Aconteceu escrita por Alanna Drumond


Capítulo 8
Capítulo 8




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Dez meses se passaram e minha vida mudou completamente. Pra começar, eu continuo trabalhando na “Duarte Advogados” e isso para mim incrível já que eu nunca consegui ficar em um emprego por mais tempo que o era o período de experiência. As coisas estavam bem melhores. Mas eu tinha mais dívidas do que imaginei. Demorei mais tempo que o planejado para conseguir colocar tudo em ordem e com isso ainda não consegui levantar a grana necessária para que eu termine meus estudos. Tenho uma boa parte guardada, mas não é o suficiente. E agora eu só tenho mais dois meses aqui, e depois o Rafael vai me mandar embora. Eu estava bem triste com isso.

Estava triste por vários motivos, não conseguir a grana para a faculdade era um deles. Mas a verdade é que eu realmente me sentia bem na “Duarte Advogados”. A equipe era incrível, todos muito compreensíveis e amorosos, e tinha dona Sônia, que era a mãezona de todo mundo que trabalhava ali. Aos poucos eu ia me despedindo daquele lugar, e das pessoas com que eu trabalhava. Mas sabia que não ia conseguir me despedir dela.

 Alice estava preocupada comigo, mas por mais estranho que pareça nós invertemos os papéis e eu era a otimista da história agora, dizia a ela que tudo ia ficar bem e que logo eu encontraria um novo emprego. Eu já estava mandando currículos e me adiantando no processo para ficar o menor tempo possível desempregada. Como trabalhei por quase um ano aqui e não cometi nenhum desastre – apenas provoquei alguns contratempos, como confundir datas e horários de audiências – devo conseguir um emprego bom e rápido. E espero que o emprego novo seja como aqui, que eu tenha os melhores colegas e um chefe quase gente boa.

Rafael e eu quase não conversávamos. Alice tinha razão, na maioria das vezes meu contato com ele era “Bom dia Dr. Duarte, como vai?”, mas em algumas ocasiões, como quando dona Sônia teve pneumonia e ficou duas semanas sem trabalhar e eu tive que ser a assistente de Rafael, parecia que a cada dia eu conhecia um pouco mais dele. Eu descobri que nas terças, o dia que o pai de Rafael vinha no escritório ver como as coisas estavam, Rafael usava preto e sempre ficava mal humorado, franzia o cenho praticamente o dia todo e raramente conversava com alguém. Devo confessar que quando ele franze o cenho ele fica muito sexy, e eu já me peguei relembrando a visão várias e várias vezes.

Mas eu realmente não tinha esperanças de ter algo com ele é claro. Primeiro por conta da hierarquia, alguém como ele nunca se envolveria com uma simples funcionária que não terminou os estudos. Segundo porque como ele nunca foi visto com alguém nesses dez meses, eu estava começando a achar que ele fosse gay. Do contrário, quais seriam as chances de um gato com ele, rico, inteligente e educado estar solteiro? Ou ele era gay ou era ruim de cama – embora eu me recuse a acreditar na ultima alternativa, e não me oporia em verificar essa hipótese pessoalmente. 

Rafael era algo bem distante de mim, com quem eu apenas podia sonhar de vez em quando. Minha realidade era outra. Bem outra. Daniel, o outro cara gato do escritório, e eu saímos algumas vezes, ele pareceu interessado, mas eu simplesmente não podia pensar em relacionamento. A verdade é que tinha certo medo de me envolver com alguém novamente. Gustavo havia me machucado demais, e não tinha certeza se estaria disposta a colocar meu coração a prova novamente. Obviamente, não contei essa parte a Daniel. Simplesmente disse que estava focada no trabalho e que não queria complicações com Rafael, visto que sabia que relacionamentos entre funcionários não era uma coisa bem vista por ele no escritório. Ele foi bem claro quando me admitiu.

— Não posso controlar a vida pessoal dos meus funcionários, mas peço a todos o máximo de cuidado. Não quero problemas no escritório. Então, se puder evitar se envolver com algum colega, eu agradeço. Mas se não puder, o mínimo que eu espero é descrição e que não deixe que nada afete seu trabalho na “Duarte”.
— Não se preocupe Rafael, não tenho a intenção de me relacionar com ninguém por enquanto. Minha vida anda conturbada o bastante pra isso.
— Ah é? Bom, espere que consiga resolver suas pendencias e ter uma vida mais tranquila – disse e quase sorriu.

Rafael me incomodava, essa era a verdade. Só o vi sorrindo uma única vez, e até então isso era raridade. Vez ou outra eu o via reprimindo um sorriso, e sinceramente não entendia o por quê. Ele era muito fechado, muito calado, vivia num mundo só dele e não deixava ninguém se aproximar. O que mais tentava, e raramente conseguia, era Daniel. Mas ele era muito discreto e não compartilhava suas impressões com ninguém. Mas eu entendia, afinal Rafael apesar de tudo ainda era o chefe. Mas ele deixaria de ser apenas o chefe.


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