Underwater escrita por JuremaDoMar


Capítulo 11
A Caixinha de Jóias




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/739068/chapter/11

  Nadamos até a abertura entre as pedras que dava entrada para a “Lagoa Azul”, ainda prefiro piscina natural, eu e Rebecca fomos até a superfície juntas, Rebecca puxou o ar depois o soltou como se aquele ar fosse diferente de todos os outros e de certa forma era, tinha algo pairando no ar daquele lugar.

    -Consegue sentir?- Ela perguntou me olhando. - A magia está em todo canto por aqui.

     -Eu senti algo diferente no ar.

     -Algo envolvente né? Esse lugar é minha maior paixão, eu o protejo com a minha vida.- Ela sorriu balançando a cauda para cima e para baixo.- As vezes se você prestar atenção.- Ela se aproximou como se me contasse um segredo.- A água canta.

     -Canta?

     -Canta!- Ela exclamou.- É bem baixinho mas é audível, fica mais forte na lua cheia, é tão bom!

      -Eu acho que escuto todo momento.- Eu disse me lembrando da melodia até pouco ignorada por mim. - No dia em que me tornei sereia eu passei a escutar.

      -Essa canção é um privilégio das sereias. Raramente humanos escutam, geralmente quando estão prestes a morrer afogados ela os conforta com sua doce voz.- Ela contou sonhadora.- Ela é nosso lar e é capaz de nos dar alimentos, trás nossa saúde e proteção.- Ela virou para mim e se inclinou novamente.- Sabia que a água é capaz de curar qualquer ser vivo se usado da forma correta?- Ela perguntou entusiasmada, neguei, sim eu sabia que água era sinônimo de vida, mas ela curar, nunca pensei. - A água traz morte mas também traz  vida, em especifico que cura é a água do mar. Nós seres marinhos temos mais facilidade em nos curarmos usando o mar, já os outros seres necessitam de nossa influência para serem curados. Tem alguns entre nós que tem mais facilidade em curar aos outros.

   -Uau.- Eu murmurei. Eu estava impressionada, e com fome, mas ainda sim impressionada. -Nunca pensei que o mar fosse tão cheio de segredos, digo imaginei que o mar tinha segredos mas… Não esses. Curar alguém parece ser surreal.

   Ela sorriu e assentiu.

   -Sabe, minha vó disse que as piores e mais difíceis criaturas de se curar são os sirenas. Eles são ásperos e odeiam sereias, assim como as sereias os odeiam.

   Sirenas? Esse nome não me é estranho. Coloquei a mão no queixo pensativa.

    -Você nunca viu sirenas?

     Neguei

    -Eles geralmente vivem no litoral ou em regiões montanhosas, aqui mesmo em Dovii tem o maior clã da América, tipo América todinha, Norte, Central, Sul.- Ela disse.- Você deve estar se perguntando, onde esses filhos da puta vivem né?- Assenti.- Lá.- Ela apontou para a abertura da caverna.- Lá no céu.

   Alternei o olhar entre ela e o céu azul sem nem uma nuvem.

   -Geralmente eu eles vivem em ilhas não habitadas por sereias, mas nesse caso, por eles serem o maior clã eles vivem em uma metrópole lá no alto, um pouco a cima de onde os aviões passam. Eu digo metrópole porque os outros clãs da América são suas colônias. Ela é a mais poderosa manda em tudo.

   -Uau!- Exclamei e minha barriga roncou. Rebecca riu denovo e eu implorei mentalmente para que ela recebesse o recado.

   -Sabe acho que podemos dar uma olhada lá fora para que possamos caçar. - Ela mergulha novamente, suspirei agradecendo por ela parar de falar e me ajudar a procurar o que comer. - Cê não vai vir não?- Ela perguntou voltando a superfície.

   -Já vou!- Mergulhei junto dela.

    Os peixes corriam a minha volta quando tentava pegá-los, era bem notável o quão lenta eu estava comparada a eles, Rebecca já tinha pegado cinco e colocado em uma rede improvisada. Olhei de relance um peixe grande e dourado, aquela era minha caça. Só minha, eu estava chegando ao ponto de ficar selvagem, eu não iria perder aquele peixe, não mesmo. Nadei até ele em uma agilidade surpreendente, um grunhido escapou dos meus lábios, estava quase lá, abri os braços e estava prestes a agarrá-lo, fechei os braços e…

 NÂO!

 Ele tinha sumido! Será que e estava delirando de fome? Olhei para Rebecca. Ela prontamente apontou para meu lado esquerdo, virei a cabeça tão rápido que parecia que eu estava em terra. Minha face se tornou puro ódio quando avistei um golfinho engolindo o MEU peixe. Como uma fera raivosa abri a boca, juntei os dentes e rosnei para o maldito, ele simplesmente fez um barulho e nadou para longe. No meio do caminho ele ainda riu de mim, estou ficando alterada de fome aqui e de raiva também.

  Rebecca se aproximou de mim e sacudiu a sacola avisando que tínhamos comida o suficiente, neguei e apontei para o golfinho sinalizando que eu queria AQUELE peixe, ela revirou os olhos e lentamente sibilou, “bir-ren-ta”, cruzei os braços e fiz bico, joguei a cabeça para o lado e nadei até a superfície.

   -Temos o suficiente.- Rebecca disse se juntado a mim na superfície.- Para de birra.

    Bufei inconformada, ela falava isso porque não era o peixe dela.

   -Vamos assar.- Ela disse fazendo um gesto para que eu a seguisse.

   - Assar onde?- Perguntei.

   Ela levantou a mão que não  segurava a sacola e mexeu os dedos.

   -Mas eu não quero assado, eu só quero comer. Eu to com fome.

   Rebecca bufou e da sacola tirou um peixe mediano, ela estendeu-o para mim, porém aquele maldito apareceu e roubou minha refeição.

    -Qualé!- Berrei brava para o golfinho que mergulhou com meu peixe.- Seu mamífero marinho infeliz! Vai roubar alguém da sua espécie! Merda!- Bati os punhos na água com força. Rebecca se aproximou de mim rindo, lancei um olhar assassino para a mesma, que pareceu um nem perceber.

   O golfinho voltou a superfície sem meu peixe e eu choraminguei, ele fez um barulho e começou a bater a cabeça na água diversas vezes.

    -Tu boto veneno no peixe? O bicho ta doidão ó lá!- Falei com a Rebecca.

    -Ela disse pra você o seguir. Ela quer te dar uma coisa.- Rebecca disse.

    -Como é que tu sabe?

    -Eu falo golfinhês e também ela ta tentando chamar sua atenção.

   -Roubando meu peixe?

   -Para de ser chata e vem logo.- Ela agarrou meu braço pela quadragésima vez, e me puxou para onde o golfinho nadava.  Fiquei surpresa ao ver o golfinho nadar até uma caverna iluminada, por sabe se lá o que, a entrada estava tapada por uma cortina de algas e o chão estava coberto com uma mistura de algas e retalhos de roupa, que me recuso saber de onde vieram.

  Olhei para Rebecca que olhava aquilo aparentemente emocionada, ela me olhou e me viu com minha cara de “ué”. A loira revirou os olhos e juntou as duas mãos, levou-as para a lateral do rosto e tombou levemente a cabeça para o lado, então entendi, era uma cama… Pra mim? Arqueei as sobrancelhas e olhei para o golfinho, o mesmo nadou a minha volta começou a me empurrar até lá, sentei sobre a “cama” e para minha surpresa era incrivelmente macia, eu dormiria todas as noites da minha vida ali se possível. A golfinho nadou até mim com um peixe na boca, colocou sobre meu colo, peguei-o pronta para abocanhá-lo. Porém Rebecca me puxou para cima, hoje era dia! Todo mundo tava pra estragar minha refeição. Chegamos na superfície onde Rebecca largou meu braço.

   -Mas que saco!-Exclamei brava.- O que foi agora?

    -Se você comesse lá em baixo, você ia engasgar, você ainda não sabe as técnicas para comer lá sem levar meio litro de água do oceano junto. Apesar de você já respirar incrivelmente bem lá embaixo.- Ela comentou pensativa.

    -Posso comer agora?- Perguntei e ela assentiu.- Graças a Deus, Honey e Craudeti.

   

    Finalmente eu tinha enfiado algo no estômago, eu estava satisfeita e com Lala, a golfinha, acolhida junto a mim na minha mais nova “cama”, Rebecca tinha partido há duas horas, mas antes de ir me avisou “Lala está grávida, cuide dela até amanhã”. Foi o que fiz desde então.  

     Eu não queria ter de voltar, mas Rebecca me obrigou, ela disse: “ Se você não voltar amanhã, eu vou te arrastar pelos cabelos.” Seu tom de voz era tão assustador que nem tive coragem de contrariar, um arrepio percorreu meu corpo só de lembrar de sua expressão facial. Ela era assustadora quando queria.

     Eu tinha passado a tarde inteira junto de Lala, e a tarde toda a guarda costeira não saiu da ilha, quando os raios de sol pintaram o azul do mar de vermelho e laranja o barco da guarda costeira recolheu a âncora e o barco começou a se movimentar. Olhei para Lala sorridente e a mesma gargalhou nadando a minha volta, meu olhar bateu em algo, uma caixa.

  Nadei até a mesma com curiosidade, era uma caixinha lilás meio suja, ela tinha um cadeado velho e enferrujado, com um simples puxão ele estourou, sentei sobre a areia e pus a caixa sobre meu colo, afastei meu cabelo que teimava em passar a minha frente toda hora, eu não gostava muito do fato dele crescer quando eu me transformava, abri a caixinha e olhei com curiosidade o que havia dentro, jóias, jóias e mais jóias, uma mais linda que as outras, talvez poucas pessoas soubessem, mas eu amava jóias, eu sempre inventava histórias por trás das poucas jóias que eu tinha. Aquelas jóias pareciam valer muito, pareciam ser de ouro puro, um colar e um anel carregavam sobre si uma pedra vermelha. Abri a boca surpresa - um rubi! Um rubi de verdade!- enrolei o colar nas mãos e olhei-o atentamente.- Talvez eu pudesse vender!- Cogitei.— Não! São tão lindas! As quero pra mim! - abracei a caixinha contra o peito.-Talvez… Eu pudesse desfilar na escola com essas belezinhas. Emprestar para Tereza também não vai mal.- Sorri abertamente.- Eu me sinto tão mal em estar longe dela, eu sei que foi tipo dois dias, mas eu sei que ela não aguenta ficar longe de mim e eu dela.— Apoiei a mão no rosto-  Será que peguei pesado? Mamãe meio que é a vítima nisso tudo, ela está sendo traída e eu sei de tudo, o que ela disse machucou, mas ela nunca foi boa com as palavras, assim como eu. Ela vai se machucar tanto quando descobrir, ela o ama, mas eu preciso de só mais um dia. Um dia para pensar mais um pouco.

 

   Eu e Lala estavamos encolhidas na cama de algas, ela aparentava dormir e eu revirava a todo momento tentando achar alguma posição que me favorece, mas eu estava com saudade do conforto da minha cama.  Levantei-me acordando Lala, nadei até a superfície sendo seguida por ela.

  -Eu preciso voltar.- Ela me olhou triste, passei a mão pela cabeça dela.- Prometo que quanto antes estarei de volta. Eu prometi que cuidaria de você. - Abracei-a e ela se encolheu junto a mim. Nos separamos.- Vá dormir!- Ela mergulhou novamente e eu suspirei. Estava na hora.

    Nadei em uma velocidade absurda na direção em que eu julgava ser a do litoral, a água estava em um mesclar de frio e quente, as bolhinhas passavam pelos meus olhos e pelo meu corpo me dando uma sensação de leveza e acolhimento, a minha visão se focava no que estava na minha frente, parei bruscamente ao quase bater na madeira de um pier. - Eu realmente preciso aprender a controlar isso. pensei nadando para trás, olhei para cima vendo que não tinha nenhum movimento, lugar perfeito para destransformar.

   Tomei impulso e me sentei sobre o pier, respirei fundo reconhecendo o lugar onde eu estava, era o pier onde eu tinha descoberto quem era a mocreia com quem meu pai traia minha mãe,  respirei fundo olhando para baixo.

   -Em quesito descrição você tira zero, em boniteza.- Tomei um susto ao ouvir uma voz atrás de mim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Acabou heyo, Clara vai voltar pra casa. Dormir na cama e usufruir da Netflix. Aquele suspensezinho básico pra acabar o cap.
Comente please



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Underwater" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.