Califórnia escrita por Chloe Less


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Aproveitem a leitura!



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Capítulo Único

Bella Swan

Tranquei a porta, coloquei as chaves em cima da mesa de centro e me joguei no sofá vermelho, tirando os scarpins dos meus pés que imploravam por um alívio.

O dia havia sido infernal, tendo que ouvir e ver funcionários definhando naquela empresa sem poder fazer nada efetivo, mesmo com meu diploma em psicologia.

Trabalhar na Jordan Cosmetic era um pesadelo disfarçado de sonho e eu não tinha ideia de como minha vida havia me levado a essa merda tão grande.

Ou talvez soubesse.

Eu havia começado a trabalhar na Jordan como estagiária, sonhando em auxiliar os funcionários a terem vidas mais tranquilas e saúde mental. Mas tudo não passava de um sonho bobo de estudante.

O salário pago para os funcionários era uma piada, as férias viviam em atraso e horas extras eram praticamente obrigatórias se você quisesse manter seu emprego.

Era até irônico quando a JC estava no top 5 das melhores empresas de cosméticos dos Estados Unidos, além de faturar bilhões de dólares todos os anos — bilhões que iam direto para o bolso dos acionistas —.

A empresa me mantinha por mera formalidade, apenas para que eles pudessem se gabar em jornais e revistas, mostrando como eles eram uma empresa de ponta que se preocupava com os funcionários. Era tudo fingimento, a realidade era que eles nunca escutavam nenhuma das minhas ideias de melhoria e os funcionários não podiam ir atrás de tudo por eles mesmos, pela falta de tempo e dinheiro.

O tão sonhado diploma de psicologia que ocupava meus maiores sonhos desde a infância hoje não passava de um mero acessório guardado na gaveta.

— Então a Lauren começou a chorar, falando que não aguentaria ver o amor da vida dela se casando com outra — falou Alice assim que abriu a porta, Rosalie entrou atrás dela.

— Ou seja, você vai organizar esse casamento sozinha — completou Rose colocando a bolsa sobre a mesa de centro.

— Pois é, vou ficar lotada de trabalho pelos próximos meses. Mas vou evitar reclamar, estou com dó de Lauren. Com certeza a noiva e ex-melhor amiga sabia que ela era dona de uma empresa de eventos e resolveu esfregar o casamento na cara dela — disse Alice se sentando ao lado de Rose no outro sofá, como se ainda não tivesse notado minha presença.

— Bella, que cara é essa? — perguntou Rose finalmente notando minha presença.

Era sempre assim quando as duas voltavam juntas do trabalho, ficavam tão conectadas do assunto que não percebiam nada ao redor.

Ou talvez eu estivesse sensível.

— Adivinhem? Eu odeio aquele lugar! — reclamei e coloquei as mãos no rosto.

— O que houve dessa vez? — perguntou Alice pulando de sofá e me obrigando a desfazer as pernas de índio.

— Dois funcionários foram no meu escritório hoje e eu sei que não deveria contar os casos, mas eu já não consigo guardar só pra mim — comecei. — Jéssica é da turma de criação, não vê um aumento fazem três anos e as férias delas estão vencidas a quase dois. Tem insônia, queda de cabelo e provavelmente uma anemia.

Passei a mão no cabelo lembrando da conversa que tive com ela, sua postura cansada e as olheiras.

— O namorado terminou com ela por causa do serviço e ela se sente culpada, sente falta dele, mas não consegue sair da JC, porque acha que pode ser promovida a qualquer momento e não quer começar do zero — continuei. —Eu sei que sou apenas uma psicóloga, mas me dói não poder fazer nada. Olhei os arquivos no RH e nem férias eles estão dando para a garota e se ela pegar algum atestado provavelmente será demitida.

Respirei fundo e apertei a ponta do meu nariz, tentando segurar o choro por causa da conversa.

— Eu queria ser útil de verdade — desabafei. — Não apenas conversar com meia dúzia de funcionários sem poder auxiliar em seus problemas e fazer trabalhos para os quais não fui contratada, como ajudar no administrativo. Caralho, eu sou psicóloga e cada vez que eu piso na JC, me sinto rasgando um pedaço do meu diploma.

Não aguentei mais segurar as lágrimas

— Calma, Bells. Você não pode fazer nada além do que faz para tentar ajudá-los. Mas você também pode pedir demissão e arranjar algo que realmente goste de fazer, você está ficando tão doente psicologicamente quanto eles —falou Rose.

Ela pulou para o mesmo sofá onde eu e Alice estavamos, me puxando para seu peito e enxugando as minhas lágrimas.

— Essa coisa de demissão é uma ótima ideia — comentou Alice.

— Não posso abrir mão deles e eu nem tenho uma proposta de emprego por agora — falei.

— Obvio que pode deixá-los, na verdade está mais para dever do que poder. Você está ficando sobrecarregada com todos esses problemas sem soluções, está na hora de você pensar primeiro em você — disse Alice.

— E sobre não ter propostas de emprego, por que você não abre um consultório? E antes que você diga algo, eu sei que você tem dinheiro guardado. — completou Rose fazendo carinho na minha cabeça.

Eu ponderei sobre isso por alguns segundos, elas provavelmente estavam certas e era hora de pensar primeiro em mim e tentar algo novo.

— Vou pensar sobre o assunto, fazer algumas contas e conversar com alguns colegas da faculdade. Obrigada por me escutarem meninas — falei estendendo as mãos para elas.

Morar com as garotas era incrível, como ter irmãs que eu nunca tive. Ter conhecido as duas na faculdade foi a melhor coisa que me aconteceu e eu não me sentia sozinha com elas por perto. Eram um pequeno presente, da república para a vida.

Lembro do sentimento agridoce que dominava o meu coração quando cheguei na Columbia, ela havia sido meu sonho por anos, mas quando eu cheguei lá, meu coração parecia tão vazio e eu sentia tanta falta de Edward.

Chorei todas as noites nas primeiras semanas, completamente arrependida da decisão que eu havia tomado. Até que as garotas resolveram me acordar para a vida, me lembrando que aquilo era meu sonho e era real, e que se eu havia renunciado a várias coisas, devia honrar as coisas deixadas para trás. Foi por causa daquela conversa que eu dei o meu melhor e me formei com honras.

Eu me arrependia de muitas decisões que tinha tomado, mas me manter perto das garotas era a melhor coisa que eu havia feito.

— Bem, já que acabamos a sessão desabafo do serviço e ainda não são oito horas da noite, podíamos ir em uma balada, não é? — perguntou Alice.

Ela tinha o sorriso que sempre usava quando queria algo.

— Ah, Ally. Estou cansada, estava chorando até cinco minutos atrás. Podemos deixar pra amanhã? — falei.

— Você disse a mesma coisa sexta passada e na sexta antes dela. Já faz um mês que a gente não sai, Bella, por favor — implorou Alice mudando o sorriso para um biquinho.

— É Bella, vamos. Sua boca deve ter teias de aranha e não estou nem comentando do que você tem entre as pernas — riu Rose, tentando me convencer também.

— Okay, vocês venceram — eu claramente não era uma pessoa resistente. — Vamos nos arrumar, mas se em menos de uma hora vocês não estiverem prontas, vou de vestido e maquiagem assistir as minhas séries.

Esqueci a ideia do vestido e acabei colocando uma calça preta bem justa e um cropped da mesma cor, um tênis vermelho e brincos dourados completavam meu look. Olhei-me no espelho e percebi que o batom vermelho de Alice ficaria ótimo com essa roupa.

— Ally, empresta o seu batom vermelho? — perguntei entrando em seu quarto.

— Estou procurando ele também — respondeu.

Ela estava com um vestido de alças, vinho, sapato preto e argolas douradas. O chanel que vivia milimetricamente arrumado, hoje apontava para todas as direções, como quando nos conhecemos.

— Adorei o cabelo. — comentei enquanto a ajudava a procurar o batom.

— Estava com saudades dele desse jeito. Já sei onde o batom deve estar. — falou saindo do quarto. — Rose, cadê meu batom?

— Qual? — falou Rose virando com o procurado batom vermelho.

Rose também vestia um cropped preto, mas o seu era de manga longa, junto com uma saia de couro e uma sandália dourada.

Terminamos de nos arrumar e nos dirigimos até o carro de Alice. O caminho até a boate foi tranquilo, conversando amenidades e planejando o que faríamos pra comemorar o nosso aniversário de amizade, que completaríamos em breve. Alice queria viajar para praia em comemoração, já Rosalie estava sonhando com uma viagem para um local frio. Eu assistia a discussão dando risada, eu amava essas garotas.

A boate era cheia de luzes coloridas, um bar grande quase cobria uma das laterais. A mesa do DJ ficava na mesma direção que a porta e o camarote subindo as escadas ao lado, com uma pista de dança grande cobrindo o restante do espaço.

O ambiente estava lotado, como sempre, cheio de jovens adultos dançando animadamente. Podia ver alguns casais se beijando, colados na parede livre, sem se importar com qualquer pessoa olhando.

Graças as aulas de ballet que Renée me obrigou a ir na infância, dançar me acalmava. A garota desastrada que eu era em 90% do meu tempo, dava lugar a uma mulher delicada e graciosa, até sensual as vezes, dançando tanto música clássica, quanto uma música agitada.

As músicas passavam animadamente e eu e as garotas dançávamos juntas, até que elas acharam rapazes interessantes para curtir ainda mais a noite. Eu torcia para que Alice não desaparecesse e eu tivesse que voltar sozinha para casa, de táxi.

Continuei na pista, dançando de olhos fechados para tentar me acalmar, a música seguinte era Never forget you, da Zara Larsson e como todas as músicas românticas, principalmente as sobre separação, eu lembrava dele.

A música falava sobre um amor que havia partido e sobre alguém que continuava amando, mesmo depois do adeus. Exatamente como a música, eu continuava o amando e assim como na música, o amaria até morrer, mas a diferença era que eu havia partido. Partido o meu coração e provavelmente o dele, e agora só restava arrependimento e a convicção de que eu não amaria mais ninguém.

Com certeza não por falta de tentativas, Carlos e Rick eram provas de que tentei seguir em frente, mas nenhum namoro durava mais do que alguns meses, eu fugia assim que eles falavam as três palavrinhas tão sonhadas. Afinal, eu não sonhava que fossem ditas por eles.

Abri meus olhos por alguns instantes, parando o momento de reflexão e como um daqueles momentos clichês de cinema, um caminho para o bar em meio à multidão dançante se abriu a minha frente. Era ele. O cabelo comprido, na altura dos ombros, da mesma maneira que eu me lembrava. Jaqueta de couro, os coturnos que revezavam com seus queridos converses, calça escura.

Era ele, eu tinha certeza.

Assim que eu percebi sua presença, como nos filmes, o caminho se fechou e as pessoas voltaram a dançar como mágica. Eu precisava falar com ele, precisava pelo menos tentar. Comecei a tentar passar pela multidão, empurrando e gritando desculpas — como se fossem me escutar com a música alta —, mas a cada pessoa que eu conseguia ultrapassar, parecia que o caminho ficava ainda mais distante.

— Edward? — perguntei assim que consegui me aproximar dele.

Bem ali, diante das minhas mãos, o amor da minha vida.

— Não, meu nome é Riley — falou o rapaz se virando pra mim

Seus grandes olhos azuis gritavam que ele não era Edward.

— Mil desculpas, achei que fosse alguém que eu não via faz muito tempo. — me desculpei tentando me afastar.

Lágrimas de decepção querendo escapar de meus olhos. Por que eu estava tão sentimental?

— Você não parece bem, não quer se sentar? Beber algo? Cuspir o que te chateia? — ofereceu o rapaz.

— Não sei se é uma boa ideia, desculpa de novo — recusei apesar de querer ficar.

Falar de Edward só me faria chorar, principalmente depois de beber e com esse humor maluco.

— Então pelo menos senta um pouco, se você não está afim de desabafar, eu estou. Que tal ouvir a história de um desconhecido? — insistiu ele.

Ponderei por alguns segundos, olhando do banquinho ao lado de Riley para a pista completamente lotada, cheia de pessoas animadas e suadas. A pista que a poucos segundos estava tão divertida, agora me parecia claustrofóbica. Então acabei optando por sentar e ouvir a história de Riley.

— Uma bebida antes de começar? — perguntou.

— Um suco, acho que já bebi o suficiente por hoje — respondi.

Se Alice e Rose ainda estivessem bebendo, e não acabassem a noite acompanhando algum cara, era melhor ter alguém com menos álcool no sangue para levar o carro de volta.

— Victoria sempre foi a garota dos meus sonhos. Ela era como o meu sol particular, com seu cabelo cor de fogo e sua personalidade animada, tornava todos os meus dias mais divertidos. Tem quatro anos que eu a conheci, namorávamos a três e eu estava pensando em pedi-la em casamento. Eu sei, grande clichê — começou revirando os olhos.

Riley fez uma pausa e bebeu um gole de sua bebida.

— Eu ainda não tinha comprado o anel, mas estava saindo para comprar, em um shopping diferente que eu sabia que nenhum conhecido nosso frequentava. Quando eu passei pela praça de alimentação, vi a Vic com o primo dela, James. Os dois se beijavam de uma maneira tão obscena, que eu hoje eu penso em quanto tempo levou para algum segurança expulsá-los dali. Mas na hora eu estava tão chocado, que só conseguia escutar os barulhos do meu coração se partindo — continuou ele.

— Você não surtou? — consegui perguntar.

— Não — respondeu. — Eu apenas peguei meu celular e mandei uma mensagem terminando. Ela nem se esforçou para se desculpar, só respondeu um okay e apagou nossas fotos das redes sociais.

Sua expressão era horrível ao falar, puro desgosto em seu olhar.

— Passei dias chorando, até que minha melhor amiga resolveu intervir — ele sorriu ao falar da amiga. — Bree me fez ver que Victoria era a idiota da história e que eu tinha tido sorte de ter descoberto antes de comprar o anel. Ela também me levou para sair todos os finais de semanas do último mês e hoje me mandou vir sozinho, porque segundo ela eu também não deveria ser dependente dela. E bem, agora eu estou aqui, contando toda a história do meu fracasso para uma estranha que eu nem sei o nome e pela primeira vez sem chorar. Apesar de estar falando da minha ex, acho que posso comemorar meu sucesso por não chorar.

— Meu nome é Bella — consegui falar. — E ela foi muito idiota em te trair.

— Prazer, Bella — respondeu sorrindo. — Agora quer desabafar? Pelo jeito que está abalada parece que precisa colocar para fora.

— Bem, já que contou o seu desastre, acho justo contar o meu.

Respirei fundo e roubei um gole da bebida dele pra começar, enrolando e pensando em como começar a contar a história de como eu deixei Edward para trás sem parecer a filha da puta que eu havia sido.

Riley resolveu que deveríamos ir para o camarote quando percebeu que a história seria longa, então ganhei mais alguns minutos para organizar meus pensamentos, enquanto atravessávamos a pista até o camarote.

— Nasci e fui criada em uma cidade minúscula chamada Forks, onde todos se conheciam e foram criados juntos — comecei. — Minha mãe sempre quis fugir de lá, mas o serviço do meu pai a mantinha presa, ela sempre o amou e não podia deixa-lo para trás. Meu maior sonho era estudar psicologia em NY, fugir pra Califórnia e nunca mais me lembrar daquela cidade chuvosa.

Viajei para aquela época, lembrando de cada detalhe.

— Faltava pouco tempo para eu me formar quando ele apareceu. Cabelo nos ombros, jaquetas de couro, coturnos e calças justas, esse era o estilo de Edward. — sorri lembrando dele. Céus, como eu sentia falta. — O clichê do garoto rebelde, ele só não tinha uma moto turbinada, só uma velha. Ele vivia mudando de casa, porque seu pai era um cirurgião incrível e sabia resolver problemas. Era praticamente um nômade. Mas Edward era mais do que o estereótipo de um garoto roqueiro, Edward era tão criativo que beirava o genial. Suas notas eram tão boas quanto as minhas e ele tocava guitarra e violão, sem contar sua voz, rouca na medida certa.

— Bem, se a sua história seguir o rumo da minha mente, ele é um idiota. — comentou Riley me interrompendo.

— Não se precipite, a idiota da história sou eu — falei. — Ele costumava se manter afastado da maioria das pessoas, mas não sei o que ele viu em mim que o fez grudar como um chiclete. Em questão de dias viramos melhores amigos e depois de poucas semanas, namorados.

Eu lembrava de tudo, das tardes que ele passava na minha casa ou na nossa clareira, dos passeios que a gente fazia. Sentia falta de tudo.

— Acho que quando ele fez o pedido foi o momento mais feliz da minha vida, superando o dia que eu passei na Columbia — confessei. — Passávamos o dia em uma clareira perto de casa, ele e eu estudando para as provas finais. Meus pais o adoravam e os pais dele também me amavam, principalmente Esme com seus abraços acolhedores. Mas então as pessoas começaram a comentar.

Do mesmo jeito que eu lembrava das coisas boas, também lembrava das ruins como se fosse ontem.

— Em qualquer lugar que eu ia sozinha, me paravam pra dizer que ficar com Edward era um atraso para a minha vida. “Oh, Isabella, eu esperava mais de você” “Que desperdício, tantos anos se esforçando para tentar entrar em uma boa faculdade pra ficar com um músico?” “Ela vai sustentar o garoto nômade” “Ele vai faze-la desistir da faculdade”. Milhões de frases como essa na cabeça de uma adolescente que sempre sonhou em ir para a faculdade foram me envenenando.

— Diz que você não fez o que estou pensando — pediu Riley.

— Eu fiz. As vozes que diziam “Oh, esse garoto é um cafajeste, ele vai leva-la para baixo” se sobrepuseram a todos os momentos bons que tivemos — adiantei. — Faltava uma semana para o prazo final para as inscrições para a faculdade, eu terminei com ele. Disse que eu não podia ficar presa em um relacionamento quando Columbia me esperava. Briguei com ele e quando ele começou a pedir pra eu não fazer isso, enquanto chorava, fui obrigada a recortar as coisas que me disseram e jogar no término. Eu tentei machucá-lo, quem sabe assim um de nós pudesse ser feliz algum dia.

Não havia nada na minha vida que eu me arrependia mais do que daquilo. Eu tinha sido uma adolescente estupida.

— Me transformei em um robô e ele também, eu estudava ainda mais, mesmo que agora já não servisse de nada e de noite, quando ninguém estava mais olhando, eu chorava sozinha em meu quarto. Meus pais perguntaram o motivo do término e eu não tinha coragem de falar, estava me sentindo tão culpada que apenas fugi de suas perguntas — contei. — As aulas acabaram e eu recebi minha carta de aceitação, a primeira coisa que eu pensei foi em contar para ele. Eu corri para a casa dele, mas a sua moto barulhenta não estava mais lá. Fui no hospital em que o pai dele trabalhava e me falaram que eles tinham ido embora.

Nesse momento eu percebi que chorava, o soluço preso na garganta escapou de meu controle e vários vieram em seguida. Quando comecei a tremer, Riley arrastou seu banco mais para perto e me aconchegou em seu peito.

A que ponto eu havia chegado, chorando nos braços de um estranho por algo que era unicamente minha culpa e que havia acontecido há tantos anos.

— Vamos, Bella. Não precisa terminar — disse Riley me oferecendo um suco.

— Eu preciso terminar — falei respirando e tomando um gole do suco — Poucos dias depois eu fui para Columbia. Eu parecia um zumbi ambulante. Alice e Rose mesmo sem me conhecer, acolheram-me, foram meu porto seguro. Com a ajuda delas consegui retomar o controle sobre mim mesma antes que custasse o meu sonho de estudar em Columbia. Mas eu nunca o esqueci, Riley. Eu nunca deixei de amar o Edward.

— E o que você está fazendo choramingando ao invés de correr atrás do cara que você ama? Pelo visto já se passaram anos e você continua pensando nele, até me confundiu. Vá atrás dele, Bella. Corra atrás de quem você ama — aconselhou Riley.

Continuei conversando com Riley por mais alguns instantes, desabafando sobre o emprego e sobre os meus últimos relacionamentos. Ele era divertido e inteligente.

Eu provavelmente o estava cansando, mas ele parecia não se importar, dava corda para o meu desabafo, o que em poucos minutos me fez transformar ele em um novo amigo.

Riley ainda havia clareado minha mente, seus conselhos me deram o gás que a conversa mais cedo com as minhas amigas havia me dado eu deveria parar de viver com medo e tomar as rédeas da minha vida, consertar os erros do passado e seguir em frente. Ou então eu nunca teria paz.

Então depois de passar um tempo de qualidade com Riley, busquei minhas amigas um pouco alteradas e dirigi para casa tranquilamente.

Okay, talvez não tão tranquilamente. Minha mente vagava pensando em procurar o facebook de Edward depois de tantos anos, ignorando a conversa sem sentido de Alice e Rose no banco de trás.

Subir as duas foi tranquilo graças ao apartamento com elevador, ri ao lembrar da época da faculdade, onde subíamos os quatro andares da república completamente bêbadas.

Obrigada vida adulta, por um apartamento decente.

Após arrastar cada uma para seu respectivo quarto, troquei de roupa e fui para o meu, já ligando o notebook, não ligando para o sono.

Assim que digitei Edward Cullen fechei os olhos. Talvez eu devesse desistir. E se ele tivesse uma namorada? Ou pior, e se ele fosse casado e tivesse filhos? Eu não sabia se aguentaria.

Fechei o notebook sem realmente desligá-lo, não era hora de fazer isso. Talvez nunca fosse. Era melhor dormir agora e esperar por amanhã, pensar por alguns instantes e deixar que a adrenalina de conversar com Riley saísse do meu corpo.

Pensando no garoto de olhos verdes que conheci na adolescência, adormeci.

*~*~*

Eu não consegui dormir por muito tempo, logo acordei agitada e fui fazer café da manhã para as garotas, que eu sabia que estariam com ressaca. Quando terminei o café não me segurei e fui acordá-las, com cuidado, já sabendo que qualquer movimento em falso geraria um grande mal humor.

— Eu não sei o motivo de você ter feito nosso café da manhã e ainda por cima ter nos acordado — murmurou Alice

Ela ainda vestia o pijama que eu tinha colocado nela ontem à noite, a cara com o resto da maquiagem.

— Só espero que não seja um motivo bobo — resmungou Rose.

— Bem, pra mim não é bobo — comecei.

Comecei a explicar para elas sobre o momento de filme na balada, sobre Riley e como ele me encorajou a procurar Edward e tentar consertar as coisas.

Logo o sono saiu das meninas e elas ficaram animadas com a busca, finalmente elas veriam o garoto que falei por anos e só tinha algumas fotos bem antigas de nós dois.

Coloquei o notebook na tomada e sentei no sofá entre as duas mulheres saltitantes. Era como voltar para o tempo de universidade, mostrando os pretendentes umas para as outras.

A diferença era que dessa vez eu realmente gostava de quem eu ia mostrar.

— Vocês abrem — falei fechando os olhos.

— Sem frescura, Isabella. Você precisa crescer — retrucou Rosalie.

Respirei fundo por alguns minutos tentando me acalmar e então abri o notebook, a foto de perfil saltando na minha frente assim que desbloqueei o computador.

Os cabelos estavam bem curtos e uma barba por fazer o deixava mais másculo, mas ainda era o Edward. Meu Edward.

A foto de capa era ele de cabelo azul, com mais dois rapazes, um com cabelo estilo Justin Bieber, mas cor de rosa e outro com o cabelo de miojo, verde. Abri a foto para ver melhor e a legenda dizia "aposta paga, pequena terrível".

Liberei a stalker que habitava em mim e comecei a vasculhar o perfil dele do facebook. Dois cachorros, sócio com os garotos de cabelo colorido em uma empresa de publicidade, morando na Califórnia e o mais importante, ele não havia se casado. E ele não havia parado de tocar. Havia diversos vídeos dele e dos garotos de cabelo colorido tocando juntos, se divertindo.

Ele parecia feliz, ele parecia realizado. Parecia não precisar de mim.

— Tá decidido, você vai pedir demissão. Vai pra Califórnia — disse Rosalie.

— Você tá maluca? Eu preciso de um emprego, preciso de segurança. Sem contar que sozinha? Eu não aguentaria — falei.

— Não seja medrosa, Bella. Eu sei que parece difícil, mas ir pra Califórnia sempre foi seu sonho. Sem contar que esse emprego não te faz bem, você está despedaçando aos poucos. Eu não vejo mais a garota sonhadora que eu conheci na faculdade — argumentou Rose me aconchegando em seus braços.

— E vocês? Eu não quero me afastar das minhas melhores amigas por causa de um cara — tentei argumentar.

— Primeiramente, você não está indo por causa de um cara. Califórnia sempre foi seu sonho, Edward é um bônus bobinha — respondeu Alice rindo — E se Rose apoiar podemos ir junto. Eu sou uma ótima organizadora de eventos, está na hora de eu caminhar com as minhas próprias pernas e Rosalie é uma ótima administradora, ela consegue um emprego em qualquer lugar que ela quiser.

— Essa ideia é tão boa que até parece que fui eu que tive — concordou Rose sorrindo. — Sem contar que seis é par*, gatinha.

— Sério mesmo? Vocês vão comigo pra Califórnia? — perguntei incrédula — Essa ideia é maluca, mas vocês duas são incríveis. Não sei como passei mais da metade da minha vida sem vocês.

— Eu sei. Sou incrível — riu Alice dando de ombros.

— Rumo a Califórnia, bebê. — falou Rose tomando o notebook e começando a pesquisar lugares para morar.

Era real, eu estava indo pra Califórnia. Eu encontraria Edward. Eu voltaria para o comando da minha vida.

~*~*~

Os dois meses seguintes foram uma loucura. Mas uma loucura boa.

Eu pedi demissão da JC e agora me sentia como um pássaro livre. Eu não acreditava nas garotas quando falavam que o emprego estava me fazendo mal, mas agora eu conseguia enxergar as mudanças através do espelho. Eu havia ganhado alguns quilos e parecia mais saudável, meu cabelo brilhava e só agora eu percebi que ele vinha caindo de um jeito fora do normal.

Eu não abriria meu consultório logo de cara, mas havia conseguido um emprego em uma clínica de tratamento mental e psicológico que parecia bem séria e comprometida com os pacientes. Se não desse certo, eu procuraria outra coisa.

A chefe de Alice estava de coração partido por perdê-la, então ofereceu que Alice fosse sua sócia em outro estado, agora a Beauty Eventos teria uma filial na Califórnia sob o comando de Alice. A única sem um emprego a vista era Rosalie, mas nós sabíamos que ela logo encontraria um.

Nunca pensaria que ir para uma balada na sexta-feira à noite e procurar meu ex no dia seguinte me traria tantas mudanças, principalmente mudanças boas.

O avião estava se preparando para pousar, eu estava em um misto de animação e medo, sentimentos completamente agridoces. As aeromoças acordavam os passageiros que ainda dormiam e verificavam se estes estavam com seus cintos.

O pouso foi tranquilo e ao sair do avião eu senti a realidade batendo a minha porta. Eu estava na Califórnia, com as minhas malas nas mãos, mudando para uma casa nova, reinventando a minha vida, preparada para rever Edward.

Um táxi me levou até a minha casa nova, eu carregava tantas malas que paguei por excesso de bagagem. O bairro novo parecia tranquilo da janela do carro, The Neighbourhood tocava baixinho no rádio e o motorista cantarolava acompanhando, a voz era desafinada até em sussurros, mas eu me sentia tão feliz que não me importava.

Rose e Alice viriam daqui duas semanas, pois precisavam terminar de finalizar suas vidas em New York e terminar a venda do apartamento. Eu tinha vindo antes, para pegar a chave do apartamento novo e para começar no novo emprego.

Quando o taxista me deixou na frente do apartamento novo, Garrett, o representante da imobiliária, já me esperava. Me colocou para dentro do apartamento e mostrou o local com animação. O local era semi mobiliado, a sala era grande e completamente vazia, a cozinha tinha apenas uma geladeira, um fogão e um micro-ondas. Apenas um dos três quartos tinha cama e todos eles tinham banheiro.

O apartamento estava vazio, mas eu me apaixonei por ele mesmo assim. O lugar vazio era sinal de recomeços, de novas escolhas.

Resolvi dormir e descansar da longa viagem de avião.

~*~*~

Ao acordar pedi comida por um aplicativo e resolvi fazer uma chamada por Skype com as garotas, para mostrar o apartamento e dizer que estava bem.

— Ele é tão lindinho. Não vejo a hora de começarmos a decorar essa coisinha linda — falou Alice do outro lado, aparentemente saltitante.

— Mudando de assunto. Começou a se arrumar? — perguntou Rose.

— Me arrumar pra que? — falei me fingindo de confusa.

— Ir atrás do Edward. Você deve ir hoje e você sabe disso, esse era o combinado — lembrou Alice.

— Mas sem vocês? — indaguei fazendo biquinho.

— Obviamente. Até a gente chegar ai é bom você estar bem resolvida. De preferência ter feito amizade com os amigos dele pra nos ajudar com a pintura da casa nova — respondeu Rose com um sorriso.

— Eu não vou resmungar, não dessa vez. Fico feliz que estejam tão convictas de que Edward vai me perdoar — disse tentando não soar triste.

— Você não é mais uma adolescente, Bella. Amadureceu e sabe o que faz. Sei que vai dar o seu melhor pra conseguir o perdão de Edward, pois você ainda gosta dele. Mas nós também sabemos que se não funcionar, você vai estar de consciência limpa e vai saber partir pra outra. O mais difícil você já fez, está ai na Califórnia retomando seus sonhos — apontou Rose com o rosto sério, o modo mãe ativado.

— Obrigada por confiarem em mim e me acompanharem nessa loucura. Amo vocês — falei sorrindo, os olhos embargados.

— Também te amamos — responderam em uníssono.

— Agora abre essa mala que vamos te arrumar pra ir ver Edward — completou Alice.

Pela primeira vez eu não me importei em seguir as orientações de moda de Alice, pelo contrário, eu me encontrava animada em me arrumar e um pouco triste por não ter as garotas por aqui para fazer minha maquiagem.

Depois de alguns minutos de discussão acabamos escolhendo uma calça preta, uma blusinha escura e nada de salto, apenas coturnos.

Quando terminei de me arrumar, abri o Facebook e olhei o perfil de Edward. Ele havia feito um check-in com os mesmos garotos coloridos:

“Um sábado à noite, um violão, comida boa e bons amigos, tem coisa melhor? - se sentindo animado com Jasper Whitilock e Emmett McCarty em Jealous Pub.”

Era o bar que ele sempre ia aos finais de semana — coisa que eu descobri stalkeando obviamente —, havia algumas fotos deles tocando juntos e vídeos curtos de trechos de música. Não achei videos em que ele cantava, apesar do microfone sempre estar na sua frente, mas em todos eu conseguia sentir a paixão pela música. Tocando violão ou guitarra, ele sempre dava tudo de si.

Ele sempre parecia tão realizado, maduro e feliz. Parecia ter uma vida completa. Sem mim. E parecia não precisar.

Mas eu sabia que precisava dele.

No caminho para o pub dentro de um táxi admirei a cidade, não passei por nenhuma praia, mas eu conseguia sentir a maresia. Eu estava tão apavorada e tão feliz ao mesmo tempo.

O mar sempre foi uma paixão, a tatuagem de onda na minha costela era prova disso. Eu não era uma surfista e apesar de saber nadar, não achava seguro me aventurar no oceano. Mas a calmaria da praia me hipnotizava, me mantinha calma, clareava a minha mente. Até a praia de La Push, onde nunca fazia sol e biquíni não combinava com o lugar, me tranquilizava.

Então eu cresci assim, em meio a areia estranha de La Push e ao musgo de Forks, sonhando com o mar da Califórnia. E agora eu estava aqui.

Não era apenas Edward, eu sabia disso, apesar de agir como se fosse tudo por ele. Mas a cidade me chamava, sempre me chamou e era reconfortante seguir o meu sonho de infância.

Eu havia me perdido em algum momento da minha vida, a garota curiosa e sonhadora desapareceu quando eu dei as costas a Edward e o larguei por Columbia. Eu não tinha noção de que depois daquele momento eu me tornaria tão acomodada.

Quando o taxi encontrou o endereço, um lugar rústico e cheio de estilo em uma avenida movimentada, desci e tentei tirar todos os pensamentos negativos de minha mente. Era o momento de ser confiante.

O lugar não exigia um bilhete para entrar, mas passei por uma vistoria. O pub era lindo do lado de fora, mas por dentro era de tirar o fôlego. Havia um bar estiloso do lado da entrada, uma mini pista de dança e mesinhas de frente para um pequeno palco, que eu evitei olhar.

A música era deliciosa e eu reconhecia aquela voz em qualquer lugar, então corri para o bar e pedi dois drinks e uma porção de batatas tamanho família. Precisava me distrair de algum jeito, precisava tomar coragem.

— Nunca te vi aqui, morena. É nova? — perguntou o barman. Olhos castanhos, cabelo loiro, alto e um pouco forte.

— Sou sim, cheguei na cidade hoje.

— Sou Caius, se precisar de um guia para a cidade — falou piscando e entregando um dos drinks.

— Bella, obrigada — me apresentei agradecendo pelos drinks. — Eles estão tocando faz muito tempo?

— Desde às 19, os clientes adoram eles. Conhece os garotos?

— Eu e Edward somos... — contar a verdade ou não? Me abrir com mais um desconhecido com certeza não era a melhor opção, Riley havia sido exceção — Nós fomos amigos no colegial.

— Parece que vocês não se veem a muito tempo, é uma surpresa? — questionou.

— Podemos dizer que sim — disse entregando a comanda.

— O convite está de pé, se Edward não te levar pra conhecer a cidade, pode vir aqui que te mostro o melhor da Califórnia — falou piscando e dando um sorriso de lado.

Sorri de volta evitando uma resposta. Eu definitivamente não precisava de um lance nesse momento.

Procurei uma mesa que fosse pequena e vazia, a única era exatamente na frente do palco. E então me permiti finalmente olhar.

Coturnos nos pés, as justas calças pretas, uma camiseta branca que me surpreendeu, uma guitarra e então seu rosto. O cabelo que era na altura dos ombros na adolescência agora estava curto, do jeito que eu havia visto nas suas fotos. A barba por fazer o deixava ainda mais sexy, não desleixado.

Não tinha certeza de qual música ele tocava, mas eu sentia a melancolia em sua voz, cada verso tristemente estampado em sua, cada nota que saia de sua boca era carregada de sentimento.

A música acabou, carregada de paixão e dor, eu com certeza estava sentindo isso. Ele abriu os olhos e um sentimento forte de familiaridade me invadiu. Os olhos verdes, os olhos verdes que eu tanto amava, varriam o local reconhecendo os rostos familiares.

E então seu olhar parou em mim por vários instantes, primeiro veio a dúvida, depois a surpresa e então um sorriso irônico tomou conta de seu rosto. Poderia ser completamente irônico, mas eu sentia falta daquele sorriso torto e não resisti em sorrir de volta.

Eu reconheceria a canção seguinte em qualquer lugar, depois de conviver com Edward era impossível não virar fã de Arctic Monkeys.

Oh, that boy's a slag... The best you ever had**. — cantou, o sorriso de canto ainda em seu rosto.

A música com certeza já fazia parte da playslist programada para a noite de hoje, mas a vida com certeza era uma grande ironia.

Eu conseguia enxergar a maioria dos meus antigos vizinhos julgando meu relacionamento com Edward. Lembrava exatamente de cada um deles dizendo que Edward era um badboy cafajeste e que ele iria partir meu coração. Que ele era um vagabundo e tiraria tudo de mim, ou que sempre estaria a minha sombra.

Eu sempre soube que era mentira. Edward era incrível e sempre fora. Tinha a capa de badboy, mas suas notas eram fantásticas, as vezes melhores do que as minhas.

Olhando para trás eu não conseguia enxergar um motivo para deixá-lo, além de medo. Usei todo o veneno que despejaram em mim para afastá-lo, apenas porque eu tinha medo de que eu não fosse mais interessante para ele em alguns anos.

Se naquela época eu tivesse a minha atual mentalidade, nunca teria o deixado, mas agora eu não podia voltar no tempo. Eu só podia tentar conversar com ele e torcer para ele me escutar.

Quando a música acabou, Edward se virou e foi falar com o baterista, o garoto de cabelos verdes que se eu não me engano se chamava Jasper. Eu tinha certeza que era algo sobre mim, pois o baterista arregalou os olhos e sorriu em minha direção. Em seguida eles anunciaram que iriam dar uma pausa de meia hora e enquanto o baterista e o garoto do teclado iam para o bar, Edward caminhava em minha direção.

Foi questão de segundos para ele vir do palco até mim, virando a cadeira e sentando em minha frente, mas foi tempo o suficiente pro meu coração se agitar em meu peito.

— Uau, Isabella. Quantos anos — comentou Edward.

Eu morreria com aquele sorriso.

— Pois é, estou aqui, Edward — respondi tentando não gaguejar, eu me sentia a merda de uma adolescente.

— O destino resolveu brincar e te trouxe aqui? — perguntou.

— Não, eu apenas queria conversar. Alguns minutos no seu facebook foram o suficiente pra te encontrar.

— É, eu imaginei. Aqui não é o melhor lugar, mas se você topar, podemos seguir reto por algumas quadras para chegar à praia.

Meu coração balançou. Ele toparia tão fácil assim me ouvir? Era melhor do que eu esperava.

— Por mim tudo bem, mas você não precisa voltar pra tocar? — questionei.

— Jasper e Emmett conseguem se virar sem mim — respondeu dando de ombros.

Paguei minha comanda rapidamente e sai deixando o pote com as porções para trás, eu odiava deixar comida, principalmente batatas.

Ao sair do pub, Edward segurou a porta para eu passar, como nos velhos tempos e me vi desejando que ele segurasse a minha mão, como fazia quando éramos adolescentes.

O início da caminhada foi em silêncio, não sei se Edward estava me dando espaço para me organizar e falar, ou se estava perdido em seus próprios pensamentos.

Não aguentei o silêncio por muito tempo.

— Uau, Califórnia — comentei.

— É, Califórnia. O mar me chamou. Na verdade, não só o mar, mas Berkeley principalmente.

— É uma universidade incrível. Cursou o que? — perguntei mesmo já sabendo.

— Publicidade. Foi lá que eu encontrei Jasper e Emmett, éramos colegas de quarto. Na verdade, ainda somos, mas agora moramos em um apartamento decente e ninguém precisa correr no banho pra não deixar a água gelada para o outro.

— Eis uma coisa que eu não sinto falta dos tempos de faculdade. Os banhos corridos pra aproveitar a água quente. Mas a faculdade também me trouxe boas amigas, Alice e Rose chegam em algumas semanas. E emprego, está trabalhando? — questionei mesmo sabendo que ele era dono de uma empresa, eu ainda não estava pronta para começar a falar.

— Conhece a Roar?

— Se é uma empresa de publicidade provavelmente não — comentei tentando fazê-lo rir.

— Hum, então viu a última propaganda da Coca-Cola?

— Aquela que mostra as etapas da vida de um garoto? Se for sei qual é, é simplesmente genial.

— Foi feita pela Roar. Ela é minha, de Jasper e Emmett. Estamos começando ainda, mas demos sorte da Coca-Cola resolver fazer um comercial com a gente. Algumas outras empresas começaram a ligar para nós.

— Uau, isso é incrível. Estou feliz por você, de verdade.

— E você? Columbia? — perguntou.

— Columbia, psicologia. O primeiro sonho que se realizou — disse.

— E bem, agora você está na Califórnia. Seus grandes sonhos se tornaram reais — comentou ele.

— Pois é.

A praia estava bem a minha frente, o cheiro forte de maresia estava no ar. Apesar de estar de noite, havia meia dúzia de pessoas circulando pela areia. Tratei de tirar logo os coturnos e Edward me acompanhou. Eu queria chorar de alegria por colocar os pés na areia.

— Está na Califórnia há muito tempo? — perguntou Edward.

— Acabei de me mudar, cheguei hoje cedo no apartamento novo — confessei.

— E já se aventurou a me procurar? Estou surpreso.

— Alice e Rose ficaram, como eu disse. Elas tinham que resolver algumas coisas. Mas me intimaram a arranjar ajuda pra pintar as paredes — eu disse, novamente tentando soar engraçada.

— Então o motivo de você ter chegado de viagem hoje e de ter me procurado é apenas pelo meu maravilhoso dom de pintar paredes? — questionou rindo.

Céus! Eu adorava o som de sua risada.

— Na verdade não, pintar as paredes é apenas a cereja do bolo. Acho que estou pronta pra falar, está pronto pra me ouvir? — indaguei.

Edward assentiu.

Respirei fundo, o mar a minha volta me dando coragem. Edward iria me escutar, tudo ficaria bem. E se não ficasse, eu ainda estava na Califórnia.

— Não me interrompa, okay? Primeiro eu vou resumir e depois entro em detalhes. Eu era uma adolescente idiota e quero pedir desculpas. — despejei.

 Edward abriu a boca para falar.

— Nada de interrupções, eu não terminei. Antes de nos conhecermos só havia Columbia pra mim. Eu sempre fui uma grande nerd, que sonhava em fugir daquela cidade minúscula, então todo o meu tempo era dedicado a isso. Meu high school foi dedicado a tirar as melhores notas possíveis, meu boletim nunca viu um A- e você sabe disso. E então você chegou — falei enquanto meu peito batia acelerado. — Sempre de preto, com aquela sua moto barulhenta, os cabelos sempre bagunçados por causa do capacete. Você tinha um ar de mistério e um violão escondido no quarto. Ninguém sabia nada sobre você na cidade. E quando você me procurou e me deixou ver por trás desse jeito de badboy, foi quando eu me encantei por você. Você tinha um boletim tão impecável quanto o meu, tinha a voz mais doce do mundo e me tratava como uma princesa. O que mais eu podia querer?

Eu queria chorar. Relembrar do passado, do jeito que eu havia feito alguns dias atrás, com Riley, era doloroso. Ver o quão medrosa eu fui e que eu era a única culpada por estar sofrendo tanto.

Eu havia quebrado nós dois e por qual motivo? Exatamente por nada.

— E então a vizinhança começou a falar. "O que esse garoto nômade tem pra lhe oferecer?" "Vai jogar o seu sonho no lixo por um garoto?" "Ele é um cafajeste, vai te largar na primeira oportunidade." — falei imitando as vozes que me assombravam. — Eu sabia que você podia me oferecer o mundo, que você era bom demais pra mim. Eu era uma adolescente idiota e assustada, com medo de levar um pé na bunda. Então eu te larguei primeiro, com a desculpa de que você estava atrapalhando meu caminho para Columbia. Eu tentei te excluir completamente da minha vida. Mas cada vez que eu te via pelos corredores, queria pedir desculpas. Quando eu finalmente fui pra Columbia, passei os primeiros meses chorando sobre os cadernos, Alice e Rose foram meus portos seguros. Elas me incentivaram a continuar com a minha vida. E eu continuei.

Eu olhava o mar tentando buscar forças pra falar, era difícil remoer o passado.

— Tive dois relacionamentos que não deram em nada. Comecei a trabalhar em uma empresa de cosméticos como psicóloga e quem estava praticamente precisando de um psicólogo era eu, antes de sair de lá — contei. — Quando olhei pra minha vida, vi o quanto de merda eu havia feito. Havia deixado pra trás o único cara que amei de verdade, havia ido pra universidade que eu sempre quis, mas quase perdi a oportunidade de estudar naquele lugar e havia parado em um emprego que estava sugando a minha alma. Eu resolvi consertar as coisas, pedi demissão da JC, stalkeei seu facebook, vim pra Califórnia e se você quiser, eu quero tentar de novo.

Quando terminei, percebi que estava chorando. Não do jeito que chorei quando percebi o rumo que minha vida tinha tomado, era um choro leve. As lágrimas caiam delicadamente pelo meu rosto. Alívio por finalmente tirar esse peso de meus ombros.

Edward não falou nada assim que parei de falar, mas correu as mãos pelos bolsos e pegou seu celular. Vendo-o procurando algo ali me indignei, não era possível que eu tinha aberto meu coração para ele e ele ia primeiro mandar uma mensagem. Será que era tarde demais? Será que meu Edward não existia mais?

Eu provavelmente merecia isso.

— Esta é a logo da Roar — falou me mostrando uma imagem no celular.

Era isso, ele fingiria que eu não tinha falado nada?

Limpei meus olhos sem que ele percebesse e observei a imagem. Havia um cisne no centro, um leão do lado direito e um urso do lado esquerdo. O desenho era lindo e sofisticado.

— É uma arte linda. Você quem desenhou?

— Sim, mas a ideia foi de Jasper e Emmett. O plano inicial era que cada um dos animais representasse um de nós, mas seriam dois leões e um urso. Então eu escolhi o cisne. No site da empresa tem a definição de cada animal, o urso é a força, o leão a liderança e o cisne a graciosidade, eles representam o que queremos oferecer aos nossos clientes. Mas nós três e bem, agora você, sabemos que é só um jeito bonitinho de esconder que você nunca deixou os meus pensamentos. Eu queria ter um motivo pra ter isso — confessou levantando a camiseta.

Primeiro me perdi em seus músculos. Ele era magrelo quando adolescente, mas agora havia vários gominhos na sua barriga. Os músculos bem definidos, mas sem ser exagerado.

E então eu as vi, duas tatuagens, uma em cada costela. De um lado era uma onda, que eu reconheceria de longe, pois ele havia desenhado em meu quarto e eu tinha uma idêntica na minha costela. Do outro, um delicado cisne. Swan, era eu, Edward tinha me desenhado em sua pele.

— Quando você me largou, eu comecei a escutar o que a vizinhança dizia de mim. Todos eles concordavam que eu não era bom o suficiente pra você, então eu resolvi me tornar o cara que você merecia. Eu não tentei uma bolsa em Columbia porque não queria soar como um perseguidor, mas Berkeley me aceitou e eu entrei em êxtase. Passei o primeiro ano esperando notícias suas, mas elas nunca chegaram. Emmett me convenceu de que eu precisava de uma namorada, tive 4. Uma negra, uma ruiva e duas loiras. Nenhum dos namoros durou mais que um mês, chamei todas elas de Isabella em algum momento — contou rindo — Quando terminei com a Cara, decidi fazer o cisne, não tinha jeito, mesmo depois de anos você dominava meus pensamentos. Sobrevivi de transas casuais, mas não sai daqui. Eu sabia que você viria para a Califórnia, eu sabia que o mar ia te trazer pra mim.

— Eu iria atrás de você mesmo se estivesse no Alasca. — falei voltando a chorar.

— E depois me arrastaria para Califórnia?  — perguntou Edward sorrindo e enxugando minhas lágrimas.

— Com toda a certeza — respondi.

Aproveitei que ele estava pertinho de mim, coloquei as mãos em seu rosto e o aproximei ainda mais, finalmente colando seus lábios aos meus.

Não importava que eu havia chegado de viagem hoje, ou que a alguns minutos eu estava morrendo de medo de ser rejeitada, também não importava que eu tomei decisões erradas quando eu era adolescente. A única coisa que importava era que Edward estava ali, me beijando e ele ainda me queria.


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Notas finais do capítulo

*6 (ou 4, 8...) é par é uma expressão usada por alguns jovens quando dois grupos de amigos se juntam e marcam de sair/trocar uns beijos
**Oh, aquele garoto é um cafajeste
O melhor que você já teve (trecho da música Fluorescent Adolescent, do Arctic Monkeys

E aí, o que acharam? Estou animada pra saber.
Eu estou pensando em fazer um bônus, bem curtinho, pra mostrar o depois, o que acham?

Beijinhos, espero que tenham gostado ♥