Immortal escrita por Vênnice


Capítulo 1
Capítulo único: Immortal


Notas iniciais do capítulo

Esta Fanfic foi escrita inspirada na canção My Immortal - Evanescence



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Traídos.

Abandonados.

O céu sem luar parecia selar a noite que exalava cheiro de morte.

Gritos em meio àquela floresta sombria não eram escutados por ninguém.

Feitiços eram lançados contra um inimigo invisível.

Dois bruxos corriam sem direção.

O destino os havia colocado ali, mas não sabiam o que fazer, para onde ir.

De repente ele parou, segurou as mãos dela.

—Acabou... – Ele disse ofegante. – Não conseguiremos fugir por muito tempo.

—Não fale assim. Vamos conseguir... – Ela mal conseguia acreditar nas próprias palavras.

Um barulho próximo ao lugar que estavam os interrompeu.

Viraram-se.

Um de costas para o outro.

Entrelaçaram as mãos.

Medo.

Um feitiço que nunca haviam ousado conjurar ecoou por entre as árvores.

Dor.

Corpos caídos ao chão.

Silêncio.  

 

Immortal

 

Três meses depois...

 

 

Ainda sentia medo.

Ainda sentia dores.

Acima de tudo, sentia-se sozinha.

Enquanto caminhava a passos vagarosos. Sua mente delimitava-se a uma pergunta: Por que?

Para ela o tempo estava congelado desde aquela noite sombria. Noite em que ele a deixou para sempre.

Todos os dias ela cumpria aquilo que se tornara um ritual em sua vida. Com uma rosa vermelha na mão ia até o local onde tudo havia acabado, onde ele havia morrido sem que ela pudesse ter feito nada.

Na lápide, uma homenagem póstuma:

 

“Para uma mente bem estruturada, a morte é apenas uma aventura seguinte.”

 

Hermione colocou a rosa próxima aos escritos e sentou-se. Aquela floresta era tão calma durante o dia, tão diferente da noite em que o perdeu para a escuridão.

Sem conter as lágrimas, porque já não suportava a dor reprimida em seu coração, buscou em suas memórias alguma pista sobre o que realmente havia acontecido.

Tudo era vago, impreciso, exceto pelo sorriso, tão claro em sua mente, que despertava um sentimento que antes não sentia por ele. Não se permitia sentir.

Mas já era tarde, ele já não estava mais lá, restava apenas a memória, a ilusão de que algo entre os dois poderia ter sido bom.

 

“Estou tão cansada de estar aqui

Reprimida por todos os meus medos infantis”

As lembranças estavam confusas. Eles haviam acabado de fazer exercícios práticos de Defesa Contra a Arte das Trevas em duplas. Ela não o queria por perto, mas foi obrigada, por um sorteio, a tê-lo como par na atividade. Mal se falaram durante todo dia, mas não poderia voltar ao castelo sem ele.  

Fechou os olhos, lembrou-se de como haviam decidido entrar na Floresta.

Era um final de tarde, o sol desaparecia aos poucos por entre as montanhas que cercavam uma Hogwarts, ainda em ruínas, após o confronto com Voldemort.

 

—O que você faz aqui, Malfoy? – Ela perguntou ao encontra-lo próximo à trilha que levava ao centro da Floresta Proibida. – O treinamento acabou e a professora Minerva nos chamou para uma última reunião antes do teste final.

—Fale baixo Granger. – Ele sussurrou. – Algo está errado, mas não consigo identificar o que é.

—Do que você está falando? – Ela perguntou aproximando-se dele. – Não vejo nada suspeito.

Ele colocou uma das mãos sobre a boca de Hermione. Apontou para as árvores que estavam um pouco à frente.

—Estamos sendo observados. Tenho certeza. Só gostaria de saber a razão.

Ela se esforçou para conseguir ver o que ele apontava e percebeu uma sombra por entre os galhos, mas não conseguiu definir o que era.

—Eu vou lá verificar o que é. – Ele falou cauteloso. – Não demoro.

—Vou junto.

—Não precisa.

—Somos da mesma equipe. Não vou voltar sem você.

—Tanto faz. – Ele respondeu com desdém.

 

Abraçada aos próprios joelhos, Hermione abaixou a cabeça. O sentimento de culpa a consumia, Draco não saía de seus pensamentos.

 

“E se você tiver que ir

Eu desejo que você vá logo

Porque sua presença ainda permanece aqui
E isso não vai me deixar em paz”

 

Não era fácil sentir-se tão frágil pelo sentimento de perda.

Não conseguia encarar os seus amigos.

Não conseguia encarar a si mesma.

Encarar-se significava assumir um sentimento adormecido que guardou durante anos e, provavelmente, ficaria só para ela até aquele dia na floresta.

Sentir algo por Draco era como assumir-se fraca, incapaz de controlar os próprios sentimentos por alguém que só lhe fizera mal. Era sufocante, estarrecedor, por isso escondia-se em uma relação tranquila com Rony. Uma relação que não lhe causava medo, insônia, frustração, mas que também não a preenchia, não lhe fazia feliz por completo.

Em suas memórias ele sempre estava por perto e, de alguma maneira, estava acostumada a isso. Agora era diferente, jamais poderia reencontrá-lo, nem mesmo para dizer que sentia muito por tudo o que haviam passado, que sentia muito por não ter dado a ele a chance de se aproximar das poucas vezes que tentou.

 

—Granger, não devia ter deixado você vir comigo... – Falou Draco em voz baixa. – Coloquei você em perigo. Jamais imaginei que seríamos ameaçados e perseguidos por um inimigo que não podemos ver.

—Não se culpe. Eu entrei na floresta porque quis. – O sangue escorria pela testa de Hermione.

—Você se machucou e eu não vou me perdoar por isso.

Ele pegou a varinha e conjurou um feitiço de primeiros socorros.

—Não sabia que você dominava este tipo de feitiço! – Ela disse não escondendo o ar de surpresa.

Ele sorriu.

—Se conseguirmos sair dessa armadilha que caímos, você pode me conhecer melhor. Sei muito mais coisas do que você pensa.

Foi a vez dela sorrir.

Um barulho os interrompeu. Voltaram a correr. A caçada havia recomeçado e eles eram presas fáceis para aquele caçador sem face que habitava a Floresta Proibida.

 

Hermione levantou a cabeça. Sentiu um vento gelado tomar conta de seu corpo, embora o sol daquela manhã brilhasse forte no céu. Um grito vindo de longe a assustou, parecia a voz dele.

 

—Hermione, você pode me ouvir? Sou eu, Draco...

 

Sim, era a voz dele. Confusa, olhou para os lados na esperança de vê-lo, porém, estava sozinha.

 

—Devo estar enlouquecendo... – Pensou em voz alta. – Ele morreu e não há nada que eu possa fazer para mudar isso. – Falou para si mesma.

 

Mais uma vez, lágrimas escorreram pelo seu rosto.

 

“Essas feridas parecem não querer cicatrizar
Essa dor é muito real
Isso é simplesmente muito mais do que o tempo não pode apagar”

 

******************************************

 

Passos apressados pelo corredor frio daquele hospital bruxo passaram despercebidos pelos seguranças incumbidos de não deixa-lo entrar naquele quarto. Ele representava perigo. Representava a hipótese que ninguém queria cogitar, morte.

Ao entrar, percebeu que as rosas vermelhas que sempre deixava na portaria eram entregues. Após três meses, enfim conseguiu aproximar-se. Sentou-se na cadeira que estava ao lado da cama. Colocou suas mãos sobre as dela, a emoção tomou conta de seu corpo. Chorou.

 

—Hermione, você pode me ouvir? Sou eu, Draco...

 

A porta se abriu e o olhar furioso de Rony encontrou o seu.

 

—O que faz aqui? Ainda não está satisfeito com o que fez a ela?

—E se eu não quiser sair? O que você vai fazer? – Ele respondeu nervoso.

—Você faz mal a ela. Não percebe? Olha como ela está. Nem sabemos se conseguirá sair do coma. Me pergunto qual o sentido disso tudo. Por que você sobreviveu e ela ficou assim? – Rony aproximou-se da cama onde estava Hermione. – Saia daqui antes que eu não responda por mim, Malfoy.

 

Draco levantou-se e saiu sem dizer uma palavra. Não adiantaria. Jamais acreditaram em seu relato sobre o que tinha acontecido.

 

—Malfoy, é importante que você nos relate o que aconteceu. O que realmente aconteceu. – Harry explicou cauteloso.

—Eu já expliquei. Por que é tão difícil acreditar? – Ele respondeu nervoso.

—Seu relato é inconsistente. Confuso em várias partes e...

—E vocês já me condenaram! – Draco gritou enquanto levantava-se nervoso da cadeira. – Escute Potter, eu não tenho razões para mentir e muito menos para fazer mal à Granger.

—Então me explique. Me conte tudo o que aconteceu sem omitir nenhum fato. – Harry tentou ponderar. – Me dê razões para acreditar em você.

Malfoy passou a mão por entre os cabelos.

—Como eu disse, algo suspeito me chamou a atenção em meio aos arbustos. Decidi verificar o que era e Hermione me acompanhou porque não voltaria ao castelo sem mim. Naquele dia, havíamos feito as atividades juntos.

—Por que decidiram entrar na Floresta Proibida sem comunicar a ninguém?

—Não pensamos que fosse algo grave. Uma ameaça real.

—O que exatamente vocês encontraram?

—Nada. Não havia nada lá...

—Se não havia nada lá, o que houve com Hermione? Há três meses ela está em coma! E com você? Por que está bem e ela não? – Harry se exaltou. A história era muito incoerente.

—Não havia nada que conseguíamos enxergar, mas para mim ficou claro que alguma coisa nos caçou por entre aquelas árvores.

 

Draco sabia que a história não era convincente, entretanto não estava mentindo. Ele e Hermione foram perseguidos e torturados por um inimigo fantasma que não se revelou em momento algum.

 

—Não há nada aqui Granger, vamos embora!

—Deve ter sido algum animal se escondendo quando percebeu a nossa presença.

—Pode ser. – Respondeu Draco não muito convencido.

Enquanto caminhavam, Hermione parou, olhou para os lados.

—Nós não viemos por esta trilha.

—Granger, este é o único caminho.

—Olhe a sua volta, as árvores não estão na mesma posição.

Draco virou-se e constatou que tudo estava diferente. Um barulho vindo da mata os assustou.

—Estamos sendo observados Hermione e a sombra que vimos não era de um animal.

Hermione sentiu o seu coração acelerar ao ouvir um barulho de respiração ofegante passar por entre eles, mas não conseguia ver nada.

—Quem está aqui? Por que está nos seguindo?

Silêncio.

Draco foi surpreendido por um soco no estômago, mais outro e um empurrão que o derrubou.

Inutilmente ele tentou se defender. Quem o atacava não era visível.

—Aparecium! – Conjurou Hermione, mas nada apareceu.

Antes que dissesse qualquer outra palavra, sentiu alguém lhe pegar pela cintura e a arremessar contra o chão. Bateu a cabeça e de imediato sentiu o sangue escorrer pelo seu rosto.

Com dificuldade, Draco a segurou pela mão.

Aparataram mas não conseguiram sair da floresta, o que o deixou preocupado.

—O que foi aquilo? – Ela perguntou nervosa. Um misto de dor e medo sucumbiam o seu corpo.

—Não sei. Jamais fui atacado por um ser invisível. – Draco tentava transparecer calma para não assustá-la ainda mais.

Uma voz rouca e arrastada ecoou por entre as árvores.

—Hoje, a morte cairá sobre vocês...

Eles se entreolharam, não sabiam que direção tomar, correram até encontrar uma pequena gruta. Entraram para recobrar o fôlego e pensarem como poderiam escapar vivos dali.

Cave Inimicum! – Draco conjurou o feitiço para protegê-los um pouco mais.

A voz ecoou novamente.

—Seus feitiços não funcionam comigo, mas os meus não deixarão vocês saírem daqui vivos...

—Estamos sendo caçados. – Hermione constatou receosa.

—E como um bom caçador, ele está brincando com as presas. – Draco cerrou os olhos. – Não podemos morrer aqui, não depois de tudo.

—Não vamos morrer. – Ela afirmou. – Somos sobreviventes.

—A pergunta é: como escaparemos?

Hermione olhou a sua volta na busca de algo que pudesse os ajudar, mas não encontrou nada. Lembrou-se de quando estava na floresta com Harry e Rony.

—Nunca imaginei que iria passar por isso mais uma vez.

Draco passou um dos dedos delicadamente pelo rosto dela.

—Eu sinto muito...

—Não é culpa sua. – Ela respondeu um pouco constrangida pelo gesto de carinho. Não era acostumada ao toque dele.

—Eu sinto muito, não só pelo o que estamos passando hoje, mas por tudo que já fiz você passar.

Hermione não sabia o que dizer. Ele prosseguiu.

—Não precisa dizer nada. Eu sei o quanto fui um idiota com você. – Ele segurou as mãos dela. – A mentira sempre fez parte de mim. Desde muito cedo aprendi a não ser sincero com as pessoas. Cresci tão bom nisso que enganei a todos, inclusive você.

—O que você quer dizer com isso? – Ela perguntou confusa.

—Quero dizer que desde aquele dia, no Baile de Inverno, quando eu te vi, não consegui mais controlar os meus pensamentos e, mesmo em perigo, a minha única vontade agora é de te dar um beijo.

Draco esperou por uma resposta grosseira, uma rejeição, uma desculpa qualquer que o limitasse a ficar ali, incapaz de qualquer gesto, mas para a sua surpresa, não foi o que aconteceu.

—Me beije. – Ela ordenou séria.

—O que? – Agora ele estava confuso.

—Me beije. – Ela repetiu. – Faça isso antes que eu me arrependa e nunca mais tenhamos a chance de sermos sinceros um com o outro.

E o beijo aconteceu.

Foi forte.

Intenso.

Quando as bocas se encontraram o desejo reprimido desapareceu.

Quando os corpos se encontraram, perceberam que era ali que sempre desejaram estar.

O cheiro dele era bom.

O corpo dela era quente.

Não queriam se separar, mas precisavam.

Mais uma vez não podiam ficar juntos da maneira que queriam.

Se separaram por um momento, olharam-se.

—Por todos esses anos você esteve em meus pensamentos e...

Um estalo de galho sendo quebrado o interrompeu.

Draco puxou Hermione pela mão e mais uma vez fugiram.

 

“Eu segurei a sua mão por todos esses anos
               Mas você ainda tem tudo de mim”

 

Perturbado, Draco saiu do hospital e sentou-se na calçada. Embora tentasse pensar no que havia acontecido, as lembranças eram fragmentadas demais.

 

—Draco... – Uma voz familiar o chamou.

 

Ele virou-se assustado. Não havia ninguém.

 

—Draco, consegue me ouvir?

 

A voz parecia vir de sua cabeça. Levantou-se.

 

—Devo estar enlouquecendo. – Constatou em voz alta.

 

Balançou a cabeça.

Nada mais fazia sentido.

 

******************************************

 

—Draco, consegue me ouvir?

 

A voz trêmula de Narcisa revelava o seu nervosismo por causa do filho que há três longos meses estava em coma. Os melhores médicos bruxos já haviam passado por aquele quarto de hospital, mas nenhum foi capaz de dizer o que havia acontecido com ele.

A única pessoa que podia lhe contar também estava naquele quarto. No outro leito, Hermione Granger também não respondia a nenhum estímulo, ninguém sabia mais o que fazer para que os dois recobrassem a consciência.

A cena era paradoxal, logo os dois, que sempre percorreram caminhos opostos, ali, naquele quarto frio de hospital, estavam lado a lado e suas mentes dormentes pelo mesmo feitiço: Immortal.

 Narcisa abaixou a cabeça. O cansaço tomava conta do seu corpo. Sentiu alguém tocar-lhe o ombro. Era Luna.

 

—Estou aqui para ajudar. Vá descansar, prometo que não os deixarei sozinho.

—Obrigada, Luna. Mas eu realmente não consigo deixa-lo. Só fico em paz ao lado dele.

 

Luna deu um sorriso terno e sentou-se ao lado de Hermione.

 

—Ás vezes me pergunto se eles conseguirão se libertar da ilusão. Se irão perceber que estão aprisionados em uma espécie de pesadelo. – Desabafou Narcisa.

—Eu tenho certeza que sim. Temos que acreditar. – Luna passou as costas da mão pelo rosto de Hermione. – Hermione e Draco são inteligentes. Vão perceber.

—Mas o tempo está passando e tenho medo que eles não consigam retornar. – Narcisa se segurava para não chorar.

—O tempo do inconsciente é diferente do tem em que vivemos. Temos que ter paciência.

 

Narcisa passou a mão pelos cabelos desalinhados de Draco. Sentia falta do brilho dos olhos dele.

 

—Os médicos disseram que se os dois conseguirem se reencontrar no universo onde estão aprisionados, o feitiço se quebrará. – Narcisa olhou para Luna. – Mas como isso pode acontecer? Por que os dois iriam querer estar juntos? Nunca se gostaram.

—Você não pode afirmar isso. – Luna falou distraidamente deixando Narcisa intrigada. – Como você pode acreditar em algo assim? Acreditar que os dois nunca quiseram estar juntos?

—O que você quer dizer?

—Draco e Hermione foram obrigados a assumir um lado e todas as consequências vindas com ele. Ninguém aceitaria que os dois fossem de outra forma.

—Você está me dizendo que eles tinham sentimentos um pelo outro?

—Eu só estou dizendo que eles nunca puderam ser quem realmente queriam. Se gostavam um do outro, eu não posso dizer, mas duvido que realmente se detestassem. Afinal, quando uma pessoa não gosta da outra, ela simplesmente se afasta e, para mim, é difícil lembrar de um dia que os dois ficaram afastados.

 

As palavras de Luna trouxeram muitas lembranças à mente de Narcisa, a mais forte, quando Draco fingiu não reconhecer Harry Potter e sofreu enquanto Belatrix torturava Hermione.

Ela colocou a mão sobre a boca. Draco e Hermione jamais se odiaram, o sentimento era outro e em momento algum ela havia percebido isso.

 

—Não deve ter sido fácil para eles. – Constatou.

—Esconder um sentimento de todos que o cercam é doloroso. Principalmente quando se acredita que o outro o odeia.

—Eles enganaram todos, inclusive a si mesmos. – Narcisa, sem conter a lágrimas, olhou para Luna. – Eles precisam saber. Eles precisam retornar para viverem esta história.

 

Luna assentiu com a cabeça.

 

—Eu tenho certeza que conseguirão...

 

******************************************

Após ouvir a voz de Draco ressoar pela floresta, Hermione havia andado por todas as trilhas. Seu coração estava disparado.

 

—Ele não está aqui. Ele morreu. Se convença disso, Hermione Granger. – Ela gritava desesperada. – Ele se foi. Acabou.

 

Por um momento desejou que tudo aquilo fosse um pesadelo. Desejou voltar ao momento em que se beijaram, momento que enfim percebeu que todas as brigas e discussões não passaram de um grande pretexto para estarem próximos.

Ela percebeu que todos os insultos haviam sido uma defesa de ambos, na tentativa fracassada de esconder os sentimentos que nutriam um pelo outro.

Hermione buscou em seus pensamentos as inúmeras vezes que se flagrava olhando para ele, imaginando como seria o corpo, o beijo, o toque... mas, agora era tarde demais.

 

“Você costumava me cativar
Pela sua luz ressonante
Agora eu estou limitada pela vida que você deixou para trás”

 

******************************************

Immortal.

Foi o feitiço conjurado pela criatura que os perseguia.

Draco lembrava-se de ter lido sobre ele nos livros antigos de Magia da Trevas de seu pai.

Não era uma Maldição Imperdoável, mas era tão cruel quanto elas. Suas vítimas enlouqueciam. Ficavam aprisionadas na própria mente, não conseguiam se libertar por acreditarem na ilusão imposta pelo feitiço.

 

—Por que somente Hermione foi aprisionada? Por que eu estou livre? Por que... – Draco não terminou a frase. – Como não percebi isso antes?

 

Ele olhou a sua volta e notou que não existiam pessoas verdadeiras, eram vultos sem rostos. Voltou ao hospital, as pessoas repetiam as mesmas ações. Subiu ao quarto onde estava Hermione, pegou em sua mão.

 

—Hermione, você consegue me ouvir? O que você está vivendo não é real...

 

Draco estava desesperado, não poderia ficar aprisionado, iria enlouquecer.

 

“Seu rosto assombra todos os meus sonhos, que já foram agradáveis

Sua voz expulsou toda a sanidade em mim”

 

A porta se abriu e o olhar furioso de Rony encontrou o seu.

 

Novamente a cena acontecia.

 

—O que faz aqui? Ainda não está satisfeito com o que fez a ela?

 

Malfoy não respondeu, a discussão não era real.

 

—Você faz mal a ela. Não percebe? Olha como ela está. Nem sabemos se conseguirá sair do coma. Me pergunto qual o sentido disso tudo. Por que você sobreviveu e ela ficou assim? – Rony aproximou-se da cama onde estava Hermione. – Saia daqui antes que eu não responda por mim, Malfoy.

 

Draco levantou-se e saiu sem dizer uma palavra para depois voltar e reviver aquele momento. Não descansaria até acorda-la.

 

******************************************

Mais uma vez, Hermione estava sentada próxima à lápide de Draco com a flor vermelha na mão.

Seus dias estavam cada vez mais sombrios.

Sentia-se em uma prisão sem muros.

Sentia-se, sobretudo, vazia.

Sobretudo, sozinha.

 

Eu tentei com todas as forças dizer a mim mesma que você se foi
Mas embora você ainda esteja comigo
Eu tenho estado sozinha todo esse tempo.”

 

—Hermione, você consegue me ouvir? O que você está vivendo não é real...

 

A voz de Draco se propagou pela floresta, trazendo consigo um vento tempestuoso que balançou as árvores de forma violenta.

 

—Draco? – Ela gritou.

 

A flor caiu de sua mão, sentiu um tremor abaixo de seus pés. Hermione olhou a sua volta. Tudo havia mudado de lugar.

Sentiu uma forte dor na cabeça. Tudo girava. Lembrou-se do último momento juntos. Um de costas para o outro com as mãos entrelaçadas.

 

—Immortal. – A voz conjurou o feitiço.

Hermione sentiu o seu corpo adormecer. Escuridão.

 

“Essas feridas não vão cicatrizar. Essa dor é muito real
Há muita coisa que o tempo não pode apagar”

 

—Immortal. – Ela repetiu em voz baixa. – Esse feitiço não mata, ele aprisiona.

 

Ela observou a Floresta Proibida. Não lembrava-se de como havia chegado lá.

 

—Estou presa em meu próprio inconsciente. – Ela constatou. – Draco não morreu. – Ela sorriu. – Estamos vivos, de alguma forma estamos vivos... mas onde ele está?

Após pensar um pouco, compreendeu que estavam em tempos diferentes mas, de alguma forma, ele havia feito contato.

Para quebrar o feitiço, precisavam se encontrar.

Hermione abaixou a cabeça e, no momento seguinte, já estava próxima à lápide com a flor vermelha na mão. Se desesperou.

 

—Mione... não desista...nós vamos conseguir...juntos precisamos vencer os nossos medos...

 

“Quando você chorou eu enxuguei todas as suas lágrimas
Quando você gritou eu lutei contra todos os seus medos”

******************************************

No quarto do hospital, a cada encontro com Hermione, Draco sentia-se mais forte, porém, começou a perceber que tudo a sua volta se desfragmentava. O tempo estava acabando e ele ainda não tinha conseguido trazer Hermione ao seu encontro.

Rony entrou no quarto, no entanto sua voz era praticamente inaudível. Malfoy sentiu muito frio, o quarto começou a escurecer.

—Mione, não desista de nós... – Draco pediu.

Conforme o quarto escureceu, ele se encolheu aos pés da cama de Hermione. Antes de fechar os olhos, tocou as mãos dela pela última vez.


“Eu segurei a sua mão por todos esses anos”

******************************************

As palavras de Draco pedindo para que ela não desistisse percorriam a sua mente.

Ela não iria desistir.

Olhou para os escritos na lápide.  A resposta estava o tempo todo ali:

“Para uma mente bem estruturada, a morte é apenas uma aventura seguinte.”

—Draco não está morto. – Ela pensou em voz alta. – Mas aqui deve ser o único lugar onde posso encontra-lo.

Ela retirou a varinha do bolso de trás de sua calça e, torcendo para que a sua ideia fosse a solução, conjurou o feitiço de explosão.

—Bombarda!

A explosão da lápide revelou um imenso compartimento, dentro dele, Draco Malfoy.

—Você conseguiu – A voz dele estava fraca.

Hermione estendeu a mão para ajudá-lo a sair.

—Jamais desistiria de você.

Quando as mãos se encontraram, um imenso vácuo os sugou, tudo ficou branco. Perderam-se um do outro mais uma vez.

******************************************

Enquanto o médico examinava Draco e Hermione, Narcisa mal conseguia conter a ansiedade.

—Como eles estão? – Ela perguntou aflita.

—O quadro continua o mesmo. Não houve melhora.

—Deve existir algo que possa ser feito. Eles não podem continuar neste estado vegetativo.

—Senhora Narcisa, precisamos conversar. Peço que me acompanhe.

—Eu não vou desistir dos dois! – Ela afirmou com o tom de voz alterado.

—Peço que me acompanhe agora, por favor.

Contra a vontade, ela saiu do quarto para acompanhar o médico.

******************************************

Primeiro sentiu suas pernas, depois as mãos; o corpo, aos poucos recobrava os movimentos. Ao abrir os olhos, sentiu que alguém estava ao seu lado.

—Draco...

—Conseguimos Mione... quebramos o feitiço...

Ela levantou-se ainda com um pouco de dificuldade.

—Só consegui porque você não desistiu.

Ele a beijou delicadamente.

—Jamais desistirei do que sinto. – Ele a abraçou. – Você sempre terá tudo de mim...


“Mas você ainda tem tudo de mim”

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Três meses depois...

 

Enquanto caminhavam, Harry e Rony não conseguiram sequer trocar uma palavra. Voltar à Mansão Malfoy trazia à tona lembranças ruins de perda e dor.

 

—Juro Harry, eu não entendo porque ela teve que vir justamente para o lugar onde eu nunca mais gostaria de colocar os meus pés novamente. – Rony rompeu o silêncio. – De todos os lugares do mundo, porque Hermione teve que vir justamente para cá?

—Rony, conversamos muito a respeito, lembra? É o melhor para ela.

—Com ele? Neste lugar? Custo a acreditar que seja realmente o correto.

—Você ainda gosta dela, não é? Não perdeu as esperanças que um dia ela volte para você.

—Não posso perder, um dia ela voltará para mim.

 

Mal se posicionaram em frente ao grande portão com a letra M dourada e um distinto senhor veio os receber.

 

—Sejam bem-vindos à mansão dos Malfoy!

—Viemos visitar Hermione. – Harry falou cauteloso.

—Me sigam, eu lhes conduzirei.

 

Ao entrarem, perceberam que a imensa sala estava bem mais clara do que lembravam e existiam flores espalhadas por todos os lugares. Ao pé da escada, Narcisa os esperava.

 

—Harry, Rony... Estou muito feliz que tenham vindo! A presença e o carinho de vocês é muito importante para Hermione.

—Onde ela está? – Perguntou Rony ansioso.

—Eles estão no segundo quarto à esquerda.

 

Os dois subiram a escadaria que os levaria até o quarto. Mais que Harry, Rony estava muito nervoso com toda aquela situação. A porta estava entreaberta, Harry hesitou um pouco antes de abri-la por completo.

 

—Lembre-se, é importante mantermos a calma. Vamos fazer isso por Mione.

 

Rony assentiu com a cabeça. Respirou fundo e entrou no quarto.

 

Lá, duas camas, uma ao lado da outra, os corpos de Draco e Hermione estavam intactos, ainda respiravam, mas era claro que suas mentes estavam muito distantes dali.

 

Um jornal em cima do criado mudo atraiu a atenção de Harry, nele, letras garrafais anunciavam a captura da criatura que havia aprisionado Draco e Hermione após conjurar o feitiço Immortal.

 

Rony olhou com os olhos marejados para ela e delicadamente deu-lhe um beijo na testa.

 

—Mione, se puder me escutar, por favor, volte. Estamos esperando por você. – Rony suplicou ao ouvido da amiga que dormia profundamente.

—Ela não voltará sem ele. — Harry tentava dizer algo ao amigo. – Não adianta chamar por ela, sem querer que o mesmo aconteça com ele.

—O que você está querendo dizer, Harry?

—Segundo Narcisa, pelo que o exame mostrou, o feitiço foi quebrado, mas a mente deles ainda está ligada a algum tipo de realidade paralela à nossa.

—Isso quer dizer...

—Quer dizer que os dois conseguiram se reencontrar, mas, por algum motivo preferiram ficar, a retornar ao nosso mundo.

 

Os amigos se entreolharam, nada mais precisava ser dito.

 

******************************************

Pés descalços caminhavam pela beira da praia naquele fim de tarde. De mãos dadas, Draco e Hermione sentiam que poderiam ficar ali pelo resto de suas vidas.

Era tudo muito calmo e naquele lugar jamais seriam julgados, jamais precisariam dar explicações sobre o que sentiam, sobre o que desejavam.

Eles sabiam que, a partir do momento que desejassem realmente voltar, teriam que enfrentar muitos julgamentos para ficarem juntos.

Uma voz os assombrou.

 

—Mione, se puder me escutar, por favor, volte. Estamos esperando por você.

 

Os dois se entreolharam.

—Eles não me querem com você, mas isso não me importa. O que importa para você? – Draco precisava saber sobre como ela realmente se sentia em relação a ele.

Antes que ela respondesse, outra voz, a de Harry, invadiu o lugar onde estavam.

 

—Ela não voltará sem ele. Não adianta chamar por ela, sem querer que o mesmo aconteça com ele.

 

Hermione sorriu enquanto sentia o abraço de Draco lhe envolver. Se beijaram, mais que a mente, os seus corpos estavam conectados.

 

Você tem tudo de mim... – Ela sussurrou ao ouvido dele.

—Eu sempre estarei ao seu lado para segurar a sua mão.

 

Fecharam os olhos.

Não se perderiam novamente.

Mais que o medo de se esquecerem um do outro, perceberam que existem muitas coisas que o tempo não pode apagar.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!
Depois de muito tempo voltei a escrever por causa dessas meninas fantásticas do QG Dramione. Vocês me animaram, inspiraram, me mostraram que por meio das histórias que escrevo, toco o coração de alguém. Obrigada por não me deixarem desistir.



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