro casados!
    Chapecó, Ana Luísa, Lucas e Davi assinaram como testemunhas daquela
união; e era hora dos cumprimentos:
— São José - Florianópolis se aproximou do ex-marido -, parabéns; eu te
desejo toda felicidade do mundo!
— Eu tenho certeza disso, minha querida; obrigado por tudo!
A mãe de família virou-se para Camila para abraçá-la:
— Você está uma noiva linda, Camila; parabéns!
— Obrigada, Florianópolis; e pode ter certeza, o que eu te disse na sua
casa está valendo, nessa casa sempre vai ter um lugar especial e muito
carinho para os seus cinco filhos!
    Foi a vez de Ana Luísa abraçar o casal, seguida pelo marido Lucas,
Davi e Clara, Chapecó, Joinville e São Lourenço, Palhoça, Jaraguá e o
namorado:
    No colo da mãe, a pequena Içara, com um ano de idade, foi cumprimentar
o avô; São Bento do Sul estava ali, ao lado da ex-mulher e da filha.
Içara era sorridente, inteligente para a idade que tinha; sua primeira
reação foi esticar os pequenos braços para que o avô a pegasse no colo:
— Oi, meu anjo - dizia ele -, mas que mocinha linda!
— Dá um abraço no vovô, meu amor! - interveio Blumenau; a pequena
envolveu o pescoço dele com os bracinhos:
— E eu não ganho não? - perguntou Camila; Içara olhou para ela e lhe deu
um lindo sorriso, esticando os bracinhos para ela; a enfermeira, vestida
de noiva, pegou-a no colo; a pequena olhou fixamente seu rosto e tocou-o
em seguida:
— Cami - falou Blumenau -, seja muito feliz; e cuida bem do meu pai!
— Pode deixar, Blumenau; eu cuido dele! E você é sempre bem vinda nessa
casa, pode ter certeza!
São Bento cumprimentou São José e sua esposa com um aperto de mão;
Içara, ainda no colo de Camila, esticou os bracinhos para o pai, que
pegou-a no colo.
    São Joaquim, com dois anos, já caminhava e falava
algumas palavras; percebeu que todo mundo abraçava seu pai e foi fazer
o mesmo. Correu até ele e Camila e deu um abraço em cada um deles:
— Eu estava te procurando, seu sapeca - falou Florianópolis ao
encontrar o filho no colo do pai -, você está amassando toda a roupa do papai, meu
amor!
— Não faz mal, não é - respondeu Camila -, isso é o de menos!
    Os noivos e os convidados foram para o salão de festa da casa;
jantaram todos juntos, os noivos cortaram o bolo e dançaram, pela
primeira vez depois do sim. Embora não tivesse se casado na igreja,
Camila fez questão de fazer tudo como sempre sonhou; jogou o buquê, que
foi para a mão da filha caçula de seu marido.
A festa acabou tarde; todos os convidados foram embora, eram apenas
Camila e São José na casa, agora casados:
— Parada aí, senhora minha! - São José abraçou a esposa pela cintura e a
impediu de chegar até a escada; ela virou-se para ele e ficaram de
frente um para o outro:
— Sim senhor, meu marido! - foi tudo o que a enfermeira teve tempo de
dizer, com um sorriso de felicidade, antes que ele a pegasse no colo:
— A gente vai cair! - tentou ela em meio a uma gargalhada contagiante,
ao perceber que São José ia subir a escada com ela nos braços:
— Confia em mim! - ele respondeu, rindo da situação:
— Ah, meu Deus, eu estou nas mãos de um cara maluco!
— Esse cara maluco te ama muito, enfermeira Camila; te ama mais do que
tudo!
E São José subiu de vagar a escada que o levaria até os quartos da casa,
com a esposa no colo, ainda vestida de noiva. Entrou na suite que estava
toda arrumada:
— Dá pra você me colocar no chão agora? - Camila continuava rindo, tentava
fazer cara de brava mas estava amando tudo aquilo; São José pensou em
dizer alguma coisa mas não teve tempo; um tapete vermelho estendido
junto a o pé da cama de casal o fez tropeçar e... pronto, lá estava ele,
caiu sentado no chão, mas conseguiu manter sua jovem esposa segura nos
braços. Camila riu alto:
— Pelo menos eu consegui entrar no nosso quarto com você no colo! -
ponderou São José com um sorriso de felicidade, era visível a felicidade
daquele homem:
— Eu falei que a gente ia cair!
    Os dois permaneceram como estavam; ele sentado no chão do quarto,
com ela no colo. Ficaram olhando um nos olhos do outro por alguns
instantes; por onde começar? O que dizer?


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