Underwater escrita por JuremaDoMar


Capítulo 21
Brincando de Gato e Rato




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 Nunca tremi tanto em minha vida, nunca, nunca mesmo, as lágrimas escorriam livremente em meu rosto manchando-o, a essas horas meu rosto estava vermelho, estava difícil respirar, estava difícil manter a calma, na verdade manter a calma é ultima coisa que farei em uma situação como essa.

   O que não acontecia a tempos aconteceu, eu tive um ataque, o problema era, eu estava em publico, não eu não gritaria, não queria atenção, encolhida em minha cadeira eu esqueci do mundo, viajei para o passado, onde muitos dos meus ataques ocorriam.

    Eu tremia sem parar, eu podia ser facilmente confundida com um pintcher se olhassem rápido demais, encolhida, manchada por lágrimas e tinta, eu tinha feito o dia da recreação um tremendo desastre, Mauritânia me expulsara da sala com seu olhar de desprezo, nunca gostei desta mulher, encolhi-me no corredor das salas, o lugar que eu odiava em toda escola, Tereza tentou me acompanhar, mas foi barrada por Mauritânia, só havia me restado ter um ataque sozinha no corredor da escola.

  Não demorou para que alguém passasse, tia Ju, uma das muito simpaticas faxineiras, me viu ali quase em colapso nervoso, ela me acolheu em um abraço carinhoso enquanto eu chorava, minha dor de cabeça estava no limite e meus ouvidos quase tapados, eu apenas ouvia chiados, vestígios do que um dia seria som, pude sentir ela me erguer e correr comigo para algum lugar, tombei a cabeça para trás e vi pela janela uma guerra, literalmente.

  Minha dor de cabeça se intensificou, era como se meu corpo não quisesse ver o que minha mente queria mostrar, estavam em conflito, assim como os seres lá fora.

 Eu não sabia exatamente o que eram, mas muitos deles tinham asas e/ou poderes, outros pareciam ser humanos, alguns seres com asas coloridas lutavam contra os seres de asas negras, assim como os humanos e os seres que tinham poderes, todos lutavam contra os seres de asas negras,  foi quando eu vi uma luz azulada preenchendo todo o local, banhando a todos com força os aliados e enfraquecendo os inimigos, a vitória seria certeira se não fosse por uma coisa.

            Acordei de supetão e bati a minha testa com a de alguém.

            -Ai!- Exclamamos juntas.- Você acordou como se sente?- Stephanie me perguntou preocupada.

             Sorri vasculhando em minha mente algo que fizeste tudo aquilo ter sentido.

             -Péssima.- Continuei sorrindo minimamente.

             -Fernanda e Renata queriam vir também, mas uma professora nova entrou bem na hora que você desmaiou. Ela perguntou quem era o representante e todo mundo apontou para mim, agora aqui estou.- Ela riu.

            -O que aconteceu comigo?- Perguntei-lhe tocando minha cabeça.

           -Não sei exatamente, mas você começou a tremer e chorar, olhando para todos os lados como se algo te caçasse, aí você travou o olhar na janela, você ficou olhando pro céu. E desmaiou do nada. - Eu suspirei, mesmo sem a dor os surtos continuavam, porque?- Ah propósito.- Olhei-a saindo dos meu pensamentos.- Como consegue?- Ela perguntou e eu ergui  a sobrancelha.- Sabe mudar a cor do olho como você fez, ele tava azul antes de você desmaiar.- Pisquei duas vezes sem entender.

       -E-eu não…

       -Quer manter segredo né?-Ela deu de ombros.- Suave.- Ela fez um sinal de arminha e virou-se para sair da porta.

      -Tephie!- Chamei e ela parou olhando-me com seus olhos castanho escuro.- Quem…. Quem me trouxe?- Perguntei a ela que olhou para os lados e se aproximou de mim como se fosse contar o mais secreto dos segredos. Eu sabia que não tinha sido ela, até porque eu era um gigante comparada com ela, sem contar com meu peso.

  -Foi o gato de cabelo branco.- Ela sussurrou no meu ouvido, não vi necessidade para isso, ergui uma sobrancelha.

   Ele era o único garoto gato, pra porra, de cabelo branco.

    -Vilj?- Perguntei mais para mim do que pra ela, não entendi muito direito.

     -Sim, ele parecia querer que você não soubesse que ele tivesse o trazido. Doido né?- Ela riu saindo pela porta, me deixando plantada lá.

    Sorri sozinha da infantilidade do meu amigo, ele não estava tão bravo comigo eu sabia, apenas estava fazendo pouco caso.

    Meu sorriso desapareceu quando senti meu celular vibrar, só naquele momento eu me lembrei do porquê do meu surto, do meu desmaio, do meu medo, agarrei o celular com força temendo que ele fosse explodir, eu estava assustada, alguém tinha descoberto meu segredo, quem era esse alguém? Não sabia, mas algo dentro de mim temia antes de eu saber a resposta.

    Não brinque com coisas tão estúpidas

    Está insinuando que “isso” na foto sou eu?_ Digitei me fazendo de besta, no mundo em que vivíamos ninguém acreditaria certo? Todos já estavam cansados de falsas provas, de falsos relatos, se esse alguém divulgasse as fotos não faria diferença alguma, seria uma piada ou isca para fakenews, ela estava em desvantagem, ele não sabia que horas eu tinha visualizado as fotos, talvez ele não soubesse sobre meu surto ou como aquilo me abalou.

     Essa montagem é simplesmente péssima

     Faça melhor da próxima ok?— Continuei travando a tela encostando a cabeça sobre a única maca desconfortável da enfermaria.

     Não tardou para meu celular vibrar novamente.

      Não me provoque Clara.

      Eu sou mais perigosa do que imagina.

      Quer que eu faça e melhor? ok.

      Arranjarei provas necessárias para te incriminar, para provar a todos quem você é.

     Eu gelei, um arrepio surgiu na minha espinha e cresceu dominando meu corpo, aquilo não era brincadeira, eu estava sendo ameaçada e não poderia contatar a ninguém, caso contrário eu iria parar e um laboratório de pesquisas, tremi, a possibilidade de eu ser descoberta jamais passara em minha mente até, até agora, o outro lado de ser uma sereia me atingiu com força, e eu me vi em pânico, tudo estava sendo tão maravilhoso, o segredo, os mistérios, os poderes, tinham um preço.

    O que quer de mim?_ Perguntei me rendendo ao desespero.

   Esperei pela resposta que não veio, guardei o celular fechando os olhos com força contendo as lágrimas de desespero, eu estava sendo caçada e estava sozinha no momento, abri os olhos quando a porta foi aberta pela senhora Wattsford, uma mulher loira de no máximo trinta anos com uma postura sempre superior, ela tinha olhos castanhos e não era muito alta, não era magra, mas também não era gorda, ela era nossa diretora, com uma postura ereta e séria veio até mim.

     -Senhorita Clara? Sente-se bem?- Ela perguntou por educação, sabia que não estava preocupada comigo,  talvez com seu cargo. Pouco me importava, aquela mulher não me era agradável. Assenti.- Ótimo. Me siga.

     Levantei da maca e em passos firmes caminhei um pouco atrás, eu sabia o que estava por vir, Marcos, eu tinha meus motivos e provas, nada passou de um tô de alta defesa, eu estava cansada daquele garoto me importunando, desde o quinto ano do fundamental, eu estava em meu limite e a sorte dele era que sua mão tinha sido quebrada e não seu crânio. Seguimos pelos corredores das escolas, passando por salas barulhentas e em completa zona, ela parecia não se importar, o barulho de seu salto sobre o chão era mais alto do que as vozes e minha respiração estava começando a ficar alta também, não era nervosismo era fúria.

  Como quando avistei meu pai com Danielle, ou quando vi um bando de moleques espancando um pobre filhote até a morte, ou como quando Marcos tentou me beijar a força, ou quando um garoto estapeou Tereza, todas as vezes eu não pude fazer nada, mas dessa vez, eu pude eu me defendi por mim mesma, eu era forte.

   Andando ao lado da diretora Wattsford, eu decidi que, ninguém, humano, sereia, sirena ou o ser que for, não iria me deixar furiosa e sem poder fazer nada, eu irei lutar, serei furiosa como o mar em uma tempestade.

    Ninguém me domaria.

    Ninguém.

    A diretora abriu a porta de sua sala, tal tinha as paredes dívidas ao meio em uma linha horizontal de madeira, da linha para baixo tudo era madeira cor chocolate polida e brilhante, da linha para cima era concreto puro pintado de cor creme, havia uma estante de livros didáticos, um armário com muitas gavetas cada gaveta havia um ano, aposto que aquelas eram as fichas dos alunos, pude perceber que sobre sua mesa também de madeira cor chocolate minha ficha estava, ela tinha me estudado antes de me trazer, me senti como uma suspeita de crime pronta para ser interrogada pelo CIS. Ela se sentou em sua cadeira de rodinhas almofada parecida com a de vilões, uma cena icônica veio em minha mente : Diretora Wattsford sentada de costas para a porta e quando alguém entrasse ela se virava para a porta como em filmes, sufoquei o riso.

   -Sente-se.- Ela ordenou e eu obedeci, eu não fraquejei por momento algum porque eu diria toda a verdade e se ela duvidasse pediria que ela olhasse as câmeras. Ela suspirou largando a feição de seriedade e sorrindo minimamente.-  A senhorita meu deu um trabalhão hoje.

  Ela esfregou o indicador e o dedão na tempora, suspirando ela me ergueu o olhar, se endireitou na cadeira e pegou um copo de café bebericando-o, permaneci em silêncio, minhas voz só seria usada quando perguntas fossem feitas.   

   -Pode me contar o que aconteceu entre a senhorita e Marcos?- Ela perguntou voltando a ser séria.

   -Claro….- Cruzei as pernas e fiquei ereta. - Eu estava sentada na minha quando ele chegou para mexer comigo…- E assim eu expliquei para ela sobre o ocorrido de manhã.

   -Entendo.- Ela disse ao terminar minha explicação.- Sabe que poderia chamar alguém da supervisão para conversar, ou pedir ajuda, estamos aqui para isso.

    Ergui a sobrancelha e ri sem humor, ela pareceu não entender minha reação.

    -Com todo respeito senhora, durante todos meus anos escolares a supervisão não fez nada por mim, são incontáveis as vezes que minha mãe veio aqui reclamar e nada se resolveu.- Eu disse séria e furiosa.- Anos que sofri por mãos dos meus “colegas” escolares.- Fiz Aspa.- Tendo apenas minha mãe e minha melhor amiga como refúgio. E mesmo elas fazendo de tudo por mim, não era o suficiente.

  -Pode parecer imprudente, mas jamais, jamais esse garoto conseguirá o que quer, nem que eu tenha que quebrar as costelas dele.- Falei a ela e diferente do que eu pensava  apenas ergueu a sobrancelha e assentiu.

   -Sinto muito por todos esses anos de sofrimento que a senhorita foi obrigada a passar, mas agora tem meu voto de confiança, a nova supervisão irá lhe ajudar com tudo que precisar.

  Pisquei sei entender. Nova supervisão? Tinha trocado os funcionários? Isso é maravilhoso! É a primeira vez que algo bom ocorre em minha vida.

   -Entretanto a senhorita sabe que toda ação tem sua reação certo?- Assenti.- O que a senhorita fez foi errado, sendo ou não um ato de defesa. Você será suspensa por onze dias e depois de voltar terá de ajudar na limpeza da sua sala e da sala de informática.

   Apenas assenti.

   -Está liberada.- Agradeci e me levantei.- Espere lá fora sua mãe vira conversar comigo com a mãe de Marcos.

Tremi, aquela mulher é o demônio.

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Ela tinha cabelos verdes, eram exóticos, mas eu amava penteá-los quando nos reunimos, ela amava vestir coisas largas, vestidos, calças, armaduras. Sua pele era negra, tão escura quanto um céu sem estrelas, seus olhos eram azuis um reflexo do mar, mesmo ela não sendo uma sereia ela carregava uma forte ligação com o mar, assim como todas nós.

  Lum era seu nome, tão exótico como seu cabelo, mesmo nossos laços serem forte como ferro, o meu e o dela em especial era forte como diamante, nada além de outro lhe rompia. Ela era a minha confidente em nosso grupo sobrenatural, ela era minha melhor amiga fadinha

  Amávamos correr perto do lago onde Elizabeth, Thayla e Yasmin, moravam.

Parecia sair de mim por instantes, saber de coisas que nunca jamais soube, sobre os gostos de Lum, Elizabeth, Thalya, Yasmin, Uvey e Esther, mesmo não sabendo quem era quem, além de Lum, seus cabelos estavam marcados em minha memória.

  Pisquei sendo levada para um lugar, mãos envolveram as minhas, eu estava em uma roda, todas as sete estávamos lá, fracas e prontas para receber o que tínhamos nascido para receber, os nosso poderes de guardiãs universais, seríamos imortais, seríamos uma família. Seríamos nós sete para sempre!

  Sorrisos felizes e alegres. Um brilho nos envolvia, era primeira manifestação do poder que um dia teríamos.

   Mas não durou muito.

   -Claro.- A morena que uma vez eu sonhei me abofetou a face, levei a mão ao rosto, não estávamos mais em roda, estávamos em um quarto de ouro, algo que eu jamais tinha visto em minha vida, tudo era como daqueles filmes de fadas, com flores e coisas voadoras por ai.- Ele disse que também te ama!- Ela exclamou furiosa.

  Está era Elizabeth e ela estava furiosa.

  -E-eu… O que eu tenho haver com isso?-Perguntei, céus ela estava muito brava.- Eu não o amo você sabe. Eu amo ao…- Corei, ele estava aqui perto! Ele poderia ouvir.- Você sabe quem!

   -Quem? O Rubens?- Prendi a respiração, ela não tinha falado ela tinha gritado.

   -Você não tinha o direito.-Derramei uma lágrima, todas tinham feito um juramento, segredo de uma era segredo da outra, tínhamos que guarda-los. Virei-me constrangidas, todas as fadinhas que trabalhavam na limpeza do quarto pararam antônimas, claro afinal eu amava ao príncipe. Apenas nesse momento percebi que eu e Lum voávamos com asas, eu com fortes e poderosas asas de pássaro e Lum com asas lindas e grandes de fada, todas restantes, com exceção das fadas, flutuavam como se estivessem no mar.

    -Você também não tinha o direito de roubar o que é meu.- Bradou.- Luke é meu.

   - Que bom!- Bradei em plenos pulmões entre fúria e ódio.- Engula-o, não me importo com ele Elizabeth, eu me importo com Rubens.- Gritei sem me importar todos já sabiam mesmo.

  As meninas se aproximaram, Lum pôs a mão em meu ombro, Thalya e Uvey tentaram acalmar a fera que Elizabeth estava, Yasmin e Esther chegarmos por trás de mim tentando acalmar nossos ânimos.

   -O que deu em você?- Yasmin perguntou com sua voz tão calma quanto a mais leve das brisas de verão.- Luke é e sempre foi seu, ele é SEU prometido.- Ela comentou o óbvio e todas concordamos olhando a morena que bufava furiosa.

   

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Eu estava sentada no carro quando percebi, não tinha dormido eu sabia. Sobre minha mão estava meu celular na qual eu apertava com força, olhei para a janela vendo a praia passar rapidamente em minha frente, dois pontos luminosos e azuis brilhavam no reflexo, não vinham de fora.

  Eles cessaram quando a voz da minha mãe chegou ao meu ouvido:

  -O que houve? Você está quieta desde que saímos, não olha para mim, nem posso ver seus olhos.- Olhei-a nos olhos e ela devolveu o olhar tentando entrar em minha alma pelas janelas.

  Neguei.

  -Apenas o de sempre, com uma pitada de algo mais.- Falei encostando a cabeça no banco do carro e a erguendo levemente.-Marcos tentou denovo.

 Mamãe apertou o volante com força, grunhiu baixo, porém manteve a força e controle de uma mãe.

  -Só que dessa vez eu me defendi.- Sorri minimamente.

  Minha mãe revirou os olhos manobrando o carro até a garagem.

  -Quebrando a mão dele filha?- Perguntou ela e eu dei de ombros, agi por instinto e vi que tinha uma força poderosa, quebrei a mão de um garoto com apenas uma mão, soltei um sorriso satisfatório, apesar de ter sido suspensa e isso não constar bem para minha ficha escolar, mas de uma coisa eu tinha certeza ele pensaria duzentas vezes antes de mexer comigo.

  Eu não sou apenas humana, sou sereia também, meio a meio, duas raças, eu sou mais que ele e não irei abaixar minha cabeça tão fácil.

  Entramos em casa que estava mais silenciosa do que o esperado, geralmente Lucas e Amana, sua babá, quase botavam fogo na casa no bom sentido claro, sempre éramos recebidos por risos bagunças e alegrias, mas a casa estava silenciosa, silenciosa demais, será que algo tinha acontecido? Compartilhei com minha mãe um olhar preocupado, ela também percebeu, assentimos uma para outra.

   Agarrei uma vassoura e minha mãe um rodo, abrimos a porta lentamente e de passo em passo caminhávamos como dois peritos da polícia em um território inimigo, olhávamos para todos os cantos da casa atentas, era isso que acontecia quando se via suspense demais, culpo a Tereza ela que me apresentou esse mundo, ouvimos um barulho na sala e nos encaramos sérias, novamente assentimos quase lendo o pensamento uma da outra, na ponta dos pés caminhamos até lá e….

    Não havia nada de ameaçador, além de Fernando e Lucas dormindo no sofá, mamãe achou aquela cena extremamente fofa e eu quis afundar a fuça do Fernando no asfalto, quem ele pensava que era para entrar na MINHA casa e dormir no MEU sofá? Balancei a cabeça de um lado para o outro encostando a vassoura  na parede, ok ele era o dono da casa, mas ele devia é tá na casa daquela prostituta que ele engravidou, aquela vaca que tem a cara de pau de vir na minha casa, comer da minha comida...

    Creck.

    Olhei abismada para o cabo da vassoura, eu jurei que eu tinha a largado, mas na verdade eu tinha a apertado, apertado com tanta força que tinha quebrado, eu tinha quebrado com apenas uma mão, uma mão, respirei fundo olhando para um pedaço da vassoura na minha mão, joguei-a no chão e virei em direção a minha mãe, ela estava olhando apaixonadamente para seu marido enquanto acariciava seus longos cabelos que caiam sobre sua face e sobre o sofá, meu coração se apertou eu precisava de um jeito de contar a verdade para ela.

   

  Subi para meu quarto e me joguei na cama, minha Tereza fazia falta nessas horas, encolhi-me na cama e fechei os olhos, mas sem vontade alguma de dormir, pensando em dormir me lembrei de algo, o sonho, visão ou cacete a quatro que eu tive, eu não me importava com os sonhos da minha infância, mas das garotas, era como eu se eu estivesse lá, como… Se eu fizesse parte! Como se eu vivesse lá, mas de certa forma eu sentia que tinha mesmo acontecido, que eu estive lá, mas como, eu me lembraria de algo assim.

   Meu celular vibrou no meu bolço e eu tive certeza que era meu chantagista anônimo.

  Eu?

  Por enquanto, eu quero brincar

  Vamos brincar!

   Topa gato e rato?

   Ache o rato e te direi o que verdadeiramente quero.— Chantagista anonimo.

   Respirei fundo, eu tinha dito que na abaixaria minha cabeça, mas aquela situação era diferente, eu estava me segurando para não me encolher em um canto qualquer.

  E se eu não quiser?—Perguntei.

  Demorou um tempo, eu senti dentro de mim que ele tinha dado uma risada sarcástica.

   Bom…

   Se você não me achar não vai saber o que eu quero.

   E se você não saber o que eu quero, vai fazer o que não quero

  E se você fizer o que eu não quero

  Farei de tudo para que o mais rápido possível cientistas, repórteres, circos estejam batendo em sua porta.

  Então topa brincar?

Ou vai querer virar a última matéria do jornal?— Chantagista anônimo.

   Respirei fundo, meu âmago dizia que eu não devia brincar com essa pessoa, eu sentia que ele faria tudo que dizia e mais. Sem contar que na foto não estava apenas eu, Rebecca também estava lá, será que ela também estava sendo chantageada? Mesmo assim era arriscado demais eu envolver minha amiga nisso. Mudei o nome do contato para Rato.

   Eu iria achá-lo, iria descobrir quem, mas não farei isso sozinha. Sem chance.

    Me dê dicas.

    Não sou mãe Diná._ Escrevi, não irei abaixar minha cabeça, não irei abaixar minha cabeça.

   Repeti internamente por dois dias essa frase, nesse meio tempo minha vida estava dando constantes voltas de 360° graus, eu estava em casa e só voltaria para a escola daqui a seis dias, nesse tempo foi necessário para que eu colocasse pistas, diretas e indiretas, o rato, que na verdade era rata, estava se mostrando fácil demais, ela queria que eu a achasse.

    Pelo que eu tinha descoberto ela: Estudava perto de mim,  queria que eu ficasse longe de alguém, me odiava, estava perto de mim, sabia sobre a festa em que eu quase fui violada e é bem de vida.

     Mas a questão era, como eu saberia, muitas pessoas da minha escola eram bem de vida, muitos não gostavam da minha presença, alguns me odiavam e muita gente da escola estava na festa que houve a briga.

     Arregalei os olhos.

     -Você! - Uma garota de cabelos encaracolados, pele morena e olhos verdes apontou para mim. -Sua puta, primeiro se oferece para meu namorado e depois joga ele na água. - Ela berrou.— Lembrei-me do dia da festa, passei a mão pelos cabelos, não é possível que seja ela, ela é uma completa lesada. Ou talvez ela não seja, talvez ela esconda o verdadeiro eu.

 Engoli em seco.

 Corri até meu celular e liguei para meu porto seguro. Demorou um pouco, mas ela atendeu.

 -Alô.— Sua voz veio furiosa, talvez ela nem soubesse quem estava falando.

 -Tereza você…- Não terminei a frase já que ela me cortou.

  —Sim eu estou ocupada. Tchau.— Ela desligou na minha cara e eu grunhi.

  -Porra!- Gritei o mais alto que podia.

  -Olha o palavreado.-Fernando brotou do nada no meu quarto, quem ele pensava que era para sair entrando assim?

   Ultimamente eu estava começando a adquirir cada dia mais ódio pelo homem a minha frente, ele é minha mãe havia discutido cinco vezes e duas das discussões eu era o assunto, eu me sentia mal, mas queria que minha mãe desse um lindo de um pé na bunda desse canalha, ele também estava desconfiado com tudo e todos, ele quase proibiu minha mãe de trabalhar por ciúme. Eu fiquei furiosa, cumprindo meu juramento eu não fiquei quieta, me meti da discussão sem precedentes algum e com vigor defendi a minha mãe.

    -Não sabe bater?- Pq perguntei com uma sobrancelha erguida, ele me olhou descrente.

    -Não sabe ser educada?- Olhei-o com nojo, quem tinha entrado sem bater era ele.   

  Levantei-me do banco da penteadeira onde eu estava sentada, peguei de uma caixinha de jóias o meu colar que eu tinha achado no porão, coloque-o sobre o pescoço respirei fundo sentindo o alívio que ele me trazia, era maravilhoso.

   Fernando que ainda estava na minha porta esbugalhou os olhos, ele andou até mim e quando ergueu a mão para tocar meu colar eu dei um tapa em sua mão, me surpreendi com minha atitude, mesmo ele sendo um canalha e eu querendo o matar eu não seria capaz de cometer tal ato.

    -O-onde conseguiu a pedr.. Cola?- Ele perguntou perplexo.- Não. Não importa! Me dê ele!- Neguei e dei um passo para trás.

    Ele iria dizer pedra. Será que..?

     Levei a mão até o colar apertando-o com força contra mim, será que era a pedra que eu estava pensando?

      Soltei uma lufada nervosa de ar. Um vento frio soprou da janela, um vento forte, apertei com mais força a pedra por entre minhas mãos, a janela sacolejou e a perícia a tremeu batendo com força contra o vidro, a luz falhou por momentos e eu tive certeza absoluta que não tinha nada haver com falha na energia.

       -Me dê!- Ele aumentou o tom de voz e novamente neguei.- Me da essa porra de pedra, Clara.

       -Não!- Gritei tocando de leve seu abdômen, foi o suficiente para eu sentir uma carga de poder se manifestar entre meus dedos, não foi forte o suficiente para jogá-lo contra a parede, mas forte o suficiente para fazê-lo cair no chão.

      Enquanto ele se recuperava do tombo eu agarrei meu celular com velocidade e sai correndo pela porta do meu quarto, não demorou para que eu alcançasse a rua é neste momento eu corri para o mais longe possível de casa, corri em direção ao Sereia, não por que eu teria de trabalhar naquele momento, mas porque lá tinha um alguém com quem eu pudesse contar.

       -O que?!Como assim? Me explica direitinho.- Rebecca se sentou em uma mesa vazia que tínhamos acabo de limpar e eu a seguir sentando em sua frente.

      -Pelo que parece meu… pai.- Grunhi a palavra.- Uma “amiga” dele e um sirene que eu conheço estão atrás dessa pedra.- Tirei do meu decote não muito grande meu colar antes escondido, eu o tinha escondido por medo de alguém me aborda na rua.

      -Ow! Eu… Temos que falar com minha tia e minha mãe!- Ela exclamou e eu a olhei.

      - Agora?- Perguntei acolhendo o colar em minha mão novamente.

      -Não. Ela saiu em reunião, mas depois que ela voltar talvez.

      Assenti.

      Ela estava prestes a se levantar e voltar ao trabalho quando eu lhe segurei o pulso, ela voltou a se sentar e se inclinou na mesa quando eu fiz o mesmo.

     -O que foi?- Ela me perguntou baixinho e eu me aproximei mais de seu ouvido.

    -Eu vou contar para a Tereza sobre...eu ser... Você sabe.- Ela assentiu.- Mas não é só isso, eu queria que você estivesse lá porque… Porque tem algo mais que eu quero falar e tem haver com o fato de eu ser…

     Ela assentiu e respirou fundo.

     -Desculpa, mas… Não sei se me sinto pronta para contar para alguém, da última vez…

     Ela pareceu divagar para o passado em poucos segundo, seus olhos fitaram o porta guardanapo como se ele fosse uma porta para o passado. Assenti mesmo pedindo a Deus que ela me acompanhasse nisso, eu entendia, eu tinha esperado mais de um mês para contar e ainda seria sobre pressão.

     -Tudo bem.- Disse firme sorrindo para ela lhe transparecendo uma falsa calma.

     Levantei-me torcendo a barra da blusa em puro nervosismo, fui até a sala dos funcionários e na meu armário peguei meu celular.  

    —O que foi?- Ela praticamente grunhiu no telefone, nem alô ela falou.

    Deixei minha parte sentimental de lado.

    -Lembra ontem quando eu te disse que tinha algo pra te contar?- Eu disse rapidamente ganhando sua atenção finalmente.

     —Sim. Eu lembr- Aí Adrian para eu tô no telefone!.— Ela disse repreendendo o namorado, agora eu entendia o porquê de sua braveza toda, ela tava dando uns pegas no boy.- Sim, eu lembro.

     -Eu…- Respirei fundo.- Não posso te dizer no telefone, então me encontre no cais em frente a sua casa. A meia noite.

     — Mas porque tão tarde?— Perguntou ela e pude ouvir Adrian perguntar quem era, ela respondeu e eu puxei quase todo o ar do planeta para meus pulmões. Eu estava muito nervosa.

    -Só… só vá por favor e vá sozinha.

    —P-porque?- Ela parecia assustada.

    -Só por favor, confia em mim.

    Pude ouvir ela suspirar do outro lado da linha.

   -O que eu não faço por você?- Sorri com sua resposta.

    -Obrigada. Obrigada. Obrigada. Te amo tchau.

    Desliguei o celular na cara dela como ela tinha feito comigo de manhã, eu me sentia mais leve e livre e assim voltei ao meu trabalho mais calma.

    

   Loise tinha chegado da reunião, mas nem dera ouvidos a sobrinha quando ela a chamou, aposto que ela achava que pediremos os para sair ou algo do tipo, Rebecca parecia bem frustrada com a tia e prometeu que falaria com sua mãe no momento em que chegasse em casa. Eu apenas assenti e voltei aos meus afazeres, limpar, servir e raramente preparar sucos, Rebecca tinha feito mágicas e me livrado de lavar coisas ou mexer com coisas que envolviam me molhar. Eu era eternamente grata. Mas sua tia parecia me odiar, sempre me olhava como se eu fosse a mais fresca das empregadas, mesmo ela sendo uma sereia eu acho que nunca passou na cabeça dela que eu também era, isso era bom, mas também era ruim.

  -Eu tô indo amiga. Até amanhã.- Me despedi de Rebecca saindo da salinha de funcionários.

  -Amiga espera.- Ela me chamou e eu parei antes de abrir a porta, olhei-a por cima do ombro.- Que horas você vai falar com a Tereza?

   Virei-me completamente e me encostei na porta.

   -Meia noite porque?

   Rebecca fez um bico lateral enquanto mordia a parte interna da boca, ela parecia relutante.

    -Talvez eu apareça lá.- Ela disse ainda mordendo a parte de dentro da boca.

   -Okay obrigado.- Eu disse sorrindo verdadeiramente. - A gente vai se encontrar no cais perto daquela caverna onde tem peixes rosa neon sabe?- Eu disse indicando um ponto submerso, eu não podia dizer: “ Perto da casa da Tereza” porque eu não sabia se ela sabia onde era a casa da Tereza.

  Ela pareceu pensar um pouco em onde eu me referia e finalmente sacou onde era.

 -Tudo bem. Meia noite né?

 Assenti e sai pela sala, eu sabia que estávamos nervosas, não tinha porque temer era a Tereza a minha Terê, ela nunca faria nada contra mim, eu tinha toda certeza do mundo, mas o medo ainda estava presente e se ela em rejeitasse, me visse como aberração, só de pensar no fato dela me abandonar, meu coração se partia em mil e voltava, depois se partia de novo repetidas vezes.

   

 Nervos, eu era isso andando de um lado para o outro em casa, eu tinha marcado meia noite porque eu sabia que nesse momento que meus pais estavam dormindo, o problema foi que eles decidiram que nessa noite eles teriam um “ momento entre eles”, se é que vocês me entendem, e quando eles acabaram era onze e onze, apenas meu irmão estaria em um sono profundo quando eu saísse.

   Eu vestia um moletom bem largo que eu usava em dias frios, naquela noite estava particularmente frio, ou que estava tendo um surto mental e minhas temperaturas corporais estavam desconexas, eu não sabia eu estava nervosa. Respirei bem fundo, nesse momento eu estava no porão, tinha chegado lá inconscientemente e me preparava para descer as escadas, onze e quarenta essa era a hora. Eu tinha que praticamente voar  e sem ser percebida, quando eu cheguei no corredor dos quartos, quase soltei um grito.

   -O que você tá fazendo acordado seu pirralho?- Perguntei pondo a mão no coração tentando acalmar minha batidas.

  -Eu ouvi você. Onde você vai?- Perguntou ele coçando os olhinhos de sono, droga eu tinha acordado ele.

  -Eu vou falar com golfinhos, vem volta pra cama.- Eu disse puxando-o em direção ao seu quarto, mas ele brecou o pé no chão.

  -Mentira! Você vai encontrar seu namorado!- Foi minha vez de brecar o pé no chão, como assim meu Deus?

  -Que? Eu não tenho namorado.- Eu disse pegando-o no colo, ele estava bem mais leve que o normal, estranho.

  -Mas e aquele garoto?- Ele perguntou e eu ergui uma sobrancelha, que garoto?- Mamãe disse que você dormiu na casa dele e que vocês estavam namorando.

   Engasguei com a saliva, eu não acredito nisso, Dona Lúcia vai se ver comigo amanhã.

   -Lucas meu amor olha.- Eu disse calmamente sentando na cama dele com ele em meu colo.- Ele é meu amigo apenas.

  -Mas ele é um garoto! Papai disse que garotos são maus e que eles iam te fazer mal e que era pra eu deixar eles longe de você.- Ele cruzou os braços com a testa franzida de raiva.

  - Ele não é um garoto mau, nem todos garotos são maus.- Eu disse comparando Viljami e Marcos mentalmente, era extravagante a diferença.- Você também não é um garoto mau.- Apertei seu nariz e ele riu desfazendo da sua carranca.- Eu prometo que quando um garoto mau tentar me machucar eu vou chamar meu cavaleiro.

   -Quem?

   -Você!- Deitei-o na cama fazendo cosquinha em sua barriga, ele gargalhou alto.- Shh!

   Levantei-me e fui até a porta.

   -Boa noite Clara.

   -Boa noite Lucas.

   Eu estava prestes a sair e fechar a porta quando ouvi meu nome ser chamado, olhei para Lucas.

   -Eu te amo.- Eu sorri bobamente para meu irmão adotivo.

  -Eu também te amo pirralho.


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