Olhando o pôr do sol através da janela, questiona a si mesmo os motivos para ficar. Não é estúpido o bastante para negar que há diversos motivos, mas nem sempre são suficientes, nem sempre os convence de que é ali, nesse momento, que deva ficar. Não bastam para apagar o passado, no entanto não acredita que o passado deva ser apagado, afinal ele mesmo construiu o seu agora. E é nele que, às vezes, encontra conforto e o faz pensar em qual momento as coisas começaram a fugir de seu alcance, como permitiu que acontecessem e os motivos para não o ouvirem.

Em alguns momentos pedira socorro, mas talvez não tenha se exposto o suficiente. Trilhou por caminhos tempestuosos e mesmo assim foram as suas escolhas, e essas o fazem ser quem é agora. O sol continua se pondo e com ele virá a noite cinza. Há melhor representação para o caos que leva dentro de si? Acredita fervorosamente que não.

As cortinas agitam ao seu redor e sua decisão está mais que tomada, não há como permanecer nessa inércia. Sabe lá no fundo, melhor que ninguém, o que tudo isso acarretará, mas em algum momento alguém se pôs em seu lugar? Mesmo que por um segundo?

O peso que carrega em si é tão grande e não consegue e nem quer dividi-lo, se torna exaustivo ao ponto de querer dormir e acabar com tudo isso. Uns dizem para recomeçar, mas sabem bem que às vezes começos não são tão simples, não importa o quanto tente. E outros dizem que há soluções, mas às vezes soluções não são tão simples assim.

Observa as flores em sua janela, um dia elas foram belas e conseguia visualizar sua pureza, tanto delas quanto da de quem as trouxe, e hoje já não sente ou vê o mesmo. Estão mortas, apenas o esqueleto de algo que um dia foi belo. E nesse momento, mesmo que rapidamente, vê o reflexo daquele sorriso, do único que o fazia querer ser inteiro. Inteiro para si e para aquele sorriso. Faria e daria qualquer coisa para fazer com que ele jamais se dissipasse. E era isso que faria por agora.

Fechando as cortinas da as costas a esse tormento, pôde ouvir ao fundo seus amigos implorando para ficar, mas ele se mantinha firme às sombras desse dia. Dispensa todo o calor que lhe mantinha são a fim de reencontrar a si mesmo e só assim se sentiria em paz e completo. Enxergava agora o mundo cinza à sua frente, as nuvens faziam seu papel transformando lentamente tudo em cinza… e com essa visão ia caminhando pouco a pouco junto a esse pôr do sol.

"Às vezes começos não são tão simples

Às vezes o Adeus é o único jeito"