Recomeçar escrita por Flower


Capítulo 4
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Galerinha!!!! Estou de volta com mais um capítulo e vou me desculpando pelo tamanho do mesmo, tenho medo de ter ficado um pouco maçante, mas isso só vocês para poderem me dizer e sendo assim, eu vou procurar reduzi-los de alguma forma.

Então, aqui vai mais um capítulo para voces e tenham uma ótima leitura.



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Felicity Smoak

Eu sei, no momento em que decidi ir para a cama com Oliver Queen para dá-lo um castigo, talvez eu tenha agido da mesma forma suja que ele. Mas eu como mulher não poderia deixar que um homem, mesmo sendo quem é e poderia ser até o papa, agir daquela forma, como se nós mulheres fossemos um mero objeto ou apenas uma peça de um tabuleiro de xadrez.

Quando presencio essas situações, a minha vontade é acabar com a raça de cada um desses brutamontes, tirando tudo que os dá diversão mesmo que eu tenha que usar a mesma arma que eles usam conosco e foi isso que me fez entrar no jogo do bonitão. A partir do momento que eu senti que ele não desistiria fácil de tentar algo comigo, a única saída foi me submeter... Fazer com que ele imaginasse que eu como todas as outras garotas, estava caindo em seu charme avassalador e eu não vou mentir que ele é muito bom nisso. Mas a verdade é que ele não sabia com quem estava lidando, porque quando eu entro em uma jogada não saio dela até ganhar.

Foi isso que eu fiz, em determinados momentos eu juro que ele conseguiu me tirar do sério com suas piadinhas do pior mau gosto que possa se fazer com uma mulher, mas a saída foi respirar fundo e deixar fluir ou então eu não conseguiria chegar ao meu objetivo.

Não vou mentir dizendo que sexo com Oliver Queen foi ruim, pelo contrário, foi um dos melhores que já tive! Claro, eu não sou uma mulher que ao longo da vida tive muitos parceiros, na verdade, em Mississipi eu tinha um namoro que ia completar certos anos e estávamos cogitando até em um noivado, mas tudo desmoronou assim que decidi procurar emprego em outros lugares e como resultado, meu ilustre namorado terminou comigo alegando que não suportaria a distância como obstáculo entre nós. Eu chorei por duas semanas, dois dias, vinte três horas e quarenta e um minutos, mas essa melancolia não foi tão duradoura até perceber que quem estava arremessando tudo para o alto era ele.

Mas, em fim, transar com O Poderoso Chefão aflorou fantasias que existem em mim que eu não poderia imaginar, e sim, eu me sinto uma vagabunda porque todo o lugar que eu estou, incluindo ruas e seus becos obscuros e nojentos, imagino sexo com Oliver Queen, de todas as maneiras e posições que possam existir no Kama sutra. Deus me perdoe por isso, prometo que procurarei um santuário assim que eu conseguir tempo e me ajoelharei sobre o milho para pagar por esses pensamentos pecaminosos que rodeiam minha mente.

O problema é o cheiro que esse homem tem que se torna um alucinógeno para quem está perto e ele sabe disso, ele tem em sua cabeça toda uma linha de como conquistar uma mulher, mesmo que seja apenas por uma noite. Ele não tem pena do estrago que possa fazer nessas mulheres, ele simplesmente não se importa com o que elas sentem ou deixam de sentir, ele só quer satisfazer suas próprias vontades. Porém, o seu toque é aniquilador conseguindo deixar marcas por todo o corpo, que acaba clamando por mais... É irresistível! Me deitar com Oliver, talvez tenha sido um castigo muito maior para mim do que para ele, pois à medida que conseguimos chegar ao maior dos ápices isso me marcou de uma forma que eu não consigo medir, ou de uma forma que meu cérebro registrou e a formatou como única.

E no momento em que virei a maçaneta daquela maldita porta após de algumas taças de champanhe, passou pela minha cabeça um pedido de desculpas por tê-lo tratado como um objeto assim como ele está acostumado a fazer com as mulheres que ele está familiarizado. Mas toda a minha consciência pesada foi ao lixo quando entrei naquela sala e pude sentir a mesma sensação que tive àquela noite no bar, um homem das cavernas que mesmo sendo feito de idiota há algumas horas continuava em seu trono achando que ainda poderia ter tudo o que ele quisesse, mesmo que isso incluísse jogo sujo e conversas que não passariam de meras promessas.

Sim, o sangue subiu pela minha cabeça de uma maneira que não estou acostumada e novamente, ele conseguiu me tirar do sério. Ele parece ter mestrado e doutorado nisso. E de novo eu fui obrigada a pagar na mesma moeda, peguei a primeira coisa que passou pela minha cabeça e joguei sobre ele com autoridade, não importa se aquele dia era apropriado para isso, não importa se deveria realizar uma reunião com os outros acionistas da empresa para que conversássemos mais formalmente sobre o caso. Não importa, eu só precisava mostrar indiferença sobre tudo o que aconteceu, e foi assim que eu pedi os documentos mais importantes da minha vida naquele momento, seria a minha primeira chance de mostrar minhas forças nas Indústrias Queen Consolidated, eu só não esperava propor isso como um desafio para Oliver Queen e muito menos exigir algo de forma tão desaforada ao meu chefe, o diretor executivo.

Entro em meu escritório e assim que repouso minha bolsa em uma das poltronas, meus olhos correm para um arranjo de lírios acompanhado por um bilhete o que me leva a ser uma grande idiota ao deixar passar pela minha cabeça que poderia ser algum pedido de desculpas do Poderoso Chefão. Logo, corro a mão sobre o bilhete e o leio com rapidez.

Que seu primeiro dia seja tão iluminado quanto você.

Att. Ray Palmer.

— Claro, uma delicadeza dessas não poderia vir de um homem bruto como Oliver e sim de Ray, sempre com seu cavalheirismo impecável que chega por vezes me incomodar um pouco. — ouço leves toques sobre a porta. — Entre!

— Bom dia senhorita Smoak, eu sou Curtis Holt seu mais novo secretário!

— Pelo que eu me lembre, não pedi nenhum secretário.

Meu tom de voz parece desestabilizá-lo um pouco e mentalmente me reprimo por isso.

— Certamente! O senhor Ray Palmer que me delegou ao cargo e a senhorita pode ter certeza que eu não irei desapontá-la. — ele sorri de uma orelha a outra.

— Pode me chamar de Felicity! — estendo uma de minhas mãos em forma de cumprimento.

— Você pode me chamar de Curtis! — ele corresponde ao meu cumprimento. — A primeira missão que me foi dada é saber tudo sobre você. Eu sei que você veio do interior dos Estados Unidos, que sua mãe se chama Donna Smoak e é dona de um bar em Mississipi! Que teve um namorado por 4 anos e que iriam ficar noivos. E claro, sua cor preferida é vermelho e sua posição preferi... — o interrompo imediatamente segurando uma risada.

— Curtis! Eu entendi. — solto a risada deixando o clima mais confortável. — É melhor você parar antes que eu o ache que é um psicopata ao invés de meu secretário. — endireito meus óculos e de grau, podendo sentar em minha poltrona.

— Você tem razão!

Ele concorda comigo também ajeitando seus óculos de graus. Curtis parece que tem um humor semelhante ao meu... Mesmo ainda não o conhecendo por completo sinto que vamos nos entender bem, será divertido trabalhar com ele.

— Curtis, poderia pegar um café para mim, por favor? E daqui a algumas horas o Senhor Queen deve me entregar alguns documentos de tamanha importância, seria bom se você os pegasse para mim, não estou muito a fim de certos contatos... Se é que me entende.

— Claro, estou às suas ordens! — ele faz um sinal positivo com a cabeça e se prepara para sair de minha sala quando o impeço.

— Seja bem-vindo!

— Seja bem-vinda.

Após me responder com um breve sorriso amigável, retira-se.

~~~

Oliver Queen

Eu costumava me perguntar por que as pessoas odiavam tanto as segundas-feiras. Na verdade, sempre senti pena desse fatídico dia, ele não tem culpa de vir logo depois do final de semana. Mas entendo as pessoas, o final de semana nos permite realizar determinados afazeres que um dia árduo de trabalho não possibilitaria, como dormir até mais tarde ou sair para a praia logo de manhã. E essa liberdade proporcionada pelo final de semana, na minha cabeça, nunca foi motivo para que eu abominasse a segunda-feira, por mais que eu tivesse que acordar cedo e vir para a empresa recomeçar a minha rotina, não havia lugar para mau humor. Eu preferia acreditar que em poucos dias teria como recompensa o meu final de semana.

Mas dessa vez, especialmente essa segunda-feira, eu estou odiando. Cheguei a desejar que um meteoro caísse sobre a terra e que o mundo viesse a acabar antes do início da semana, porém nada aconteceu. O dia amanheceu naturalmente, eu tive que levantar e me arrumar para enfrentar a infortunada segunda-feira. E só de imaginar todo o transtorno que o dia me promete, meu cérebro parece querer entrar em combustão. E para completar a minha infelicidade, meu dia volta a começar uma merda.

— Bom dia, Queen! — Ray Palmer bate a porta de seu carro e o fecha com o bloqueador automotivo.

— Para quem? — evito fazer qualquer tipo de contato visual. Estico meu braço até minha maleta de couro sobre a Mercedes-Benz, e com passos largos vou me aproximando do elevador do estacionamento.

— O que você está fazendo aqui a essa hora? — sua pergunta é acompanhada de um olhar em seu relógio.

— Eu decidi fazer um relaxamento em meu cabelo e pintar as unhas. — solto um sorriso irônico, e espero o babaca apertar o botão de seu andar que é antes do meu.

— Seu humor não muda, não é? — ele ri forçadamente enquanto aperta o botão com o seu andar de destino. — Eu só estranhei. Você nunca é pontual.

Quando eu tinha onze anos, eu fiquei preso com meus pais no elevador de um hotel em que passávamos as férias de verão. Lembro que demorou mais de duas horas para que a manutenção chegasse, e quando ela chegou eu tive que ter auxilio de paramédicos, porque minha claustrofobia atacou e eu sofri com falta de ar por mais de uma hora. Minha mãe tirou minhas roupas dizendo que eu me sentiria mais a vontade e que faria bem para a circulação do ar em meu corpo, mas não adiantou muito, pois a sensação de que eu iria morrer me sucumbia. E sabe essa sensação? É a mesma que eu sinto agora, ecoando em meu ouvido à medida que Ray Palmer profere cada palavra. E eu tenho a certeza de que minha claustrofobia irá chegar logo mais se eu passar mais alguns minutos com esse cara.

Antes que ele possa saltar no seu andar solicitado, respondo-o. — São negócios! — ele apenas acena a cabeça e pula para fora do elevador. E então eu só falto comemorar o silêncio que volta a ocupar todo o local. Em segundos também chego ao meu andar e me livro do elevador, podendo avistar Caitlin já em sua mesa. — Caitlin! — sussurro.

— O que você está fazendo aqui a essa hora? —  ela franze o cenho ao me perguntar. Eu não sei o porquê das pessoas insistirem que eu me atraso em tudo, na verdade, eu acredito que apenas chego no horário que deveria chegar, um horário em que todos já estão em seus devidos escritórios fazendo seu trabalho, o que me poupa de ser cordial com ‘bom dia’ ou conversas banais logo no início de meu dia. 

— Não acredito que você é a segunda pessoa que me pergunta isso hoje. — reviro os olhos, mas logo dou de ombros. — Felicity já está por aqui?

— É que pontualidade não faz muito a sua linha. — sorri ironicamente. — Acredito que ela tenha sido a primeira a chegar aqui. — Caitlin desvia o olhar da tela de seu notebook e finalmente me encontra.

— Eu não esperaria outra coisa dela... Mas enfim. Conseguiu fazer o que te pedi?

— Os documentos estão sendo impressos, logo mais estarão na sua mesa! — ela sorri, batendo palmas por sua conquista. — Você não vai comemorar?

Abro os dois botões de meu blazer, soltando o ar de uma só vez. Aliviado. — Não. Não gosto de contar com a vitória antes do tempo, só comemorarei depois de ter esses papéis na minha mesa. — antes que ela possa responder, dou meia volta e dirijo-me para minha sala.

Caitlin diz que tenho o dom de deixar as pessoas falando ao vento, mas não me importo com detalhes. Se o que elas dissessem realmente valesse a pena, eu iria conceder alguns minutos de meu tempo precioso, em contrapartida, nunca é algo realmente interessante.  Então eu simplesmente não me importo.

~~~

A porta volta a se abrir em um rompante, e não vou mentir, sinto meu estômago revirar ao me lembrar da última vez que isso veio a acontecer. Mas para o bem de todos e felicidade geral da nação, é somente a minha secretária. Caitlin está segurando envelopes camurças verdadeiramente lotados de papéis, o que a faz andar mais de vagar até alcançar a mesa e joga-los para mim.

— Pronto, os documentos estão aí. Todos. — ela dá de ombros.

— Graças às forças sobrenaturais! — abro um sorriso de orelha a orelha, levantando-me e então, sou interrompido.

— Graças às forças sobrenaturais? Nada disso, graças a mim. Isso não saiu nada barato. — ela puxa a cadeira a frente de minha mesa e se senta, cruzando as pernas. Não consigo não notar o quanto são lindas. Robustas como quem as trabalha todos os dias em uma academia.

— Como assim? — pergunto ao desviar meus olhos das pernas mais lindas que havia visto hoje.

— O responsável técnico pelo almoxarifado só me liberou esses documentos com essa velocidade porque fizemos um acordo. Por sua causa eu tive que dar os meus tickets de almoço a ele! — Caitlin revira os olhos e não posso conter minha risada.

— Então o grande problema é esse? Não precisa se incomodar, esse mês seu almoço de cada dia é por minha conta. — dou a volta novamente a minha mesa sentando em minha poltrona. Abro a gaveta e puxo um talão de cheques. O preencho e mostro para Caitlin que arregala os olhos ainda mais. — Está bom para você?

— Nada mais do que a sua obrigação. Afinal de contas, eu sou a secretária mais maravilhosa de toda a Queen Consolidated. — seu sorriso é largo e empolgante. O cheque sai de minhas mãos e logo a observo levantar e ajeitar a saia antes de se preparar para sair de minha sala.

Eu não vou mentir, Caitlin tem um corpo invejável por muitas mulheres e desejável por muitos homens, e esse foi o motivo de contratá-la. Depois de tantas entrevistas para ocupar o cargo de secretária, ela foi a única que não precisou usar seu corpo para tentar me persuadir, e isso me excitou muito. Também não posso deixar de dizer que os primeiros dias foram difíceis, o tratamento entre nós era tão natural que eu simplesmente esquecia que ela trabalhava para mim e era minha secretária pessoal. E se tem uma coisa que eu respeito é o meu ambiente de trabalho. Aqui eu sou respeitado pelos meus funcionários, evito ser motivo de fofocas e mesmo sendo, que seja fora de minha empresa. Isso foi o suficiente para que eu segurasse meu amigo dentro das calças e não tentasse nada com Caitlin, e para ser sincero? Foi uma das melhores coisas que fiz. Hoje posso dizer que antes de ela ser minha secretária, ela é uma amiga que eu posso contar para momentos como esse em que estou com a corda no pescoço, isso me conforta. Mas nada vai fazer com que eu deixe de olhar para sua bunda sempre que ela deixa a minha sala, é linda demais para não ser glorificada.

~~~

— Por favor, um suco de abacaxi com hortelã para nós. — peço à garçonete que anota o pedido e se retira. Logo, volto a desviar minha atenção para Tommy.

— O que vamos comemorar?  

— Consegui os documentos que Felicity me pediu. Eu aposto que ela achou que eu não conseguiria. Pobre coitada, ela não sabe que consigo tudo que quero.

— Consegue tudo o que quer? Tem certeza, Oliver? — ele alcança o suco ao ser servido e toma um pouco do mesmo. — Não vejo muito por esse lado. — dá de ombros.

— O que você está querendo dizer?

— Só acho que você está muito preocupado em provar algo a ela... Você nunca se preocupou em provar nada a ninguém. A meu ver, você está na palma da mão de Felicity. — Tommy estende uma de suas mãos, impondo um sorriso superior.

— O inferno que estou. — fecho minha mão em punho e dou um leve soco sobre a mesa. — Só estou querendo mostrar a ela quem é o dono da situação, quem é o Manda-Chuva daqui.

— Oliver... Você não precisar mijar em cada pilastra dessa empresa como um cachorro demarcando território, isso é ridículo.

Antes de respondê-lo, sinto o celular vibrar no bolso de minha calça. — Um momento, preciso atender, é a Evelyn.

Diga, Evelyn! — atendo o telefonema.

Senhor Queen, eu estou com alguns problemas e pensei que poderia me ajudar. — sua voz sai falhada.

Aconteceu algo com William? — uma leve ruga de preocupação começa a se formar em minha testa.

Não é nada com o Will. Na verdade, eu recebi uma ligação de meus pais e eles disseram que minha avó não está bem, foi internada hoje mais cedo. E meus pais estão esperando por mim no Hospital de Starling. — seu nervosismo a faz atropelar as palavras.

Entendo, não se preocupe. Pode ir ver a sua avó e qualquer coisa que você precise quero que saiba que estou por perto.

Obrigada. Mas estou ligando para dizer que devido a isso não irei conseguir levar William a escola, tem algum problema em leva-lo? — pergunta.

Que nada, pode deixar isso comigo. Você o deixa aqui?

Na verdade, meu taxi está em frente à empresa.

Ok! Leve ele para o meu andar e peça a Caitlin para deixa-lo em minha sala que eu já vou ao seu encontro.

Certo, Senhor Queen. Obrigada e tenha um bom dia. — ela finaliza a ligação.

Ao ter finalizado a ligação, deposito o celular no bolso interno de meu blazer, voltando a olhar para Tommy, que me observa pensativo. Pigarreio para limpar a garganta e reviro os olhos.

— Aonde paramos mesmo? — pergunto.

— Na parte que você se nega a dizer que está de quatro pela nova responsável do setor de Tecnologias da informação. — ele coça a barba e ri de seu próprio comentário. — Desculpe, é que é engraçado dizer isso.

— Não tem nada de engraçado aqui e você está me importunando com essas suas insinuações.

— Ollie, não leve para o lado pessoal... Está parecendo uma menininha escondendo dos pais que virou moça! — solta uma gargalhada.

— Chega Tommy, eu desisto de te aturar. Preciso levar William para a escola. — levanto rapidamente, exausto de todo o bombardeio. — A conta é sua. — forço um sorriso e me retiro dali.

~~~

Antes de chegar a minha sala sou pego no meio do caminho por um dos acionistas da empresa, que consegue roubar minutos preciosos de minha atenção com alguma banalidade que ao menos presto atenção. Além de me azucrinar com assuntos insignificantes, ainda tenho que aguentar a criatura babar as minhas bolas com tantas bajulações. Por fim, consigo dar um desfecho a conversa que não nos levaria a lugar nenhum e consigo chegar ao meu andar. Passo por Caitlin que no momento está atendendo a um telefonema e então me encaminho até a sala. Coloco a mão sobre a maçaneta da porta e a giro, ao abrir a porta me deparo com William sentado em minha poltrona apoiado sobre a mesa com certa dificuldade.

— Olha o meu homenzinho! — um sorriso bobo surge em meus lábios e permaneço parado ainda segurando a porta somente admirando William.

— Papai! — ele desce da poltrona e corre em minha direção, dando um longo e apertado abraço em minhas pernas. — A tia Evelyn disse que você me levaria para a escola!

— Amigão! — ao sentir seu abraço, abaixo meu corpo podendo ficar do mesmo tamanho que o pequenino. — Missão dada é missão cumprida. É claro que eu vou leva-lo para a escola.

— Papai, eu fiz muitos desenhos para você. — William se afasta do meu abraço de urso e pega em minhas mãos. — Venha ver! — ele me puxa entusiasmado.

Levanto rapidamente, deixando sua mãozinha em miniatura me guiar. — Estou ansioso para ver a sua arte! — continuo com o sorriso bobo.

— Aqui papai! Eu fiz também um para cada amiguinho meu da escola. — ele solta minha mão e com dificuldade volta a subir à poltrona.

À medida que meus olhos correm sobre a mesa, os batimentos de meu coração parecem diminuir e minha respiração passa a sair mais forte. Meu estômago volta a revirar assim que observo a mesa repleta de papéis desenhados com um marca-texto fluorescente e fora de seus devidos envelopes. Respiro fundo e puxo a cadeira a frente da mesa onde eu sento e abaixo a cabeça enquanto que massageio a parte de trás de meu pescoço. Posso sentir minhas orelhas queimarem como um verdadeiro inferno.

Puta merda.

— Você não gostou dos desenhos, papai? — sua voz sai baixinha como se estivesse ensaiando um choro.

Ergo a cabeça e rapidamente me levanto, dando a volta e alcançando William. — Seu pai... Gostou dos desenhos, claro que gostou. — passo meu polegar em suas bochechas coradas.

— Mas você não está sorrindo. — sinto seus dedinhos se depositarem ao canto de meus lábios que sorriem involuntariamente.

— Não é isso, William. É que essas folhas são o trabalho do papai! — observo um beicinho voltar se formar. — Mas não tem problema, eu vou resolver isso... Só que você tem que me prometer que não vai mais mexer nas coisas sem pedir permissão, certo? Se fosse outra coisa você poderia ter se machucado! — passo a mão em seus fios finos de um tom dourado claro.

— Prometo. — uma lágrima escorre por sua bochecha e o beicinho continua formado.

— Não é para chorar, meu amor. — limpo a lágrima que deixa rastro por sua bochecha. — Agora você vai ficar quietinho aqui por alguns minutos, eu vou resolver algumas coisas. — deposito um beijo sobre sua cabeça e com passos largos saio da sala em direção à mesa de Caitlin.

— O que foi dessa vez? Esse seu olhar não quer dizer notícias boas. — Caitlin afasta sua cadeira de rodinhas para trás, podendo morder a tampa de sua caneta.

— William bagunçou os documentos e desenhou em muitos deles. — olho em meu relógio rapidamente. — E Felicity logo mais estará aqui me cobrando por eles, você precisa fazer alguma coisa.

— O que você quer que eu faça? Eu já fiz tudo que estava em meu alcance, Oliver. — suspira. — Foram todos os envelopes?

— Não, na verdade, acredito que só tenha sido os primeiros envelopes. Mas como os papéis foram todos desorganizados, não sei dizer o que foi perdido. — levo minhas duas mãos as minhas têmporas, massagenado-as.

— Eu vou pedir que os documentos referentes a esses dois envelopes sejam novamente impressos, ok? — ela volta com a cadeira novamente para próximo de sua bancada e começa discar em seu telefone de mesa.

— Certo. Eu preciso levar William para o colégio, volto assim que puder! — corro novamente para a minha sala, podendo resgatar o pequeno Leonardo da Vinci.

~~~

O caminho até a escola não é nada silencioso, uma vez que William está na fase das grandes descobertas, tudo que toca ou que observa gera um grande “por quê?”. Ele quer ter autonomia para fazer as coisas sozinho, como se alimentar e até mesmo se vestir. Além disso, faz questão de me contar tudo que sabe de seus amiguinhos. E estar por dentro de seu crescimento e conquistas me faz até mesmo esquecer os problemas. Sinto falta disso, de poder participar mais de sua vida, às vezes, a empresa me cobra tanto que eu ao menos tenho tempo de estar presente na vida de William, o que me deixa diversas vezes até um pouco distante.

Porém, meus devaneios chegam ao fim à medida que estaciono o carro em frente ao colégio, William se despede de mim com um beijo estalado em minha bochecha e corre para fora do carro até uma das coordenadoras que o leva para dentro. Volto a ligar o carro, até que o silêncio volta a ser quebrado com a ligação de Caitlin.

Sem tirar os olhos da direção, atendo o telefonema no viva voz do carro. — Conseguiu? — pergunto.

Oliver, a impressora multifuncional encarregada de imprimir os documentos pifou... Não vou conseguir entrega-los no tempo estipulado. — sua voz sai decepcionada.

Como assim? A Indústria Queen Consolidated tem mais de quarenta andares e não se tem a porra de uma impressora funcionando? Coloque em outra!

Eu não posso fazer isso, as outras estão em meio à impressão de documentos importantes de outros setores, não posso interromper. — explica. — Mas hoje no final da tarde ou no inicio da manhã de amanhã esses documentos estarão prontos novamente!

Estou fudido. Sou um grande fudido.

Finalizo a ligação.

~~~

Vocês devem estar se perguntando o porquê de eu estar fazendo uma tempestade em um copo de dose de vodka, mas é que em todo o tempo que estive onde estou nunca fui desafiado de tal maneira. Todos me respeitam aqui dentro a ponto de terem medo de se aproximarem de mim ou até mesmo de terem que fazer uma simples pergunta. E de uma hora para a outra, uma mulher que eu nem se quer conheço faz o que faz comigo e depois quer me encher de ordens? Sim, eu estou com o meu orgulho ferido. Estou me sentindo usado, desdenhado e oprimido.

Essas sensações estimulam uma insegurança dentro de mim que eu não sabia que ainda existia. A última vez que passei por isso foi durante a apresentação de meu último trabalho do terceiro ano no colegial. E eu só senti isso, porque estava apostando com Tommy que se eu obtivesse a nota total ele teria que trepar em todas as pilastras do colégio como um cachorro no cio, em meio ao intervalo das aulas. Então, eu tinha que dar o melhor de mim ou o fudido seria eu. Porém, eu venci como todos os outros desafios que me impunham, e isso me deixou mal acostumado.

Até hoje.

A porta volta a se abrir repentinamente, logo levanto a cabeça e paro de assinar os muitos papéis sobre minha bancada. E como um furação Felicity se aproxima de mim. É impossível não perceber a fumaça saindo de seus ouvidos e cabeça, mas antes que eu me importe com isso, preciso analisar todo o conjunto da obra e como eu estava com saudade dessa vista, desta vez, ela está usando um blazer vermelho que chama atenção para ela, somente para si. A saia de cintura alta a deixa ainda mais elegante. E os Louis Vuitton altos são negros como a fúria. Logo, meus pensamentos pecaminosos são quebrados por sua voz estridente, fazendo-me voltar para o inferno que me aguarda.

— Sua secretária mandou um garoto de recados ir até a minha sala avisar que os documentos só chegariam a minha mesa amanhã de manhã, vocês são caras-de-pau mesmo! — solta uma gargalhada irônica enquanto que coloca as duas mãos sobre minha mesa encurvando seu corpo. Como ela consegue ser tão linda ainda irritada? Eu poderia viver tirando-a do sério só para contemplar o quanto fica linda.

— Qual o seu problema em ser anunciada? — pergunto me referindo a uma das numerosas funções de Caitlin, que consiste em anunciar pessoas.

— Você tem noção de como esse atraso vai me prejudicar? — Felicity tem a arte de me ignorar, eu não sei se isso me tira do sério ou me excita completamente por parecer uma cópia feminina de mim.

Pensando bem, nenhuma das opções são verdadeiramente certas, na verdade, essa semelhança chega a me assustar.

— Felicity! — ergo minha voz de tal forma, que posso sentir essa mulher estremecer. Levanto de minha poltrona e também apoio meu corpo sobre as minhas mãos encima da mesa. — Calma, são só algumas horas de atraso! A culpa não é da Caitlin e muito menos minha certo? Foi apenas... Um erro de percurso.

Por incrível que pareça um silêncio contempla o escritório, Felicity parece estar pensativa.

E isso volta a me assustar, muito!

Será que eu deveria chamar a polícia? O corpo de bombeiros? Meus advogados? Isso não me parece cheirar bem.

O silêncio enfim é quebrado por Felicity que agora pronuncia as palavras tão baixo que posso ouvir como sussurros. — Você não tem ideia de como essas horas vão me atrapalhar... Na verdade, você não tem ideia de muita coisa por aqui, não é? Responsabilidade nunca deve ter sido seu forte.

Hey, essa mulher é um trator.

— Eu não quero discutir Felicity, eu estou apenas desarmado. — minha mão involuntariamente toca uma de suas que também está apoiada sobre a mesa. Mas meus olhos continuam caindo sobre os dela. Eu não sei o que se passa na cabeça dessa mulher, mas eu não consigo pensar em mais nada além de como a cor dos seus olhos são hipnotizantes.

É um azul tão cristalino que se assemelha ao translúcido das Maldivas, ou até mesmo ao céu límpido de um dia de domingo. Eles me passam transparência, verdade, mesmo que a fúria esteja o mascarando. É um olhar que me passa confiança, eu poderia confiar em Felicity se ela me deixasse entrar.

Oh céus, o que está acontecendo comigo?

É o juízo final.

Felicity solta um leve suspiro ao sentir meu toque, o que a desnorteia um pouco. Eu posso sentir apenas pelo fraquejar de seus olhos que ainda caem sobre os meus. — Eu não estou aqui para discutir com você, Oliver! — sua mão se desvencilha da minha rapidamente.

Touché, alguém aqui me chamou pelo primeiro nome pela primeira vez! Ponto para mim. — Então não precisamos discutir!

— Essa não é a questão. O problema é a sua falta de responsabilidade! Por conta desse seu atraso eu vou ter que remarcar a reunião em que eu iria expor a minha visão sobre esses documentos. Isso não é brincadeira. — Felicity tira seus óculos e massageia seus olhos. Ela me parece cansada, até mesmo esgotada.

— Tenho uma ideia. Eu sou o diretor executivo, eu marco e desmarco essas reuniões quando quero, é só estalar os meus dedos. — sorrio, dando a volta na mesa e me apoiando sobre ela ao lado de Felicity que permanece em pé. — E aí, podemos pular esse estresse desnecessário, eu te perdoo pelo o que me fez naquela manhã e podemos sair para algum lugar mais particular que esse aqui.

— Você é um idiota mesmo. — solta uma gargalhada incrédula. — Por que tudo te leva à promiscuidade? — Felicity volta a colocar seus óculos e seus olhos percorrem sobre mim novamente.

— Eu não vou mentir, gosto disso. — rio.

— Olha aqui, eu batalhei muito para chegar aonde eu cheguei. Com muito esforço entrei para uma das melhores universidades públicas de Tecnologias da informação. Não foi fácil... — antes que eu possa cortá-la, ela levanta seu dedo indicador apontando-o para mim como uma faca afiada. — Não me interrompa! — continua. — Não foi fácil construir os degraus na minha vida. Pisaram em mim, viraram a cara para mim por eu ser mulher em um curso que a maioria era homem! Eu tive que aguentar machismo, preconceito e assédio. Não estou aqui de graça, custou-me muito.

É impressão minha ou essa mulher acaba de iniciar uma lição de moral? Daqui a pouco até as criancinhas da Síria e da África entrarão para jogo.

— Eu te entendo. — ela volta a me interromper. Que mulherzinha mais metida.

— Não, você não entende! Eu tive que batalhar até chegar aqui. Você não, pelo contrário, nasceu em um berço de ouro regado a mimos. Deve ter estudado em um dos colégios mais caros até chegar à faculdade com a tranquilidade de já ter um emprego garantido. — solta uma gargalhada irônica. — Eu duvido muito que você já tenha passado algum tipo de dificuldade, alguma dor, alguma perda!

Felicity é mais dura que a vida quando decide nos acertar bem na cara. Nenhuma pessoa até onde cheguei teve a audácia em jogar tudo isso em minhas costas. E para ser sincero, desta vez, doeu.

Não vou dizer que parte do que diz está errado ou é mentira, mas também não posso omitir que sei o que é sentir uma dor de verdade, sei o que é perder alguém. Perder até mesmo o motivo de viver.

E isso acaba de me magoar profundamente, consegue chegar tão longe a ponto de resgatar memórias de dentro da minha caixa de inox blindada que eu tanto faço questão de deixar em um dos lugares mais distantes de minha alma. Eu estou chocado como alguém conseguiu se aproximar tanto de meu interior como ela acaba de conseguir. Pela primeira vez, estou nu diante dela, meu coração esfria e sem saber como cheguei a minha poltrona, deixo meu corpo cair sobre a mesma. Se eu havia ganhado um ponto ao meu favor contra Felicity, ela acabara de ganhar o jogo de virada.

— Você não sabe o que diz. — minha voz sai fraca e até mesmo quebradiça e agora, meu olhar não está mais nela, estou atônito.

— Eu sei exatamente o que estou dizendo. Se você conseguiu estar aqui por ser filho de quem construiu tudo isso, eu não! Tive que batalhar para ser reconhecida e não vai ser você quem vai passar por cima de mim. — ela encurva ainda mais seu corpo, podendo ficar mais próxima de mim. Posso sentir seu hálito quente.  

Ela quer chutar cachorro morto.

Definitivamente, ela quer.

— Felicity... — desvio meu olhar do ‘nada’ e passo a observa-la novamente. — Não precisamos ser baixos um com o outro!

— Eu sendo baixa com você? Piada. — ela ri. — Eu volto a dizer, não tente me prejudicar novamente, porque enquanto você acha que tem um passo diante de mim, eu tenho dois na sua frente, Senhor Queen! — uma piscadela é dada por Felicity em questão de segundos e sem esperar uma réplica de minha parte, ela se retira de minha sala.

~~~

— Oliver! — Diggle diz ao abrir a porta de seu apartamento e me avistar. — Você não parece muito bem... Entre!

— Eu não estou nada bem, John. — entro no apartamento me arrastando. Parece que estou febril, meu corpo está prostrado.

Eu sei que vocês dizem que nós homens somos dramáticos demais, mas é que faz parte de nosso DNA, é genético.

— O que te abala? — ele dá a volta em seu bar particular e pega uma garrafa. — Uísque puro de sempre?  

Sento-me em um dos bancos e apoio meus cotovelos sobre a bancada. — Duplo, por favor. — abaixo a minha cabeça e fecho meus olhos por um tempo. — É que você não vai acreditar...

— Felicity deixou mais uma nota de cem depois de vocês fazerem sexo e você está aqui para chorar em meus ombros? — John ri enquanto me entrega o copo de cristal com meu uísque cowboy. — Sim, Tommy me contou tudo na última vez que nos vimos.

Abro meus olhos e levanto minha cabeça. — O Merlyn está se tornando a Maria Fifi da empresa, não me surpreendo. — alcanço o copo com a bebida. — Na verdade não, ela só me disse algumas coisas que conseguiram me desequilibrar!

— Que coisas?

— Eu não entreguei alguns documentos de urgência que ela havia pedido. Motivos de William ter desenhado em muitos deles! — reviro os olhos. — E ela me encurralou. — suspiro antes de continuar a martelar minha mente enquanto conto. — Disse que eu não tenho responsabilidade, que cheguei aonde cheguei por conta de meu pai ser o criador das Indústrias Queen Consolidated... E ainda ousou em dizer que nunca passei por nenhuma dor ou perda! — dou um gole que leva a metade do uísque que constitui o copo.

Ele arde enquanto desce.

Como sal em uma ferida aberta.

— Oliver... Você não tem que ficar assim! Não deixe que essas palavras sucumbam quem você verdadeiramente é. Certamente ela disse isso pelo pouco que ela conhece de você, que não é positivo aos olhos dela.

— É que isso me desestruturou um pouco... Me fez parar para pensar se ela não tem razão no que diz. — tomo o restante do uísque e comprimo minhas pálpebras pelo gosto amargo.

— Só pode estar brincando comigo. Como você poderia acreditar no que ela falou? Oliver, quarenta por cento do crescimento daquela empresa foi por sua causa, pelos seus fechamentos de contratos bilionários. Em apenas poucos anos. — ele faz um sinal negativo com a cabeça e continua. — Seu pai não é imbecil, ele tinha total segurança quando decidiu te colocar no lugar dele, não seja burro de pensar o contrario.

— Eu não sei o poder que essa mulher exerce sobre mim. — suspiro soltando o ar de uma só vez. — Tudo o que ela diz transborda verdade, o que me deixa inseguro.

— Cara, nem a Susan Williams que tem uma coluna no jornal destinada a destruir sua imagem conseguiu te deixar assim, admira-me uma novata chegar a esse ponto! — John Diggle ameaça um sorriso que antes que as sinapses de seus neurônios consigam esboça-lo, o interrompo.

— Não me venha com esse sorrisinho, nada do que está passando em sua cabeça nesse exato momento faz sentido. — balanço a cabeça em negativa. — Com Susan foi diferente, isso que ela faz é ódio. Ela nunca vai aceitar que o que aconteceu entre nós foi apenas uma noite!

— O que você acha que está passando em minha cabeça? — sua pergunta me impressiona por ser tão direta.

John sempre teve o poder de ler o mais íntimo das pessoas. Desde que o conheci se tornou um ombro amigo em que eu sei que posso confiar minhas lamúrias, e também minhas conquistas. Diferente de Tommy, ele é mais maduro e sabe interpretar cada linha de pensamento que esteja sendo tramada por minha mente sem escrúpulos. Com toda a certeza, posso dizer que este homem é o meu guru, por outro lado, ele sabe me encostar contra a parede e mesmo que eu não queira mostrar o que estou sentindo, ele consegue fazer com que eu transpareça sem ao menos dizer. Isso me assusta, e esse é um dos momentos em que estou me sentindo um desses camundongos de laboratório que são submetidos a labirintos exaustivos e pavorosos.

— Você sabe muito bem o que eu acho. — estico minha mão direita que está segurando o copo de cristal agora vazio e o coloco sobre o balcão. Rapidamente, levanto do banco e observo John dar a volta até mim. — Eu tenho que ir meu amigo, obrigado por sempre estar disposto a me ouvir! — com a mesma mão, estendo-a para um cumprimento.

Ele escorrega o olhar até minha mão estendida e a nega enquanto abre os grandes braços e me cobre com um abraço. — Amigos servem para isso, Oliver! — ao nos afastarmos, ele me leva até a porta e a abre para mim.

— Eu sei que sim. — sorrio baixo e atravesso a porta já aberta, e antes que eu possa partir de vez sua voz me segura por ainda breves segundos.

— Oliver! — a voz ressoa pelo corredor o que faz minhas pernas travarem para escuta-la. — Se permita. — ele pausa por algum tempo, logo continua. — Dê mais uma chance a você, mesmo que seja a segunda ou a terceira vez... Apenas se dê o direito de recomeçar!

Ao terminar de ouvi-lo, faço um singelo balançar de cabeça em positivo e dou meia volta podendo continuar a andar para longe dali. A palavra recomeçar começa a repercutir em minha cabeça como badalos de um sino.

Blim-bém.

Blim-bém.

Blim-bém.

É perturbador como essa ideia parece me incomodar por todo o trajeto que faço em meu carro. Recomeçar sempre foi um problema para mim que a todo o momento fui amante da segurança. Estar seguro é um dos meus pilares, é através disso que sigo a minha vida, não dou um passo a mais ou a menos antes que esse seja extremamente e minuciosamente calculado. A minha segurança tem como base a cautela, tudo que possa sair das minhas mãos se torna um perigo eminente para mim.

E foi exatamente o que aconteceu quando encontrei Samantha na sala ao lado, ela estava destilando seu melhor sorriso com um dos clientes das Indústrias Queen Consolidated. Um sorriso capaz de nos mostrar que a vida ainda pode nos trazer motivos para ser feliz mesmo com todas as dificuldades que possam existir. Mas antes que eu pudesse me deixar levar por esse sorriso, eu calculei todas as possibilidades que eu teria para não magoá-la, e claro, todas as chances que eu tinha de não sofrer caso eu a entregasse o meu coração.

Eu não sabia como fazer isso, enfrentar as mudanças que ocorreriam em minha vida. Recomeçar uma vida com ela seria totalmente diferente do que eu estava acostumado a lidar no meu dia-a-dia que se resumia a muitas mulheres, meu sucedido emprego e às noitadas com amigos. Ter que transformar a minha vida por ela seria um embate muito grande para mim, o que me intimidava.

Mas por ela eu quis modificar a minha vida para que se moldasse a dela, eu quis sair do meu mundo para viver o dela, suas ambições e vontades.

Eu me permiti.

Por outro lado, tudo que aconteceu fez com que eu voltasse a ser o velho Oliver Queen de sempre fechado em meu próprio mundo. Em meu próprio eu. Voltei ao comodismo, às mulheres que me desejavam deixando-me mal acostumado e sem paciência para seguir em frente com elas. Voltei a priorizar o trabalho e William, nada além disso conseguia mexer com a minha cabeça, uma vez que no trabalho eu era o melhor, conseguia as melhores propostas. Todos abaixavam as calças e arreganhavam a bunda por uma simples assinatura minha, e em casa eu era um herói para meu filho, quase um Arqueiro verde que combatia seus maiores vilões.

E agora, depois de tanto tempo tudo parece estar voltando, colidindo contra mim. Me sufocando, e eu não consigo mensurar o quanto isso já me afetou. Não deveria ser assim. Não pode ser assim.

— Senti sua falta. — agacho em frente à lápide encima do túmulo deixando algumas rosas brancas sobre ele, as preferidas de Samantha. — Desculpe por não vir mais. — minha mão percorre pela superfície de uma foto no centro da pedra.

Está quase anoitecendo, o jardim particular criado pela família de Samantha no cemitério mais conhecido de Starling City está vazio, não há literalmente nenhuma alma viva além de mim por aqui, deixando-me mais a vontade para falar “sozinho” e não ser considerado um verdadeiro louco.

Continuo. — Eu conheci uma pessoa, eu sei, de onde é que você esteja deve saber o quanto ela é maluca. — esboço um sorriso terno. — Ela me trouxe lembranças sobre você que eu desejaria esquecer. John diz que ela mexe comigo e que talvez eu goste do que esteja acontecendo. — abaixo minha cabeça por questões de segundos, comprimindo meus olhos enquanto busco as palavras certas. — Só queria uma direção, uma segurança! Recomeçar nunca foi tão fácil para mim, desde pequeno! — volto a levantar a cabeça e apoio meus antebraços sobre minhas coxas agachadas.

Sempre que a angústia aperta a boca de meu estômago e mascara meu coração de preocupações, eu corro para cá. Samantha agora é uma espécie de melhor amiga, já que eu não consigo nutrir nenhuma amizade séria com uma mulher sem que eu acabe a levado para cama. E as mulheres sempre têm os melhores conselhos, e esse lugar rodeado pelas flores preferidas dela, me traz calma.

— Você sempre tem razão. — falo por fim enquanto sorrio como se estivesse escutando novamente sua voz calma me aconselhar. Palavras que se assemelham com as que escutei de John nesse final de tarde. A verdade é que a direção está debaixo do meu nariz, o caminho a ser seguido está gritando por alguma atitude minha, só é preciso ter coragem. E por mais que isso demande tempo de minha parte, talvez eu consiga me acostumar com as mudanças.

Talvez eu me permita.

O silêncio do local é quebrado quando sinto meu celular vibrar e gritar pelos quatros cantos para ser atendido, e logo meus pensamentos são aquebrantados me fazendo voltar à realidade.

O telefonema é de Evelyn que me tranquiliza ao dizer que após ter resolvido seus problemas familiares, passou na escola de William para busca-lo e que apenas estava me esperando chegar em casa para retornar as suas atividades no curso noturno. Assim que finalizo a ligação, posso sentir que a realidade está de volta exigindo respostas e atitudes de nós meros mortais, avisando-me que é hora de voltar para casa e deixar o passado no seu devido lugar e apenas se permitir começar de novo.

E eu vou tentar.

Juro.


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Notas finais do capítulo

Foi isso galera, espero vocês nos comentários. ♥ (Espero que tenham gostado)



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