A Aurora de Castelobruxo - A Harry Potter Story escrita por ThaylonP


Capítulo 19
Em Frente




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Enquanto concluía cada uma das provas, não deixava de pensar no quanto gostaria de estar fora dali para praticar feitiços. Na noite anterior, o livro Padrão de Feitiços do Primeiro Ano ficou com umas dezenas de páginas esgarçadas, de tanto vasculhar em busca de cada vez mais coisas para produzir com o cajado. Acabou dormindo pouco, sem nem se importar se estava sendo prejudicada em alguma das matérias.

Os professores saíam, um de cada vez da turma, trocando de assunto dos pergaminhos a cada sinal. Primeiro, veio a professora Negrini, e Aurora escreveu as respostas, tomada de confiança. Aprendera muito mais do que esperava aprender, e até podia saber mais do que a instrutora naquele momento. A segunda foi Joana, que pela primeira vez não guiava a classe dentro da estufa. A parte teórica ainda era confusa, e teve de passar por algumas questões sem respondê-las. Depois, à tarde, na parte prática, sentiu que foi melhor. A última foi a professora Stradivarius, que dançou na frente da sala até manifestar as questões no novo pergaminho onde os alunos inclinariam suas cabeças para responder. Nino era um excelente professor, então Aurora chutou que se daria melhor em Poções do que em qualquer outra.

Havia ainda, naquela mesma semana, outras provas que ainda não foram aplicadas, das três matérias de Feitiços. Aurora teria de recuperar todo o conteúdo de uma vez, o que deveria ser um grande esforço, caso não estivesse tão empolgada para disparar azarações, encantamentos e maldições.

Descendo da torre em direção ao refeitório, um menino meio tímido de Guaraci passou por ela e lhe entregou um papel, depois saiu de perto, fugindo apressado. Ela não entendeu, e quando desembrulhou o recado, ficou ainda mais confusa.

VOCÊ É MUITO BONITA! 

Te vejo no Dia dos Mortos? 
[] Sim [] Não

A menina não conseguiu desgrudar os olhos do papel até alcançar o refeitório, num múltiplo de reações. Parte dela estava extasiada, afinal, era um admirador do time rival que estava a convidando para uma festa que todos já iriam. Outra parte mais divisiva, estava corada; meio lisonjeada, meio envergonhada. Apressou-se até sua mesa, buscando entender o que estava acontecendo antes de apresentar ao grupo, mas viu outra surpresa no jantar: diversos daqueles mesmos fragmentos de pergaminho voavam de uma mesa a outra, aterrissando onde deviam e surpreendendo receptores, que reenviavam-nos para outro lado com suas respostas.

— Tá bom, o que tá acontecendo? – questionou ao se sentar junto do grupo, erguendo o papel para todos verem.

Antonino estava com um 'como foi a prova' engatilhado, imediatamente cortado assim que a menina mostrou o papel. Matheus arregalou os olhos, depois, abriu a boca como se tomado por um fascínio momentâneo.

— Aurora tá namorando! – anunciou, roubando o papel, vendo-o na contraluz. Naquele ângulo, o nome Ricardo Montanez aparecia embaixo, aliado com um pingo dourado de Guaraci. – Ricardo... hmm...

— Para com isso – Aurora pegou de volta, já que o rosto explodia de vermelhidão. – Eu nem respondi... quer dizer, nem sei quem ele é... não sei o que é isso...

Embaralhou-se tentando explicar, e Inara fitou Nino para que explicasse toda estória. O menino, que terminava um prato chique com mais salada do que qualquer outro elemento, limpou a boca com um guardanapo, preparando sua fala ao ruidar um pigarro.

— É como parece, srta. Magalhães – ajeitou a postura, esticou as costas. – É um convite. Neste caso, desse tal Ricardo, aí – cuspiu, como se o nome estivesse sujo. – Mas antes que receba um milhão desses, aqui está o meu – disse, sacando do bolso principal do paletó, um origami de flor que se abriu com uma mensagem.

PARA A MAIS CORAJOSA CORÇA

Aceita ser minha parceira no Dia dos Mortos?
[] Aceito [] Rejeito

É claro que a mensagem dele teria mais floreios do que qualquer outra. Ainda assim, não conteve um guincho de surpresa.

— M-mas, mas... Nino, ninguém disse que era uma festividade que... precisava levar parceiro, nem nada assim – as mãos começavam a suar, e ela nem sabia o porquê.

Matheus encarava a situação com um sorriso debochado. Além disso, olhava para cima, vez ou outra, esquivando-se de uma mensagem que passava voando em forma de um dragonete ou pixie. Ao lado, outras meninas de Anhangá começavam a receber, e algumas passavam a convidar os outros, de semelhante modo. Havia feições entristecidas, que de certo acompanhavam negativas cruéis; feições enraivecidas, por um convite inesperado de alguém abjeto ou por alguma brincadeira contida no recado, que era devolvida com a transformação do recado de papel, numa bola amassada flamejante. Uma dessas, observou ela, foi particularmente tensa de assistir. Kevin, monitor do lado masculino de Anhangá, disparou uma borboleta para cima, que prescreveu um arco até aterrissar próximo da taça de Maria. A menina abriu o papel, estranhou o convite, avaliando o nome escrito na parte de baixo, guardando-o logo em seguida. Do outro lado, o rosto do menino murchou.

Prestando atenção à cena, mal conseguiu focar no que veio em seguida, quando Nino explicava o porquê dos convites acontecerem àquela distância da festividade.

— Deixam para convidar perto do começo de Outubro. Os sextanistas começaram com essa tradição, mas na verdade, começou mesmo só porque os duelistas sempre apareciam com namoradas e namorados, o que fez com que outros daquele ano também decidissem convidar parceiros e parceiras. E isso seguiu, e mesmo não estando escrito que se deve levar, todo mundo acaba indo como uma dupla, um trio ou até um grupo maior – disse, abarcando mais uma porção de couve-flor. – Vale tudo.

— Até o Ricardo Montanez – falou Matheus, com uma voz que imitava o timbre de um conquistador latino.

— Para! – repetiu Aurora, meio divertida, meio assustada.

Inara, do outro lado da mesa, terminava de limpar os grãos do prato, e embora estivesse embarcada na discussão, não se mostrava interessada. Apenas parecia, como esperado, ignorar qualquer tipo de interação social que fosse mais complexa do que a pura educação.

— Olha outro vindo aí – afirmou Matheus, quando um projeto de pássaro pousou no cálice de Aurora.

Deixou a bebida energética para mais tarde, focando no cartão. Ao lado do nome abaixo, também percebeu um fragmento da cor da casa que enviara o recado. Esse dizia algo como: Te acho incrível por ter ajoelhado a estátua, vamos juntas!. Vinha de uma tal de Rita em Jaci, e ela olhou para trás, contudo, a menina escondeu-se no meio de seus companheiros.

— Eu não acredito – sussurrou Aurora, guardando o recado sem resposta.

— Não é mal-educado não responder? – desafiou Matheus, prendendo um riso com as mãos na boca.

— O que quer que eu responda!? Sim, vamos juntas sim, Rita, você é um amor – rebateu ela, fazendo a voz como quem imita alguém apaixonado. – Não dá pra ir com ninguém assim, de uma vez, sem mais nem menos. Acho que não dá pra ir com ninguém. Nem sei se eu quero ir com alguém! Ah! – pôs as mãos na cabeça.

Sem querer que a menina percebesse, Nino recuperou-se de um repelão, engatando uma acelga no garfo.

— Bom, é melhor você decidir – disse Matheus, recolhendo uma dupla de outros papéis dobrados, pondo próximo a ela.

Aurora abriu-os, conferindo se havia alguma diferença nas mensagens. A primeira também era um convite de um menino, dessa vez de Anhangá, só que com uma caligrafia terrível e um péssimo senso de português. Só entendeu o que ele quis dizer, quando o amigo de Jaci leu-o. O outro, para mais uma das inúmeras surpresas, era apenas uma mensagem de apoio, enviada de Guaraci. E que, depois que conversaram um pouco mais sobre ela, não foi a única. Agora todo mundo tem chance, disse uma delas, Quem deita Anhangá deita Luka, outra brincava. Havia muito interesse sobre a festival de Dia dos Mortos entre as cartas, mas acima de tudo, existia um reconhecimento sobre as ações da menina.

— Essa é bacana – Matheus recolheu uma, já que Aurora recebera tantas que não conseguia ler sozinha. Nino também tinha a sua parcela. – "O jogo fica mais legal, quando chega a menina sensacional. Novata esperta, as casas, liberta. Se Anhangá ajoelha, a gente festeja." No final tem um convite também, essa é de... Armando Castelo, Jaci – falou, se divertindo com o nome.

Nino, por sua vez, evitava ler todos os convites da menina, dizendo que todos eram repetitivos demais para serem notados, contudo, Matheus fez questão de afirmar que era medo da concorrência, deixando-o corado.

— Vai pra cima deles, Caçadora – leu, quando finalmente encontrou um de apoio.

Talvez, percebendo as primeiras chegando, os outros começaram a lançar suas próprias, para não ficar para fora da competição de Aurora – seja lá qual fosse. Enquanto a maioria, podia ter se misturado ao resto como um efeito de rebanho. Afinal, olhando para o céu de archotes tremulando, recheado de novos pontos encardidos voando, era algo divertido de se participar. Entretanto, percebendo cada novo convite, estava quase decidida a não ir com ninguém, só não sabia se quebraria alguma tradição fazendo isso.

Inara mantivera-se quieta, na sua comum expressão fechada, até vir uma sequência de nomes de outras casas. Anhangá tivera sua parcela, mas agora, outros faziam fila para dizerem o que queriam, empilhando-se na frente dos três.

— Acho isso perigoso – disse Inara, quando terminaram uma de outro primeiranista de Guaraci.

— Quê? – Matheus perguntou.

— Esses convites – torceu o lábio. – Será que vale aceitar um que não de Anhangá?

— É... como assim? – questionaram Aurora e Matheus, quase em uníssono. O menino continuou em seguida, sozinho: – Não que eu queira, mas se eu quisesse convidar Aurora, eu não poderia por que sou de outra equipe?

— Você, tudo bem – fez um gesto com a mão, descartando. – O problema é esse monte vindo de desconhecidos. Como você vai saber se realmente querem levar a Aurora e não querem roubar a estratégia da nossa casa? Ou sabotar a gente, de qualquer jeito?

Os dois ficaram quietos, pensando na possibilidade. Parecia remota, porque a festa era inocente, então os convites não deveriam fugir a essa regra.

— Eu... acho que pode ser verdade – começou Nino, empurrando uma pilha perfeita para longe dele. – Como saberemos que não são espiões?

— Espiões? – Matheus apertou o rosto inteiro, descrente.

— É, eu também não sei – Aurora começou, empurrando uma mecha do cabelo para trás da orelha. – Nem vamos mostrar nossas habilidades pra eles nem nada – argumentou.

Um trio de recados novos atingiu a mesa, caindo num dos pratos, que já estava vazio devido ao horário avançado.

— Mas eles podem extrair alguma coisa de você, não podem? Quer dizer, não foi o que fizeram com ele? – apontou Inara, rasgando a mesa com o braço estendido. – Podem tentar o mesmo.

Matheus emergiu dentro de si, afundando a cabeça no pescoço, encolhendo os ombros e o peito. Mexeu nas novas cartas, buscando uma distração, já que o seu semblante nublou-se no instante seguinte. Aurora olhou aquilo com pena, reclamando a falta de tato da amiga.

— Inara, por favor, não fala assim – retrucou Aurora.

— Só tô avisando – Inara ergueu as mãos, como se dissesse que não era culpada.

— Não, não tá – disse Matheus, e Aurora quase foi para trás.

Talvez, apoiado pela amiga, o menino tivesse deixado a inflamação percorrer o corpo, e o incêndio só tenha parado quando cuspiu as palavras. Matheus esquadrinhou-a com cuidado. O assunto era delicado demais para deixar barato. Não satisfeito, continuou:

— Você, você... não tá falando nada com nada! O quê tem pra ver no primeiro ano? – o jeito que o rosto inchava, os lábios se mexendo rápido demais, lembravam o mesmo garoto que brigara com ela. – É só desarme e faísca, mais nada. Acho que você tá é com inveja, porque não recebeu carta nenhuma – concluiu, diminuindo a intensidade das coisas que dizia ao longo das palavras, o que não pareceu tão agressivo no final das contas.

Inara, entretanto, não viu dessa forma. A garota pareceu se escaldar, ainda mais revoltada do que Aurora esperava ver. Ergueu-se da mesa arrepiando a espinha como um gato, batendo as palmas na madeira, empurrando a cadeira para trás com força.

— Depois não diga que não avisei – urrou, apontando o mesmo dedo que havia acusado o menino minutos atrás.

Saiu numa marcha apressada, colidindo contra uma série de pratos que voavam para se direcionar à cozinha. Os objetos refizeram sua rota, e o pontinho preto que ela se tornou, perdeu-se na garoa que a noite trouxera. Aurora esperou que os nervos abaixassem, principalmente Matheus, que parecia ainda mais irritado com a partida da menina.

— O quê deu nela? – perguntou, mais pra si do que para o resto da mesa.

— Como assim, o quê deu nela? – devolveu Nino, vendo seu prato voar para se juntar aos outros. – Ela sempre foi assim desde que a gente conheceu. Sempre gritando, e dizendo coisas arrogantes. Fez muito bem, Matheus – elogiou-o, pela primeira vez.

Os dois pontos haviam sido levantados, e a mesa foi povoada com um silêncio. Desconfortável, Matheus, ainda cabisbaixo, ofereceu as duas outras cartas que haviam pousado, antes que o prato levasse-as embora.

Haviam três, lembrou Aurora, abrindo a primeira.

Era mais um dos recados de apoio, dizendo que se a menina se dedicasse, poderia assumir uma posição no Queimadobruxo no segundo ou terceiro ano. Sorriu, pensando na possibilidade.

O outro, era diferente. A escrita era belíssima, sendo o contraste perfeito para o conteúdo, que a paralisou por um instante.

ESPERE PELOS DUELOS, E TOME CUIDADO.
Eu não esqueci de você. E espero que não tenha esquecido de mim.

Com amor, Letícia. 

— O que foi, Aurora? – perguntou Matheus, olhando por cima do papel, pescando um pedaço.

A menina tentava encontrar forças para sentir raiva. Porém, mesmo não encontrando, o corpo se esforçou, e conseguiu produzir algo semelhante a um refluxo, mas composta de ódio, com tudo revirando dentro de si. Mais uma vez, ela.

Ela virou o pescoço, fitou a mesa de Jaci. Lá estava, fingindo que nada estava acontecendo, tossindo sobre um monte de roupa cobrindo o corpo.

— Aurora! O quê tinha aí? – vociferou Matheus, com algo além de preocupação. Havia uma espécie de certeza por trás da pergunta, como se esperasse que ela confirmasse algo que já sabia. Lembrou-se do prato, os três recados dobrados.

A garota tinha olhos de conclusão, muito esparsos, quase saltando da órbita. Próximo dela, Nino impressionou-se com a postura. De repente, virou na direção de Matheus, que quase caiu da cadeira de susto. O rosto estava enfurecido, quase incandescente, como se fervessem metal entre seus olhos e o nariz.

— Matheus, você pegou a carta que estava aqui? – tentou soar calma, mas não conseguiu. Tinha muito mais certeza do que dúvidas.

Ele não respondeu, ficou balbuciando algo ininteligível. Aurora perguntou mais uma vez, com ênfase:

— Você pegou?

— Era pra mim – respondeu, apertado contra a cadeira.

— Era? E quem mandou? – questionou.

Pareceu que, se Matheus pudesse se espremer, e transformar-se num suco de pessoa que escorreria pelas frestas da pedra do castelo, ele faria. Como não pôde, gaguejou alguma coisa que Aurora entendeu como a resposta que precisava.

— Pessoal - Nino começou, tentando compreender a nesga que se formara. - O que tá acontecendo?

Quase interrompendo sua fala, o sinal tocou, dando o primeiro aviso do toque de recolher. Aurora soube que teria que dormir com isso, caso saísse dali direto para a cama. Soube também que fazendo o que pretendia, podia ser repreendida pelos inspetores de ambas as casas. Soube que poderia encontrar Miranda e mostrar o que havia visto, e assim pedir alguma providência, que sabe-se lá se seria atendida, já que a professora era uma enorme partidária da menina. Mas, apesar de saber de cada uma dessas coisas, sabia também que se isso acontecesse há dois dias atrás, não teria forças para se impor como gostaria. Agora, entretanto, tinha o que precisava para fazer alguma coisa.

Levantou-se da cadeira, ignorando a figura apertada de Matheus. Ele amassou o papel em suas mãos, partindo ao encontro da amiga.

— Calma, ela só disse que queria conversar, Aurora – pegou na mão da menina, que escapou entre os dedos gordos.

— Não interessa – respondeu, virando para repreendê-lo. As turmas começavam a se aglomerar na saída, afunilando a passagem de alunos. - Ela não só veio me ameaçar, como de novo tá ficando na sua cola. Alguém tem que fazer alguma coisa Matheus!

Desprendeu-se dele, passando por entre as mesas, cortando alunos, abrindo passagem até chegar nela. Sentiu Nino e Matheus tentando se aproximar às suas costas, mas não deu atenção. Zuniu empurrando membros de Jaci, até observar a touca aparecendo entre os estudantes.

— Letícia – ouviu-se gritar, e alguns alunos que estavam perto, abriram caminho.

A menina parou, virada com os ombros levantados. O cardigã cobria os braços, e se estendia fazendo uma cauda, que acompanhava a calça de tom terroso e as botas. Também pôde ver as mãos calçadas, com luvas fechadas. A testa estava suada, e as bochechas avermelhadas, febril.

Refreou a investida um pouco, mas pensou na carta outra vez, mostrando-a para garota. Os passos na direção dela, empurraram a menina para trás, que foi apertada contra uma coluna do castelo.

— Qual o seu problema!? – anunciou, mostrando o recado.

— Meu... o quê? – perguntou, erguendo as mãos na frente do corpo, tanto para se proteger da aproximação quanto para negar a fala. – Do que você tá falando?

— Aurora – Matheus se aproximou, tropeçando até chegar perto das duas.

— Matheus, o que ela quer? – perguntou, virando para o garoto.

— Não fala com ele! – Aurora empunhou o Orabutã. A pegada no instrumento tinha mais confiança, e isso estava transmitido na sua ameaça. Pôs na altura dos olhos da garota, fazendo-a encarar a ponta de onde sairia o feitiço. – E não se faça de desentendida. Eu recebi a sua cartinha – grunhiu a seção, e ouviu mais passos chegando na confusão.

Estavam afastados da turba, e ainda assim haviam alunos olhando por cima. Nino tentava afastá-los, para proteger a amiga, contudo, mal conseguia conter os olhares vindos de todos os cantos.

— Eu não te esqueci. Eu lembro bem o que você fez, e sei bem o que quer fazer – manteve a arma. Os olhos da menina tremeram, e mais uma vez Aurora enganou-se ao ver um brilho arroxeado surgir lá. – Não chegue perto da gente outra vez, estou avisando...

Aurora virou para o lado, sem saber o que concluir dali. O que deveria dizer para mantê-la longe? Como não podia pensar muito, afinal uma confusão na porta do refeitório atrairia um professor, deixou a frase se perder no ar. Baixou o cajado, vendo a menina suspirar de alívio. Afastou-se em passadas largas, sempre conferindo se não seria ameaçada outra vez.

Nino deixou o ar escapar dos pulmões, assustado. Encarou a entrada do refeitório, vendo que apenas Ruína estava despontando ao longe, porém, entretida sobre uma pilha de pergaminhos, não vira a cena.

— O quê deu em você? – perguntou Nino, com um sorriso disfarçado de assombro.

Ou seria um assombro disfarçado de sorriso?

— Aurora, pra quê tudo isso? – Matheus questionou.

Estava arfante. A confusão o estressara, pois uma veia em sua testa estava prestes a se tornar um objeto separado de seu corpo. Aurora estranhou a pergunta.

— O quê? Você não ouviu o que eu disse? Queria que eu fizesse o quê? – perguntou, cruzando os braços, ainda com o cajado nas mãos.

— Não, você não me contou, só saiu correndo quando viu que era ela – respondeu. – Ela te ameaçou?

— É – mostrou o papel, e o menino ficou boquiaberto. – Um ataque em mim significa um ataque em você também.

— Mas... ela não... – começou, mas fechou a boca de uma vez.

— Ela não o quê? Como você pode dizer que ela faria ou não alguma coisa, Matheus? – Aurora lançou de volta, tentando fazê-lo entrar na realidade.

— Essa letra, não parece a dela – disse, recolhendo o papel para ler uma segunda vez. – E se... não sei, alguém tiver armado para ela. Talvez o Luka, você me disse que el...

— Eu sei o que eu disse, mas presta atenção – Aurora tentou, mas foi cortada.

— Você a viu lançando? Talvez não tenha sido ela mesmo – retrucou Matheus, o rosto começando a inchar uma segunda vez.

— Matheus, como você pode dizer isso? Tem o nome dela, a escrita é de letra de menina – pontuou, apontando para o papel com a ponta do cajado agora, exaltada. – Como você pode defender ela depois de tudo!?

— Eu não tô defendendo, eu só acho q... – começou, perdendo a compostura, se balançando todo para continuar a falar.

— Você tá sim! Acha que, de novo, eu posso estar enganada – a voz subiu um tom, e o que saiu dela foi um grito – quando a gente já viu que eu tô certa! Eu vou continuar estando certa, não importa o quê aconteça.

— Aurora, é que eu sei de algumas coisas que... podem, te fazer entender. Olha, o Luka, ele... ela me contava como era um namorado que pedia um monte de coisas que ela não queria, mas tinha que fazer. E... esse caso, pode ser uma dessas vezes. Ele pode ter obrigado a Letícia a escrever isso e te mandar – argumentou, com uma quantidade de pausas excessiva, como se tentasse resgatar tudo que podia.

Aurora enfureceu-se ainda mais com a defesa. Cada vez que o amigo citava aquele nome, era uma martelada no fundo de seus miolos. Estava cheia daquele monte de desculpas que se colocavam em cima das coisas que a garota fazia, sem que percebessem que fosse o que fosse, ela fazia todas as coisas.

— Matheus, chega! – disse, quando ele concluiu a última palavra. – Chega disso tudo! Você tá, de novo, dando razões para ela ser quem é. Às vezes, as pessoas não merecem o que fazemos a nós mesmos – disse Aurora, lembrando do que ele dissera na estufa. – Às vezes, as pessoas são só cruéis, como é o caso dela. O mundo que a gente vive é mágico, mas as pessoas continuam sendo pessoas. Entende isso!

— Mas...

— Sem mas! Chega! – repetiu, subindo ainda mais o tom. – Não aguento mais. Eu já te disse, já te fiz prometer, e você jurou comigo com seu dedo mindinho. Não quero mais ouvir, só te peço que cumpra a promessa que você fez.

Matheus se encolheu mais uma vez. O corpo foi murchando enquanto a menina deu os primeiros passos para se despedir dele. Nino a acompanhou, fazendo uma passada lateral até a Torre de Anhangá. Desceram as escadas, pensando em um milhão de coisas, e é claro, os recados passaram por sua cabeça enquanto a grama passava por seus pés.

— Nino, eu aceito o seu convite – disse, ainda bufando.

Precisava cumprir a tradição, e lembrando do que Inara dissera, levaria alguém de Anhangá. E tendo que ser precavida por causa de uma ex-monitora da casa rival, era bom que esse companheiro fosse um amigo próximo.

Um que não tentava defender o inimigo, principalmente. 

 


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