A voz da razão escrita por TwinsPotter


Capítulo 1
Capítulo único




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Ele era um homem adulto. Devia saber que ações não pensadas trariam consequências imprevisíveis. Ele deveria ter evitado, ter se afastado. Ele enfrentava problemas que só alguém que partilhava de sua maldição saberia a dor que um lobisomem passava em toda lua cheia, do quão perigoso ele era. Não havia essa história de que “juntos podemos enfrentar qualquer coisa”, uma vez que as pessoas que realmente o ajudaram no passado não estavam mais ali.

            Lupin aprendera, desde pequeno, que se apegar a pessoas era um erro, pois quando descobrissem o que ele era iriam se afastar. Tinha consciência que James, Sirius e Peter não o abandonaram, pelo contrário, fizeram com que seus anos em Hogwarts fossem os melhores, mas nem todo mundo é tão compreensivo e solidário.

            No momento, o lobisomem segurava uma garrafa de Whisky de fogo e a olhava fixamente, parecia até hipnotizado. Afinal, nesses dias, não havia muitas coisas que prendessem sua atenção depois de tê-la deixado e Harry recusado seu pedido. Ele se refugiou no Caldeirão Furado desde então, que nunca esteve tão vazio quanto naquele dia, e tentava se convencer que fora a certa.

            Mas uma vozinha em sua cabeça sempre estava ali para convence-lo do contrário.

            Ela vai ter uma vida boa, pensou. Nymphadora é jovem, vai conseguir seguir com sua vida, quem sabe até casar-se novamente e ter filhos saudáveis... ela ficaria melhor sem ele.

            Repetia isso para si mesmo o tempo todo, mesmo que lhe partisse o coração.

            Porque me permiti amar?

            Porque não se permitiu antes?, disse a voz.

            Eu não podia, era perigoso. E ainda hoje é.

            Não vai me dizer que se casar com a mulher que ama foi um erro.

            Remus não respondeu a voz, que ele acreditava ser sua consciência.

            Harry tem razão, sabia? Você está agindo como um covarde.

            Ele é só um adolescente, rebateu.

            Um adolescente que foi mais maduro que você, pelo visto. Está sendo um covarde sim, você nem nega! Se seu filho nascer com a licantropia, precisará de um pai para ajudá-lo nas transformações... assim como seus pais o ajudaram. Eles não te abandonaram.

            Lupin desviou o olhar para a porta que acabara de ser aberta. Por ela, entrou uma mulher de cabelos castanhos claros segurando a mão de um pequeno garoto. Ela se aproximou do balcão, trocou umas palavras com Tom, o proprietário do local, e disse algo como “obrigada pela informação”. Ela pegou o garotinho no colo e se retirou.

            Ele ficou pensando se a mulher estaria procurando alguém. Um pai ou irmão...

            Ou um pai que saiu de casa e agora a esposa está o procurando para fazê-lo voltar..., interviu a voz, mas foi totalmente ignorada.

            ... nascidos trouxas, provavelmente. Nestes tempos, estava ficando cada vez mais perigoso para qualquer um. Comensais da Morte em cada esquina, ataque a trouxas, nascidos trouxas tendo que provar que sua magia era inata (uma grande tolice na opinião dele).

            Você podia voltar, insistiu a voz.

            E porque eu faria isso? Só estaria os colocando em perigo, argumentou.

            James e Lily ficaram ao lado da família, mesmo na hora da morte. Não tiveram medo e se sacrificaram pelo menino Harry.

            Lily lhe diria que não há lugar melhor para estar, principalmente agora, do que com as pessoas que amamos. E James concordaria e acrescentaria que se você não fosse por bem, iria sobre azaração.

            Remus riu com o pensamento.

            Finalmente estava se dando conta do quão estupido estava sendo. Nunca amara ninguém como amava a metamorfomaga. Ele tinha medo dela se apaixonar por alguém mais jovem, mas ela o escolheu mesmo sabendo que ele era perigoso de mais, velho de mais, pobre de mais...

            E agora ele teria um filho! Uma coisa que Lupin achou que nunca achou que aconteceria.

            Ele passou a mão entre os bolsos do palito e puxou uma fotografia. Fora tirada pelo sr. Tonks no dia em que a pediu em casamento. Dora, com uma mão estendia para que ele colocasse o anel e com a outra tapava a boca. Após isso, ela se jogava nos braços dele. Ambos muito felizes. Ao fundo, sra. Tonks exibia um semblante de surpresa.

            Devolveu a foto e decidiu: ia voltar. Queria rever este sorriso que amava tanto. Iria ajudar na gravidez. E, se por um acaso infeliz, seu filho herdasse sua maldição, Lupin iria dar todo o apoio para o pequeno. Iria fazer exatamente o que os marotos e seus pais fizeram: fizeram com que ele não se sentisse uma fera que deveria ser isolada.

            Saindo do Caldeirão Furado, ele aparatou a uma certa distância da casa e caminhou até ela reunindo toda a coragem que tinha para encarar Andrômeda e Ted Tonks. Que deviam o odiar agora.

            Bateu na porta e em alguns instantes ouviu uma movimentação dentro da casa.

            Andrômeda abriu, e, antes que ele pudesse falar um “oi”, a porta foi fechada.

            Remus ficou atônito.

            “Quem era Andy? ”, ouviu-se a voz de Ted próxima a porta.

            “Ninguém”, respondeu a esposa rapidamente, “você já arrumou tudo que precisa? ”

            E a porta foi aberta novamente, mas, dessa vez, por Ted Tonks.

­            − Remus, meu rapaz. – O homem exclamou com um ar surpreso – Entre, entre.

            O homem abriu espaço para que ele passasse e, em seguida, fechou a porta.

            Andrômeda o encarava sentada em uma das poltronas da sala com uma feição impaciente. Ela se levantou dizendo que ia preparar algo para comerem.

            − Desculpe minha mulher – Pediu Ted – Ela andou bastante nervosa esses dias. Cuidando de Dora e da casa, me convencendo a ficar...

            − O senhor vai embora? – Perguntou Lupin notando a mochila e uma trouxa de roupa em cima da mesinha.

            − Infelizmente – Suspirou sentando-se na poltrona que outrora estava a mulher – Presumo que tenha acompanhado as notícias...

            Lupin assentiu, sentando-se no sofá oferecido por Ted.

            − Os nascidos-trouxa estão sendo caçados. Não vai demorar muito até que me achem e não conheço ninguém da minha família que seja bruxo... vou ter que deixa-las.

            Ouviu-se um soluço vindo da cozinha.

            − Aqui queridos – Andrômeda se aproximou trazendo uma bandeja com três xicaras de chá e biscoitos – Cuidado, está quente.

            − Obrigado, Andy.

            − Obrigado, Andrômeda.

            − E... Remus, me desculpe por fechar a porta – Pediu ela fungando – Está sendo difícil para nós, a separação é algo muito doloroso.

            Lupin não sabia se isto tinha sido uma indireta para seu relacionamento com Dora ou não, mas ele se sentiu um aperto no coração.

            − Quando você foi embora – Continuou a mulher – Nymphadora ficou arrasada, coitada.  – Remus agora suspeitava que ela queria que ele se sentisse realmente mal, e estava funcionado – Ficava maior parte do tempo no quarto, ela repetia que você iria retornar, eu não acreditei nisso. Desculpe, mas é a verdade.

            - Mas – Interrompeu sr. Tonks – você veio! Para arrumar as coisas, certo?

            Os Tonks sorriram para o lobisomem.

            - Sim – Lupin se endireitou no sofá e tentou retribuir o sorriso, mas sem sucesso – Primeiramente, gostaria de pedir perdão a vocês dois. No dia do casamento eu prometi ficar ao lado de Dora e cuidar dela, mas foi exatamente o contrário que fiz. Eu a abandonei por medo. E a machuquei com isso. Tive medo de nosso filho herdar minha maldição, ou dele ter vergonha de mim ou, pior, medo de machuca-los na lua cheia... nunca me perdoaria.

            − E a poção? – Interrompeu sra. Tonks.

            - E se não funcionasse? E se acabasse? – Questionou – Eu fui até Harry, pedia a ele para acompanha-los na missão que Dumbledore passara. Se precisasse, eu morreria para que eles continuassem... Bem, Harry recusou. Nós brigamos, até. Depois disso, me refugiei no Caldeirão Furado, onde percebi quão estupido estava sendo.

            − Oh querido...

            − Eu...- Ted levantou a mão e ele se calou.

            − Entendemos Lupin – Disse ele – Mas você precisa falar com ela.

            ­− Pode subir – Sra. Tonks apontou para a escada – duvido que esteja dormindo.

            − Obrigado.

            Ele subiu as escadas lentamente (“Você consegue Aluado!”, incentivou a voz. “Isso! Mostre a coragem Grifinória que tem dentro de você ”, disse uma nova voz. Lupin, agora, estava achando essas vozes muito familiares). Andrômeda disse que ela ficara arrasada. Ele temia que Tonks não o quisesse mais.

            De longe, reconheceu a porta do quarto de Tonks. Diferente das outras, que eram totalmente brancas e com entalhes, a dela tinha as letras de seu nome (cada uma com uma cor diferente), um “não me chame de” com uma seta apontada para “NYMPHADORA” rabiscado por ela. A baixo, bandeirolas da Lufa-lufa.

            Lupin bateu na porta e entrou.

            − Não estou com fome, mamãe. – Disse uma voz rouca.

            O quarto estava um pouco mais arrumado do que ele se lembrava. As paredes brancas, exceto por uma que era roxa, aparentavam novas. Seus livros estavam em seus devidos lugares, a vassoura estava presa em um suporte. Também havia pôsters de bandas variadas, bandeirolas da sua casa de Hogwarts e o mural improvisado estava cheio de fotos que se mexiam e relembravam momentos felizes.

            − Não sou sua mãe, mas ela pediria para você comer um pouco. – Disse se aproximando da garota.

            Ela estava deitada na cama, suas pernas pendiam para fora, suas mãos repousavam em cima da barriga e seus dedos brincavam com a aliança. Seus cabelos estavam em um tom sem graça de castanho e seus olhas não tinham o costumeiro brilho e entusiasmo.

            Tonks encarava o teto, mas Lupin sabia que ela havia o visto, pois sua boca entreabriu e seus olhos lacrimejaram.

            − Você está bem? – Perguntou e não recebeu nem uma resposta nem um aceno de cabeça.

            Ela continuava com os olhos fixos no teto.

            − Me desculpa – Ele pediu, quase em tom de suplica.

            Tonks fechou os olhos e apertou a aliança entre as mãos. Talvez para tentar não chorar ou saber se estava delirando. Quando os abriu, quase desatou-se em choro. Ele não estava mais lá.

            E, então, sentiu a cama afundar na outra ponta. Remus havia se deitado na mesma posição que ela, de modo que, quando se voltou para ele, teve a visão de seu rosto de ponta cabeça.

            Os dois voltaram a fitar o teto.

            Ele ia perguntar o que tanto ela olhava, quando percebeu algo que com certeza não estava ali antes: o desenho do céu noturno. Tinha várias constelações e o nome de cada uma.

            − Você que...?

            − Achei meu antigo livro de Astronomia – Respondeu com a voz baixa – Algumas estão fora de escala, mas...

            − Achei lindo – Elogiou.

            − Fica ainda mais a noite – Suspirou a garota.

            ­− Dora – Começou depois de um período em silencio – Eu sinto muito por ter lhe deixado. Fiquei com medo. Você disse um milhão de vezes que sabia se cuidar, mas não pude deixar de me preocupar. Você dizia que não se importava, mas eu me importava. E se eu fizesse mal a você? Ou a seus pais? Ou ao nosso filho? Eu te amo de mais para deixar de me preocupar.

            A metamorfomaga fungou. O lobisomem se virou de bruscos e pegou o anel das mãos dela.

            − Tonks, você quer ser minha esposa outra vez? – Perguntou sentindo o coração acelerar – E eu prometo ficar ao seu lado e nunca mais sair.

            - Mamãe disse que você a vale nada.

            − E não valho.

            − Disse que era para eu te “dá um pé na bunda” – Remus riu da expressão.

            − E você vai? – Perguntou olhando nos olhos dela.

            − Não – Ela sorriu como a tempos não fazia.

            Lupin pegou sua mão e colocou o anel. Os cabelos da metamoformaga mudaram para seu roxo berrante e ela o puxou para um beijo. Um beijo que ambos desejavam.

***

            Mais tarde naquele dia, sra. Tonks entrou no quarto da filha para ver se estava tudo bem. Ela abriu um pequeno sorriso a ver que os dois estavam dormindo serenamente, juntinhos.

            − E então? – Perguntou Ted Tonks ao ver a esposa descendo as escadas.

            − Estão dormindo – Respondeu e, ao ver a cara do marido, completou: – Não pense besteira, Ted! Eles estão só dormindo.

***

            Em outro lugar, mais distante ainda do quarto da primogênita dos Tonks, quatro figuras os observavam.

− Mandou bem, Pontas – Elogiou Sirius Black.

− Ele precisava ouvir a voz da razão, quer dizer, a sua voz – Ironizou Marlene Mckinnon.

− É tão bom ver Remus ser feliz – Comentou Lily Potter – Ele, que sempre teve uma vida tão difícil.

− Ele só precisava de um empurrãozinho – Disse James Potter se voltando para os outros – E eu queria ver meu amigo feliz.

Mal sabiam que logo, logo Remus Lupin e Nymphadora Tonks iriam se juntar a eles.


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Notas finais do capítulo

Olaaaaaaa!!! Eu (Marly) trago novamente uma oneshort Remadora. Já deu para perceber que amo este casal, não é mesmo?
Se eu pudesse, enchia este site de fics deles ♥ (e se eu soubesse desenhar, enchia a internet de fanarts deles).
Espero que tenham gostado!
Até a próxima!



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