Por muito tempo os humanos se indagaram e discutiram quais eram os animais mais poderosos que já chegaram a pisar na Terra. E sem dúvida alguma foram os dragões. Eles eram criaturas de variados tamanhos, espécies e cores que poderiam destruir qualquer coisa deveras facilmente se quisessem. E, acredite-me, os dragões viveram aqui por centenas, ou até mesmo, milhares de anos.

Era uma raça muito inteligente e astuta, comparando-se até aos humanos da época. Não foi difícil para que eles aprendessem a se comunicar com os humanos, e mesmo depois de algumas décadas de convivência, eles até aprenderam a falar a língua humana. Por serem tão espertos, eles decidiram se juntar aos humanos, a um ponto de se tornar uma tradição crianças terem um companheiro dragão desde os 3 anos de idade e um dragão de montaria aos 10. Além disso, os dragões eram tão respeitados por todo o continente que os crimes relacionados à dragões eram julgados igualmente aos crimes cometidos por humanos perante lei.

Porém, um dia, a raça inteira foi exterminada pela mesma doença. Uma doença desconhecida que desativava seu sistema imunológico e em seguida atacava órgãos vitais. Era uma doença fatal que os matavam em poucos dias, quase nada conseguia amenizar os sintomas e era inútil buscar uma cura, todos estavam sendo infectados e mortos mais rápido do que a pesquisa da cura avançava, além de nada parecer impedir o ataque. Essa tragédia foi chamada de "A Praga do Vento" tanto por ela ser passada pelo ar quanto pela eficiência que ela matava os dragões - Eram vários de uma vez, seguido por uma pausa, e assim continua, em sequência. Era como uma onda.

Enquanto os humanos quebravam a cabeça tentando descobrir o que aconteceu exatamente, nós aprendíamos essa história tanto a ponto de sabê-la na ponta da língua. É uma grande parte da nossa história, comparando-se às Guerras Mundiais para os humanos.

Somos draconianos, descendentes diretos dos dragões com alguns traços humanos. Ambas raças estão presentes no nosso DNA em uma equivalência que rodeia os 50/50. Claro, alguns tem mais DNA de dragão e outros mais DNA humano, mas todos têm a presença dos dois.

Vivemos no subsolo, em locais parecidos com "bunkers", porém ainda mais profundos. É até frio aqui por causa da pouca incidência de raios solares - vivemos aproximadamente 30km abaixo da crosta terrestre. Tentando imitar a vida original, instalaram-se vários painéis solares e algumas plantas parcialmente artificiais - elas produziam oxigênio e absorviam gás carbônico, mas não eram exatamente reais. A tecnologia draconiana estava milhas mais avançada que a humana por esse motivo: eles buscaram criar tudo isso e, com o isolamento da humanidade e por muita pesquisa, descobriram não só como fazer isso, mas também várias outras coisas, como recriar um ecossistema inteiro. E foi isso que fizemos. Depois de muita pesquisa, clonamos até animais antigos já extintos extraindo o DNA de fósseis - o que é incrivelmente fácil de se encontrar aqui -, assim como vários dos répteis afetados pela Praga. Tentamos sempre clonar algum dragão ou algum de nós, mas não funciona de nenhuma maneira que tentamos: eles morrem em algumas horas depois de clonados e nem chegam a realmente acordar.

É um mundo relativamente falso e ilusório, mas enquanto vivemos em uma quase utopia aqui, os humanos, acima de nós, estão em uma fase catalítica - guerras, doenças, falta de água, radioatividade, dentre outros. Tudo de ruim que você imaginar acontece lá em cima. Todos sabíamos que os humanos logo criariam seu fim com suas próprias mãos. Nós até ajudaríamos, mas as chances de a Praga ainda existir só ficam maiores a cada dia que passa, além disso, os humanos nem saberiam distinguir um resfriado comum da Praga, os sintomas são basicamente iguais no seu organismo. Nós não sabemos o que pode acontecer conosco se o vírus da Praga nos atacar, porém preferimos não saber e nos prevenir.

Quando decidimos fugir para o subterrâneo depois do surto da Praga, os humanos acreditavam que havíamos sido exterminados junto dos nossos ancestrais reptilianos. Foi uma grande reviravolta para os seus meros pensamentos. Provavelmente acharam inicialmente que vivíamos como índios e não deram a mínima, mas agora eles tentam fazer de tudo para manter contato - eles provavelmente sabem que somos a única salvação possível para sua sobrevivência -, contudo não faz diferença alguma, não podemos fazer nada, a raça deles já está basicamente condenada. E nós não queremos ir junto.

Sinceramente, nós, draconianos, temos um certo receio de ter qualquer contato com a raça humana. Além de odiarmos a maneira que agem, temos medo de que eles tragam algum tipo de doença, ou até mesmo a Praga, para dentro do coração de nossa civilização.

Em todas essas guerras, os humanos acabaram ficando sozinhos como raça racional que vive na superfície. As outras duas raças híbridas derivadas de humanos, Manticoranos e Hipogrífios, também fugiram para o subsolo no seu devido tempo. Ambos também têm o seu DNA dividido em 50/50 com outros animais. Mantícoras e Hipogrifos, respectivamente.

Apesar da convivência, no geral, sempre ter sido pacífica entre as três raças subterrâneas, ultimamente, alguns debates um pouco mais hostis vêm acontecendo em relação à aceitação ou não dos humanos como a quarta raça subterrânea. Os dois lados permanecem com suas opiniões irrefutáveis. Por causa de todo esse caos, há faíscas de guerra entre os manticoranos e os draconianos por causa dessas opiniões adversas e, acreditem em mim, vocês não iriam querer uma guerra entre essas duas raças.

Por favor, não nos tornem em máquinas de guerra como são os humanos. Já não basta apenas uma raça quase extinta por guerra?