Cherries and Wine escrita por Calpúrnia


Capítulo 2
A cereja do mundo


Notas iniciais do capítulo

Eu demorei e não era intenção. Acredito que fiquei um tanto incerta quanto a este capítulo. No capítulo anterior, eu dei algumas explicações de como a Hina apareceria nesta história, então acredito que não precisarei explicar muito mais. Espero que gostem dessa vibe e de como eu construí os pensamentos, as lembranças e os sentimentos da Hina.

Boa leitura!



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2.

A cereja do mundo

Escrito por G. de Oliveira

Os professores pareciam tão empenhados em explicar o conteúdo que Hinata Hyuuga se esforçava para prestar atenção. Se ela fosse apenas uma má aluna, poderia seguir não ouvindo seus professores, fingindo que se importava com o que não era importante. As pequenas mãos eram tão habilidosas ao anotar tudo que os professores diziam, e não deixavam que nada escapasse. Os olhos perolados eram tão atentos que poderiam assustar qualquer um que estivesse desavisado.

Para estar ali, sua mente precisava de concentração e seu corpo de controle. Sentada ao lado da janela, ela apenas observava o sol pela janela. Estava quente, mas havia aquele vento que a deixava tão distraída. Ela sabia que o mundo estava do lado de fora, e ficava imaginando como gostaria de alcança-lo como havia feito tantas vezes. As pessoas tinham tanto medo do mundo; acreditavam apenas no pecado.

Quando tinha a oportunidade de se distrair e observar aquelas pessoas, ela pensava em como eram tão bobas. Não era desprezo, ela imaginava, ao contrário do que sua irmã mais nova insistia em esfregar em sua cara. Às vezes, ela simplesmente se sentava na Praça Principal e observava. As garotas andavam como se fossem bonecas inocentes e os rapazes agiam como grandes deuses. Os adultos simplesmente ignoravam qualquer coisa que não fosse de seu universo. Hinata ficava furiosa com todos eles.

Seus colegas de classe eram exatamente daquele jeito. Fingindo que eram tão interessantes e bons demais para o mundo. A moça ficava pensando em como seria engraçado confidenciar que o mundo real não era aquele, não era aquela escola nem mesmo a casa onde viviam e o quarto onde dormiam e sonhavam sonhos dourados. Ela era tão jovem quanto eles, tão estúpida quanto eles, mas ela conhecia cores, tons e cheiros. Hinata andava por aí.

O som do sinal de intervalo a tragou de volta à realidade. Todos eram tão educados, aguardando o professor terminar de falar e então correndo para fora da sala de aula. Ninguém estava interessado em esperar, até porque precisavam correr por suas vidas e sonhos. Ela achava irônico como todos achavam importante correr, aquela pressa por algo que, supostamente, está do outro lado.

Após a correria de seus colegas, Hinata pôde sair com seu bentô. Ela conhecia algumas pessoas e até conversava com elas de vez em quando, porém não o suficiente para considera-las amizades. Naquele dia acabou escolhendo a parte mais distante do jardim do colégio para ficar. Debaixo de uma árvore grande, ela comeu e deitou-se aproveitando a luz solar e os sons melódicos dos pássaros.

Era tudo tão suave, tão doce quando ela apenas podia parar daquela forma. Mesmo sabendo que ainda estava no colégio e tinha algumas horas a mais ali, aquele momento era o que precisava. A sala era sempre sufocante, as pessoas não passavam de encenações em um palco escorregadio e ela apenas queria se divertir. Ela queria o mundo.

Abrindo os olhos, ela se deparava com aquela enorme árvore, a cor verde se mesclando com as cores azul e branca. Enquanto o céu era completamente azul, daquele tom que ela adorava, as nuvens seguiam brancas e leves, indo e vindo. Estava um dia tão agradável, o que fazia Hinata pensar em dias de verão. As ruas pintadas de cores vivas e cordas encostando-se ao chão enquanto todos pulavam e pulavam. Era verão e as músicas tocavam alto. O rádio era tão legal.

— Hinata.

A voz de Neji despertou-a. Não se incomodou em levantar-se ou sentar-se, apenas virou sua cabeça um pouco, o suficiente para que o enxergasse entre as folhas da árvore. Ele estava tão sério quanto sempre foi. As mãos dentro dos bolsos da calça o deixavam com aquela aparência de imponente. Seu primo conseguia se superar quando se tratava de tentar impressionar as pessoas. Neji Hyuuga era apenas uma garrafa de vinho semivazia.

— O que foi?

— Seu pai mandou entregar. — disse enquanto a entregava um envelope.

Com braços e mãos preguiçosos, ela apanhou o envelope que seu primo estendia. Ela se perguntou se Neji recebia algum cachê por fazer aquele serviço de entrega. Muito provavelmente não, porque ele era apenas o garoto que sabia ser obediente sob os holofotes, o garoto que sabia e era o melhor em tudo.

— Obrigada. — limitou-se a dizer, mesmo que quisesse saber de onde vinha tanto medo do grande Hiashi Hyuuga em entregar apenas um envelope a ela.

O rapaz de longos cabelos castanhos apenas assentiu e saiu sob aquela postura de grande senhor que não teme nada e nem ninguém. Hinata achava o primo uma figura interessante. Entre todas as pessoas que ela costumava observar, Neji estava na lista daqueles que considerava mais intrigante. Ninguém imaginaria o outro lado do rapaz nem a forma com que ele conseguia viver longe dos holofotes. O mundo real de Neji não era aquele uniforme, menos ainda aquela postura.

Hinata não precisou abrir o envelope para saber o que era. Ainda que não fosse não conseguia se importar mais. Seu pai era uma das pessoas que atuavam em um palco escorregadio. Hiashi Hyuuga não era uma pessoa menos ainda um ser que pudesse conhecer a vida. Talvez não porque não quisesse, mas sim porque não fora feito para isso. O mundo real não é o que as pessoas querem, e sim o que podem dar e receber, o que merecem.

Antes que pudesse voltar a se deitar, a morena ouviu o alarme soar novamente. Era hora de voltar à sala de aula. Enquanto seguia seu caminho, ela cumprimentou alguns colegas e distribuiu sorrisos doces e reservados. Já sentada, ela apenas voltou a observar todo o seu cenário. Ela odiava ter aquele tipo de pensamento, porém se cansava quando percebia que tudo estava tão igual, tão semelhante quanto o dia anterior e o próximo.

Havia uma história, um palco e personagens. Tudo ali era apenas encenação, um ensaio nada poético e de baixa qualidade. Todos os dias ela se via obrigada a conviver com algo que não fazia mais sentido. Por isso que o sol fazia falta em sua pele e as risadas, as vozes densas, o som que os jogos de fliperama faziam. A forma como o vento batia em seu rosto quando montava nas motos e elas seguiam numa velocidade que a deixava cega. Era aquela história que deveria estar sendo encenada no palco. Onde estava os sonhos dourados da Cidade do Pecado?

Ela pensava nos dias de sol mesmo quando os professores falavam sobre as tangentes ou os animais que viviam na neve. Observando-os enquanto falavam, imaginava que tipo de adultos eles seriam. Gostaria de saber se eles conheciam os ventos do pecado, aquela sensação de atravessar o Paraíso e chegar a um Inferno tão colorido e tão longe do preto no branco que era aquela Tóquio.

Foi, então, que as aulas daquele dia terminaram. Ela observou seus colegas indo embora, desesperados para fugir daquela escola, a parte mais chata e detestável do mundo que viviam. Naquele palco não havia espaço para vencedores, mesmo que corressem com todas as forças que tinham. O palco era escorregadio demais.

Havia tanto sol na Cidade do Pecado, mesmo quando era inverno ou outono. Não importava, porque todos e tudo brilhavam sob os olhos da pequena Hyuuga. Ela era apenas uma moça buscando por uma chance de controlar seu próprio palco com suas próprias regras. Sua atuação poderia ser muito melhor do que daquelas pessoas ao seu redor, e ela sabia disso.

Não havia joias ou perucas para complementar os vestidos que cobriam sua pele tão branca. Enquanto se olhava no espelho, percebia como o batom vermelho não era nada se comparado com aquele que cobria os lábios carnudos de Marylin. A voz da atriz ainda soava em seus ouvidos, fazendo com que a Hyuuga sonhasse com o palco novamente.

Los Angeles mostrou a Hinata que o melhor palco era as estradas. Aquelas que sempre eram tão longas, infinitas diante de seus olhos ainda tão inocentes. Era o lugar onde podia estar sobre grandes motos, tão potentes e rápidas. Ela sempre ficava cega quando as motos tomavam conta da estrada. Naquele momento, seus olhos perolados não precisavam mais derramar lágrimas ou focar em apenas um ponto. Tudo existia e tudo ela poderia sentir.

Era nas estradas que Hinata ria e conversava com aquelas pessoas que entendiam as guerras em sua mente. Aquelas pessoas que giravam ao seu redor, dançando e atirando rosas para o ar como se fossem apenas mais uma sessão de fogos de artifício. Lembrava-se perfeitamente daqueles que a levavam para longe do mundo ideal e a colocavam em seu palco, aquele em que ela era a dona de sua vida, de seus gestos e risadas. Mesmo quando estava apenas gritando com o vento e seus olhos se tornavam tão sangrentos e cegos, ela tinha controle e comandava aquela estrada. Por isso odiava aquele de lugar palco escorregadio, e odiava ainda mais aquela Cidade do Pecado que dera tudo a ela e destruíra seus sonhos dourados.

Os dias de verão pareciam tão distantes, assim como a voz de Marylin e os passos de Elvis.


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Notas finais do capítulo

Bom, eu não sei o nível de tédio que alcançou as referências a Hollywood, Los Angeles e tudo que envolva uma cidade que tem tudo a dar e arrancar. Eu segui mais a intuição e o pouco que a Lana me deu com as músicas dela. Como eu já disse, eu peguei algumas referências de "Lolita" e trouxe a imagem da Marylin (algo que é bem recorrente, já que a Hina é super fã dela e tem o sonho da atuação). Eu incorporei essa Hinata, porque acho que é bem diferente da maioria que eu vejo em outras histórias, e por isso está sendo minha aposta mais arriscada.

Ainda não sei o destino dessa história e nem até que ponto vou trazer outras referências, que aliás estou pesquisando. Um exemplo é o "Verão do Amor", um momento da história da humanidade que conhecemos como hippie. É um momento bem interessante, tanto a forma como começou quanto a forma como terminou (a maioria dos estudiosos/pesquisadores concordam que a culpa é da família Manson).

São muitas coisas, mas por enquanto é só isso. Espero que tenham gostado.

Até mais! ♥