Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 7
CAPÍTULO7




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CAPÍTULO7

    São José e Florianópolis acreditavam que a primeira filha a trazer
um namorado para apresentar para a família seria a mais velha, Blumenau.
mas a primeira das quatro a tomar essa atitude foi Joinville, que depois
de ter passado um fim de semana em uma casa de praia com Chapecó, teve
certeza de que seu destino era esse.
Os pais, embora tenham sido pegos de surpresa com a opção e a decisão da
filha, só queriam que ela fosse feliz; decidiram acolhê-la de braços
abertos.
    Na noite em que Chapecó se sentou à mesa pela primeira vez com a
família da namorada, a família toda a tratou com respeito, com carinho.
Jaraguá se tornou a fã número um da namorada da irmã em pouquíssimo
tempo de conversa, Palhoça agiu com simpatia e com naturalidade o tempo
todo, e Blumenau, Blumenau não fez questão nenhuma de esconder seu
descontentamento, podia jurar que sua irmã não era o único caso na vida
de Chapecó.
    A jovem enfermeira Camila, com seus vinte e seis anos de idade,
conheceu Chapecó no dia em que se mudou para o flat onde ela morava;
tornaram-se vizinhas de porta, ficaram amigas, e a ausência de ambas as
famílias por perto fez com que as duas passassem a dividir tudo uma com
a outra.
E naquela noite, depois que chegou da casa de Joinville, a futura
engenheira civil interfonou e pediu que a vizinha fosse até seu
apartamento. Colocou duas taças na bancada, uma garrafa de vinho e uma
música agradável; ficou esperando até que Camila apareceu:
— Fiquei preocupada quando você me interfonou a uma hora dessas -
comentou a jovem enfermeira já sentada em uma banqueta, com a taça de
vinho na mão, de frente para Chapecó:
— Eu só queria conversar - justificou-se ela -, contar algumas coisas,
achei que seria uma boa te chamar aqui em casa agora!
— Eu estava lá no meu apartamento, de bobeira, tenho folga amanhã! Mas e
aí, o que aconteceu?
Chapecó enfeitou seu rosto com um lindo sorriso antes de dizer o que a
fez chamar pela amiga e vizinha naquela noite:
— Cami, eu estou namorando de novo; eu acabo de vim de lá, fui conhecer a
família dela!
Um filme passou pela cabeça de Camila em questão de alguns segundos; a
alguns meses atrás, naquela mesma bancada, ela ouviu sua amiga dizer que
estava solteira:
— E quem é? - perguntou sorrindo de leve a enfermeira:
— Joinville! Sabe, Cami! Eu já namorei muito, já aprontei muito e nunca
escondi isso de ninguém! Só que pela primeira vez eu estou com vontade
de sossegar nessa vida, entende? Sabe quando você começa a sentir
vontade de acordar toda manhã ao lado de alguém? Chega uma hora que
você cansa, e aí tudo o que você quer é uma vida feliz do lado da pessoa
que você ama! Eu estou assim; cansada, querendo só uma vida feliz!
As duas conversavam a o som da música Bengala e Crochê, de Maiara e
Maraisa, que tocava na televisão. Camila ouviu todo o relato da amiga, e
só depois conseguiu dizer alguma coisa:
— Olha só, amiga! Eu não sei o que é que essa moça está fazendo com
você; mas você sabe o que eu penso sobre isso!
— Eu sei, amiga! Eu tinha prometido pra mim mesma que eu ia sossegar por um tempo,
Cami; não ia me envolver com ninguém, não ia namorar pelo menos por um
tempo, mas foi uma coisa que nem eu mesma consigo explicar!
— E a família dela, Chapecó?
— Bem; os pais me receberam super bem, com carinho, duas das irmãs dela
também me trataram com muito respeito, com muito carinho, mas a irmã
mais velha, essa não fez questão nenhuma de esconder que não gosta de
mim e que quer me ver pelas costas! É claro que o apoio da família é
importante, Cami; mas é Joinville que tem que me aceitar por completo,
entende?
— Entendo, amiga, entendo você! Você vai acabar conquistando...
— Acontece que eu acho que não vai ser tão fácil assim não; a irmã dela
me abordou outro dia no estacionamento da faculdade, fez mil ameaças,
perguntou o que é que eu pretendia com a irmã dela!
— Você não me contou isso!
— É sério, Cami; mas ela também ouviu, se ouviu! A maior decepção de
Joinville é o fato da irmã mais velha nunca ter se preocupado de fato
com ela e eu falei isso pra futura doutora, falei!
— Você não tem jeito mesmo! - deduziu a enfermeira dando uma gargalhada.
    E naquela noite, as duas conversaram muito; sobre amor, amizade,
relacionamento. Acabaram bebendo mais algumas taças de vinho e aquela
sala se tornou pequena para tantas confições, confidências.
Camila voltou para seu apartamento já passava de uma da manhã; estava
feliz, e mais do que nunca, desejava ardentemente que a amiga fosse
feliz.
    Eram quatro horas de uma tarde ensolarada de terça feira; naquele dia,
Jaraguá precisou ir à escola para fazer um trabalho em grupo com alguns
colegas, e agora, voltava pra casa.
Enquanto caminhava carregando a mochila, a menina pensava em mil coisas;
entre essas coisas estava sua irmã, Joinville, que sempre foi sua melhor
amiga e confidente. E foi com o pensamento na irmã, com a enorme gana de vê-la feliz
a todo custo, que Jaraguá decidiu mudar seu trajeto, não iria direto pra
casa. Parou na calçada junto à porta de uma loja, procurou o celular na
mochila e ligou para sua mãe; avisou que já havia saido da escola, que
passaria na casa de uma amiga e só ntão iria pra casa.
O lugar onde a menina pretendia chegar não estava muito longe dali; ela
foi andando com tranquilidade e um sorriso no rosto até chegar no flat
onde Chapecó morava; sabia que era aquele, pois já havia passado por ali
de carro com Joinville.
    Ao chegar em casa morrendo de calor naquela tarde, Chapecó queria
apenas colocar os pés pra cima e ficar ali, pensando na vida. E foi o
que ela fez; sentou-se no sofá da sala com o ar condicionado ligado e
ficou ali por alguns minutos, até ouvir o som do interfone.
Se levantou para atender e ficou preocupada quando a recepcionista do
flat anunciou que Jaraguá estava lá embaixo:
— Pode mandar subir, Lara - consentiu Chapecó, que já conhecia todos os
funcionários do flat -, por favor!
A moça soltou o interfone, abriu a porta e ficou esperando pela jovem
cunhada. A porta do elevador se abriu algum tempo depois e Jaraguá
surgiu no corredor; estava de uniforme, mochila, estava como tantos
estudantes espalhados pelo mundo naquela tarde; mas o sorriso que ela
trazia era único, era só seu, era o que a diferenciava dos outros
estudantes que, possivelmente estariam em uma situação semelhante
naquela tarde.
Ao encontrar Chapecó parada na porta à sua espera, a menina correu para
ela como uma criança; pendurou-se no pescoço dela:
— Oi, menina! O que foi que aconteceu? - Chapecó era afetuosa, seu tom
de voz era amigável, reconfortante:
— UÉ, e precisa acontecer alguma coisa pra eu vir te visitar?
— É claro que não, minha querida; eu só fiquei preocupada quando a Lara
me falou que você estava lá na recepção!
— Eu fui na escola fazer um trabalho em grupo, saí agora de lá e resolvi
passar aqui pra te ver!
— Fiquei muito feliz com a sua visita; entra, minha querida, seja bem
vinda a o meu cantinho!
    Jaraguá tinha uma beleza que era só sua; entrou no apartamento,
deixou a mochila sobre o sofá como se estivesse em casa; Chapecó se
sentou e convidou a jovem cunhada a fazer o mesmo. As duas agora estavam
lado a lado; Jaraguá tinha tanto a dizer, agora precisava encontrar
rápido as palavras certas:
— Eu não estou te atrapalhando, Chapecó?
— É claro que não, mocinha; eu acabei de chegar em casa da rua, estava
sentada aqui com os pés pra cima!
— Eu vim porque eu queria falar com você, mas eu queria que fosse só nós
duas, entende?
— Entendo sim; eu sou toda ouvidos, minha querida!
    Jaraguá não tinha certeza se tinha mesmo encontrado as palavras
certas; procurou a mão da cunhada com a sua e a segurou antes de
falar:
— Chapecó! Antes de qualquer coisa, eu quero que você saiba que eu gosto
muito de você, que eu sou a presidente do seu fã-clube lá em casa!
A futura engenheira civil não conseguiu esconder que estava emocionada
com aquela declaração. Jaraguá, com os olhos fixos nela, continuou:
— Quando eu soube que a minha irmã estava namorando uma outra moça,
demorou um pouco pra eu me acostumar com a ideia; mas eu amo tanto a
minha irmã, mas tanto, que quando eu vi o sorriso dela lá em casa,
sentada do seu lado eu tive certeza que eu podia ficar sossegada!
Joinville sempre foi a minha confidente, minha melhor amiga, eu acho que
se a gente fosse irmãs gêmeas não daria tão certo! Por isso eu só queria
te pedir uma coisa; cuida bem dela, Chapecó, faz ela feliz!
    Chapecó estava surpresa com a atitude de Jaraguá, mas não conseguia
esconder a emoção daquele momento. Observou por um instante a linda
menina que estava sentada ao seu lado, depois disse:
— Jaraguá, eu vou te contar uma história, minha querida! Quando eu tinha
dezoito anos, eu decidi morar sozinha por livre e espontânea vontade;
assumi pra minha família que eu preferia me relacionar com mulheres e
aproveitei cada segundo da minha vida de lá pra cá! Namorei, amei muito;
mas por mais que eu amasse eu nunca tive vontade de morar junto, nunca
quis abrir mão da minha liberdade, não me via casada com ninguém! Mas
quando eu conheci sua irmã, quando eu passei a conviver com ela, eu
senti que tinha mudado alguma coisa, eu amei Joinville de um jeito
diferente dos meus outros relacionamentos! Eu sei que você é muito jovem
ainda pra entender o que eu estou dizendo, talvez não seja nada disso
que eu queria dizer, mas...
— Eu estou entendendo tudo, Chapecó; eu estou te entendendo!
— Então eu quero te dizer o seguinte, meu anjo! Confia em mim; eu
prometo que Joinville vai ser muito feliz, eu prometo que eu vou cuidar
bem dela do jeito que você me pediu! Eu amo muito a sua irmã; e quando
você precisar de uma irmãzinha postiça aqui, eu estou às ordens!
    Nada mais precisou ser dito; as duas se abraçaram, Chapecó sentiu
que naquele momento, firmava um compromiço com a irmã de Joinville,
percebeu que seu compromiço não seria apenas com ela, mas com Jaraguá
também.
    Naquela tarde, as duas tomaram café juntas na bancada da cozinha,
tiraram fotos, conversaram, riram muito.
Jaraguá sentiu naquela tarde, que podia dizer que tinha mais uma irmã;
uma irmã que não saiu do ventre de sua mãe, mas que ela amava como tal.


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