Descendentes: Desenvolvendo Sentimentos escrita por Lanan Tannan


Capítulo 16
Capitulo 14 - New Rose


Notas iniciais do capítulo

Okay, eu realmente não sei o que dizer aqui : /

^.^ Oi,
Como vocês estão?
Curtindo o feriado de carnaval?
Felizes com a possibilidade de Descendentes 3 ser começado a gravar agora em maio?

AAAAAAAH, 14 DE FEVEREIRO É DIA DOS NAMORADOS!
Nos EUA, mas tá valendo
Felicidades para aqueles que estão namorando e para aqueles que, como eu, só estão sofrendo por shippes e crushes literarios no momento!
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Eu tenho um sentimento dentro de mim

É de certo modo estranho, como um mar tempestuoso

Eu não sei por que, não sei porquê

Eu acho que estas coisas têm de ser

I got a feeling inside of me

It's kinda strange, like a stormy sea

I don't know why, I don't know why

I guess these things've gotta be

 

New Rose (Guns N’ Roses)

 

Local: Auradon Prep., dormitório de Mal e Evie

Hora: 08h50m, terça-feira

 

Evie sorriu para seu impecável reflexo no momento em que Mal acordou. A garota de cabelos roxos bocejou enquanto sentava-se em sua cama, os olhos semicerrados e o cabelo bagunçado.

Evie riu quando viu a amiga olhar ao redor, observando todo o cômodo com uma expressão confusa. Não iria ser nada fácil para ela se acostumar a acordar em um quarto – ainda mais sendo em Auradon – completamente iluminado e não em sua fortaleza sombria que chamava de quarta.

— Bom dia.

Mal passou as mãos sobre o rosto, fazendo com que sua resposta murmurante se tornasse incoerente de se ouvir.

— O que você disse? – Evie questionou risonha.

— Ainda estamos em Auradon. – Mal repetiu, sua voz rouca não deixando de soar aborrecida. – Não tem porque ser um “bom dia”.

— Você e seu mal humor matinal. – Evie riu mais uma vez. Nada era mais certo do que Mal acordar daquele jeito, o que era um fato bastante curioso, mas completamente irrelevante. – Queria saber com o que você sonha para acordar tão mal-humorada assim todos os dias.

Mal não rebateu o comentário, pois ele a lembrou do que havia acabado de acontecer. A garota encarou o teto, apenas deixando-se relembrar o sonho que ainda estava vivo em sua mente. Não estava surpresa, era fato. Não era a primeira vez que aquilo acontecia, contudo era a primeira vez que sabia realmente quem era. No começo, pensou que era uma coincidência surreal quando ele confessou que também tinha os sonhos. Naquele dia, Mal estava com tantas coisas na cabeça que nem deu a atenção devida à aquela notícia. Mas agora, depois de novamente ter sonhado com ele e ter sido tão parecido com o que lembrava de quando ainda estava na Ilha dos Perdidos... não conseguia deixar de pensar que alguma coisa muito estranha estava acontecendo com ela.

Com eles.

— Está pensativa.

Mal piscou, camuflando qualquer sinal do sonho de sua mente. Aquilo era uma loucura que possivelmente teria uma explicação completamente óbvia e que ela não precisaria se preocupar por hora. Por isso, virou a cabeça em direção a amiga e fingiu um revirar de olhos, entediado.

— E você, demorando demais como sempre. – Mal respondeu. Ela sentou-se na cama e observou Evie colocar cuidadosamente uma das várias delicadas tiaras douradas que a garota possuía.

— Beleza em primeiro lugar.

Mal voltou a se deitar, jogando os braços por cima do rosto agora verdadeiramente entediada.

— Desse jeito vai chegar atrasada.

— Não tenho a primeira aula. – Evie respondeu, quase finalizando seu ritual de beleza. Ela passou o polegar no canto da boca, assegurando-se de que tudo ainda continuasse perfeito. – Quem vai chegar atrasada é você.

— O que? – Mal virou-se para o criado-mudo ao lado de sua cama, mas não encontrou o objeto que procurava.

— Seu celular está na gaveta. – Evie avisou sem nem mesmo olhar para a amiga.

— Por que?

— Porque você iria quebrar ele de novo assim que acordasse. – Evie respondeu com simplicidade.

Pela segunda vez naquela manhã, Mal não argumentou de volta. Evie não estava errada mesmo. Mal apenas pegou o mais novo celular e espantou-se por ser quase nove horas, o horário do café-da-manhã.

— Por que não me acordou antes?

— Não sei. – Evie pôs as mãos na cintura e se virou, sua expressão irônica ao encarar Mal. – Ontem à noite te lembra alguma coisa?

— Eu já disse que não foi culpa minha. – Mal se defendeu enquanto lançava seu cobertor ao chão e pulava da cama em direção ao banheiro.

— Quem estava usando magia? – Evie perguntou arqueando uma sobrancelha ao ver a bagunça que a amiga havia acabado de fazer.

— Bem... eu. – Mal admitiu, rindo. De dentro do banheiro, ela gritou uma resposta. – Em minha defesa, eu só estava testando.

— E deixou nosso quarto imundo. – Evie contrapôs, elevando a voz para a amiga ouvir. – Congelado.— Nesse momento, Mal apareceu na porta do banheiro com a escova entre os lábios e uma expressão risonha pela forma como Evie elevava o tom de voz ao destacar cada palavra. – E me trancou do lado de fora!

— Eu... – A garota de cabelos roxos abriu a boca para retrucar, mas não havia argumentos contra aquilo. É, aquela manhã não estava ao seu favor. – Não tenho como me defender disso. – O murmúrio de Mal fez Evie desfazer a expressão chateada e rir. Mal apontou a escova para a outra garota. – Mas eu não tranquei a porta de propósito!

Evie inclinou a cabeça, fitando seu reflexo no espelho enquanto sua mente trabalhava.

— Deve ter entrado poeira dentro da fechadura. – A garota começou a divagar, sua expressão pensativa e dispersa fez Mal rir sozinha. – Quando você congelou o quarto, as partículas de poeira devem ter congelado também, criando uma pasta que impediu a abertura da maçaneta...

— Você fez de novo. – Mal interrompeu a explicação entretida da amiga.

— Ahn? – Evie balançou a cabeça e desviou o olhar para Mal. A filha da Malévola apenas soltou uma risada abafada e se encaminhou para escolher a roupa que usaria naquela manhã. Evie não ficou satisfeita somente com a risada e perguntou: – O que eu fiz?

— Soltou mais uma dessas frases cheias de fatos, conhecimento e essas coisas. – Mal deu de ombros e jogou uma calça sobre a cama. Evie apenas a observava, ouvindo o que a amiga tinha a dizer. – É interessante quando você faz isso.

Evie respirou fundo, sorrindo para seu próprio reflexo no espelho. Pegou a bolsa sobre a cama e se encaminhou para a porta, parando com a mão na maçaneta.

— Você acha mesmo interessante?

Mal inclinou a cabeça em direção a amiga, mas não pode observar sua expressão já que a garota permanecia virada em direção a porta.

— Claro. E eu gosto de quando você faz isso, me livra de ter que estudar. – Mal riu e ouviu Evie a acompanhar nas risadas antes de abrir a porta. – Hey, onde é que você vai se não tem aula agora?

 

...

Bom dia, Doug! Como está sendo sua manhã?— A voz feminina excessivamente animada soou pelo alto falante do celular fazendo Doug rir pelo exagero. O garoto estava sentado em um dos bancos do lado de fora do castelo, próximo a estátua do Rei Fera quando recebera a ligação da Branca de Neve.

— Bom dia, tia. – Doug riu, divertido. Sabia exatamente o porquê daquela inesperada ligação, e não tinha nada a ver em saber como o sobrinho estava. – Eu sei que a senhora me ama, mas você não me ligou para saber sobre mim.

Você me conhece tão bem.— Branca respondeu, risonha. O garoto estava certo, afinal. Ela não era de ficar ligando em horário de aula, mesmo que Doug tivesse o primeiro horário livre. – Sabe que eu estou apenas preocupada com vocês. Não sei como estão lidando com isso.

— Não precisa se preocupar conosco, tia Branca. – Doug respondeu de forma a tranquilizar a mulher. De sua parte, pelo menos, não havia a necessidade daquela preocupação. Doug ainda não tinha conversado com Sam para saber sua opinião, mas o primo era realmente tranquilo e pouca coisa abalava sua imperturbável calma constante. – A filha da Rainha Má não está causando problemas.

Filha? — Branca questionou, transparecendo surpresa em sua voz.

— Ah, não sabia? – Doug achou estranho aquilo. Pensava que todos estivessem sabendo, ainda mais sendo reis e rainhas, deveriam ter conhecimento antecipado desses tipos de fatos. – Bem, é... Tivemos uma aula juntos.

Como ela é?

 A pergunta deixou Doug confuso.

— Como assim?

Aparência, personalidade, essas coisas.

Doug riu ao perceber do que se tratava aquele questionamento. Não era do feitio de Branca se preocupar com aquilo, por isso a cômica surpresa que Doug sentiu.

— Está preocupada em ela ser mais bonita que você, Branca de Neve?

Olha o respeito, garoto. Ainda sou sua tia e uma rainha.— Branca disse severamente, apenas para finalizar com uma risadinha divertida no final. – Só estou curiosa.

— Bom, acho que ela é bastante inteligente, pelo menos foi o que eu percebi na aula de química. Claro, ela também é extremamente... – Doug interrompeu-se quando viu a pessoa que tinha acabado de sair do castelo. Ele sempre iria se surpreender no quanto Evie era linda e no quanto ela sempre parecia se superar. A garota passou pela fonte sem nem mesmo desviar o olhar para os lados, sem nem mesmo notá-lo a fitando com uma expressão aparvalhada.

Doug? Ainda está aí?— A voz da Branca de Neve o fez lembrar que ele estava em meio a uma conversa. Uma conversa sobre a garota que ocupava sua mente e coração, e que agora seguia em direção ao prédio escolar.

— Tia Branca, eu tenho aula agora. – Doug fez uma careta pela pequena mentira, mas continuou: – Podemos conversar depois?

Claro, meu pequeno. — Branca respondeu de maneira compreensiva. – Outra hora conversamos melhor. Até mais.

Doug levantou-se do banco e guardou o celular na mochila. Andando o mais rápido que podia sem parecer estranho, ele seguiu pelo mesmo caminho por onde Evie passara.

Atravessou o pátio principal onde ficavam as mesas do almoço e viu Evie mais ao longe, indo em direção à uma entrada por entre as árvores. Confuso, mas curioso, Doug continuou a segui-la. Ficando longe o bastante para não ser percebido, mas perto o suficiente para não a perder de vista, ele adentrou a mata também.

Afastou um galho que quase lhe acertara o rosto, questionando-se profundamente o que se passava pela cabeça da garota em andar por ali. Até mesmo ele desconhecia aquela passagem.

Pouco tempo depois de entrar, Doug pode ver a floresta se abrindo para uma clareira mais à frente. A passos vagarosos e extremamente cuidadoso para não fazer nenhum ruído ao pisar nas folhas secas no chão, Doug andou até a entrada da clareira.

Abriu a boca, surpreso com o que encontrou. A sua frente estava um dos jardins mais belíssimo que ele já havia visto!

Ao invés do mato que crescia entre as árvores no interior da floresta, ali uma verde grama estendia-se como um enorme tapete. Arbustos floridos, cada qual com diferentes tipos de flores e variadas cores espalhavam-se por aquele espaço desconhecido e inexplorado. Em um lado, havia um pequeno cloreto e flores rosas faziam caminho até ele. Bem ao meio, uma fonte com um anjinho de cupido era rodeada de flores vermelhas.

E, pelo que conseguia ver, a maioria das flores eram rosas.

Não conseguia acreditar que aquele jardim sempre esteve ali e ele nunca nem ouvira alguém comentar sobre. Surpreendente era Evie ter conhecimento dele.

Pensando nela, Doug correu os olhos por sobre todo o lugar e a encontrou embaixo de um arco de flores brancas – que ele nem mesmo havia percebido. A garota olhava para cima, a mão esticada tocando as pétalas das flores brancas.

 

...

Evie sorriu ao sentir a maciez da pétala branca que acabara de pegar de uma das rosas naquele arco. Quando Carlos havia lhe dito que encontrara um lugar cheio de flores e que Evie iria adorar, a garota ficou em dúvida. Ainda mais depois de saber que era no meio da floresta.

Contudo, a curta caminhada por entre aquelas árvores e os galhos que quase bagunçaram seu cabelo e arranharam sua pele perfeita, valera a pena quando finalmente chegou naquele escondido jardim.

Esticou a mão mais uma vez, tocando a rosa com cuidado para evitar os espinhos. Não era aquela que queria, mas Evie não conseguiu resistir em pegar uma branca também. Nunca havia visto uma rosa branca tão de perto assim, e a beleza inocente daquela flor lhe fascinava.

— Bom dia. – Doug exclamou parando atrás da garota.

Evie sobressaltou-se, sua mão moveu-se de modo que o espinho da rosa branca perfurasse seu dedo.

— Aí. – Evie puxou a mão rapidamente e virou-se para encarar a pessoa que acabara de lhe assustar. – Como é que você sempre sabe onde eu estou?

— Dom? – Doug argumentou risonho. Ele olhou para a mão de Evie e notou a pequena bolha de sangue surgir no dedo anelar da garota. – Me desculpe por isso.

— Ah, não é nada. – Evie escondeu a mão atrás do corpo. – O que está fazendo aqui?

— Apenas curioso em saber o motivo de você vir aqui.

— Carlos me disse que viu rosas, só não imaginei que haveria tantas assim!

— Desculpe a intromissão, mas eu já me intrometi mesmo. – Evie riu tanto pela verdade naquelas palavras quanto pelo sorriso contido do garoto. – Para que você precisa de rosas?

— Hum... – Evie murmurou pensativa, passando o dedo sobre a rosa branca – aquela flor realmente tinha lhe encantado. – Motivos pessoais.

— Okay. Mas rosas não podem ser cortadas de qualquer jeito. – Doug tirou a mochila das costas e a abriu, seu gesto sendo observado pela garota. – Precisa de quantas?

Evie ergueu uma sobrancelha ao ver o garoto retirar uma tesoura de dentro da mochila. A surpresa por ele ter aquele objeto não fora maior do que a oferta que fazia.

— Vai me ajudar?

— Claro. Eu disse que ajudaria com o que precisasse, princesa. – Evie sorriu mais uma vez ao ouvi-lo dizer aquilo. – E eu preciso me desculpar por ontem. Não devia ter-

— Rosas vermelhas. – Evie interrompeu o pedido de desculpas do garoto. Doug a fitou, mas ela somente apontou para os arbustos um pouco mais afastado de onde estavam. – As mais perfumadas que você encontrar.

Doug fechou a mochila e a jogou de volta sobre o ombro.

— Seu desejo é uma ordem. – Ele fez uma pequena reverência e Evie riu, seguindo-o até o espaço recoberto pelas lindas flores vermelhas. Doug passou as pontas dos dedos delicadamente sobre as pétalas de algumas rosas. – Sabia que cada flor tem um significado?

— Ouvi alguma coisa sobre isso.

Evie parou ao seu lado e o fitou, porém, o garoto agora apenas direcionava seu olhar para as flores – um olhar diferente do que ela já vira até agora. Havia uma expressão entristecida em seu rosto, como se ele estivesse recordando alguma coisa.

— Especialmente as rosas. – Mal terminou a frase, a voz do garoto fraquejou. Observar aquele lindo jardim o fazia relembrar momentos que desejava reviver, momentos que passara ao lado da pessoa que mais amava em toda sua existência. Sentia saudades da época em que era criança, crescendo num pequeno sitio fora da cidade e ajudando seus pais e tios na mina, se divertindo com sua mãe no pequeno jardim que ela possuía... Doug virou o rosto e se afastou alguns passos em torno do arbusto, piscando os olhos para impedi-los de lacrimejar.

Evie abriu a boca, mas a fechou logo em seguida. Não sabia exatamente o que dizer, ainda mais por conhecer tão pouco o garoto. Ela não devia se preocupar com isso, apesar de reconhecer aquela expressão, a mesma que vira refletida por um momento em seu próprio espelho.

— Cada cor representa um sentimento. – Doug interrompeu o silêncio, retomando o assunto que havia iniciado antes.

Evie parou em frente ao garoto, apenas o arbusto florido entre eles. Observou-o abaixar-se próximo a uma das rosas e apreciar o perfume desta.

— Poucos sentimentos, não? – Não haveria uma explicação por parte de Doug, Evie sabia. E assim como ele não insistia para que a garota respondesse suas perguntas, Evie também não o faria. Todos têm seus segredos e memórias, não precisam compartilhá-las se não quiserem. – São apenas três cores.

— Três? Acho que está errada. – Doug respondeu, dessa vez convicção transparecia em sua voz. Ele inclinou-se um pouco mais para a frente e com cuidado para não encostar em nenhum espinho, cortou o caule da flor. – Poderia dizer que existe no mínimo... sete.

— Agora você é quem deve estar errado. – Evie soou incrédula.

— Não estou. Existe realmente muitas cores de rosas. – Doug ergueu-se e observou ao redor, contando as cores que podia observar. Rosas, brancas, roxas e vermelhas.— Temos quatro aqui. Espera... – Apontou para as amarelas que se misturavam em meio as vermelhas, próximas a fonte do cupido. – Cinco com aquela. – Doug pigarreou, chamando a atenção de Evie de volta e estendeu a rosa para a garota. – E todas são belíssimas.

Como você, a mente do garoto de óculos completou e o rubor em sua face foi inevitável. Aproveitou que Evie estava distraída com a bela flor em mãos e voltou a examinar as outras rosas em busca das mais perfumadas.

Aquele jardim ainda o impressionava. Nunca antes havia encontrado flores tão perfeitas e de cores vividas iguais aquelas, as pétalas mais macias do que qualquer coisa que Doug já tinha encontrado antes. E o doce aroma que preenchia todo o ambiente era uma maravilha sensorial.

Sua mãe amaria conhecer aquele jardim.

— Não acha estranho que a gente converse normalmente? – Evie questionou após um momento em silêncio. – Sabe, eu sendo filha da Rainha Má e você, filho de um dos anões...

— Você acha que eu devia fugir de medo?

Evie apoiou o indicador na bochecha, fingindo pensar.

— Mais ou menos.

Doug riu, cortando o caule da rosa que Evie acabara de escolher.

— Eu acho estranho que você ainda esteja disposta a conversar comigo depois de ontem.

— Não precisa soar tão surpreso.

— Acredite, eu estou. – Sorriu ao entregar a flor para Evie segurar junto com as outras que haviam escolhido. – Então, sobre ontem...

Evie não impediu um revirar de olhos. Não queria ter que relembrar o desastroso final de encontro que tivera com Chad no dia anterior. As coisas não saíram como ela imaginava, e tinha medo de ter feito algo de errado aos olhos do filho da Cinderela. Afinal, Evie prometera à mãe que iria encontrar o príncipe perfeito antes de retornar para a Ilha.

— Podemos apenas esquecer que aquilo aconteceu?

— Não é sobre isso. – Doug riu ao ouvir o suspiro de alivio de Evie. – Soube que vocês irritaram a professora Primavera ontem.

Com um arfar incrédulo, Evie levantou-se, fitando-o de forma acusatória.

— Que ultraje.

— Então é mentira?

— Eu não disse isso. – Evie sorriu, piscando antes de se afastar em direção as rosas vermelhas próximas da fonte.

Evie ouviu o garoto rir brevemente antes de encaminhar-se para seu lado novamente. Mais uma vez o silencio prevaleceu entre eles, dessa vez dando espaço para o som da água que fazia seu caminho ao sair do jarro do pequeno cupido e misturar-se dentro da fonte.

O jardim, além de toda aquela beleza encantadora florescendo, ainda transmitia um sentimento nostálgico para ambos. Pois, assim como Doug relembrou-se de momentos passados ao lado da mãe em meio as flores, Evie lembrou-se de sua casa.

Aquela fonte parecia-se tanto com a que tinha no castelo da Rainha Má... exceto que a fonte que adornava o lúgubre e sem vida jardim de sua mãe era agora quase completamente coberto pelas videiras, e o pobre anjinho com metade do corpo desfeito pelo tempo e descaso. Evie não conseguia lembrar se alguma vez a fonte de sua mãe já fora ativada, mas esperava que se parecesse como essa que via agora: com água límpida e translucida fluindo de forma tão calmante.

Doug desviou a atenção da água para o pensativo rosto da garota. Ela estava distraída o suficiente para não perceber a movimentação do garoto de óculos.

E foi quando aquele delicioso aroma tão próximo a trouxe de volta das lembranças de sua mãe, do castelo e da Ilha dos Perdidos para encontrar uma rosa vermelha diante de seu rosto.

— É perfeita. – A voz de Doug soou baixa, enquanto observava com atenção o sorriso que lentamente surgia no rosto de Evie.

— Assim como as outras.

— Não. Nem todas são perfeitas quanto... essa. – Doug limpou a garganta. Constrangido pelo que quase dissera, afastou-se contornando a fonte. – Apesar de que vermelhas não são as minhas favoritas.

Evie não conteve um sorriso, segurando as flores que agora formavam um pequeno buque em suas mãos.

— Você tem uma rosa favorita?

— Você faz parecer como se fosse uma coisa terrível. – Doug disse enquanto seguia para a parte onde as rosas vermelhas dividiam espaço com os botões amarelos.

— Bom, garotos não costumam se interessar com flores e essas coisas. – Evie explicou, seguindo-o. – Nenhum dos que eu já conheci, pelo menos.

— Ah, claro. Isso é.… estranho, no mínimo. – Doug abaixou-se ao lado de um dos arbustos e tocou em um dos botões amarelos que em breve se abriria para revelar ainda mais sua beleza. Pelo que o garoto podia ver, poucas tinham florescido. E foi observando aquelas flores, que Doug revelou: – Minha mãe ama flores e eu gostava de ajudar a cuidar do jardim com ela. Lembro de quando era pequeno, passávamos a tarde cuidando das flores e depois sentávamos no gramado apenas em silêncio. – Doug riu em meio as lembranças. – Isso até minha mãe começar a brigar comigo por estar todo sujo de terra.

Evie ajoelhou-se ao lado do garoto e apoiou a mão direita sobre o ombro dele.

— Muito carinhoso da sua parte.

— Não precisa esconder o que pensa de mim.

— Não estou escondendo. – Evie empurrou os óculos do garoto de volta ao lugar e, então, apoiou ambas as mãos sobre o ombro dele. – Então, qual é a sua rosa favorita?

— É um pouco difícil de encontrá-la. – Doug virou o rosto para olhá-la e não resistiu em sorrir ao encontrar aqueles olhos castanhos tão próximos. – Talvez eu te mostre algum dia.

Evie também sorriu, fitando o verde olhar que tantas vezes a admirara.

— Talvez, então.

 

...

— Ela deveria estar aqui. – Jay reclamou ao olhar ao redor e não encontrar quem procurava. Os poucos alunos que estavam nas mesas ao ar livre já haviam se levantado e seguido para suas aulas, enquanto Mal e Jay permaneceram ali mesmo, esperando pela amiga de cabelos azuis. – Ela falou para onde iria?

Mal fechou o caderno, frustrada. Não importava o quanto tentava se distrair, nada impendia que aquele sonho voltasse a sua mente. Ainda mais quando abria seu caderno e encontrava aquele maldito desenho que havia feito no dia anterior. Um desenho feito por impulso e que a deixava com vontade de arrancar e queimar a folha, coisa que, por alguma razão, ela ainda não tinha feito até o momento.

— Como ela some assim, sem explicação? – Jay voltou a questionar.

— Deixa de ser exagerado. – Mal esticou a mão e pegou uma das batatas fritas que Jay sempre parecia estar comendo, não importava qual era a refeição. – Você sabe que não controla a Evie. E muito menos a mim.

— Eu tento, mas vocês não cooperam.

— E nunca vamos. – Mal respondeu com um largo sorriso nada inocente.

— Então pare de roubar minhas batatas! – Jay bateu na mão de Mal, fazendo a garota rir. – Se queria tanto assim, devia ter pego no refeitório.

— Eu não queria antes, Jayden. – Agora foi a vez do moreno revirar os olhos. Mal riu e roubou mais uma batata frita do prato do amigo, sob o protesto deste. – Olha só quem finalmente resolveu aparecer. – Mal levantou-se e apoiou as mãos na mesa, fitando a amiga que acabara de surgir de um lugar muito mais que suspeito e acompanhada do garoto nerd. – Evie!

Jay virou-se para olhar também, e estreitou os olhos ao ver o acompanhante de Evie. Ambos se aproximaram, apesar de Doug permanecer um pouco mais afastado, hesitante ao fitar Jay e Mal.

— O que estava fazendo ali? – Jay questionou, sua voz austera e olhar desconfiado sobre a garota. – E com ele?

— Tem certeza mesmo que quer saber, Jay? – Mal provocou o amigo. A garota ainda estava com as mãos sobre a mesa e fitava Doug, aumentando ainda mais o receio que o filho de Dunga sentia no momento.

Jay, ao entender a provocação de Mal, direcionou um olhar afiado para Doug. O garoto não evitou dar um passo para trás, afastando-se um pouco mais daqueles dois que lhe encaravam com expressões nada agradáveis. Ele podia conversar normalmente com Evie, mas os amigos dela ainda lhe assustavam.

— Vocês dois não tem aula, não? – Evie interviu.

— Irrelevante.

— O que você estava fazendo com ele? – Jay perguntou novamente. A pose de irmão mais velho que costumava usar na Ilha dos Perdidos estava de volta, Evie percebeu.

— Não começa, Jay.

— Eu ainda não comecei, Evie. – Jay apoiou as mãos na mesa, porém a garota apoiou a mão esquerda em seu ombro, impedindo-o de levantar.

— Desnecessário. – Evie apertou o ombro do amigo e sentou-se ao seu lado.  Colocou a rosa vermelha sobre a mesa e atraiu a atenção de Jay para a flor. O filho de Jafar a pegou, observando com mais atenção.

— Onde conseguiu isso?

Evie virou a cabeça em direção à Doug e sorriu rapidamente para o garoto, antes de voltar-se ao amigo.

— Carlos me contou sobre um jardim.

— Escondido na mata? – Evie respondeu com um dar de ombros. Não era como se ela soubesse como aquele jardim surgira lá e nem quem era o responsável por ele. Jay estalou a língua, inconformado com a resposta obtida. Aproximou a rosa um pouco mais de seu próprio rosto e o proeminente aroma o deixou surpreso. – É diferente das que encontrávamos na Ilha.

— Também percebi isso. – Evie dizia, sua voz animada.

Enquanto Evie continuava a conversar com seus amigos, Doug não sabia exatamente o que fazer naquele momento. Ele devia ficar e cumprimentá-los? Sua educação auradoniana dizia que sim, mas sentia que não seria bem recebido se interrompesse aquele dialogo. Então deveria ir embora? E as rosas que ainda segurava?

E qual era o motivo daquele sorriso que Evie havia acabado de lhe oferecer?

Mal estreitou os olhos quando viu o gesto da amiga, mas resolveu não dizer nada por enquanto. Não quando eles tinham assuntos mais urgentes para resolver.

— Sem tempo para vocês debaterem sobre isso. – Mal cruzou as mãos sobre a mesa e inclinou-se. – Onde está o Carlos?

— Em aula, provavelmente.

— Sem problemas. – Jay levantou, e fez Doug recuar mais um passo pelo movimento inesperado. O moreno ergueu uma sobrancelha para o garoto de óculos, mas o ignorou sem demora. – Vou buscar ele.

Logo que Jay começara a se afastar, Mal também levantou do banco. A garota olhou para Doug, desconfortavelmente parado com um pequeno buque vermelho em mãos que pareciam estar tremendo agora que Mal o observava bem. Desviou o olhar do garoto e retornou para Evie que a fitava de volta com a sobrancelha arqueada.

Mal começou a rir.

— Estão refazendo a Princesa e o Sapo? – Perguntou com a voz risonha, o esgar de um sorriso maldoso em face. – Ou a linhagem principesca deixou a desejar, Evie?

— Mal! – Evie exclamou, perplexa com a amiga. Por um minuto, não soube o que responder. Até olhar para o objeto em cima da mesa e se lembrar do item deixado na porta do quarto.

Evie não deixaria essa provocação passar em branco.

E Mal estava merecendo isso, como um agradecimento pelo desastre que fizera no quarto.

— Já agradeceu pelo presentinho que recebeu ontem?

O efeito foi instantâneo. O sorriso de Mal sumiu assim que Evie finalizou a frase com seu sorriso malicioso. A filha da Malévola apoiou as mãos sobre a mesa e inclinou-se em direção a Evie, fitando-a.

A garota nem usara seus poderes e nem mesmo olhou para ele, mas aquele olhar fixo direcionado à Evie foi o suficiente para fazer Doug prender a respiração, temendo o que aconteceria. Ao contrário dele, Evie nem se incomodara. Já havia visto olhares piores feitos por Mal.

— Você tem sorte por eu gostar muito de você, Ev.

Evie estendeu a rosa para a amiga, seu sorriso agora afetuoso ao declarar:

— Também te amo, M.

Mal balançou a cabeça em negativa, mas aceitou a rosa antes de sair.

O ofegar aliviado de Doug fez Evie rir. O garoto sentou-se ao seu lado exibindo uma expressão levemente assustada.

— Seus amigos são assustadores. – Doug confessou e conseguiu arrancar mais uma risada de Evie. – São sempre assim?

— Mal não gosta que eu converse com você.

— Por que? – O que ele havia feito de errado? Doug tentou se lembrar de qualquer coisa errada que pudesse ter feito ou até mesmo palavras ditas de maneira imprópria, apesar de ter certeza de que não trocara nem dez palavras com a filha da Malévola.

— Não posso te dizer. – Não só não podia dizer nada, como também não sabia exatamente como explicar. Mal apenas não gostava das pessoas e, quando isso acontecia, raramente alguém conseguia fazê-la mudar de ideia.

— Tem muitas coisas que você não pode dizer, não é?

— Você nem imagina. – Evie desviou o olhar para o resto das rosas e a pegou das mãos do garoto. – Obrigada pela ajuda.

— De nada. – Doug respondeu com um sorriso gentil em face. Ouvir seu celular tocando fez com que ele se sobressaltasse levemente, para o divertimento de Evie. O garoto sentiu seu rosto esquentar em constrangimento, enquanto abria a mochila para pegar o aparelho. – Chamada de vídeo, sério?

Doug revirou os olhos ao ver a imagem de Kyle acenando do outro lado da tela. Ele olhou para Evie, mas a garota observava distraidamente as rosas que segurava. O garoto de óculos não gostava muito de chamadas de vídeo em público, ainda mais quando não estava com seus fones de ouvidos e, pior ainda, na companhia de alguém que Kyle surtaria se conhecesse.

— Estou sem fones. – Doug disse rapidamente assim que aceitou a chamada do amigo.

Kyle arqueou uma sobrancelha e riu.

— Milagre.

— Até mais, Doug. – Evie se despediu em voz baixa. Doug desviou o olhar do celular e sorriu para a garota. Ele iria dizer mais alguma coisa, mas ela já havia se virado para seguir em direção ao castelo.

Doug a observou por alguns segundos, questionando-se porque ela não fora para o prédio escolar, considerando que a aula iria começar em breve. Mas resolveu não a questionar mais naquele momento, ela parecia estar pensando sobre alguma coisa naquela manhã e ele a deixaria em paz. Além do mais, Kyle estava chamando-o no celular.

— E aí? – Doug voltou seu olhar para a chamada de vídeo e encontrou Kyle o fitando com um olhar curioso e um sorriso contido nos lábios. – Sentiu saudades, foi?

— Na verdade, eu estou curioso. – Kyle deu de ombros. – Eu queria muito estar aí, mas ao mesmo tempo não. – Kyle sorriu e continuou com um tom de voz falsamente normal. – Tem vários alunos novos esse semestre, não é? O seu primo Sam, por exemplo.

O tom desinteressado de Kyle não foi o suficiente para mascarar o verdadeiro motivo da curiosidade do garoto. Afinal, aquela devia ser a notícia mais comentada em todos os reinos.

— Você quer saber sobre os novos alunos da Ilha dos Perdidos, não é?

— E de você, é claro, meu amigo.

— Aham, sei. – Ambos riram, antes de Doug continuar. – Bom, eles são... “na deles”. Não se misturam muito, sabe?

, me diz coisas mais importantes. –  A imagem tremeu por um momento enquanto Kyle apoiava o celular em algum objeto. – Nomes, por exemplo.

— E você vai fazer o que, puxar a ficha criminal deles? – Doug questionou. Pensando bem, duvidava que existisse uma contagem dos crimes que aconteciam na Ilha dos Perdidos e, se tivesse, ele preveria não saber os números. – Os garotos são Jay, filho do Jafar e Carlos, filho da Cruella. E as garotas são a Mal, filha da Malévola e Evie, filha da Rainha Má.

Filha da Rainha Má?!— Aquilo surpreendeu Kyle mais do que o fato do amigo de óculos lembrar os nomes dos novos alunos. E o sorriso que foi exibido nos lábios do moreno lembrou a Doug o quanto ele já havia visto aquele sorriso em qualquer um que questionasse sobre Evie. – Me diz, ela é tão bela quanto a mãe era?

— Você terá que ver com seus próprios olhos, Kyle.

— Estou ansioso para isso. – A imagem escureceu e Doug riu ao ouvir o amigo praguejar contra o celular que havia caído. Sem demoras, Kyle já estava novamente em frente a câmera. – O celular escorregou. – Explicou. – Mas falando em alunos novos... – Kyle ainda nem tinha dito o que pensava e Doug já tinha se arrependido de ter comentado sobre isso na manhã anterior. –  E a sua aluna nova? Era ela que estava aí?

— Primeiro, sem essa de minha. – Explicou a verdade. E por mais que doesse, revelou ao amigo o que acontecia. – Ela está interessada no Chad.

— Previsível. – A expressão de Kyle nem se alterara a menção do loiro. –  E você?

— Eu o que?

— Vai deixar o idiota do Chad ficar com a garota?

— Bom, não tenho nem como competir com ele. – Doug passou a mão sobre o cabelo perfeitamente arrumado, bagunçando pela frustração que sentia por isso. – Fala sério, Kyle! Passou dois dias fora e já nem lembra como eu sou?

Agora foi a vez de Kyle suspirar frustrado pela forma como Doug subestimava a si mesmo.

— Claro que lembro. Você é um cara que não desiste do que quer. – Kyle respondeu com convicção. – Não acredito que vai deixar o loiro metido levar a melhor mais uma vez, como ele sempre faz! – Kyle parou com a boca aberta como se tivesse esquecido a palavra que diria. Ou como se tivesse pensado em algo. – Eu tive uma ideia, Doug, e você vai me agradecer eternamente por ela.

Doug não soube se ficava alegre ou assustado com a expressão de Kyle.

 

...

— Já tem alguma ideia de como vamos sair daqui sem sermos pegos? – Carlos questionou.

— Nada planejado até agora. – Evie respondeu.

Carlos suspirou cansado e deitou a cabeça no ombro de Evie. Estavam naquele quarto há alguns minutos, tentando idealizar um plano para tomar posse da Varinha Mágica e conseguir voltar para a Ilha dos Perdidos sem serem notados. O resultado não estava sendo nada satisfatório, boa parte devido talvez ao fato de que nenhum deles estavam realmente concentrados. Jay, deitado na própria cama, encontrava-se de olhos fechados e Carlos achava que o garoto estava dormindo ao invés de pensando em uma solução para o problema deles.

E com as garotas não estava sendo diferente. Mal, sentada perigosamente no parapeito da janela do segundo andar, não parava de fitar o pátio central. E Evie, pelo que Carlos podia observar pelo aplicativo aberto no celular da garota, estava ocupada demais tirando fotos de si mesma.

— A única boa chance que tivemos foi no museu. – Carlos lembrou e fez uma careta engraçada para a câmera assim que Evie apertou o botão. O garoto pegou o celular de Evie e passou o braço esquerdo ao redor dos ombros dela, puxando-a para tirar outra foto juntos.

— Obrigada de novo, Jay. – A voz irônica de Mal fez o filho de Jafar rir, abrindo os olhos. Ele não estava dormindo, como Carlos pensava. Mas, sim, cogitando alguma coisa que pudesse ajuda-los.

— E a Varinha? – Carlos perguntou novamente. Ele observou Mal revirar os olhos, exasperada. A garota também não estava conseguindo pensar em nada no momento e não ajudava o fato de ter passado os últimos minutos fitando a estátua do Rei Fera.

— Estou esperando uma resposta ainda. – Apontou para o celular que estava largado ao lado de Jay, na cama.

— Você acha que consegue usá-la? – Jay virou-se de barriga para baixo, observando melhor seus amigos. – Poderia facilitar nossa ida até a Ilha.

Mal mordeu os lábios, pensando sobre o assunto.

— Eu ainda estou melhorando. – A garota confessou lentamente. – E a Varinha realmente tem muito poder, mas eu consigo dar conta.

— Tenha absoluta certeza antes de usar. – Carlos frisou, em tom preocupado.

— Está duvidando de mim?

— Não, mas você mesma disse que a Varinha é muito poderosa.

— Então fica em segundo plano. – Jay encerrou a discussão, lançando um olhar para cada um dos amigos. Carlos acenou confirmando e Mal murmurou um “tanto faz”, revirando os olhos.

E Evie não ouvira nenhuma parte daquele pequeno plano reserva. E o motivo estava sendo exibido no visor de seu celular, com palavras que a fizeram sorrir quando leu:

“Acho que estou com arritmia, porque toda vez que eu olho para você, meu coração falha uma batida.”

Como podia aquelas mensagens serem engraçadas e ao mesmo tempo tão encantadoras? O mistério de não ter a mínima ideia de quem enviava aquilo tornava tudo ainda mais fascinante. Apesar disso, ainda precisava saber quem era o autor daquelas frases e, por isso, mesmo sabendo que dificilmente receberia uma resposta, enviou a mesma pergunta que já fizera no dia anterior ao número desconhecido:

“Quando vai me dizer quem é você?”

— Evie? – Mal elevou a voz para atrair a atenção da amiga. Evie pressionou os lábios, forçando seu sorriso a desaparecer. – Pode se concentrar aqui? Temos que definir como vamos agir quando a-

Um toque de celular ecoou rapidamente e Mal revirou os olhos quando Jay apontou para o aparelho ao lado dele. Quando não era com Evie, era com ela. A garota acenou para Jay e o garoto pegou o telefone, lendo a mensagem recebida em voz alta:

“Oi, Mal. Sou eu, Jane. Pedi seu número ao Ben.”— Jay inclinou a cabeça e fitou a garota de cabelos roxos. – Ao Ben?

— Continue lendo. – Mal pediu com uma falsa gentileza que o fez rir.

“Eu sei que disse que ia tentar convencer a mamãe de novo, mas ainda não consegui. Ela está ocupada com assuntos do colégio e quando vou tentar conversar sobre a Varinha Mágica, ela muda de assunto e mal me deixa falar. Está sendo difícil.”

— Então... – Carlos bateu as mãos sobre os joelhos. – Nosso plano já era.

— Na verdade, não tínhamos definido um plano ainda. – Evie os lembrou. A garota já estava novamente de olho no celular, digitando mais uma mensagem para o anônimo encantador.

“Por que você nunca responde minhas mensagens?”

Assim que enviou, esperou poucos segundos antes de começar a escrever uma segunda pergunta. Porém, para sua surpresa, sua resposta chegou de forma inesperada. Havia lhe respondido e não poderia deixar de ser tão adorável quanto as mensagens anteriores.

 “Porque eu perco as palavras quando converso com você.”

— Evie Queen!

— Okay, okay. – Evie desligou o celular, ouvindo a risada baixa de Carlos. A garota colocou o aparelho em baixo do travesseiro e ergueu as mãos para o alto. – Sem celular.

E, enquanto continuavam a debater e tentar formular a melhor possibilidade de uma fuga sorrateira e rápida, Evie simplesmente não conseguia parar de sorrir.

 

...

Sorrindo consigo mesmo, Doug digitou o nome de Ben em sua agenda de contatos e apertou o botão discar chamada. Esperava que o amigo estivesse desocupado naquele momento.

— Ben?

Hey, Doug. – A voz do amigo soou mais animada do que o normal, e Doug não precisou nem perguntar o motivo. – Ficou sabendo do que acabou de abrir? Family Pavilion!

— Tão rápido assim? Achei que a reinauguração seria só ano que vem!

E já está em funcionamento. Até mesmo o Orbiter!— A euforia na voz de Ben transparecia bem como os dois amigos se sentiam com aquela notícia. – Mal posso esperar para ir lá.

Localizado um pouco antes da entrada da capital, Family Pavilion era o lugar preferido da maioria dos alunos de Auradon Prep., tanto por ser o centro de entretenimento mais próximo da escola quanto o melhor parque de todos os reinos.

Essa notícia não poderia ter chegado em melhor hora.

— Falando nisso... – A surpresa quase o fizera esquecer o motivo de ter ligado para o Príncipe. – Posso pedir um favorzinho?

 

...

— Que tal almoçar com um cara incrível?

Evie escondeu bem o sobressalto que teve. A garota mal tinha colocado seu almoço em cima da mesa quando o garoto apareceu e sentou-se ao seu lado. Virou-se para o desconhecido, observando-o. A jaqueta do time de Tourney revelava que era um dos jogadores e provavelmente estivera no treino de ontem, com Jay e Carlos – não era muito a saber, já que Evie não prestara muita atenção aos outros jogadores. A segunda coisa que a garota observou foi o sorriso. Um sorriso aberto, mas tremulante dizendo exatamente o quanto inseguro o garoto estava ali. E o cabelo loiro, curto com pequenos cachos realmente o deixavam uma gracinha.

Mas não o suficiente para chamar a atenção de Evie no momento.

— Acho ótimo. – Evie apoiou a cabeça na mão direita, o sorriso provocante o suficiente para fazê-lo ofegar.

— Sério?

Evie acenou, confirmando. O sorriso do jovem se alargou, infelizmente durou pouco.

— Só tem um problema. – Evie mordeu o lábio inferior e virou a cabeça, como se procurasse por alguma coisa. Com uma expressão confusa, fitou novamente o loiro. – Cadê o cara incrível?

O garoto piscou, confuso. Pensando não ter sido claro, apontou para si mesmo ao afirmar:

— Sou eu.

— Tem certeza? – Evie ergueu uma sobrancelha, sua voz debochada fez o garoto abrir a boca surpreso. – A parte do “cara”, eu entendi. A do incrível...

Ela nem mesmo precisou completar a frase, o garoto já havia levantado da mesa e se afastava, confuso consigo mesmo. Evie riu e voltou-se para frente no momento em que outro rapaz aparecia.

— Nossa, Evie. – Jay colocou a bandeja dele na mesa, rindo enquanto sentava-se. – Até eu senti essa.

— Você sempre come batata frita?

— Não menospreze os simples prazeres da vida assim, azulada. – Jay jogou um montante de batata na boca e bebeu um pouco do refrigerante. Evie fez uma careta ao imaginar a mistura daqueles alimentos e, pior, o sabor. Jay pareceu gostar. – Lembra daquela conversinha que temos que ter?

Evie desviou o olhar.

— Na verdade, não.

— Que bom que eu tenho boa memória. – Jay inclinou-se. – Por que você e a Mal discutiram ontem?

— Ela me proibiu de conversar com um garoto.

Um em especial? – Jay estranhou. A filha da Malévola não costumava se importar com nada relacionado a assuntos desse tipo. A não ser, Jay considerou relutante, que Mal estivesse interessada nesse tal garoto. Improvável de acontecer, mas ele tinha que saber sobre quem se tratava. – Quem é?

— Doug. – Enquanto respondia, Evie evitava a qualquer custo encarar o amigo. Sabia o olhar que ele lhe lançava no momento e não estava com vontade de ouvir sermão desnecessário e idiota. – Ele mostrou os nossos quartos no primeiro dia. Estava na festa também.

— Lembro vagamente. – Jay mentiu. Sabia exatamente quem era o garoto. – E você ignorou o pedido da Mal, considerando que estava conversando com o nerd mais cedo.

“Mais cedo” queria dizer quando eles estavam no jardim desconhecido. Evie sorriu de lado ao lembrar-se da interessante manhã que tivera.

Jay inclinou a cabeça, não acreditando no que tinha acabado de passar por sua mente. Foi como se tivessem ligado um interruptor dentro do garoto, o fazendo perceber algo que nunca imaginou que aconteceria. Não com Evie e muito menos tão rápido.

— Você está gostando dele?

— Gostando de quem? – Carlos apareceu, observando as expressões perplexa de Jay ao fitar uma Evie surpreendida. – O que estava acontecendo aqui?

— Nada.

A resposta rápida de Evie só fez com que o pensamento de Jay ganhasse mais veracidade. O garoto respirou fundo, voltando para seu almoço brevemente esquecido.

— É, acho que vou concordar com a Mal.

— Não começa. – Evie pediu. A última vez que Jay resolveu se intrometer em seus relacionamentos, assustou Moddy o suficiente para ele não ousar se aproximar por semanas. Tudo bem que ela já tinha enjoado do rapaz, mas dessa vez isso não a beneficiaria. Ela gostava de conversar com Doug.

— Ele é o seu alvo?

— Não, e para com isso de alvo.

— Mas você tem um que eu sei. – Carlos intrometeu-se na conversa, e recebeu um olhar afiado de Evie.

— Chad Charming. – Evie queria terminar de uma vez com aquilo, pelo menos Jay a deixaria em paz momentaneamente. Aquele interrogatório estava demorando demais. E porque ele ainda nem desconfiava o que vinha acontecendo com Mal e o herdeiro de Auradon. — Conhece?

— De nome, não.

— Ele está no time. – Carlos respondeu novamente.

— Príncipe? – Agora Jay estava confuso. Tentar entender a mente feminina pelo menos por um segundo já estava fazendo sua cabeça começar a doer. Mas, pelo que percebeu agora, a atenção de Evie estava voltada na obsessão por príncipes. – Sua mãe ficaria orgulhosa.

Evie riu amargamente. Não achava que a Rainha Má ficaria orgulhosa de qualquer coisa que ela fizesse, mas estava tentando fazer o máximo que podia para isso acontecer.

— E vocês estão o que? Saindo, namorando, enrolando, se pegando...

— Carlos! – Evie interrompeu o amigo.

Carlos ergueu o olhar, confuso pelo tom repreensivo que recebera.

— O que?

— Ele está certo. – Jay bateu no ombro do baixinho. – Afinal, eu tenho que saber o nível para decidir qual vai ser a força do meu punho na cara dele.

Evie nem se deu ao trabalho de responder. Ela amava o lado superprotetor de seus amigos, mas algumas vezes tinha vontade de ainda estar confinada no castelo sem tê-los conhecido.

— O dia em que eu começar a namorar... – Mal sentou-se ao lado de Evie, fitando cada um de seus amigos com um olhar sério. – Me internem, por favor.

Jay interrompeu-se, tomando o refrigerante e engolindo com força para impedir-se de engasgar pela surpresa. Hoje era o dia?!

— Por que isso agora?

— Porque eu sei o inferno que você está fazendo com a Evie.

 

...

Evie sobressaltou-se quando sentiu alguém passar um braço por sobre seus ombros. Desviou o olhar da porta a sua frente e surpreendeu-se com a pessoa que estava ao seu lado.

— Chad?

— Oi, Evie. Aula juntos? – O loiro sorriu de canto e abriu a porta da sala de História dos Reinos. Sem separar-se, ambos entraram na sala, atraindo a atenção dos alunos.

Evie sorriu para si mesma enquanto o acompanhava até uma das mesas vazia, sentando-se ao lado dele. O gesto do príncipe podia tê-la pego desprevenida e a deixado surpresa, mas ela havia adorado.

Depois do início insatisfatório no dia anterior, Evie chegou a considerar que talvez Chad não estivesse realmente interessado tanto quanto dizia estar. Mas ali estava ele, com um braço apoiado sobre a mesa e a cabeça inclinada, sorrindo ao fitá-la.

— Desculpe. – Evie pediu baixinho. A garota apoiou o braço sobre a mesa e imitou o gesto do garoto, fitando-o em seu charmoso olhar. – Eu esqueci de trazer o seu caderno.

— Sem problemas. Eu uso aquele só para química e matemática. – Chad respondeu no mesmo tom. Ergueu a mão livre e segurou um dos cachos azulados da garota, enrolando-o em seu dedo. – Depois eu pego de volta.

— Chad. – O garoto piscou, afastando-se de Evie e direcionando o olhar para frente, lugar de onde a professora o fitava. – Benjamin não virá a aula hoje?

— Provavelmente não, professora. – Chad explicava, arrumando a postura e o casaco que havia ficado torto. – Ele teve que ir resolver alguns assuntos para a Coroação. Entreguei a permissão de saída dele para a Fada Madrinha há alguns minutos.

— Certo, sem problemas. – A professora voltou-se para o livro que segurava, mas retornou a fitar o filho da Cinderela. – Aproveitando que o senhor está apto a conversar, Chad, pode responder à pergunta que eu havia feito?

— Claro, professora. – Chad cruzou as mãos sobre a mesa e curvou-se levemente para frente. – Mas eu não me lembro muito bem da pergunta.

— Não seja um encantado comigo, Chad. – A professora riu para o garoto e boa parte dos alunos reviraram os olhos simultaneamente. – Foram muitos os períodos de reinado, tempos em que tivemos inúmeros reis corajosos que mantinham e conquistavam seus reinos, demonstrando seu poder com bravura. Houve também rainhas formidáveis, muitas das vezes mais guerreira e dominante que seus próprios reis. – A mulher fitou o garoto, observando se ele estava ouvindo com atenção e não flertando como sempre acontecia na maioria das aulas. – Pode nos dar algum exemplo? E, Chad, não cite seus pais, por favor.

Chad riu. Havia entendido o porquê do pedido, mas não podia esconder que seus pais eram tão excelentes que serviam como exemplo para a maioria. E Chad gostava de lembrar a todos o quão incríveis seus pais, Ella e Henry, são.

— A rainha Branca de Neve. Ela é sensacional! – Evie abriu levemente a boca não acreditando quando ouviu aquele nome, ainda mais dito com tanta euforia pelo loiro ao seu lado. – Rainha Branca lutou contra ladrões e invasores sem nem mesmo ter conhecido o rei David ainda. Sem contar que enfrentou a Rainha Má e até mesmo conseguiu recuperar o reino dela de volta! – Chad dizia, cada vez mais empolgado com a história e completamente inconsciente da expressão cansada de Evie ao ouvir aquelas palavras maçantes sobre a responsável pela ruina de sua mãe. – E, depois de tudo isso, ainda continua sendo uma das mulheres mais lindas que eu já vi na minha vida. Bem... – Chad sorriu, orgulhoso do que diria a seguir: – Depois da minha mãe, claro.

A professora sorriu, satisfeita com a resposta. Entretanto, ao contrário do loiro, ela havia percebido as expressões insatisfeitas de Evie.

— Gostaria de acrescentar alguma coisa, senhorita Hild?

Inacreditável. Além de aguentar ouvir sobre ela, Evie teria que falar sobre a Branca de Neve? A Rainha Má nunca permitiria que aquilo acontecesse, por isso Evie forçou um sorriso e simplesmente respondeu:

— Não, não tenho nada a dizer sobre... isso.

Chad soltou uma risadinha e pela primeira vez, Evie odiou ouvi-la.

 

...

Mal abriu a porta da sala, entrando abruptamente e interrompendo a fala do professor que se encontrava em pé, na frente da grande mesa.

— Boa tarde. – O professor desencostou da mesa e calmamente aproximou-se de Mal, estendendo a mão para cumprimenta-la. – Sou Humberto Graham, o novo professor de História de Lenhadores e Piratas. E você seria...?

Mal inclinou a cabeça, sorrindo de canto, mas não aceitou o cumprimento do homem bem vestido e calmo a sua frente.

— Mal, filha da Malévola. – Assim que disse o nome de sua mãe, um leve ofegar foi feito por alguns dos alunos. A garota resistiu a vontade de rir alto, mas a expressão que transparecia agora no rosto daquele homem a fez estreitar os olhos. Ele ficou claramente decepcionado e Mal não sabia se era por causa do aperto de mão recusado ou por ela ser filha da Malévola.

— Bom, seja bem-vinda a nossa primeira aula. – Rapidamente a estranha expressão desapareceu do rosto de Graham e ele virou-se para a turma. – Pode sentar-se aqui na frente, se preferir.

O professor apontou para uma cadeira vazia na primeira fileira da frente, porém o que chamou a atenção de Mal fora o garoto sentado ao lado de onde o professor apontara.

Receoso, Doug desviou o olhar quando Mal o encarou. Sem mentir, o garoto não queria sentar-se perto de Mal e, pelo olhar raivoso que ela lhe lançava, ele duvidava que a filha da Malévola queria ficar no mesmo prédio que ele.

— Mal!

Uma garota loira sentada no fundo da sala acenou, chamando-a. Mal a encarou por um momento e depois voltou-se ao garoto de óculos que engolia em seco a cada olhar verde em sua direção.

Apenas dois lugares vazio, muito conveniente. Sentar ao lado da loira – provavelmente mais uma das princesinhas cor de rosa –  que acenava animadamente em sua direção com um sorriso de canto. Ou sentar ao lado do nerd que andava constantemente atrás de Evie.... Mal não sabia qual das duas opções era a menos torturante.

Não iria se sentar com ele, nem que lhe oferecessem a Varinha Mágica e a coroa de Auradon de brinde. Mal podia cuidar de mais uma princesinha. Além de que, alguma coisa naquela garota loira havia lhe chamado a atenção.

— Sério, Anxelin? – Mal ouviu o murmúrio incrédulo, mas nem se importou em observar quem o havia feito. Jogou a mochila sobre a mesa e ignorou quando a loira se virou para conversar com a garota sentada ao lado.

O professor já havia voltado a explicação que fazia antes de ser interrompido. Mal surpreendeu-se ao agora perceber o desenho feito a giz no quadro: uma caveira com duas espadas cruzadas, o mais famoso e genérico símbolo dos piratas.

— Muitos têm uma visão de que piratas são perversos, gananciosos e imprevisíveis. A verdade é que estão certos de pensar assim. – O professor soltou uma risada curta e alguns alunos o acompanharam. Mal observava curiosa o que o calmo Graham explicava e como ele gesticulava para enfatizar suas palavras. – Porém, eles são extremamente ardilosos e inteligentes. Afinal, como é que conseguiam evitar serem capturados pela Guarda Marinha?

Professor Graham apontou para o garoto próximo a janela que Mal já havia visto antes, mas não lembrava – e nem tinha interesse de saber – quem era.

— Ahn, eles buscavam informações sobre onde os soldados estariam? – Aziz respondeu hesitante. O professor acenou, pedindo-o para continuar. O garoto limpou a garganta, logo complementando a resposta: – Sabendo qual cidade possuiria maior defesa militar, os piratas podiam escolher qual estaria menos protegida e com menos soldados, assim podiam saquear com menor chance de erros.

Graham estalou os dedos, sorrindo satisfeito.

— Exato. Mas a palavra que faltou foi: estratégias. – O homem escreveu a palavra no quadro enquanto continuava a dizer: – Essa é a palavra que os definia. – Virou-se para frente, limpando o pó de giz das mãos. – Uma boa estratégia garantiria o sucesso em um saque ou, senão, seria uma passagem só de ida para a forca. – Ele apoiou-se na mesa, de frente para os alunos. – Historicamente, os piratas tinham o objetivo de apoderar-se das riquezas alheias, capturando tudo de valor e fazendo reféns para extorquir resgates. Os navios costumavam serem pequenos e rápidos e...

O professor continuou a explicar, desatento a quando Mal deitou a cabeça sobre a mochila, preguiçosamente. A parte de estratégias tinha lhe despertado o interesse, mas o professor desviou do assunto para explicar o passado pirata, uma coisa que Mal não queria ter conhecimento mais do que já possuía.

Assim que fechou os olhos, porém, sentiu um toque em seu ombro. A garota loira a encarava com seus olhos verdes brilhantes e um sorriso duvidoso em face.

— Sou Anxelin, prazer.

Mal ergueu a cabeça, fitando a garota com curiosidade.

— Eu já vi você em algum lugar...

— Na festa de boas-vindas, provavelmente. – Anxelin lembrou-lhe. – Acenei para você quando entrou.

— Verdade. – Então não lembrava dela em um momento muito importante, Mal pensou, conformada com a resposta. – Foi completamente estranho aquilo.

— Só quis cumprimentar. – A loira baixou mais a voz antes de continuar: – Olha, eu sei que deve ser difícil na Ilha dos Perdidos...

— Você nem imagina. – Mal murmurou, com uma breve risada sarcástica.

— ..., mas não acredite que todos aqui são bonzinhos e gentis. – Anxelin completou convicta, apesar de não encarar Mal.

— O que quer dizer? – As palavras da loira soaram estranhas aos ouvidos da filha da Malévola, principalmente depois de observar a maneira pela qual os alunos e professores de Auradon Prep. se comportavam, tão diferentes do que a garota estava acostumada. Haviam saído da Ilha dos Perdidos há apenas dois dias, mas o contraste com Auradon era tão gritante que pareciam meses. – Pelo que eu vi, vocês estão sempre com irritantes sorrisos felizes no rosto.

Anxelin sorriu rapidamente. Voltou seu olhar para o quadro onde agora Graham escrevia um pequeno texto.

— Às vezes um sorriso mascara a verdade. – A loira citou, olhando para frente de maneira contemplativa. Mal ergueu uma sobrancelha e seguiu o olhar de Anxelin, encontrando apenas o professor e sua péssima letra. A garota se referia a ele ou estava só perdida em pensamentos? Não teve tempo de se questionar mais do que isso, pois Anxelin baixou o olhar para seu caderno e começou a escrever o mesmo escrito do quadro. – Mas não é sobre isso o que eu quero te dizer.

Mal revirou os olhos. Por que todo assunto que a interessava, ninguém queria continuar?

— Então você tem alguma coisa a me dizer. Achei que só estava perdendo meu tempo, mesmo.

— Chad é um idiota. – Anxelin revelou, sua voz subitamente séria. Mal apenas a fitou, esperando uma explicação sobre o porquê daquela revelação inútil. – Sei que sua amiga está saindo com ele.

— Como sabe?

Anxelin deu de ombros.

— Fofocas em Auradon se espalham mais rápido do que fogo grego.

— E o que você tem a ver com isso?

— Namorei com ele por um tempo. – A loira largou a caneta e sua expressão aliviada convenceu Mal da verdade em suas próximas palavras. – Terminamos há pouco tempo e foi a melhor coisa que eu já fiz.

— Ah, entendi. – Mal riu, compreendendo o que estava acontecendo. E tinha que colocar logo ela no meio daquilo?!— Então essa conversa é de ex ciumenta querendo estragar os encontros do ex?

— Não, não é nada disso. – Anxelin garantiu, horrorizada que tenha feito parecer assim. – Olha, sei que você provavelmente não confia em ninguém que não seja seus amigos, mas acredite em mim: Chad não é a melhor escolha para sua amiga.

— Com licença. – O professor elevou o tom de voz para interromper a conversa de Mal e Anxelin. – Fico feliz que estejam se enturmando, mas hoje estão aqui para estudar. Poderiam deixar a conversa para depois que a aula acabar?

— Como quiser, Caçador. — Mal sorriu falsamente perante a encoberta provocação. Óbvio que ela lembraria a quem o nome Humberto Graham pertencia. Havia lido sobre ele há algum tempo, quando procurava por histórias sobre a Rainha Má.

Graham nada respondeu, apenas virou-se e continuou a transcrever o pequeno resumo da história do capitão Henry Morgan. Não se incomodava quando alguém o chamava pelo seu antigo título, mas preferia ser reconhecido de outra maneira agora. Tudo tinha ficado no passado, um passado que parecia estar batendo em sua porta – isso se o que ouvira pelos corredores fosse verdade.

O sorriso de Mal apenas aumentou quando o professor deliberadamente a ignorou. Imaginava se o homem ainda se lembrava da antiga vida. Não que aquilo a interessasse, de qualquer forma.

Não tanto quanto a conversa interrompida de antes. E Anxelin parecia ter se esquecido, pois apenas alternava o olhar entre o quadro e seu caderno, escrevendo.

— Que escolha melhor do que um príncipe? – Questionou em dúvida. Lembrava-se do quanto Evie comentava sobre o grande desejo de se casar com um, desejo direto da Rainha Má, claro. E que Mal considerava uma verdadeira obsessão, mas não podia deixar de entender Evie ao querer agradar a mãe.

— Quando o príncipe em questão é o atual Chad, qualquer outro aluno é melhor. – Anxelin usou a caneta para apontar em direção à um garoto completamente entretido em seu celular. Mal também o reconheceu, aquela escola estava ficando realmente pequena demais. – Roland é uma ótima pessoa, se quer saber.


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Notas finais do capítulo

É só eu, ou alguém mais está se apaixonando por essas mensagens que a Evie anda recebendo?? Também quero! ♥

Kyle com um plano... Doug pedindo um favor ao Ben... Family Pavillion...
Como diria a Malevola no primeiro filme: TÁ ACONTECENDO GENTE!
Peace, Love & Ice Cream ♥

Bye e até o próximo ♥♥
Amo vocês ♥



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