Shelter escrita por themuggleriddle


Capítulo 1
shelter


Notas iniciais do capítulo

A Seren pediu algo que envolvesse 'como a magia influencia a relação de duas pessoas' e eu acabei só fazendo mais Tommy não sabendo reconhecer afeto.



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Abraxas era como a onda de calma que tomava conta do corpo de Tom após o final de um bombardeio de Londres. Algo que começava na ponta dos dedos e se espalhava para o resto do corpo, amolecendo os músculos e fazendo sua mente relaxar. 'Não é hoje que irei morrer' era o pensamento mais recorrente na mente do garoto quando o silêncio reinava pelas ruas antes barulhentas com explosões e grunhido de motores dos aviões. Ele sabia que não havia perigo de morrer em Hogwarts, mas era essa mesma sensação que Malfoy lhe passava... O que não fazia muito sentido, pois o loiro não era calmo. Pelo contrário: Abraxas falava e ria alto, gostava de colocar música no salão comunal e fazia piadas, não conseguia ficar muito tempo parado e estava sempre querendo puxar conversa. Mas havia alguma coisa na inquietude e infinita conversa do bruxo que fazia os dedos de Riddle formigarem e relaxarem, tal qual a sensação da adrenalina finalmente se esvaindo depois de quase ser explodido em milhões de pedacinhos.

Quando estava irritado (com Avery, por este fazer piada com assuntos sérios; com o professor Dumbledore, por este o desafiar na aula; consigo mesmo, por não conseguir terminar uma tarefa a tempo), a presença de Malfoy no dormitório era um ótimo remédio. O loiro ficava jogado na cama, balançando um pé enquanto segurava um livro trouxa sobre a cabeça para ler. Alguma coisa naquela visão o acalmava. Quando a ansiedade roía o fundo do seu estômago, pouco antes de voltar para o orfanato, era um Abraxas sorridente, comprando sapos-de-chocolate para os colegas, que o acalmava.

E quando os pesadelos sobre aquele trouxa decidiram atormentá-lo, fazendo com que Tom acordasse no meio da noite encharcado de suor e tremendo, lembrando-se do rosto morto do pai e dos lamentos deste, foi Abraxas que notou que havia algo errado. A sensação de calma chegou mais devagar dessa vez, encontrando uma grande resistência por sua parte, mas eventualmente ela subiu pelos seus braços, agarrou-lhe pelo pescoço e massageou-lhe as têmporas, soltando músculo por músculo. Malfoy, no entando, não havia nem se mexido, permanecendo sentado em sua cama, encarando o colega com os olhos cinzentos arregalados.

"Está tudo bem?" ele perguntara em um sussurro para não acordar os outros rapazes. Tom assentiu, mas interrompeu-se assim que notou que, pela primeira vez, uma mentira sua não soava convincente. Negou com a cabeça, sentindo o rosto arder. "Quer descer para o salão?"

Eles saíram na ponta dos pés, fazendo caretas quando ouviam as tábulas estalarem sob seus passos. O salão comunal estava silencioso, afundado no eterno tom esverdeado que as águas do lago negro lançavam sobre o lugar. Riddle continuou em silêncio, afundando-se em um sofá de couro e não se mexendo quando o outro bruxo se sentou ao seu lado.

"Quando eu era pequeno, tinha pesadelos com bichos-papões e augureys," disse Malfoy, rindo fraquinho e esticando a mão para alcançar a sua, um tanto hesitante. Os dedos do loiro estavam quentes e secos contra os de Tom, gelados e suados.

Mais silêncio e a calma de Abraxas pareceu ganhar mais força. Era como se alguma coisa se embrenhasse por debaixo da sua pele e puxasse as cordinhas certas de sua magia, fazendo-a se acalmar e evitando que ela se descontrolasse. Era uma sensação boa, algo que Tom procurara durante toda a infância no orfanato: um cantinho quieto, um minuto de silêncio, uma manhã sem ouvir o choro e gritos das outras crianças, uma refeição sem ouvir sussurros, uma noite sem medo de não acordar nunca mais...

Alguns meses mais tarde, durante uma tarde de visita à Hogsmead na qual nem ele e nem Abraxas puderam comparecer ao vilarejo por conta de tarefas e redações, Tom Riddle descobriu que o amigo não era apenas a calma. Ele também era o completo oposto, a adrenalina causada pela sirene no meio da noite de Londres, os batimentos acelerados enquanto descia correndo as escadas do orfanato até chegar ao abrigo e os sentidos em alerta total a cada explosão que ecoava ao longe. Ele era tudo isso, mas, de uma forma muito misteriosa, de um jeito bom.

Era bom ter todos os sentidos aguçados quando queria sentir com maior precisão os dedos de Malfoy em sua pele. Era satisfatório sentir o próprio coração acelerar à um ritmo inimaginável cada vez que via a forma como o loiro o olhava entre um beijo e outro. Era emocionante sentir o próprio corpo pulsando com cada toque e cada beijo e cada palavra. Sentir as mãos de Abraxas em algum lugar inesperado era como ser acordado pela sirene de bombas, mas era uma surpresa boa. Sentir cada toque, cada beijo, cada roçar de cabelos com uma precisão sem tamanho era como perceber a textura irregular do assoalho de terra do abrigo com muita exatidão, mas era uma hipersensibilidade bem vinda. Ouvir os próprios batimentos nos ouvidos enquanto sentia o corpo de Malfoy contra o seu era quase como ter essa ouvir esse mesmo tum-ta-tum-ta-tum-ta incessante sincronizado com as bombas, mas ali ele podia sincronizar o som com a respiração opressa do loiro.

E, depois, a calma voltava. Mais forte do que nunca, fazendo com que Tom sentisse quase como se estivesse dissociando: havia um Tom Riddle feito de carne e osso e outro, leve e alheio à tudo, pairando por cima dele. Cada afago em suas costas era como uma onda de calma varrendo para longe quaisquer preocupações. Cada beijo desastrado e torto, molhado demais, era um piscar de olhos mais prolongado. Cada palavra doce e boba (Abraxas amava palavras doces e bobas, poéticas demais, figurativas demais) era um batimento mais lento, até que seu coração estivesse no seu ritmo normal.

Por mais que aquilo o assustasse (afinal, Tom Riddle odiava perder o controle e agora ele sabia que o loiro tinha total capacidade de levá-lo aos extremos de sentimentos e sensações), o jovem não hesitava em voltar. A magia (afinal, ele só conseguia atribuir isso à magia) de Malfoy era bem vinda no final de um dia complicado ou no meio de uma noite entediante. Era bom e reconfortante e, por que não, viciante.


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Notas finais do capítulo

Eu tenho o péssimo hábito de não revisar coisas pequenas que escrevo, ainda mais coisa assim escrita como prompt... esse, em especial, foi escrito com remédio pra dormir na cabeça, então né. Perdoem se estiver meio sem noção.



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