Dois é ímpar escrita por Alcino


Capítulo 1
Capítulo 1- Me mostre a cidade e a sua alma




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11:30 da manhã, engarrafamento e calor.

As ruas da cidade eram vistas de formas distorcidas em decorrência das ondas de calor intensas, e dentro daquele carro cheio de malas e gritarias provocadas pelos seus pais, Alex só imaginava o quão difícil seria seu processo de adaptação naquele novo lar. A mais nova mudança estava ocorrendo devido ao trabalho de seu pai, Salomão Costa, o grande nome quando se trata de vendas de imóveis. A necessidade de expandir seu mercado fez com que seu pai mudasse constantemente de cidade com intuito de abrir novas lojas, e acredite, quando digo constantemente não é uma força expressiva.
    Ter 16 anos não é fácil, principalmente tendo o histórico de Alex. Há cerca de um ano ele foi diagnosticado com depressão e ansiedade, causando um baque em sua família. Todos se questionavam como aquele menino sorridente podia carregar consigo esses problemas, e esses questionamentos feitos por familiares só apontaram o quão óbvia era a situação do menino: ele vivia num ambiente que ninguém o enxergava de verdade, só superficialmente.
      A escola nunca tinha sido um ambiente em que ele gostava de estar. Todas aquelas pessoas o fuzilando com os olhos, todos aqueles comentários cruéis disparados sem nenhum receio nos corredores, todos aqueles rostos com expressões que indicavam repulsa, em resumo, um ambiente nada confortável. E uma escola em que ele era o aluno novo era sempre seu pior pesadelo, mesmo sabendo que passaria por esse terror devido as mudanças de cidade que sua família fazia.
— Alex, acorde! (disse sua mãe enquanto movimentava a mão em frente aos olhos do garoto, que fixava o horizonte vazio)
— Ah, já chegamos? Querem ajuda com as malas? (Alex falava enquanto tirava o cinto de segurança)
— Sim, e vamos rápido, ainda temos que preparar o almoço! (seu pai falava enquanto tirava duas caixas da mala do carro)

3:00 da tarde, cama e mensagens.
       Alex se jogou na cama, estava cansado depois de ter subido a escada com as caixas de seus livros e de ter arrumado os outros móveis da casa. Se jogou na cama e começou a olhar o celular, como de costume. Acessou sua playlist de The Smiths e deu play, bloqueou o celular e fixou o teto. Começou a imaginar como seria se tudo que ele vivesse fosse normal, se não precisasse se mudar tanto nem ter que viver sob a idealização de seu pai do que seria o "filho perfeito". Em meio aos pensamentos que lhe enchiam a cabeça seu celular vibrou.
— Um pedido de amizade? Eu nem uso essa rede social direito... (disse antes de ver quem requisitava aquilo)
Desbloqueou o celular e clicou na notificação de amizade: Leonardo França. Alex não o conhecia, mas resolveu abrir seu perfil por curiosidade.
— Ele é dessa cidade, como me conhece? Colégio Pilastras? Eu vou entrar nessa escola... (disse Alex espantado com a situação)
       Enquanto vasculhava o perfil do menino ele vê uma notificação aparecendo na aba de mensagens. Ele se espanta ao ver que era uma mensagem do Leonardo. "Olá Alex, sei que não me conhece, mas sou o representante da turma que você irá frequentar. A diretora me passou o nome do novo estudante e tomei a liberdade de te contatar para dar as boas vindas! Se precisar, pode falar comigo =D". Alex estava surpreso com aquilo, em nenhuma das escolas que frequentou ele havia sido bem recebido. Resolveu aceitar o pedido de amizade o respondeu, ainda que nervoso com a situação: "Olá Leonardo :) obg pelas boas vindas hehe legal da sua parte...". Antes dele bloquear o celular novamente mais uma mensagem havia sido notificada, e ao ver que era de Leonardo abriu rapidamente
"hahaha por nada :p vou ficar ausente agora pela tarde, tenho uns conteúdos para estudar. tu é novo na cidade também né? nao sei se estou sendo invasivo, mas topa ir ao parque da cidade hoje a noite? vai ter um show de uma banda local, de graça hahah é só um convite, tudo bem se não quiser :s"
       Alex sorriu. No meio de toda aquela confusão em sua cabeça sobre escola e cidade nova, ele sorriu. Não sabia como dizer o que sentia sobre aquele menino que teve coragem de ser amistoso com ele, só se sentiu bem, e pela primeira vez na vida pensou de forma positiva sobre os dias que iam vir. "Ah, claro hahaha vai ser bom conhecer a cidade e algumas pessoas daqui, só não sei como chegar lá :s"
Mensagem de Leonardo: "me manda sua localização, te busco no carro do meu pai hahaha e a propósito, me chame de Leo"
      Ao enviar sua localização Alex se perguntou se isso estava mesmo acontecendo. Fazia um bom tempo que ele deixou de acreditar na gentileza humana, então foi meio estranho Leo ter se disposto a apresentar um novo lugar a alguém que nem conhecia direito. Mas estava acontecendo, então resolveu não pensar tanto e ir procurar uma roupa para sair à noite.
      A tarde passou devagar, e o menino encarava para fora da janela como uma criança que anseia a chegada do carrinho de picolés. Já eram 6 da noite e nenhuma mensagem havia sido enviada, talvez ele não viesse. "Mas porque ficar triste?" ele pensou. "Nem o conheço bem, nem somos amigos, então ta tudo bem se ele não vier. nunca gostei de sair mesmo" continuo pensando e enquanto tirava seu sapato ouviu três batidas na porta. Era a sua que estava entrando em seu quarto?:
— Filho, tem um garoto num carro perguntando por você. Leonardo, se não me engano. Você o conhece? Pra onde vai tão arrumado? (disse a mãe com expressão confusa)
— Ele está aí?? (disse apressado enquanto levantava)
— Sim, está. Mas quem é ele? Alex, para onde você vai? Você pode me responder? Já não basta seu pai saindo sem me comunicar, agora você? (falava enquanto acompanhava o garoto pelo corredor)
— Eu vou viver, mãe. Não quero me transformar num mofo dessa casa (beijou o rosto de sua mãe e saiu, fechando a porta de casa)
Na frente de sua casa estava Leonardo, balançando as mãos para fora da janela e com um sorriso enorme. Alex nunca tinha visto um carro daqueles, era um fusca antigo, verde pastel.
— Seja bem-vindo ao meu expresso, pronto para a tour na cidade? (disse Leo enquanto destravava a porta)
— Imagino que sim. Qual a primeira parada? (Alex perguntou enquanto colocava o cinto)
— Eu te conduzo, não confia em mim? (Leo disse enquanto olhava nos olhos de alex)
— É uma pergunta um tanto estranha para se fazer a alguém que acaba de conhecer, mas sim, eu confio. (disse enquanto tentava disfarçar as bochechas vermelhas)
      O carro partiu e logo a casa de Alex ia ficando distante no reflexo do retrovisor. O vento batia no seu rosto e uma música de David Bowie tocava no rádio. A noite estava linda, e depois de tanto tempo se sentindo sozinho e triste, Alex entendeu o que era o sentimento de conforto.


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