Titanomaquia escrita por Eycharistisi


Capítulo 4
III. Cucu.


Notas iniciais do capítulo

[Capítulo agendado]



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“Mas que raio?”, pensei para comigo enquanto procurava o homem misterioso. Para onde é que ele fora? E porque me deixara ali?!

O ranger duma porta lembrou-me que não tinha tempo para ficar ali a refletir sobre aquelas questões. Dirigi-me rapidamente para uma cela cuja porta estava estragada e espalmei as costas contra a parede, esperando que as sombras da cela fossem o suficiente para me esconder.

Os passos pesados continuaram a aproximar-se e não demorou até dois homens cobertos por armaduras negras passarem diante da cela em que estava escondida.

Não esperei que eles descobrissem a minha fuga. Assim que passaram por mim, saí do meu esconderijo o mais rapida e silenciosamente que consegui, vigiando-os por cima do ombro enquanto me dirigia para a saída das masmorras. Alcancei-a no mesmo instante em que eles chegaram à minha cela e notaram a fechadura derretida. Deixei então de me preocupar em ser silenciosa e desatei a subir as escadas em espiral que encontrei do outro lado da porta.

Eu estivera vendada pela mão do homem-javali quando ele me conduzira às masmorras, mas sabia mais ou menos o caminho que precisava de fazer. Não fora muito difícil de fixar, pois resumia-se quase exclusivamente a escadas. Muitas e muito longas escadas. Sempre a subir. Escusado será dizer que, ao fim de pouco mais de dois minutos, eu já mal me aguentava nas pernas. Parar, contudo, estava fora de questão.

Quando finalmente cheguei ao topo das escadas em espiral, tinha as pernas a tremer e o peito a arder com falta de ar. Permiti-me a uma longa inspiração de alívio por finalmente ter algum solo plano para percorrer… mas este rapidamente se tornou um gemido de desespero quando vi um novo lance de escadas à minha esquerda, as quais espiralavam paredes acima até quase perder de vista.

Eu jamais conseguiria subir aquilo tudo duma vez, para mais no estado em que me encontrava. Mesmo que tentasse fazê-lo, os guardas iriam ver-me uma vez que nada impedia a visão dos degraus. A única solução era encontrar uma outra saída, algo que um olhar rápido em redor confirmou não existir. Havia, contudo, uns canteiros de pedra com estranhas flores luminescentes espalhados pela divisão. Arrastei-me até ao mais próximo, deitando-me atrás dele enquanto tentava reaver o fôlego.

Tinha acabado de inspirar fundo quando ouvi os passos dos guardas vir das escadas. Congelei durante alguns instantes, temendo que eles decidissem revistar a sala, mas eles nem sequer abrandaram antes de se dirigirem para as escadas seguintes. Estavam, claramente, em melhor forma física do que eu…

Fiquei vários minutos escondida atrás do canteiro, ouvindo os passos dos guardas tornarem-se cada vez mais distantes. Já só ouvia um suave eco longínquo quando decidi levantar-me e começar a segui-los. Avancei cautelosamente meio caminho até às escadas, de cabeça completamente atirada para trás para poder vigiar os guardas lá muito em cima, quase a chegar ao topo. Seria chato se, depois de os despistar tão eficazmente, me descuidasse e permitisse que me vissem ali em baixo.

Comecei a subir as escadas de forma mais descontraída, uma vez que já não tinha ninguém a perseguir-me. Quando ficava cansada, sentava-me por uns minutos numa das várias varandas que intercalavam com as escadas. Geralmente, essas varandas conduziam a pequenas portas de madeira que ainda tentei abrir, mas estavam todas trancadas. Mesmo que estivessem abertas, não eram o caminho que eu tinha de seguir para sair dali, por isso não me demorei muito tempo nessa questão.

Devo ter passado perto de uma hora a subir aquelas escadas intermináveis. Quando finalmente cheguei ao topo, estava outra vez ofegante e com as pernas a tremer, apesar de todas as paragens que fizera. Apoiei as mãos nos joelhos por um instante para me tentar recompor e só depois fixei a porta diante de mim. Aquele era o último ponto do caminho de que me lembrava e tudo dependeria do que encontrasse do outro lado. Quando fizera o percurso inverso com o homem-javali, a divisão do lado de lá da porta fora barulhenta e agitada, com gente a mover-se dum lado para o outro. O que me chamara a atenção, contudo, fora a leve corrente de ar que sentira percorrer a divisão como se houvesse por ali… uma porta aberta para o exterior.

O meu plano de fuga baseava-se todo na esperança de que a divisão do outro lado fosse um átrio e de que me conseguiria misturar com a multidão para chegar à saída. Se alguma destas coisas falhasse… bem, ficaria metida num grande sarilho.

Inspirando um fôlego de coragem, aproximei-me da porta e empurrei-a cuidadosamente. Queria espreitar o ambiente antes de me aventurar, para o caso de haver guardas. A porta, todavia, estava inserida numa grande depressão na parede pelo que a única coisa que via era a pedra que a constituía. Teria de empurrar a porta quase completamente para trás para ver e, nessa altura, seria tarde demais para me esconder.

Decidi por isso usar primeiro os ouvidos! Segurando a porta entreaberta, aproximei-me e encostei o ouvido à madeira.

Que estranho… O barulho da pequena multidão desaparecera. Restava apenas uma única voz, masculina e grave. Que raio…

Com movimentos cuidadosos e silenciosos, tentei empurrar um pouco mais a porta. Só mais um pouco…

— Cucu — murmurou a sombra que espreitou o meu rosto sobre o meu ombro esquerdo.

O grito que soltei foi alto o suficiente para fazer um morto saltar de susto.


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Notas finais do capítulo

[Próximo: 15/9/17]



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