Soltando um longo suspiro aborrecido e fatigado, continuei a arrastar-me atrás do meu primo.

— Porque é que ainda estamos à procura? — perguntei-lhe num tom manhoso — Não há nada aqui…!

— Há, sim! Só temos de procurar bem!

Eu revirei levemente os olhos, mas decidi não fazer mais comentários. Afinal, a culpa de estar a vaguear naquela floresta fria e húmida, com lama nas botas e terra debaixo das unhas, era minha e apenas minha. Aceitara de livre e espontânea vontade procurar míscaros com a família do meu pai, apesar de saber perfeitamente que “trabalhar na terra” não era a minha vocação ou sequer algo de que gostava. Na verdade, detestava sujar-me e o vento gelado deixava-me sempre os olhos a lacrimejar e o nariz a pingar. Doíam-me as pernas de tanto andar e as costas de me agachar para apanhar os míseros cogumelos que encontráramos até agora. Devia estar louca quando aceitei vir para ali…

— Ah, encontrei! — festejou o meu primo, alguns metros à minha frente, junto de uma árvore caída — Encontrei, Edu! Eu disse-te que havia míscaros aqui!

— Uau, que maravilha — disse sem qualquer entusiasmo antes de me aproximar.

Os míscaros junto da árvore caída não eram muitos, por isso deixei o meu primo colhe-los sozinho e continuei a andar. Encontrei um míscaro solitário ao fim de alguns passos e baixei-me para o apanhar, guardando-o no cesto de verga que trazia na mão. Dois passos mais à frente, encontrei outro. À minha esquerda encontrei mais um. Fui seguindo aquele “rasto” de míscaros até que me deparei com um curioso conjunto de cogumelos brancos dispostos em círculo. Nunca vira cogumelos com aquele aspeto ou cor, pelo que fiquei sem saber se os deveria apanhar ou não. Olhei por cima do ombro e vi o meu primo lá muito ao longe ainda a apanhar míscaros junto da árvore caída. O melhor seria mostrar-lhe os cogumelos e perguntar se eram bons para comer…

Dobrei-me pela cintura, arranquei um dos cogumelos do chão e uma luz branca vinda de nenhures cegou-me.