Estava olhando para o seu celular já faziam mais de dez minutos. Ele ascendia e apagava com mensagens e ligações dele a pelo menos uns vinte. Não sabia o que fazer. Por mais que estivesse lhe incomodando profundamente não ouvir a voz dele macia e gostosa aos seus ouvidos sabia que aquela era a melhor opção. Estavam se machucando sem querer e a única coisa que não queria era machucar o outro. Queria algo mais do que isso na verdade. Sempre quis. Por causa dessa vontade besta - se dizia besta para ver se doía menos o que passava agora, para aceitar melhor o que estava encarando - não estaria como estava agora. Sentada em seu sofá confortável, com seu aparelho celular brilhando pela vigésima vez em sinal de ligação é ela se negando veementemente a atender. Logo em seguida, a trigésima quarta mensagem de texto iluminou o visor do aparelho mas agora já não se dava para ver o conteúdo da mesma.  Estava se contorcendo lembrando os três meses que passaram juntos depois de tantas brigas e confusões.  Só depois do primeiro beijo entendeu realmente o que sentia por ele e se sentiu perdida em relação a isso. Não podia acontecer.  Não era pra acontecer.  Mas quando viu, quando percebeu já haviam ido longe e não queria voltar, deveria e isso ela sabia, mas não queria.


        O celular tocou mais uma vez e num impulso atendeu. Se arrependeu assim que a voz macia dele soou em seus ouvidos, sentiu o baixo ventre fervilhar e cruzou as pernas para conter o  formigamento que sentia ali.

     - Graças a Deus está bem..! Eu estava preocupado.
     - Não podemos mais fazer isso. Você sabe.
     - Eu sei que não devemos, mas não consigo passar um dia sem pensar em você.  Sem querer te tocar. E uma tortura não estar com você.
      - Eu sei.  Mas é perigoso.  Ele está desconfiando.
      - Meu desejo era que descobrissem. Não quero mais me esconder. Quero sair contigo nas ruas, ir aos parques. Nao ter mais encontros furtivos.
     - Eu sei.  E isso que desejo também.
     - Venha me encontrar.  Vamos conversar pelo menos.
     - Não acho uma boa idéia
     - Venha por favor. Preciso te ver.


       Ela calou por alguns minutos e ele encarou aquele silêncio como uma resposta afirmativa. Ela queria muito ir, queria mesmo, mas não sabia se seria uma boa idéia. 

       - Te espero no mesmo lugar de sempre. As 20.

       E desligou. Ela queria arremessar o celular na parede por ter atendido aquela ligação. Estava se remoendo por dentro por aceitar mais aquilo. Estava revoltada consigo mesma por querer mais que tudo aquele encontro. Passou as mãos no rosto para tentar pensar melhor.  Apagou o registro de mensagem e ligações e foi se arrumar. Teria que colocar um fim naquilo.  Mas tanto sua mente quanto seu corpo pediam por mais uma vez. Mais um toque, mais um beijo, por mais. Iria colocar um fim aquilo, mas antes teria seu pouco mais.