Aconteceu escrita por Alanna Drumond


Capítulo 71
Capítulo 71




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/737700/chapter/71

Depois que eu comecei a trabalhar na Duarte eu aprendi algumas coisas sobre Rafael. A primeira delas: ele ama um descafeinado. A segunda é que eu devia servir um lanchinho depois de dez minutos que ele recebesse um cliente. Só que tinha dias que ele recebia tantos clientes, e eu preparava tantos lanches, que eu me perguntava se ele ia explodir. Hoje era um desses dias.

Com nossa extensa estadia na Holanda, Rafael estava com a agenda toda embolada e tinha vários clientes para atender nos próximos dias. O entra e sai do escritório era constante. Isso significava que eu tinha muito trabalho a fazer. Apesar disso, eu não conseguia parar de pensar em Rafael. Não Rafael meu chefe, mas meu Rafael.

Era estranha a forma como eu separava os dois. Parece que existem dois Rafaeis, quando na verdade só há um. O problema é que eu me envolvi com um deles, e não podia deixar essa relação afetar minha vida profissional com o outro. Parecia confuso, mas era no mínimo engraçado. A questão é que eu sou apaixonada por Rafael. Sou apaixonada pelos dois. Pelo único que existe.

Esperei atenta o relógio marcar dez minutos desde que Rafael recebeu o último cliente do dia. Preparei a bandeja com o lanche e rabisquei um bilhete para ele. Eu devia desculpas a ele. Peguei pesado demais e odiei o clima pesado que ficou entre a gente. Eu queria fazer as pazes, não queria brigar.

“Eu não devia ter falado daquele jeito com você. Não devia ter falado da Sabrina. Eu estava nervosa, não pensei direito, minha cabeça estava a mil. Me perdoa, meu amor. Eu amo você, muito! Eu não quis te magoar. Eu sinto muito. Ana”

Dobrei o bilhete e coloquei na bandeja e entrei na sala dele. Ele conversava com o cliente e nem me olhou. Deixei bandeja e deslizei o bilhete para fora dela, repousando-o na mesa perto de Rafael. Ele captou o meu movimento, e quando finalmente me olhou, eu abri um sorriso e sai da sala.

Eu o deixei desatento. Percebi isso pela forma como ele olhava para o cliente. Parecia que o homem falava grego ou que Rafael estava em outra dimensão. Pela parede de vidro eu pude ver quando ele abriu o bilhete e olhou pra mim. Eu sorri novamente, mas ele não expressou nenhuma reação. Talvez seja porque estava na presença do cliente dele. Pelo menos eu esperava que fosse isso, otimismo nunca foi o meu forte.

Quando o cliente foi embora, uma hora e vinte e sete minutos mais tarde, o telefone da minha mesa tocou. Eu olhei pra sala de Rafael e o vi no telefone olhando pra mim. Era ele.

— Oi.
— Preciso de você – ele disse
— Estou indo. – desliguei, já estava no fim do expediente, desliguei o computador e fui pra sala dele. – Em que posso te ajudar?
— Fecha as cortinas – ele mandou e eu obedeci. Ele deu a volta na mesa e parou a centímetros de mim de modo que eu podia sentir sua respiração.
— Eu também sinto muito – ele disse. – Sinto muito por não poder te ajudar nisso. Você teve razão quando disse aquelas coisas sobre a Sabrina. Eu tentei me inocentar. Várias vezes, mas não consegui. O sentimento de culpa ainda tá aqui – ele levou a mão no peito como se doesse e isso fez com que eu sentisse um aperto no peito também – Eu também não sei como te ajudar a não se sentir assim. Mas eu quero que saiba de uma coisa. – disse passando a mão no meu rosto – Eu amo você. Como nunca amei ninguém nessa vida. E independentemente do que você sente, pra mim você não é a culpada. Você disse que se não estivéssemos juntos, eu não teria passado por tudo aquilo. Mas você tá errada. Eu só consegui passar por tudo aquilo, eu só consegui sobreviver, porque estamos juntos. Você me deu um motivo pra lutar Ana, um motivo pra viver. Você me salvou. É por sua causa que eu estou aqui. – ele me puxou para seus braços e eu desabei. Eu chorei. Chorei por mim, por nós, pelo que o monstro do Gustavo fez, e no fim eu chorei de felicidade, por estar nos braços do homem que eu amo e porque estávamos juntos.
— Desculpa – eu disse fungando – eu odeio ficar brigada com você
— Nós não brigamos. Essa ainda não foi a nossa primeira DR Ana – eu ri, pois disse algo parecido pra ele no hospital.
— Nós estamos bem
— Nós estamos bem – ele repetiu e me beijou.

Era de fato estranho beijá-lo ali, naquela sala, na Duarte. Mas amei tanto aquele beijo. Ele me mostrou com seus lábios que estávamos realmente bem.  E foi tão bom. Bom enquanto durou. A porta da sala foi aberta bruscamente me fazendo pular de susto para longe de Rafael. Era Daniel e atrás dele estava Alice.

— Opa. Não queríamos interromper... a reunião – disse Daniel rindo.
— O que você quer? – perguntou Rafael.
— Falar com você, não parece obvio?
— Eu vou deixa-los a sos. – eu disse.
— Nada disso bonitinha – disse Dan – senta ai. – eu obedeci.
— O que houve? – perguntei.
— O investigador ligou – disse Alice se sentando ao meu lado.
— E ai? – Rafael perguntou.
— Gustavo não está no país. Tá na Holanda. Segundo a irmã dele, ele está trabalhando lá.
— Bom, sabemos que não está – disse Rafael. – a não ser o que o trabalho dele seja matar pessoas.
— E agora que ele sabe que a polícia tá atrás dele, não vai querer voltar. – eu completei.
— Não. A polícia enganou a tonta da irmã dele – disse Alice – disse que a pena dele na condenação por ter te batido foi reduzida. Mas que ele precisa comparecer a delegacia para ser informado oficialmente.
— A irmã dele ficou super feliz e disse que ia falar com ele pra que ele voltasse o mais rápido possível. – completou Daniel.
— Como já voltamos, acho que ele não deve demorar lá. Afinal, se ele quer mesmo me matar, vai ter que vim aqui – disse Rafael e um arrepio subiu pela minha espinha ao ouvir.
— Mas ele não vai fazer nada. – eu disse. Rafael se aproximou de mim e se sentou do meu lado.
— Não. – ele sorriu e pegou a minha mão fazendo carinho no meu pulso – não vai.
— A irmã dele disse que ele chega em dois dias. A polícia vai estar lá no aeroporto esperando por ele.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Aconteceu" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.