Titanomaquia escrita por Eycharistisi


Capítulo 6
V. Ele está aqui.


Notas iniciais do capítulo

[Capítulo agendado]



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Um silêncio mortificado instalou-se na divisão enquanto a minha saliva escorria lentamente pela face esquerda do elfo. Durante alguns segundos, ninguém se moveu, e o primeiro a manifestar-se foi, para minha surpresa, o próprio elfo. Ele abriu um largo sorriso cruel e levou uma mão ao rosto, limpando-o lentamente.

— Entendi — disse num tom quase doce.

A sua mão disparou para o meu rosto e eu virei rapidamente a cabeça, temendo ser agredida. Todavia, em vez disso, ele apertou-me o nariz com força e puxou-o para cima, impedindo-me de respirar ao mesmo tempo que me inclinava a cabeça completamente para trás.

— Abre a boca — sibilou ele, encostado o frasco aos meus lábios — Abre a boca…

Tentei sacudir a cabeça para me libertar dos seus dedos, mas ele imobilizara-me bem. Tinha a cabeça tão inclinada que sentia os músculos do pescoço puxar o meu maxilar inferior, tentando aliviar alguma da tensão que o elfo os forçava a suportar. A falta de ar também me começava a incomodar e sabia que teria de abrir a boca para respirar em breve. O frasco encostado aos meus lábios, porém, fazia-me preferir morrer asfixiada.

— Tu precisas de respirar — continuou o elfo — Anda, abre a boca…

Aguentei o máximo de tempo que me foi possível. Quando finalmente cedi à ânsia de respirar e abri a boca para o fazer, a primeira coisa que entrou foi a poção. O líquido fluído e ligeiramente ácido fez-me engasgar e comecei a tossir descontroladamente, acabando por cuspir mais do que aquilo que engoli. Imagino que isso no fundo não fizesse qualquer diferença porque ambos os homens me soltaram assim que ficou claro que pelo menos uma pequena parte da poção me descera pela garganta.

Fiquei vários instantes ajoelhada no chão, a tossir e a tentar cuspir o que me entrara para a boca. Quando finalmente ganhei coragem para erguer o olhar para os meus algozes, todos me lançavam o mesmo olhar expetante.

— O que é que isto me vai fazer? — perguntei numa voz ligeiramente engasgada — Esta… poção…

— Vai obrigar-te a responder honestamente às minhas perguntas — disse a mulher-raposa — É um elixir de verdade.

A minha vontade naquele momento era cuspir na cara dela também, mas como ainda não sentia as pernas, limitei-me a uma pequena gargalhada escarninha.

— Eu não disse nada… nada!… além da verdade desde que aqui cheguei — garanti — Vocês não precisavam de nenhuma mistela de verdade, precisavam apenas de se calar e ouvir-me! A sério, que raio têm vocês na cabeça?! É tudo doido aqui ou quê?!

— Como te chamas? — cortou-me a mulher-raposa.

— Eduarda — respondi, sem me conseguir conter. Não que tenha tentado…

— Que idade tens?

— Dezoito.

— Como entraste na sala do cristal?

— Não sei.

As criaturas diante de mim trocaram uma data de olhares admirados.

— Como entraste na sala do cristal? — repetiu a mulher-raposa, num tom mais insistente.

Eu soltei um pequeno suspiro.

— Não sei — repeti pausadamente — Estava no meio da floresta, a apanhar míscaros com a minha família, vi uns cogumelos brancos num círculo, arranquei um do chão e, puff, vim parar à sala do cristal.

Houve uma nova troca de olhares.

— Isso é impossível — disse a mulher-raposa — A sala está vedada a feitiços de teletransporte, não há maneira de entrar através dum círculo de cogumelos.

— Não me diga! — exclamei, arregalando os olhos com desdém — Então explique-me como diabos vim aqui parar!

— És da Terra? — perguntou de repente o elfo — Do planeta Terra?

— Sim e, já que falamos no assunto, alguém se importa de me dizer que raio de sítio é este?

— Eldarya — respondeu o vampiro — Estás em Eldarya, no quartel-general das Guardas de Eel.

Eu pisquei os olhos. Subitamente, parecia que ele tinha começado a falar uma língua completamente diferente.

— El-quê? — perguntei.

O vampiro abriu a boca para explicar, mas a mulher-raposa travou-o com um gesto da mão.

— O efeito da poção está a passar e ainda há perguntas para as quais quero resposta.

— Força — incentivei-a sem qualquer entusiasmo.

— Partiste ou danificaste o cristal?

— Não.

— Pretendes fazê-lo?

— O quê…? Não!

— Alguém te pediu que o fizesses?

Não! — quase gritei — Vocês fazem cada pergunta mais estranha…!

— Como fugiste da cela? — perguntou de repente o general.

Desta vez, hesitei na resposta. Eu não queria revelar o homem mascarado que me ajudara, não era justo fazê-lo. Sabia, porém, que não tinha outra opção. Sentia já o efeito da poção que bebera atuar sobre mim, impelindo-me a responder; asfixiando-me enquanto tentava conter os movimentos dos meus lábios e da minha língua.

— Um… um homem — dei por mim a dizer, apesar do esforço que fazia para não falar — Um homem com… uma máscara negra… de olhos vermelhos… Ele… derreteu a fechadura e deixou-me sair.

O grupo voltou a trocar olhares, desta vez alarmados.

— Ele está aqui — constatou a mulher-raposa num murmúrio assustado.


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Notas finais do capítulo

[Próximo: 26/9/17]



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