Backwoods - Stay with me ONE SHOT escrita por Elide Blackbeak


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Pra quem quiser ouvir a música de inspiração enquanto lê, aqui o link: https://www.youtube.com/watch?v=cg-daQOgl4c



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Ele lembrava-se a cada passo que dava. Como uma folha ao vento, as memórias lhe preenchiam a mente enquanto caminhava por entre as árvores, contornando a montanha e atravessando rios. Ele quase conseguia ouvir as vozes infantis entre a brisa que soprava; conseguia ouvir as risadas, as promessas e os sonhos que o guiara por tanto tempo.  Ele esperava, do fundo de seu coração, que não fosse tarde demais.

O verão estava quase no fim quando a última promessa fora feita. Flores delicadas e roxas em formato de estrelas tinham acabado de desabrochar, o aroma que exalavam carregava pelo vento suas palavras junto com o canto dos pássaros... Enquanto ela chorava silenciosamente.

“Eu vou voltar. Eu prometo.”

Tocar a pele macia era torturante – mas ele se apegou aquela memória como se sua vida dependesse disso. Memorizou os olhos amendoados, que sempre brilhavam ao olhar para ele; memorizou o jeito que o nariz enrugava-se quando ela ria. Como os lábios pareciam formar uma pétala de cerejeira quando ela tentava ficar brava com ele.

Memorizou e guardou o mais fundo de si que conseguia, o mais protegido de todos os horrores que o aguardava.

E naquele dia, ele a deixou com aquela promessa. Ele voltaria, por ela. Ele voltaria.

Foi essa promessa que o moveu durante os anos que se seguiram. Foram nessas memórias protegidas a sete chaves que ele se apoiou quando viu a vida e morte diante de seus olhos – foi seu pilar mais forte, mais seguro. Porque, por ela, ele era capaz de morrer.  Mais do que isso: ele era capaz de viver.

E lá estava ela, na velha casa que ele lembrava-se tão bem. O mesmo rosto. O cabelo estava um pouco mais longo, definitivamente; mas era o mesmo brilho. A mesma melancolia no olhar quando ela olhava para o céu tingido de rosa e laranja. Foi quando ela abaixou o rosto e o fitou por entre as árvores.

E era como se o ar finalmente voltasse aos seus pulmões. Como se, depois de muito tempo, pudesse enxergar, ouvir e sentir. Ela o olhou.

“Eu vou voltar.”

Ele se aproximou, lentamente, a muleta substituindo a perna machucada. A espada continuava embainhada ao lado do corpo, do mesmo jeito quando ele a deixara naquela noite de verão.

“Eu prometo.”

Ela parou a alguns passos de distância, o olhando de cima abaixo, olhos marejados. Por um segundo, ele temeu que ela não o reconhecesse – não depois de tanto tempo, não com aquela bandagem escondendo o olho esquerdo que ele perdera em batalha. E se ela se assustasse? Ou recusasse a aceitá-lo agora que estava tão deformado após a guerra? E se ela já tivesse alguém que o substituíra – alguém que não a abandonara? E se... E se...

Mas então ela sorriu.

E seu mundo se iluminou.

 — Estou de volta.

A voz saiu rouca de sua garganta e, por um momento ele achou que não conseguiria falar por causa daquele nó na garganta. Ele queria ter os dois olhos intactos para poder ver o brilho daquele sorriso que deixaria a própria Lua envergonhada.

— Bem vindo de volta, meu amor.

Ela o abraçou, o corpo tão pequeno tremia contra o seu por causa das lágrimas. Era ela, era o cheiro dela. Ele a envolveu com os braços envoltos de bandagens e afundou o rosto nos cabelos escuros. Inspirou o perfume dos fios escuros. Estava em casa.

Após tantos anos... Estava de volta. Não importava quantas primaveras viriam, ele não a deixaria. Não perderia um segundo sequer longe dela – a mulher de sua vida. A única coisa que o mantivera vivo todo aquele tempo. E é isso o que ele faria por ela agora: viveria. Poderiam plantar alguma coisa. Poderiam passar os dias contando estrelas no céu ou apenas cantando ao vento. Não importava o que fizessem.

Ele viveria ao lado dela.

— Por favor, não vá nunca mais. Fique comigo.

E naquela primavera... Ele fez mais uma promessa. Uma que não fazia ser necessário o uso de palavras. Segurou o rosto dela entre as mãos, maravilhando-se por alguns segundos com pele macia que sentira tanta falta, deixando-se perder nas nuvens refletidas no olhar da jovem. Os lábios selados contra os dela eram sua promessa.

Não a deixaria. Não mais.


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