Infinito Particular escrita por Felipe Martins


Capítulo 1
Celebração




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INFINITO PARTICULAR

Capítulo Único - Celebração

Eram raros os dias em que Barry enfrentava aquele tipo de tempestade: dentro de seu laboratório, a última vez que se lembrava havia sido quando fora escolhido para ser o Flash, tornando-se aquilo em que ninguém acreditava, exceto ele. Os trovões, como de costume, estremeceriam seus pensamentos se ele não estivesse tão concentrado em processar as informações daquele último caso antes do seu descanso.

Não havia muito o que fazer, apenas imprimir o laudo necessário e deixa-lo sobre a mesa da frente. O caso estudado era antigo e suas provas passariam todas por uma reanálise depois de encontrarem certas conclusões e testes sem fundamento teórico sólido, o que poderia ter induzido a investigação ao erro e resultado numa sentença equivocada. Apesar de ter o prazo indeterminado para aquilo, certos problemas não poderiam ser adiados mais. Como o jantar.

A ideia fora toda de Felicity, que viu naquilo uma boa chance de reunir seus companheiros de equipe para confraternizarem por mais um trabalho feito juntos: ali, completavam-se cem metahumanos capturados e isolados, então nada melhor que algo diferente para celebrar. Convidara todos de Starling City e Central City para ir até sua casa para que, bebendo e conversando, pudessem aproveitar para se conhecer melhor e ter um vislumbre melhor de como seria essa relação dali em diante.

Terminava de imprimir o diagnóstico sobe a arma utilizada (“objeto perfurante a quase 250km por hora”) quando alguém bateu na porta do laboratório:

— Cheguei numa hora ruim? — Reconheceu a voz de Felicity, mesmo de cabeça baixa.

— Oh, não, eu estava só terminando... umas coisas. Do trabalho.

Colocou os papeis dentro de um envelope, marcando o código do caso a que elas se referiam, finalmente olhando para a porta depois de terminar sua tarefa.

Felicity estava vestida como sempre — no entanto, seu olhar não negava a ansiedade.

— Espero você às 20h, sim?

— OK, pode deixar.

— Ah, Barry... — esperou que o Flash olhasse pra ela. — Cuidado com o Cupido — completou, dando uma piscada.

Flash riu da piada e piscou de volta, respondendo-a com um “pode deixar” em meio a seus sorrisos de sempre.

O evento não era algo muito fino, então resolveu ir mais à vontade para aproveitar mais. Assim que encerrou seus afazeres do dia, correu em casa e se trocou o mais rápido possível, indo encontrar Caitlin e Cisco na estação de trem.

— Está atrasado... como sempre, não é?

A viagem até outra cidade não era algo rápido, mas iria junto com eles para saber pela primeira vez como era o trajeto "normal", aproveitando para treinar a sua capacidade de ser multitarefas no meio da viagem, jogando baralho e xadrez ao mesmo tempo enquanto buscava comida para os três na copa do trem.

Flash tentava ordenar seus pensamentos, mas justo quando queria fazer isso rápido, seu cérebro insistia em retardar as coisas: STAR, Starling, Central, Iris... Oliver.

— Tá... tudo bem, Barry?

O garoto despertou num susto da distração. Do treinamento, ganhou tranquilamente no baralho, mas a perda no xadrez foi vergonhosa e trocara o queijo de Caitlin por presunto.

— Sim, sim... tá tudo ótimo.

Sorriso.

Não era a primeira vez que o Flash viajava tão rápido em pensamento que nem sua supervelocidade o acompanhava: desde o primeiro treinamento que o Arqueiro havia proposto para ele e a primeira vez que lutaram um contra o outro, ele notava alguém diferente em Oliver, um calor que se explicava em labaredas de vitória nas chamas de seus olhares. Não era força, era rigidez. Era... certeiro.

— A gente sabe que você morre de medo de trens, mas não se preocupe, nós chegamos! — Cisco brincou, dando uma cotovelada em Barry.

Os três desceram na estação assim que o trem parou e Caitlin abriu um papel com instruções para encontrarem o jantar, lendo m voz alta para os outros: "sigam até a saída e procurem pelo sinal verde."

— Como?! Mas... o que isso significa? — Barry  já cogitava ir correndo até o QG do Arqueiro quando fez a pergunta.

— Bom... não vamos descobrir parados aqui, né?

Caitlin arrumou seu casaco antes de levá-los à saída: lá, apesar de haver várias sinalizações verdes e um farol aberto, o sinal verdadeiro parecia indiscutível aos três — uma flecha verde no centro de uma pintura que mostrava o cupido escolhendo um novo casal para a cidade. Aproximaram-se para entender melhor o grafite e, antes mesmo de conseguirem encostar nele, ouviu-se a pergunta:

— Barry Allen, Caitlin Snow e Cisco Ramon?

Barry foi o primeiro a se virar. Um homem com trajes finos cumprimentou-o com um aceno de cabeça enquanto falava:

— Sou o responsável por transportá-los até a casa de Felicity Snow a pedido de Oliver Queen. Por gentileza — o rapaz bem trajado abriu a porta traseira do veículo —, acomodem-se.

A única reação audível foi o "uau" de Cisco; entraram no carro e, como forma de descontrair, trocaram as conversas sobre planos para manter Central City segura para como fortalecer suas defesas da vida. Em tudo. Falaram sobre amizades, família, a vida confusa e inesperada que adotaram desde o incidente com o acelerador de partículas: eram coisas que, quanto mais eram faladas, mais pareciam gerar assunto. Quando estavam para mudar o assunto para relacionamentos, o carro desacelerou em frente a um hotel luxuoso e a porta foi aberta por um chofer vestido de verde.

Saíram do carro e viram Felicity parada de frente ao hall de entrada, sorrindo para eles, apesar de o mundo desabar em água à sua volta.

— Mas o que...

— A idéia não foi minha, eu juro: por algum motivo, Oliver gostou tanto da ideia que achou melhor contratar de última hora um lugar especial para hoje, apesar de eu não ter concordado com nada disso.

Barry apenas assentiu com a cabeça enquanto apreciava impressionado o lugar: atrás da parceira do Arqueiro, o salão se estendia em tons vermelho escuro, dourado e com detalhes em madeira bem escura. Um tapete em vermelho carmim indicava o caminho para o elevador: Felicity guiou-os até ele e apertou o último andar antes de voltar-se a eles:

— Apesar de todo o luxo do lugar, por favor, não se preocupem com isso: ainda é apenas um jantar para nos reencontrarmos todos!

Todos responderam meio avulsos ao comentário: mesmo o elevador tinha seu charme avermelhado no chão e em decorações nas suas laterais.

Quando as portas se abriram, a primeira reação foi o "oh, meu Deus" de Caitlin: o andar parecia projetado para ser o paraíso das festas particulares, desde a piscina até o bar completo do outro lado. As paredes externas do prédio eram, na verdade, feitas de vidro para que os convidados tivessem uma visão ampla do local, o que facilitou para que eles vissem de antemão um dos anfitriões daquele jantar vindo na direção deles:

— Eu peço desculpas se exagerei um pouco, mas... acho que nós merecemos um pouco de não preocupação por uma noite, não é mesmo?

Cisco tomou a frente:

— Como é?! Olha, acho que precisamos prender cem monstros mais rápido, pessoal!

Todos riram e Barry baixou a cabeça, em negação. Ao mesmo tempo em que o luxo do local era motivo para se sentir deslocado, rever seu parceiro de equipe vestido de forma tão despojada quanto a dele tranquilizou-o um pouco: mesmo sem suas cores de sempre, pareciam ter combinado de usar quase o mesmo uniforme — blusa, jeans e sorrisos. O de Barry era pelo alívio; de Oliver, quase por obrigação.

— Vocês chegaram exatamente na hora certa: vamos jantar?

~*~

Tinham acabado de terminar o prato principal quando Oliver não sorria mais por dever, mas por querer: fosse ou não pelas histórias de Cisco sobre coiotes atrapalhados, sua espontaneidade chamou rápido a atenção do "escolhido pelo raio", que sentara ao lado do Arqueiro por sugestão dele. Havia acabado de terminar de comer quando viu seu companheiro fazendo algumas caras diferentes:

— Está tudo bem, Oliver?

— Eu... preciso chegar até o banheiro. — Ameaçou se levantar, mas as pernas trêmulas fizeram com que ele se apoiasse na cadeira de Barry, que se levantou de pronto para segurá-lo também.

— Venha, você não está bem. Eu te levo até lá.

Apesar de o mais velho soltar um grave suspiro, aparentemente reprovando a si mesmo pela cena em frente a todos, aceitou a ajuda do cientista, que o conduziu lentamente para longe da mesa enquanto tranquilizava os outros com um "eu cuido dele, continuem a conversar." A única que não parecia tão bem era Felicity, mas logo John acalmou-a, convencendo-a que os dois cuidariam bem daquilo sozinhos.

Não foi difícil para Barry encontrar o banheiro: ao entrar, mesmo em meio a uma infinidade de aparelhos que nunca vira antes, tudo o que chamou sua atenção foi Oliver abrindo os olhos semicerrados de repente, sorrindo de leve.

— Oh, Barry...

Virou-se para resolver o que o deixou passando mal: a distância entre os dois. A surpresa do Flash era inegável, mas a barba loira roçando em seu queixo e a respiração doce do Arqueiro completando a emergência que ele tinha por aquele beijo transmutou-se em libido. Seus corpos se colaram aos poucos e a mão de Oliver buscava mais contato e profundidade enquanto segurava a nuca do Flash, convencendo-o que o fôlego perdido naquele beijo desajeitado seria recompensado com o gosto de Allen. A única interrupção, sofrida por ambos, foi feita por Barry, que pediu um lugar mais privado em meio a um gemido urgente por algo mais.

— Andar de cima, terceira porta à esquerda.

Não pensou duas vezes: aproveitou a embriaguez do outro para segurá-lo no colo e, em uma fração de segundos, o cheiro de desinfetante deu lugar a uma colônia de lavanda suave que vinha de um incenso ao lado da cabeceira da cama: era um quarto de casal.

Apesar do anseio de ambos, Barry sentiu como se o tempo se tornasse mais lento: era como se, depois de Oliver tê-lo deitado no colchão e ter sentado em cima dele, desabotoando sua camisa, lembrasse de toda a sua dúvida assim que sentiu a dor de não supor não sentir o mesmo que o Arqueiro na relação deles: mai ou menos, era algo diferente. Desde então, fosse nas repreensões secas ou nos elogios sinceros, sentia aquele sentimento, uma admiração incomum que não sentia nem por seu próprio pai ou Joe. Oliver era experiência, era vivência, uma mistura de vigor com prudência que deixava-o necessitado por mais, por ser ele, por ser dele, perder-se naquele infinito particular. Cada casa daquela camisa representava, para Barry, uma nova parte da armadura emotiva de Oliver caindo em terra, desnudando-o, mostrando-lhe um novo Arqueiro.

Para aumentar seus sentimentos, assim que todos os botões estavam abertos, Queen curvou-se sobre Allen e beijou-o com uma necessidade diferente da que outrora vira e sentira no banheiro: era paixão, era amor, um misto de emoção de longa data com a luxúria do momento que apreciavam juntos, fundindo-se, mesclando-se, unificando suas expectativas que antes se separavam por receio de uma possível rejeição. A conexão entre suas vontades era o que impulsionava-os a livrar-se de camisas e calças; a percepção unificada dos quereres do casal garantiria a ambos algo mais puro: um futuro.

Não precisariam de um "eu te amo" para saber da importância de cada um ao outro: pelo contrário, o silêncio das palavras formava a sua melhor sintonia: era o delírio dos corpos e a sincronia de seus movimentos que permitia a Oliver saber exatamente o desejo de Barry ao ser levado para lá, por vê-lo com o coração e senti-lo nos olhares correspondidos e vontades dedicadas um ao outro.

Antes de avançarem para algo mais prazeroso, encararam-se: numa apreciação mútua, celebraram o acordo para o resto da noite e para o infinito particular deles dois: eram escolhidos, ambos, pelo outro.

Para sempre.


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