Hearts Of Sapphire escrita por Emmy Alden


Capítulo 34
¨t h i r t y - t h r e e¨


Notas iniciais do capítulo

Hey aqui vai mais um capítulo!



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A Trindade Ambiciosa — apelido desconhecido por quase todos e criado pelo Senhor Ônix — certamente não se encontravam apenas nas reuniões oficiais.

E mesmo os integrantes desse trio tinham encontros particulares uns com os outros e segredos que nenhum deles ousava revelar para ninguém além das suas próprias almas.

A parte Ambiciosa do apelido também não era um exagero. Na verdade, era quase um eufemismo.

Cada um ali agia movido a interesses e ambições próprias.

A Sede da Ordem Prata não era nada agradável para ninguém que não fosse Raina e sua pequena família, e ela não se importava muito com aquilo.

Ela não se importava com muita coisa que não fosse ela mesma ou poder.

A decoração era limpa e crua. As paredes eram altas e congelantes num tom misturado de gelo transparente e neve branca. Os enfeites eram flocos e estacas afiadas e retorcidas.

Como costumava dizer: o gelo por si só não precisa de adornos.

Um claro reflexo da própria personalidade de todos os Governantes que se sentaram no comando da Ordem Prata. Autossuficientes.

Ainda assim, como a vaidade não era algo escasso no Setor Superior, era possível enxergar alguns detalhes pratas aqui e ali.

Como o carrinho bem lustrado e reluzente, abarrotado com recipientes de vidro cheios de tônicos.

Esmeralda, Rubi e Prata tinham reunido seus melhores estudiosos para aquele "projeto".

A intenção daqueles tônicos nada tinha a ver com ameaça do Continente Sombrio — que apesar de ser verdadeira, era insignificante.

O problema real era a Profecia.

Era a maldita criaturazinha que crescera no ventre de uma infeliz e poderia condenar finalmente os deorum por tudo o que haviam feito de vil nos últimos milênios.

Aquela criança deveria estar morta.

Assim como as outras que poderiam vir se tornar um estorvo.

Deveria ter sido morta e enterrada como qualquer registro daquela maldita profecia alarmada por aquela Cigã suja.

Que agora também estava enterrada a sete palmos.

Os deorum tinham feito tudo o que deveriam fazer para aplacar a possibilidade daquele futuro desastroso, mas, pelo visto, a peça principal daquele tragédia ainda estava no jogo.

Ameaçando cada segundo que eles respiravam.

Sem tinham as informações certas, era uma garota que não tinha nem duas décadas de vida ainda, mas que conseguira aplacar os séculos, os milênios, de experiência e astúcia dos deorum e permanecera viva.

Raina olhava para o seu próprio reflexo na longa mesa com desprezo.

Certa vez, exterminara toda uma espécie infeliz de Excelsior e agora não conseguia achar uma garota tola e humana.

— Não houve nenhuma reação grosseira dos Escolhidos às primeiras versões do tônico. —a voz rouca de Auremio ecoou pelo salão enquanto ele pegava um dos recipiente e analisava. Sua declaração soou como se ele estivesse no controle dos Escolhidos de Rexta, alguns dos únicos que estavam experimentando as primeiras doses criadas. —Bem, exceto no caso da menina de Fortuna que foi um pouco suspeito.

— Se ela fosse quem procuramos, já deveria estar morta. — Raina torceu o lábio.

— Não sabemos se ela está tendo acesso as pequenas porções do tônico. — A Senhora Rubi ressaltou um pouco defensiva demais, o que não passou despercebido pela Senhora Prata. —Talvez seja apenas o estresse do confinamento. Não é comum um Escolhido escolher ficar tanto tempo no Galpão. Quanto mais sobreviver a ele.

— Os empregados do Galpão foram informados para colocar o tônico na água. — Auremio explicou. — Ela não estaria nem de pé, se não estivesse bebendo água.

—Poderia ser um efeito colateral. —Rexta interveio novamente e a Senhora Prata começou a realmente se interessar pelo chilique da garota na Arena. — O tônico não serve apenas para matar o nosso problema se ele estiver aqui entre nós, mas também para intensificar a predisposição à magia. Esquecemos que ainda temos rumores de ameaças do outro lado do oceano?

—Não, — a Governante Prata disse com uma calma letal. — Não esquecemos.

—Pois bem. Tenho um garoto que talvez seja o nosso primeiro soldado e ele concordou em ser testado.

O barulho do copo de uísque de Auremio sendo enchido gotejou no cômodo.

—A que preço? — Raina questionou.

Rexta apenas levantou uma sobrancelha sugestiva.

Auremio gargalhou batendo palmas.

—Muito bom! Cada um usa as armas que tem, não é? — o homem fez um gesto de seios fartos.

Raina revirou os olhos enojada. Se a juventude ainda cortasse seus traços, ela pareceria uma jovem insolente naquele momento.

Não tinha nada que abominava mais do que um deorum se rebaixar à cama de um humano, mas não julgaria sua aliada por isso.

Principalmente quando naquele momento ela tinha quase certeza que aquela não fora a única arma usada pela Governante Rubi.

Era bom deixar Auremio — com sua mente do tamanho de uma noz — continuar acreditando que as mulheres apenas eram capazes de trepar e piscar os olhos para conseguir o que queriam.

O antigo Senhor Esmeralda definitivamente não era o tipo de pessoa para quem se mostrava todas as suas armas de uma vez.

—Posso já usar essa versão nos meus meninos? — Rexta gesticulou para o carrinho com meia dúzia de frascos.

Como era a mais antiga dos três, cabia a Raina a tomada de decisões:

—Desde que sejamos os primeiros a sabermos dos resultados... Fique à vontade.

—Sabia que os outros Simpatizantes estão fazendo suas próprias pesquisas e seus próprios tônicos para dar aos Escolhidos? — Auremio comentou com um estrondo de voz. — Parece que todos querem ser um dos primeiros a ter um bichinho de estimação modificado e preso a eles pelo Juramento.

— Isso não é nada bom. — Rexta passou um dedo banhado em chamas pela borda da mesa congelada.

Raina não viu aquilo como o insulto velado que era.

— Que seja. — Auremio deu de ombros. — Que os inúteis sejam exterminados de uma vez. Esse Sacrifício fora de época está me deixando mais irritado do que eu previra para falar a verdade. Os deorum da Ordem Esmeralda não estão nada contentes com meu filho por terem de passar a temporada de descanso trabalhando.

—Por falar em seu filho, ele ainda não nos deu nada de útil. Nenhum interesse real no Sacrifício além de propor uma aliança com uma menina medíocre. Uma tentativa de aliança bem imprópria de acontecer considerando que Theodor também está no páreo.

A postura do pai de Athlin assumiu um formato mais sóbrio e sua voz era ríspida:

—Temos planos. — Foi o que se limitou a dizer.

Ainda não sabia se o filho estava tendo a audácia de arquitetar planos próprios, mas preferia acreditar que o menino estava apenas deslumbrado com o poder recente que tirara de suas mãos.

Deixaria que criasse asas. Auremio sempre foi muito bom em cortá-las.

—Espero que nos inclua neles. — Raina disse finalmente se levantando sem uma dispensa formal para os outros, e se retirando para seus aposentos.

O silêncio e a sensação de imobilidade perduraram mesmo minutos depois da última respiração do deorum escapar de seu corpo.

Callandrea mal conseguia acreditar que horas mais cedo estava ouvindo o gotejar da chuva e agora estava ouvindo o gotejar de sangue alheio.

A morte a cercando por todos os lados.

Ainda assim, ela foi a primeira se movimentar e tirar as outras mulheres no recinto do estado de choque.

—Precisamos dar um fim ao corpo.

—Precisamos sair daqui. — Callandrea e a vítima falaram ao mesmo tempo e se encararam.

A menina, que há minutos tinha o destino final definido na ponta de uma faca, tremia.

Callandrea entendia. Tinha de entender.

Entretanto, não poderiam sair e deixar o corpo ali.

Dezenas de aldeões passavam por aqueles depósitos diariamente.

Qualquer um poderia entrar ali a qualquer momento.

Poderia ser alguém ativo o suficiente para dar fim ao corpo por vontade própria, mas também poderia ser apenas mais um covarde ou morto de fome — a linha de separação entre os dois era tênue e cada vez mais extensa — rezando por uma oportunidade de alguma barganha minimamente favorável com os deorum.

Ou poderia simplesmente ser um deorum a entrar ali.

Nenhuma das três poderia saber se o homem morto teria marcado uma hora ou um local para se encontrar com um dos seus.

Cada segundo que se passava e elas permaneciam paradas poderia ser um segundo mais próximo da morte. Da morte que elas tanto lutaram contra minutos atrás.

A menina, mesmo que a contragosto, pareceu entender a situação e não fez mais nenhuma objeção quando Callandrea levantou, deixando que o corpo do deorum, que estava apoiado contra o seu, tombasse no chão com um estampido, e então se direcionou a Ailani que ainda segurava as pernas do homem com se estivesse sonhando, ou melhor, tendo pesadelos acordada.

A cunhada segurou seus ombros:

— Acabou, Aila. — Callandrea sussurrou passando os braços em volta da garota e a ergueu consigo. — Precisamos dar um jeito no traste e então vamos para casa, está bem? Continuar com nossas vidas medíocres, certo?

Callandrea tentou fazer Ailani sorrir, mas recebeu apenas um tremor de lábios hesitante que mais lembrava um choro do que um sorriso.

 

Tiveram sorte que aquele era o depósito mais enfiado entre as árvores. Arrastar o corpo para dentro da floresta foi mais complicado devido ao peso do morto infeliz do que pela discrição do ato.

Todas as três ajudavam, mas não se falaram até o momento que estavam longe o suficiente para que alguém ouvisse suas vozes.

— Muito obrigada, de verdade. — A menina, Noria, foi a primeira a dizer algo.

— Não nos agradeça. Você não está segura. — Callandrea disse secamente absorvendo o significado de suas próprias palavras.

Ela seguia na frente do grupo. Puxava a parte da frente da charrete em decomposição que acharam nos arredores do depósito. Ailani e Noria auxiliavam na parte traseira.

Nem quando fora ela que matara um deles, os deorum a deixavam se sentir superior. Sentia-se como uma mula levando aquele fardo de carne e osso a algum lugar remoto para se livrar.

Mesmo olhando adiante conseguia sentir a respiração de Noria falhar e seus olhos se arregalarem.

— Você sabe por que ele queria me matar?

— Você não? — Callandrea soou um tanto rude.

Antes se perguntara como a garota poderia ter sido tão imprudente a ponto de aceitar um encontro num lugar deserto quando uma onda de assassinatos estava acontecendo por todos os Vilarejos Humanos. Agora se perguntava como a menina poderia ser tão alienada de nem sequer saber sobre esses assassinatos. Principalmente quando ela era o tipo mais comum de vítima.

Foi Ailani que respondeu com um pouco mais de gentileza:

— Estão matando majoritariamente garotas parecidas com você. Vamos dar um fim no corpo, mas logo perceberão o sumiço dele e entenderão como um sinal de que você está viva. Logo, podem voltar a te procurar. — Colocando uma mão no ombro da menina que agora voltava a um estado quase paralisado, Ailani continuou: — Seja cuidadosa.

Então elas voltaram ao silêncio culpado e preocupado.

 

Aquele rio era o único que ainda não havia congelado totalmente e que seguia para bem longe de Fortuna de uma maneira rápida.

Quanto mais longe aquilo ficasse de casa, melhor.

Callandrea tinha de admitir que estava ligeiramente decepcionada.

Não sabia o que realmente esperava de uma morte de um deorum, mas certamente não esperava algo tão comum, tão simples.

Tão humano.

Por um instante, pensou que deveria queimar o desgraçado até virar cinzas. Só para garantir.

Porém, além de precisar de recursos para aquilo, era muito arriscado e levava muito tempo.

Coisa que as três, principalmente Ailani e Callandrea, não poderiam se dar ao luxo.

A senhora Steros não era muito sutil e se acionasse as "autoridades" do vilarejo que por sua vez acionariam as verdadeiras autoridades, só colocaria mais deorum atrás das duas.

Foi com esse pensamento que Callandrea não se demorou ao arrancar o peso morto da charrete e jogá-lo no chão, vasculhou os bolsos e tirou tudo o que tinha valor (moedas de ouro de verdade, prata incontestável, papéis — que, no momento, não faziam sentido, mas ela analisaria depois. —, uma agenda e facas de vários tipos) escondendo tudo nas dobras do vestido e nos bolsos disponíveis.

Arrastou o corpo pelos poucos metros que faltavam até a margem do rio. Com um olhar de pura repulsa e desprezo, ela chutou o cadáver para que rolasse para a correnteza.

O som do impacto de um morto na água não era muito diferente de quando alguém mergulhava voluntariamente.

—Por que eles resolveram nos matar só agora? — Ouviu Noria perguntar por cima do vento. A voz trêmula, já deixando a preocupação com a própria vida transparecer.

—Se descobrir, por favor, nos avise.

A cunhada lançou um olhar de repreensão para Callandrea. Não costumava ser assim.

Amarga. Seca.

Mas, pelo visto, tirar a vida daquele deorum, vê-lo realmente planejando matá-las, o ódio, a repulsa em seus olhos; alguma daquelas coisas romperam a bolha que Callandrea vivia. Era como se naquele momento, tivessem pegado um pano embebido em realidade e esfregassem em seu rosto.

Os humanos não eram mais que animais criados e doutrinados para entretenimento e servidão aos deorum. Criaturas que poderiam ser mortas no momento em que seus mestres desejassem exterminá-las. Criaturas sem controle do seu próprio destino.

Uma liberdade que nunca fora liberdade.

O corpo do deorum seguia lentamente afundando e afundando para depois emergir, se os Céus quisessem, em algum lugar bem longe dali.

Callandrea podia ver pelo canto do olho Ailani dando um aperto consolador nos ombros de Noria.

Nunca foi de esperar aprovação dos outros, mas sempre fora esperar o consolo alheio. Era a filha mais nova, a moça da família.

Naquele momento, ela sentia que deveria o pilar de estabilidade.

Perguntou-se se era assim que Corinna se sentia perto dela. Perto de tudo.

Perguntou-se como a amiga aguentava.

Acima de tudo, perguntou-se como Corinna reagiria se ela tivesse a oportunidade de contar-lhe o que acontecera no depósito.

Ficaria enojada? Ficaria com medo de Callandrea?

Não importava. Sua amiga não estava mais ali, mas Callandrea tinha certeza de que se estivesse, ela daria um beijo na sua testa e a asseguraria que ela fez o que tinha de ser feito.

Fazer o que tinha de ser feito. Esse era o ponto, não era?

Não tinha mais volta. Estava envolvida naquilo.

Iria descobrir o que estava acontecendo.

Corinna a apoiaria onde quer que estivesse.

Dessa vez, não tinha mais nenhuma bolha para ela voltar a entrar.

Nunca pensou que sentiria dor nas bochechas por sorrir demais.

Mas ela sorria naquele momento. De verdade.

Enquanto Athlin girava com ela pelo salão, ela sorria.

Nunca fora de dançar; — com exceção das vezes que seu pai a pegava pelos braços e deslizava pelo pequeno casebre — nas festividades do vilarejo, Kallien sempre tentava puxá-la, mas ela sempre recusava veementemente.

Parando para analisar, talvez o problema nunca tenha sido a dança — ela realmente gostava de estar naquele movimento ritmado — mas sim a plateia.

Plateia realmente era uma coisa que ela odiava. Apesar de Athlin estar fazendo aquele exato papel — o de uma plateia particular —, era diferente. O jeito que ele a observava enquanto se moviam junto com a melodia suave. Gostava de ser observada daquele jeito.

Não como se fosse um experimento a ser analisado, mas como se fosse importante.

Era tolice achar que um deorum a achava importante, mas não conseguia deixar de apreciar o momento.

O encanto foi quebrado de forma brusca quando o barulho de alguém do lado de fora do Salão foi ouvido.

Corinna foi a primeira a se afastar, ainda sem conseguir tirar os olhos das bochechas de Athlin, coradas pela dança, mas pelo menos conseguira se afastar.

Para os deorum poderia ser comum encontros particulares com humanos, contudo ela não queria ser vista como mais uma humana burra que se deixara cair nos encantos deles.

Por uma fração de segundo, analisou seu próprio coração, batendo forte e firme contra o peito, de uma maneira nova e inesperada.

Ela não poderia ter sido idiota ao ponto de se deixar ser encantada pelo Governante Esmeralda tão facilmente, poderia?

O olhar que flagara no rosto do deorum diversas vezes naquele encontro enquanto ele olhava para ela não poderia ter sido ensaiado, poderia?

O retumbar do seu coração não deixava que ela pensasse direito.

Não demorou muito para que os passos do lado de fora fossem revelados como uma mulher que aparentava estar na casa dos trinta e poucos anos empurrando um carrinho para recolher as louças sujas.

Corinna e Athlin estavam a uns bons e respeitáveis metros de distância um do outro, o rapaz tinha uma expressão surpresa no rosto enquanto encarava a Escolhida.

A jovem não duvidava que todos os seus sentimentos e questionamentos estavam expostos explicitamente em seu rosto, a feição de Athlin revelava que ele captara tudo, apesar de não compreender

— Maye. — O Senhor Esmeralda cumprimentou a mulher recém-chegada que já se desculpava pela intromissão.

As costas de Corinna estavam eretas e tensas.

Ainda poderia sentir os dedos de Athlin nos seus e a temperatura da mão dele sobre sua coluna.

Chacoalhar a cabeça para se livrar de uma sensação ruim pareceria muito rude depois de tudo que o deorum fizera por ela naquele fim de tarde, mas era o que Corinna queria desesperadamente fazer. Chacoalhar a cabeça ou beliscar a própria pele.

Ainda poderia sentir o questionamento de Athlin em sua direção e, após a mulher, Maye, lançar um olhar regulador em sua direção as palavras saíram de sua boca como se estivessem grudadas uma na outra:

— Muito obrigada pela refeição, Senhor. Creio que tenho de voltar para o Galpão agora. Nos vemos em breve. — Os olhos de Corinna estavam fixos no desenho intrincado na porta de madeira. Não ousaria, não arriscaria olhar novamente nos olhos do deorum.

Mal poderia acreditar que tinha se deixado levar tão ingênua e rapidamente pelo encantamento do Governante.

Deveria ter dado mais ouvidos às histórias que contavam na infância.

Poderia erguer barreira para deorum inferiores, mas que chance teria contra um Governante?

Andou com passos largos e decididos até a saída. Seus dedos tocavam uma das faixas de um tecido suave que envolviam os pulsos do vestido.

Foi fraca o suficiente para olhar para trás e encontrar as duas esmeraldas vivas no rosto de Athlin focadas nela com um misto de confusão e... mágoa?

Corinna não se permitiu nem ao menos fechar a porta ao sair. Aceitaria a companhia do primeiro guarda que aparecesse a fim de ser guiada até o Galpão.

Era melhor assim.

O Sacrifício se desenrolava rapidamente.

A última semana tinha sido preenchida de confrontos, e os Escolhidos passavam mais tempo na Arena e nos salões de treinamento espalhados pelo Setor Superior do que em quaisquer outros lugares.

A energia era praticamente algo palpável cada vez que os Escolhido se reuniam na Arena.

A primeira etapa do Sacrifício estava chegando ao fim.

Os últimos confrontos seriam o de Conall, Mattia e Corinna. Os deorum gostavam de apostar que, geralmente, quem ganhava a primeira "luta" certamente já estava na próxima etapa.

Mas naquele instante, ninguém tinha certeza alguma.

Claro, Conall era o único em qual alguns deorum se dignavam a apostar. Com a parceira com Theodor, o Governante mais poderoso de Excelsior, e com o talento natural do menino, era difícil pensar diferente.

Agora, Mattia e Corinna eram incógnitas.

A primeira quase entregara a vitória de bandeja nas mãos do oponente. Sensível demais.

A outra se recusava a se juntar a um Simpatizante e era a clara personificação da inconstância. Incerta demais.

O Sacrifício não era um lugar para ter incertezas e sensibilidades. Era um lugar onde você colocava os olhos no prêmio e passaria por qualquer coisa — por cima de qualquer pessoa — para chegar lá.

Apenas três chegariam. Vinte dois vieram, no final da primeira etapa restariam apenas onze.

Não havia jogo limpo ou sujo quando sua vida estava em risco.

Vincit qui se vincit.

 

— Sabe, você deveria me oferecer algumas palavras de encorajamento ou sei lá.

Theodor enfiou as mãos nos bolsos e lançou um olhar enviesado para Conall enquanto os dois se preparavam para entrar na Arena.

— Tive a leve impressão, certa vez, de que você gosta de zombar dos meus discursos.

O Escolhido segurou o riso.

Dessa vez, uma camiseta presa fina cobria seu tronco.

— Qual é! Não estou pedindo para você recitar uma ode para mim. Só um "a vitória já é sua" já está de bom tamanho.

O Governante Ônix arqueou as sobrancelhas.

— A vitória já é sua por acaso?

Conall rolou os olhos.

— Você é péssimo.

— Agradeço o elogio, agora é só não morrer quando estiver lá.

O garoto balançou a cabeça ao mesmo tempo que Thad surgiu das sombras dando um tapa forte demais para um garoto de apenas doze anos. (Na verdade, o menino era tudo demais para um garoto de doze anos. Ora, da primeira vez que o vira, Conall dera quatorze anos a ele!)

— Acaba com ele, campeão! — E então sumiu novamente na escuridão do corredor que levava à Arena.

O Escolhido de Nix apenas olhou para o seu Simpatizante — que olhava embasbacado para o lugar onde Thaddeus estivera há poucos segundos — com um olhar de quem dizia "É assim que se faz. "

 

Aquele desafio estava sendo ainda mais fácil do que os treinos do Senhor Ônix.

Buford, devido ao seu peso e tamanho, já era naturalmente mais lento do que Conall, mas parecia que, naquele confronto, o oponente estava excepcionalmente mais lerdo.

Os olhos do Escolhido de Selene pareciam desfocados e desconcentrados.

Nos treinos, Theodor lhe colocara para lutar em confrontos semelhantes ao modo de agir de Buford, logo Conall não teria dificuldade para explorar os pontos fracos dele. Principalmente com o oponente tão desatento como estava.

O Escolhido de Nix estava mantendo a estrategia que combinara com Theodor.

Cansaria Buford e só depois atacaria.

Entretanto, Conall não tinha certeza de que precisaria sequer chegar no momento do ataque. Não quando a cada instante os passos de Buford ficavam cambaleantes e confusos. Como se ele estivesse perdendo o controle das próprias pernas.

Conall nunca gostara de enfrentar oponentes em desvantagem psicológica — o que realmente parecia ser o caso —, mas precisava acabar com aquilo.

Com uma movimentação rápida, desferiu um soco certeiro na têmpora de Buford. O rapaz cambaleou e pelo olhar em seu rosto, Conall soube que ele finalmente tinha despertado. Então se preparou...

Para nada.

Buford fez menção de partir para cima de Conall, os punhos fechados os olhos brilhando e sedentos pela violência, e então seu movimento parou no meio do caminho como se ele mudasse de ideia.

Seus olhos se abriram num diâmetro quase humanamente impossível ao mesmo tempo que veias em sua garganta e testa pulsaram.

A Arena não ouvia o som de nenhuma respiração sequer. Nenhum suspiro até que Buford ofegou, à procura de ar. A mão fechada em punho agora não apontava mais para Conall, e sim era pressionada contra o peito.

O Escolhido de Nix viu o primeiro espasmo junto com a baba que começava a escorrer dos lábios do oponente.

Um segundo depois, Buford estava no chão, a poucos metros dos pés paralisados de Conall, espumando literalmente pela boca.

Convulsionando bem no centro da Arena.

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Notas finais do capítulo

Agradecimentos: Course que comentou na história! Espero que goste! ♥

Notas Finais:

como vocês estão? o que acharam do capítulo?

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