Don't say goodbye escrita por Ems


Capítulo 1
Believe in yourself


Notas iniciais do capítulo

Inicialmente era para ser um capítulo só, porém ficou maior que o esperado e a história será divida em alguns capítulos que serão postados ainda hoje.

Enjoyy



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Ela caminhou sobre a borda do prédio, um pé atrás do outro e de braços abertos. Seu cabelo solto, bastante sujo, debatia-se contra seu rosto conforme o vento o jogava para frente e para trás. Seus dentes brancos expunham um largo sorriso, enquanto seu cabelo cobria os olhos chorosos.

 

Ela se jogou com a certeza de que suas asas surgiriam e o vento a engoliria. De fato suas asas se abriram, mas no final ela não sabia voar. O vento a engoliu por alguns segundos antes de entrega-la ao chão que a tragou por completo.

 

Falhei miseravelmente ao evitar ver a cena. O pingo de consciência berrando para eu virar a cara, olhar para cima, quem sabe, cerrar os olhos e imaginar uma outra imagem, uma imagem feliz no lugar do corpo encontrando o chão e aquela alma se despedindo sem saudade do corpo sofrido.

 

Como a fumaça de um cigarro a aparição que, no tempo em que estava presa na morte das pessoas, aprendi serem suas almas vendo seus corpos se auto denegrirem sem ter força de vontade para faze-lôs parar.

 

Os ferimentos que se faziam pareciam não ser nada perto dos machucados que durante sua vida atingiram até seu espírito, sua alma, seus sonhos.

 

Eu quis chorar.

 

Como nas outras vezes eu não tive tempo para pensar.

 

Novamente eu surgia, como o vento incolor para outros seres humanos, num novo ambiente, numa nova cidade, fadada a ver pessoas com um sofrimento semelhante sem poder fazer nada para amenizar sua dor.

 

O despertador vermelho ressoa para prontamente ser desarmado por uma mão bronzeada.

 

De cabelos bagunçados e uma trilha de baba no canto da boca a mulher se senta em sua cama.

 

Me aproximo sabendo que se nem se eu ficasse cara a cara ela me enxergaria. Fito seus olhos muídos pelo sono e nas orbes castanha avisto um vazio que petrifica meu ser. Estranhamente me acostumei com as cenas de morte, por mais terríveis que tenham sido, só não supero o olhar morto enquanto o corpo ainda está vivo.

 

Não tardou para sua alma, idêntica à sua imagem de carne e osso, aparecer confusa à meu lado.

 

Como das outras vezes desde que estou nessa situação infinita, enfrento as emoções da aparição reagindo a um ser desconhecido, no caso eu, invadindo sua casa, o pavor se multiplica quando a alma avista seu próprio corpo, passado o estupor maior, calmamente explico para a alma angustiada o pouco que sei, diferente das primeiras vezes, escolho não esconder o que vi nas vezes anteriores.

 

— Apareço minutos antes da pessoa abrir os olhos pela amanhã.— Explico calmamente para a mulher que chora copiosamente. — Uma cópia física da pessoa surge ao meu lado e assim como eu não pode ser vista pelos outros. Você é essa cópia.— Escolho compartilhar minha teoria. — Alma. - Os olhos vermelhos focam em meu rosto. — Eu acho que você é sua alma. - Vendo-a mais de perto consigo ver pequenas marcas de cortes superficiais por toda a pele que o pijama não tapa. Além dessas marcas o corpo físico e a alma de distinguem por outros detalhes como as bolsas roxeadas e profundas abaixo dos olhos, digna de um cansaço de várias noites sem dormir. Ela para de chorar e eu fico feliz, apesar de entender a gravidade da situação, nunca gostei de lágrimas. — Durante todo esse dia fico acompanhando a rotina do corpo físico e a alma me acompanha.— Suspiro me preparando para a última parte da história com final sem ser feliz. — E vou embora quando, por vários motivos que aconteceram por vários anos, a pessoa...Acaba.— Presto atenção em sua reação e ela arregala os olhos. — Se mata. - Não existe palavras que suavizem essa declaração.

 

Não presto atenção em outro canto naquela sala que não seu rosto.

 

Espero um grito de angústia, uma risada de alívio, na melhor das hipóteses um choro sofrido.

 

Contrariando a lógica ela ri ostentando um olhar maníaco.

 

Credo!

 

— Sério? Eu me matei? Esse é meu fim? Por favor, me diga que esse é um programa de comédia onde meus antigos colegas de ensino médio estão pregando uma peça em mim.— Ela levanta e caminha de um lado para o outro. — A grande Rachel Berry se mata, sem ser grande, sem ter seu nome reconhecido nos palcos da Broadway para o mundo. Ela morre sendo um nada! - Lágrimas grossas escorrem por sua bochecha, contornam os traços de seu largo sorriso infeliz e gotejam até o piso. — Assim como o pessoal de Lima praguejava!— Ela fala para si e na cena eu sou um objeto de fundo. — Obviamente em minha última cena em vida seria digna de um drama, um drama que no máximo estamparia a página de obituários do New York Times, sem foto, apenas um nome junto com outras pobres almas sem sonhos que se mataram e outras que foram assassinadas.— Seu corpo desaba sentado na cama. — No meu antigo armário escolar, no McKinley, eles vão colocar ursos, flores e velas. Discursarão em meu nome e na sala do Glee Club colocarão uma imagem em minha memória com o ano da minha morte. Todas as crianças que entrarem naquela sala verão que não adianta você sonhar, você se dedicar, estudar, passar fome para alcançar seus sonhos, nada disso adianta, você continuará sendo um nada com sonhos impossíveis e inalcançados.— De objeto de fundo passo a ser platéia conforme cada palavra sua me cativa. Palavras fortes e pausadas. — Serei um aviso do caminho a não ser seguido. Morri sozinha, sem amigos, sentindo falta dos meus pais, sem amores e com sonhos destruídos.— Novamente uma risada sem ânimo irrompe. — Pensando bem a placa com a data da minha morte estará errada. Não morri hoje. Morri quando meu sonho morreu e não fui capaz de sonhar outros.

 

Ela se silencia e eu não me sinto suficiente para quebrar esse conforto que o silêncio trás.

 

Lembrei da minha vida e me compadeci com sua história.

A porta do banheiro, que fica no quarto, se abre e de lá uma Rachel, seu nome foi dito anteriormente em seu discurso fúnebre, com o rosto lavado se dirige para o guarda roupa.

 

Em respeito desvio o olhar do corpo para a alma sentada na cama.

 

Rachel se olha e em seu olhar a famosa pena imerge.

 

— Você é bonita.— Comento vagamente.

 

Um vago sorriso contorna seus lábios.

 

— Faz tempo que não me sinto bonita.

 

Trocamos um olhar com tom de cumplicidade.

 

— Broadway, uh? - Retorno às suas palavras de antes chamando sua atenção para mim.

 

— Se me visse num palco não duvidaria do alcance do meu talento. - A tristeza ganha cor nos olhos castanhos e, talvez imaginação, me pergunto se seu olhar brilhava quando pensava nos palcos do teatro mundialmente conhecido. Como seria seu olhar quando ainda existia esperança? — Eu fui destinada para aquele palco. Cantaria para Barbara Streisend e para uma platéia cheia. Viveria mil e uma vidas num só lugar, em vários cenários, encantando várias pessoas. Cantaria, dançaria e atuaria. Para isso me preparo desde os três anos de idade quando ganhei minha primeira competição de sapateado e a segunda de canto. - Ela fecha os olhos e balança a cabeça negativamente. — Hoje uso esses verbos no futuro sabendo que não passarão de um discurso fúnebre. - Seu corpo físico, agora vestido, pinta seus lábios grossos com um baton vermelho em frente ao pequeno espelho. Após a tintura preencher cada espaço de seus lábios ela para e sorri para o pequeno espelho. Infelizmente o sorriso não alcança o tom chocolate escuro das suas íris. — Ela nem sabe o que a espera. - Sua voz não está mais embargada, apesar do rosto banhado de lágrimas. - Não podemos contar?

 

— Quer tentar? - Levantei e, em seguida, ela fez o mesmo.

 

Rachel física se pegava seus pertences prestes a sair do quarto. Deixei sua alma tentar aproximação sozinha e apenas assisti a tudo de pé.

 

O resultado foi desesperador para a aparição que nem ficando no caminho de seu corpo conseguiu pará-lo. O máximo que aconteceu foi um calafrio percorrer por Rachel Berry que apenas optou por pegar um casaco.

 

[...]

 

— … Com certeza, você nunca ouviu falar.— A parte engraçada de ser invisível é a de, como estou fazendo agora, sentar no balcão de uma lanchonete lotada, observar as pessoas uma por uma e não ser julgada. — Não tem praia, nenhum nome histórico, nem vampiros, apenas pessoas com o velho pensamento americano e dou meu dedinho de que muitos ali fazem parte da KKK. Que horror. - Dou risada com seu humor negro.

 

Analisando Rachel Berry é fácil perceber sua tagarelice, sua alma artística e um humor negro que facilmente contrariava as personalidades fracas que poderiam se aproximar da mulher morena. Sua alma estava calejada e ela sabia muito bem que aquele seria seu último dia e o depois seria um mistério, mas não pude deixar de perceber que ela tinha uma pitada de alívio e que sabia lidar com situações dramáticas, afinal, ela era o “r” que compunha a palavra dRama.

 

— E como foi que escolheu ser uma estrela da Broadway?

 

— Oras, eu não escolhi. - Fingiu um falso tom de ofensa. — Fui escolhida. Quando eu estava na barriga de aluguel papai a fazia escutar todas as músicas da Barbie Straisend, lia o roteiro de O Mágico de Oz para a mulher e quando eu nasci minhas primeiras palavras foram “Funny Girl”.— Ela sorri, imagino que lembrando dos seus pais.

 

— Barriga de aluguel?

 

— Tenho dois pais. - Falou com orgulho. — Hiram e LeRóy, papai e pai, um é médico e outro é advogado, ambos brilhantes, te asseguro, mas tudo que as pessoas comentavam era da orientação sexual de ambos.— Eu entendo, pensei em dizer. — Os dois aprenderam a não se importar e me ensinaram a fazer o mesmo. Antes deles verem minha força foi uma fase triste por presenciar a forma como se sentiam culpados pelas palavras que dirigiam a mim. Mas não é culpa deles. Nunca fizeram mal algum a ninguém, pelo contrário, só o bem. Eu os agradeço por tudo que tenho.— Uma lágrima solitária corre por um de seus olhos. Em algumas horas a conhecendo eu entendi o porquê de sua fixação por ser uma atriz, a atuação corria por suas veias, pedir para ela ficar longe dos palcos é como pedir para um gato parar de miar, obrigar um coração a parar de bombear o sangue.

 

— Não os vê com frequência? - Um pequeno estalo e recordo de quando ela comentou sobre as saudades que sentia dos homens.

 

— O dinheiro que ganho aqui é o suficiente para manter o apartamento e o básico. - Antes que eu perguntasse das condições de seus pais ela responde a pergunta que nem cheguei a fazer. — E não me vejo pedindo mais favores a nenhum dos dois. Preciso das minhas pernas para seguir em frente e não continuar me escondendo na dependência deles. Eles me criaram para o mundo e hoje eu enfrento o mundo. - Ela suspira. — Acho que não sou tão forte quanto pensei.— Aperto seu ombro num consolo mudo. — Eles se separaram faz pouco tempo. Apesar de não ser criança a notícia abalou minhas estruturas românticas. Eu deixei de acreditar. Como se não bastasse ter perdido o homem que pensei ser o meu primeiro e último amor. - Ela não derramou uma lágrima sequer. Parecia conformada com esse quesito na vida. — Finn Hudson. - Ela sorriu verdadeiramente pela primeira vez desde que nos conhecemos. — Nossa história é digna de um seriado. Aqueles clichês que acreditamos, quando temos quinze anos de idade, que iremos viver.— Ela levanta o pijama e aponta para uma escrita em preto em sua cintura. Em traços finos o nome Finn está tatuado em sua pele. — Ele era o Quarterback e namorava a líder de torcida. - Consegui imaginar uma jaqueta de futebol e uma loira bonita agarrada nessa jaqueta. — E eu, não vou mentir, não fui uma pessoa fácil no Ensino Médio. Aprendi a me defender e ser um pouco arrogante. Só sabia falar sobre mim. Pensar em mim. E fazer, não importava quem prejudicasse, o que pensava ser certo para mim.— Por um momento crio a imagem de Rachel desfilando por Hogwarts com o uniforme verde da Sonserina. Evito dar risada. — E depois de muitos desencontros ficamos juntos pelo resto do Ensino Médio.— Ela sorri novamente. - Eu não cheguei a odiar o Ensino Médio, por mais sofrido que tenha sido, apesar de todas as raspadinhas jogadas em minha cara, humilhações e as vezes em que fiquei sozinha. Eu só pensava que o Ensino Médio não passava de obstáculo, um caminho, para que eu chegasse à faculdade, mais tarde, nos palcos da Broadway. - Quando uma lágrima grossa escorre por sua bochecha é possível perceber que o que mais doía em si, contando com tudo que passou, era a desistência do seu sonho. Aquilo apertou meu coração. Ela se recompõe. — Sinto muito. - Ela passa as pequenas mãos no rosto limpando os líquidos dali. Movo a cabeça negativamente num gesto para ela não importar com o que eu pensaria.— Eu fiz amizades com pessoas que não imaginava na época. Levantamos o clube do coral e ganhei boas histórias. O Ensino Médio acabou sendo uma boa experiência no final. Mas nunca deixei de vê-lo como uma passagem para o meu objetivo final. Fico feliz que mesmo com meu jeito objetivo, até demais, eu vivi algumas coisas nesse meio tempo. Como fui burra! Sempre soube que sacrifícios faziam parte do caminho, mas jamais pensei, e agora parando para pensar, que me acostumei com eles. Sacrifiquei até demais por tão pouco. - Ela acelerou sua fala. - E não me entenda mal. Não me arrependo das coisas que fiz em prol dos meus sonhos, apesar de não ter alcançado eles. O que errei foi em justificar minhas faltas no presente por coisas que eu faria no futuro. - Seu olhar percorre o estabelecimento afim de achar Rachel Berry física em seu uniforme rosa e avental laranja, com bandejas na mão, a garota não parece cansada como outras pessoas que vi antes em seus trabalhos. Ela parecia focada. - Olhe para mim. Feliz em estar trabalhando para pagar meu apartamento e nem me importo com os homens e mulheres tarados que falam asneiras para mim. Como eu pude me matar?— Ela parece novamente a beira de um colapso e num impulso tudo que fiz foi abraçá-la.

 


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Notas finais do capítulo

Espero de coração que tenham gostado desse início.

Qualquer dúvida comentem.

Qualquer crítica comentem.

Ficaria feliz de receber um feedback.

Kisses



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