Situações Inesperadas. escrita por UchihaTenshi


Capítulo 1
A vida é um sopro.




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Sasuke encostou a cabeça na poltrona sentindo o cansaço lhe atingir. Havia dormido mal, ficara até tarde terminando um artigo que o professor havia solicitado sobre a arquitetura no renascimento e acordara cedo para ir à aula, passara o dia na faculdade e só agora voltava pra casa. Amava o tema, porém falar sobre as mudanças que o iluminismo trouxe a arquitetura era complicado em alguns pontos e ainda havia sua família. Os Uchihas eram tradicionais, não eram nenhuma família de magnatas ou famosos ou qualquer coisa do tipo, mas eram esforçados. Itachi, seu irmão mais velho era o orgulho da família, estudava agronomia e era apaixonado pela terra, coisa que deixava o patriarca, Fugaku Uchiha, muito feliz por saber que o herdeiro assumiria a fazenda da família e continuaria com o negocio de plantação de girassóis que fora o sustento da família por mais de quatro gerações e que não seria a grande paixão de Sasuke.

Sasuke amava construções, não a estrutura, mas a beleza que elas possuíam. Lembra-se da primeira vez que visitou a faculdade de Konoha para acompanhar o irmão que se instalaria no dormitório do lugar. Sasuke parara em frente a biblioteca atônico. Hoje sabia que as gárgulas que ornavam o edifício eram inspiradas nas de Notre Dame, sabia também que todo o prédio de artes tinha traços renascentistas e que o prédio administrativo tinha arquitetura grega. Lembra-se de Itachi lhe dando um peteleco na testa e falando com a voz de quem conhece tudo.

— Descobriu sua paixão. Conquiste-a.

E foi o que ele fez. Estudou, pesquisou, construiu sozinho modelos de maquetes com grandes construções arquitetônicas e por fim passou na Universidade Senju. Uma grande e renomada instituição acadêmica, que por sinal ficava bem longe de casa, Kyoto era quase uma capital, mas tudo bem. A família inteira festejou e o pai fez questão de dizer em um jantar preparado pela mãe, dona Mikoto, que o maior orgulho de sua vida era os dois filhos. Sasuke ainda se lembra de cada olhar e palavra dita pelos pais. Eram de fato uma família do interior, davam valor ao que a família significava e o respeito era uma regra de convívio, talvez por isso as pessoas os achavam fechados.

O moreno suspirou recostando a cabeça no vidro do ônibus. Não existia glamour nenhum em ser universitário. Trabalho atrás de trabalho, comia mal, dormia mal, relacionava mal. Não havia dinheiro pra mais nada, o Uchiha tinha uma bolsa que lhe rendia algum dinheiro por mês que era destinado para se manter e sempre reservava um fundo de garantia, para possíveis emergências. Três anos na faculdade e eram incontáveis as vezes que havia pensado em desistir, mas além de esforçados, os Uchihas eram determinados.

E também havia Tenten, sua namorada era uma boa menina e lembrava em muito as mulheres de sua cidade pelo jeito simples e de bem com tudo, Sasuke sabia que não conseguiria se dar bem com mulheres da cidade grande acostumadas com todas aquelas frescuras consumistas, mas parecia não dar muito certo com as outras também. Tenten o achava frio e taciturno e reclamava do jeito indiferente do namorado que só estudava e se parecia com o concreto das construções que admirava.

Palavras dela.

Talvez ela estivesse certa afinal. Passou os dedos pelos cabelos negros e rebeldes e olhou ao seu redor. Eram quase onze horas da noite e as ruas estavam praticamente vazias em seu trajeto, as ruas movimentadas faziam parte de outra parte da cidade e ele agradecia por isso, o ônibus fazia o trajeto que ligava o bairro em que morava ao campo universitário. Sasuke alugava um quarto da família Uzumaki, eram amigos de seus pais e fizeram questão que Sasuke se hospedasse em sua casa, mas o moreno só aceitou se pudesse pagar pelo quarto, Kushina achou uma afronta, mas aceitou quando Sasuke foi irredutível, sorriu pensando nisso, Sasuke os adorava. Naruto, filho dos Uzumaki era seu melhor amigo e morarem juntos era divertido e irritante em alguns dias, na maior parte. Revirou os olhos e observou o automóvel em que estava como um todo. Era engraçado como os estudantes depredavam o patrimônio público. Haviam rabiscos espalhados por todos os lugares, desde declarações a depravações. Chegava a ser cômico.

“A vida é um sopro.”

A letra chamou sua atenção primeiro e depois a citação. Era engraçado pensar naquilo, a vida realmente era apenas um piscar de olhos, bastava estar vivo para que a morte fosse possível e todos temos a mesma chance de morrer a qualquer hora, uma pessoa enferma em uma cama ou Sasuke em um ônibus indo pra casa, mas ele estava vivo e aquela frase pertencia a um de seus grandes ídolos, então o moreno abriu a mochila pegando o marcador permanente enquanto tinha um pequeno sorriso nos lábios.

Hinata entrou no ônibus e lançou um olhar emburrado para o motorista que a ignorou completamente. Certo, ela havia acordado um pouco atrasada e teve que correr atrás do ônibus quase por um quarteirão inteiro pra não levar uma bronca de Kurenai. Soltou o ar pela boca passando pelo corredor e se sentando no mesmo banco de sempre. O lado bom de morar em um bairro afastado do centro de Kyoto era que os ônibus sempre estava vazio, pra ir ou pra voltar, mas isso também significava que tinha que sair bem mais cedo que os demais alunos do CES, Centro Educacional Senju. As pessoas falavam que o ensino médio é uma das melhores fases da vida de alguém e que sentem falta dele, mas a Hyuuga sabia que dificilmente sentiria falta de algo relacionado aquela instituição.  A família Hyuuga era muito tradicional na cidade de Kyoto, a morena nascera e crescera ali junto com sua irmã, Hanabi e o primo Neji. O pai Hyuuga Hiashi vivia viajando a trabalho representando a empresa da família, uma herança que um dia passaria pra si. As corporações Hyuuga eram uma empresa de tecnologia e serviços tecnológicos e um novo protótipo de sistema bancário estava sendo inserido na Suiça, por isso seu pai estava pra lá a uma semana, sua mãe Hikari estava em casa, mas a Hyuuga sabia que a mãe se sentia solitária. Suspirou, ajeitando os fones de ouvido.

Talvez usasse isso como desculpa pra não se abrir com a mãe, não queria ser motivo de tristeza, queria ser o antídoto para o sofrimento que o pai causava na matriarca Hyuuga, a música na rádio era melancólica e a morena suspirou se lembrando de Toneri. Maldito. Piscou os olhos mudando a estação rapidamente, o dia já estava bem bosta pra começar pensando no traste. Sentiu raiva e focou o olhar no banco da frente, sorriu sozinha encarando a própria letra desenhada com uma caneta permanente azul, os olhos perolados não demoraram a ficar semicerrados ainda que um pequeno sorriso estivesse em seu rosto. Alguém completara sua citação e por incrível que pareça, fora uma pessoa inteligente.

“A vida é um sopro.”      

“Um minuto. A gente nasce, morre.”

Hinata riu consigo mesma enquanto tateava a bolsinha de canetas em busca do permanente azul.

Parou na porta da sala de aula passando os dedos entre os fios escuros, organizando-os da melhor forma possível, abriu a porta e suspirou aliviada ao encarar os olhos verdes da amiga que abriu um grande sorriso.

— Ela ainda não chegou. – Sakura falou divertida e Hinata deu uma risada baixa.

— Acho que se pegar o ônibus nesse horário não preciso vir correndo pelos corredores. – A Hyuuga falou sentando na carteira vazia ao lado da amiga de cabelos rosa.

— Adivinha? – Sakura perguntou se virando para a amiga que apenas balançou a cabeça negativamente. - Vamos a uma festa no sábado. – Hinata a encarou e a Haruno deu de ombros. – Universitários.

Hinata soltou uma risada baixa.

— Sakura-chan, não acho que entraríamos em uma festa de universitários e mesmo se entrássemos, seus pais nunca deixariam.

A amiga riu entusiasmada e deu de ombros, Hinata sabia o que aquilo significava, Sakura Haruno era uma das pessoas mais inteligentes pra bolar planos, mas por obra do destino nenhum nunca dava certo.

Hinata sorriu e o barulho da porta da sala se abrindo chamou sua atenção, Kurenai já estava em seu lugar, provavelmente um azarado maior que si mesma, não evitou sorrir pensando na bronca que a pessoa levaria, mas seu sorriso morreu assim que encarou a pessoa de pé ao lado da porta. Os olhos azuis claríssimos não a olharam de imediato, os cabelos eram descoloridos e descolados de acordo com as meninas da escola, o andar era calmo e o rosto parecia um anjo, mas ela o conhecia o suficiente pra saber que e anjo não tinha nada. Toneri Otsusuki era cruel na mesma medida em que era bonito, manipulava todos ao seu redor e pra um adolescente aquela capacidade chegava a ser assustadora, Hinata sabia, afinal foram namorados por quase sete meses.

— Desencana. – Sakura falou baixo ao seu lado. – Ele não merece você.

Hinata assentiu sorrindo e olhando para o caderno, aquilo definitivamente doía. Não apenas ter que vê-lo todos os dias, mas ter que se lembrar de todos os meses em que o amara e, infelizmente, ainda amava. Toneri havia sido o primeiro em tudo. Primeiro amor, primeiro namorado, primeiro a apresentar aos pais, primeiro homem... Hinata queria chorar sempre que se lembrava das promessas de amor vazias que pra ela faziam tanto sentido. Era uma idiota, mas afinal, quem nunca achou que fosse pra sempre aos dezessete? Hinata achou, mesmo seu pai acabou por gostar do Toneri descolado, mas a Hyuuga conhecia o outro lado. Conhecia o controlador, o infiel, arrogante e violento Toneri. Aquele que a empurrava ou apertava deixando-a roxa quando não queria dormir com ele.

Hinata sabia, ninguém mais. Existem segredos que mesmo as melhores amigas desconhecem.

Hinata rabiscou a última folha de seu caderno indiferente a voz de Kurenai que brigava com o aluno atrasado, inevitavelmente pensou na pessoa que havia completado sua citação no ônibus, era inevitável a curiosidade, a Hyuuga era um ser curioso por natureza e talvez por isso o dia passasse tão devagar, exceto claro com Sakura planejando tudo para tal festa que seria promovida pela faculdade Senju. A amiga de cabelos rosados parecia uma própria aluna do curso de engenharia, mas Hinata sabia que isso tinha outro nome, no mínimo Konan estava por trás de tudo.

— Você vai sim. – Tenten falava convicta a sua frente e tudo o que Sasuke queria era poder jogar em paz, a namorada usava um vestido vermelho com branco e uma sandália baixa.

— Não me dou bem com nenhuma pessoa daquela faculdade. – Respondeu apertando o botão PS em seu controle torcendo pra namorada não notar o barulho do console ligando, mas a morena bufou.

— Ao menos tente Sasuke. Não há namoro entre nós dois se você só quer ficar jogando. – Tenten falou fazendo com que o moreno a olhasse, entendia ou pelo menos tentava.

— Você pode ir. – O Uchiha falou a encarando. – Sério, confio em você.

Tenten soltou qualquer palavrão e apertou os coques na cabeça.

— Desisto. – Bufou. – Não se trata de confiar. Sou sua namorada, deveria querer sair por aí comigo. Quer saber? Bom proveito.

A porta bateu com força e Sasuke fechou os olhos massageando as têmporas. O dia era de estágio, porém o moreno já o havia terminado com duas semanas de folga, afinal bastava apenas isso para o semestre acabar. Levantou-se bufando enquanto a tela do Ps4 dava boas vindas. Foi até o quarto de Naruto entrando sem bater, o loiro saiu do banheiro terminando de vestir uma camiseta do curso de direito.

— Sempre soube que você queria me ver nu depois do banho. – Naruto falou rindo. – Chegou tarde tabayo!

— Não enche. – Sasuke respondeu. – Vai à festa?

— Quem não vai? Só você mesmo. É open bar cara. – Naruto parecia mesmo empolgado. – Claro que como amigo do Pain descolei os ingressos de graça.

— Tem dois?

Naruto o encarou. Depois caiu na risada.

— Tenho que dar vinte paus pra Tenten. – Falou se virando e começando a passar uma colônia que o Uchiha achava exageradamente forte. – Você tem dez minutos.

A festa não aconteceria no campus, seria na casa de um dos alunos de engenharia, curso que estava organizando a festa. Sasuke o conhecia, não eram exatamente amigos, mas o tal Nagato, Pain para os mais íntimos, era amigo de Naruto e Sasuke chegou a pensar que o ruivo era gay pela consideração que tinha pelo Uzumaki, mas descobriu depois que o cara tinha até uma namorada, caloura no curso de artes, cabelo roxo e dobraduras de papel.

Humanas.

Sasuke não demorou a encontrar Tenten, a morena deu um gritinho sonoro e logo se juntou a mesa pra virar alguns shots de bebidas que Sasuke nunca colocaria na boca, pelo menos pelo que prometera a Mikoto. O moreno era um observador e talvez por isso sempre fora de perceber fácil as coisas, como aquele pequeno grupo que parecia querer fazer cosplay das panteras. Obviamente se tratava de “de menores”, mas aparentemente Kiba, seu companheiro de curso, parecia não notar enquanto conversava com a de cabelos negros, o moreno revirou os olhos voltando sua atenção a sua namorada que ria ao lado de Naruto, como que para zombar de si, os dois pareciam mais amigos entre si do que com o moreno. Sasuke sorriu sentando na poltrona enquanto Naruto entoava o coro de “vira, vira” para que Nagato bebesse uma caneca de choppe.

Tudo havia dado certo, o que significava que algo daria muito errado depois. Os pais de Sakura acreditavam que a menina estava em sua casa, junto de Ino e seus pais acreditavam que a morena estava na casa de Sakura, todas fazendo um trabalho, os pais de Ino não estavam na cidade então a loira cedeu a casa para arrumarem e voltarem depois da festa. Pra não chamar atenção optaram por irem bem normais, coisa que Ino falou que era o certo em uma festa com universitários, mas a própria loira não seguia o conselho, a Yamanaka usava um vestido preto colado e dançava segurando um copo de cerveja. Sakura conversava com Konan e um menino com estranhas tatuagens vermelhas nas bochechas tentava lhe xavecar, sem muito sucesso. O som alto tocava Linkin Park em uma versão remixada que chegava a ser engraçada, mas as pessoas pareciam gostar e Hinata teve que revirar os olhos quando o menino de cabelos castanhos falou que gostava de Alok, a música que estava tocando.

— Desculpe eu realmente preciso ir. – A morena falou com um sorriso e começou a se afastar. A festa era legal, provavelmente a melhor que Sakura e Ino já haviam ido, mas não pra ela. Hinata preferia ficar em casa com as pernas pro alto assistindo Netflix, o que foi um dos argumentos que Toneri usou pedindo pra que perdoasse quando o albino transou com Naomi. Suspirou jogando o cabelo pro lado e se sentando na cadeira de descanso lá fora, fechou os olhos por minutos que pareceram horas e tentou pensar um pouco sobre sua vida. Estava terminando o ensino médio e provavelmente seria ela nos próximos anos a frequentar a faculdade, mas de algum modo aquilo não a seduzia. Sua mãe dizia que se apaixonar por algo de verdade era realmente raro e que Hinata entenderia quando sentisse o que era a paixão, mas aquilo era algo distante pra si. Ainda sentia a mágoa de ter sido enganada e não era uma mágoa de Toneri apenas, mas de si mesma por ter caído naquela conversa mole.

— Isso não vai dar certo! – Escutou a voz feminina e olhou para o casal que brigava a sua frente. Uma menina com cabelos em coques e um rapaz mais alto de cabelos negros, pareciam discutir no lado externo da casa e Hinata se sentiu uma intrusa observando a cena. A menina parecia magoada, o rapaz permanecia imóvel enquanto ela falava e parecia argumentar, mas sua voz era baixa e ela não os conhecia, ela não conhecia ninguém ali. Suspirou fechando os olhos novamente.

Sasuke não sabia como as coisas haviam chegado aquele ponto. Tenten estava embriagada, mas não o suficiente pra fazer algo que não queria, não queria bancar o ciumento arrogante, mas algumas coisas não podiam sair do controle, como quando ela começou a rebolar no meio da sala. Ela não era uma vadia, mas queria atenção e ele se odiava por saber que não seria o suficiente pra ela, Tenten era uma mulher rara e Sasuke se achava comum demais.

— Praga! – Resmungou tendo que acelerar quando o ônibus apontou na esquina, Naruto estava beijando uma menina de cabelos loiros na festa e Sasuke não achou certo tirá-lo de lá por que havia levado um pé na bunda. Passou sua carteirinha de estudante levando um olhar severo do motorista, realmente os jovens à noite não deveriam ser lá legais. Sentou-se no mesmo banco de sempre de modo que poderia observar a rua e o movimento quase nulo nas ruas. Sentia saudade de casa. Muita saudade de casa.

“A vida é um sopro.”      

“Um minuto. A gente nasce, morre.”

“ O ser humano é um ser completamente abandonado.”

Sasuke teve vontade de rir, qualquer pessoa que fosse sabia bem o que estava falando e falava diretamente consigo.

— Ei! – Gritou o motorista que freiou o automóvel o olhando assustado. – Desculpe. – Fez uma careta. – Você por um acaso não teria uma caneta permanente aí né?

Hinata encarava o relógio acima do quadro como se sua vida dependesse daquilo. Os segundos se arrastavam e a morena batia a caneta na madeira da carteira, bufou praticamente correndo pra fora da sala quando o sinal finalmente tocou. Queria dormir. Por Kami como queria dormir o dia todo. Chegara à casa de Ino quase ao amanhecer e acordara assim que conseguiu fechar os olhos, como as pessoas poderiam gostar de festas daquela maneira? Hyuuga Hinata gostava de dormir. Definitivamente.

— Hey morena! – A voz tão conhecida pareceu perto, mas ela ignorou continuando a andar rápido em direção a rua. – Você não andava apressada assim quando era pra minha cama?

Hinata parou escutando as risadinhas, voltou o olhar pra Toneri que passou a língua sob os lábios em uma clara provocação.

— É que não tinha nada de interessante me esperando na cama. – Hinata respondeu juntando polegar com o indicador fazendo referência ao tamanho do membro de Toneri que fez uma careta enquanto as risadas pelo pátio da escola aumentavam. Hinata esperou pacientemente na parada de ônibus, a adrenalina havia feito o sono sumir por hora, subiu cumprimentando o motorista e se sentou em seu banco olhando para a citação escrita no banco a frente.

“A vida é um sopro.”      

“Um minuto. A gente nasce, morre.”

“ O ser humano é um ser completamente abandonado.”

— Oscar Niemeyer

Hunter.arq@email.com

Hinata riu diante aquilo. Quem conheceria Niemeyer e usaria um Nick inglês? Abriu o email no celular colocando o endereço no campo de destinatário e enviou esperando não ser uma pegadinha. Um grande problema com Hinata: Ela sempre acreditava demais nas pessoas.

O apito no celular acusou uma mensagem, talvez fosse Tenten, mas Sasuke não sabia o que responder caso realmente fosse com ela, o que ele poderia oferecer como namorado não era o que ela queria, não acreditava em destino ou karma, mas sabia que Tenten merecia alguém que a amasse como ela era capaz de amar, sem barreiras nenhuma.

“Ei Hunter,

Um minuto dessa vida sem sentido?”

Sasuke leu o pequeno email três vezes.

Hyu.sama@email.com

Sasuke riu, a pessoa conhecia Niemeyer, talvez fosse outro aluno do curso de arquitetura, só isso explicaria conhecer a entrevista do arquiteto tão bem, tal citação não pertencia a um livro, mas a uma entrevista que Niemeyer havia cedido a BBC em 2001. O Uchiha sabia, afinal era um de seus arquitetos preferidos, um gênio quando se tratava de construções utilizando curvas.

From: Hunter.arq@email.com

To: Hyu.sama@email.com

Assunto: Nomes de tratamento

“Sama?”

 

From: Hyu.sama@email.com

To: Hunter.arq@email.com

Assunto: Formal demais, deve ser velho.

Uma piada interna da família.

Hunter?

 

From: Hunter.arq@email.com

To: Hyu.sama@email.com

Assunto: Sou um senhor de 79 anos navegando na web

Video game, sou caçador em um RPG.

Família estranha essa sua.

 

Hinata riu. Se bem que exista mesmo a possibilidade de ele ser um senhor de setenta e nove anos e ser um traficante de órgãos, um pedófilo ou qualquer coisa que incluísse a si mesma em um caixão sem seus órgãos internos.

 

From: Hyu.sama@email.com

To: Hunter.arq@email.com

Assunto: Máfia

Se repetir isso sobre minha família provavelmente não verá outro nascer do sol.

 

Sasuke gargalhou fazendo com que Naruto fosse até seu quarto e o encarasse.

— Do que você está rindo? – O loiro perguntou olhando para o celular do amigo. – Algum vídeo?

— Sai fora.

— Sério. Se você riu assim deve ser algo bem engraçado.

— Um amigo fez uma piada sobre a máfia, se você falar mal tecnicamente eles te matam.

— E o que têm de engraçado nisso?

Sasuke bufou.

— É engraçado por que a própria pessoa fez uma piada sobre a família, então meio que morreríamos todos.

Naruto fez uma careta.

— Não acho nada engraçado nisso.

— Você é um idiota.

 

From: Hunter.arq@email.com

To: Hyu.sama@email.com

Assunto: Vândalo de ônibus

Você é controverso, escreve na cadeira de um ônibus, pertence a Yakuza e cita Niemeyer.

 

From: Hyu.sama@email.com

To: Hunter.arq@email.com

Assunto: Sherlock Homes

Controversa.

Você respondeu ao que escrevi e conhece Niemeyer.

Quanto a Yakuza, foi apenas um aviso, vai que você seja atropelado amanhã...

 

Não pertenço à máfia, mas se pertencesse negaria, não é mesmo?

Sasuke sorriu novamente enquanto os emails continuavam sendo enviados. Se tratava de uma mulher então. Não faziam perguntas diretas, nada pessoal e descontraída. Algo finalmente interessante por esses dias.

Hinata parou à porta da sala de aula e suspirou passando a mão na testa afastando os fios da franja que grudavam na pele devido a fina camada de suor devido a pequena corrida.

— Está atrasada. – A voz de Asuma foi séria e ele sequer a olhou.

— Desculpe sensei. – Hinata falava baixo. – Perdi o ônibus habitual.

— Vá à direção.

— Mas sensei...

— Feche a porta quando sair.

Hinata bufou e a porta foi fechada com um pouco mais de força que o necessário. A passos duros caminhou até a direção e teve de esperar sentada até que Mei, a diretora, pudesse brigar consigo. Tirou o celular da mochila verificando se o wi-fi estava conectado.

 

From: Hyu.sama@email.com

To: Hunter.arq@email.com

Assunto: Começando o dia

Nada como começar o dia com uma bronca, não é mesmo?

Acorda Rapunzel.

 

Sasuke recebeu o olhar torto do professor quando o celular apitou em seu bolso fazendo com que alguns alunos o olhassem, fez um sinal com a cabeça em sinal de desculpas e abriu o email discretamente enquanto o professor continuava explicando sobre as apresentações de TCC e o intercâmbio que haveria com uma universidade da Inglaterra.

 

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To: Hyu.sama@email.com

Assunto: Papai brigou?

Estou acordado a horas bela adormecida.

 

Hinata sorriu quando leu a resposta.

 

From: Hyu.sama@email.com

To: Hunter.arq@email.com

Assunto: Varrendo o quintal?

Você deve ser aqueles velhos que acordam cedo pra varrer a porta de casa.

Direção.

 

From: Hunter.arq@email.com

To: Hyu.sama@email.com

Assunto: Estudante compulsivo

Você têm o quê? Onze anos?

 

From: Hyu.sama@email.com

To: Hunter.arq@email.com

Assunto: Welcome to my world

Dezessete de pura rebeldia escolar.

Se for do CES pode vir me acompanhar na diretoria.

 

From: Hunter.arq@email.com

To: Hyu.sama@email.com

Assunto: Não frequento a diretoria. Sorry!

Universidade.

Não fui rebelde nem aos dezessete. A propósito tenho vinte e um.

 

Sasuke desenhava o projeto de uma casa, havia montado a mesa de trabalho em seu quarto e já passava das dez horas da noite. Havia conversado com Hyu sama durante o dia, ela havia levado uma bela bronca e ficara offline a tarde toda o que deveria ter significado algum tipo de castigo, pelo que entendeu das conversas a família dela era tradicional, mas não havia informado qual família era de fato e o Uchiha não conhecia nenhuma família em Kyoto que pudesse ser considerada assim, mas só conhecia poucos colegas da faculdade e Naruto. Sorriu sozinho, para si era bem improvável uma amizade daquele jeito, feita por uma citação em um banco de ônibus e firmada por emails trocados pelo celular.

Conforme os meses se passaram a troca de emails continuou frequente, a ponto de Sasuke ter enviado vários quando a menina sumiu por três dias e obteve a resposta apenas depois sendo informado de que ela havia viajado de última hora e que não havia sinal onde estava, seu avô havia falecido e ela ficara bastante abalada, através dos emails Sasuke pôde conversar bastante com a menina que sequer sabia o nome e ainda não admitisse, gostava daquelas conversas.

— Hey Sasuke! – Kakashi, seu orientador da faculdade o chamou quando o moreno passava pelo amplo corredor da instituição, o professor parou a sua frente e sorriu. – Indiquei você para o intercambio na Inglaterra.

Sasuke permaneceu o encarando. Era uma oportunidade e tanto, se formaria no próximo ano e indo para a Inglaterra teria um grande diferencial em seu currículo além de quê a arquitetura inglesa era fascinante.

— Como? – Perguntou vendo o mais velho sorrir.

— Venha. Vou te mostrar o programa do intercâmbio.

 


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Notas finais do capítulo

Olá pessoas, essa fanfic terá dois capítulos apenas.
Minha querida Vanessa, (~Loneliness-chan no spirit) me apresentou a ideia inicial dessa história, um Sasuke que conheceria a Hinata trocando emails e conversamos sobre esse enredo de modo que o escrevi como vocês verão até o final.
Ficou bem amorzinho ♥
Espero que gostem.

E Vanessa, espero que goste também. ♥



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